Não acredito. Isso é tudo culpa daquele vampiro descarado.
Zack. Por que estou zangada? Porque graças a ele, tenho que assitir a uma incrível aula de universidade sobre a Segunda Guerra Mundial no auge dos meus 30 anos. Por que graças a ele? Por causa do meu odioso disfarce de estudante. Sou uma caçadora, você sabe, mas ninguém mais pode saber ou ponho em risco a vida dos alunos. Não que alguns não mereçam. Desculpe, estou meio mal-humorada, eu sei. Mas é que ele devia estar aqui sofrendo comigo e... Um uivo. Não estou brincando; alguém uivou do lado de fora da sala. Abri a janela e estiquei o pescoço para fora. Não fiquei nada surpresa quando percebi que era apenas o meu vampiro caçado, Zack, aprontando outra das suas. — O que raios está fazendo? – sussurrei da janela, esperando que ele pudesse me escutar do jardim. Ele estava sentado no banco na frente do prédio, abaixo do andar onde eu estava tendo aula. Onde ele também deveria estar tendo aula, aliás. Zack virou a cabeça com seu meio sorriso. — Oi, safadinha! Sabe, estou cansado de ser vampiro. Agora eu quero ser lobisomem. — Por quanto tempo você vai me sacanear com Crepúsculo, idiota? Não cansa não? — Depende. De te sacanear? Não. Você está tentando me matar! — Você também tentou me matar! – sibilei. — Mas você começou. Eu entrei de volta na sala. Não estava com humor pra isso. Eu culpo a Segunda Guerra. Quer assunto mais horrível que esse? Ah, claro. Big Brother Brasil. Então uma pedrinha bateu na minha janela. Acho bom eu responder antes que ele resolva tacar uma maior. — O que você quer? – protestei aos sussurros – Não devia estar aqui dentro, aliás? — Está brincando? Eu sei tudo sobre a Segunda Guerra. Eu estava lá! Eu pisquei, surpresa. — Lutando? — Não, tirando vantagem da situação. Ah, é. Vampiro. Que gracinha. — Então me deixa em paz. Não vamos lutar hoje, não é? Desinfeta. — Está zangada porque eu enterrei seus livros, não é? — Ah, imagina. Por que eu estaria zangada? Eu não tinha terminado de ler! — Bom, eu li a série dos Prazeres Malditos. Se quiser eu conto pra você. Melhor, eu demonstro pra você – e sorriu com malícia. — Zack, o professor daqui a pouco vai chamar minha atenção – mudei de assunto, antes que a cor das minhas bochechas superassem a dos meus cabelos – Então vai assaltar o banco de sangue e me deixa, certo? Mais tarde eu vou atrás pra te matar. — Espere! Não quer ir ao cinema comigo, depois da aula? — Ao... cinema? Mas não é arriscado pra você, com tanta gente... você sabe... perder o controle ou algo assim? Ele arqueou uma sobrancelha. — Você diz atacar as pessoas? Por quê? Quando você está com fome e está dentro de um supermercado você ataca as prateleiras? Bem, se eu estiver na TPM e as prateleiras tiverem chocolate... — Está bem! – dei uma olhada rápida para dentro da sala e voltei – O que quer assistir? — Hum, que tal o Ladrão de Raios? Estava doido pra ver! — Pensei que quisesse ver algo como “O ataque dos zumbis mutantes assassinos”. — Opa! Já tem trailer? — Deixa pra lá... – murmurei, me dando por vencida – Está bem... assim que terminar a aula. Agora me deixa. — Ah! Vista alguma coisa decente. Senão você me deixa com fome. Bati a janela pau da vida. Ele adora me deixar sem graça, não é? Ai, não. Bati a janela. Da sala de aula. — Senhorita Jéssica? Talvez queira contar-nos os países envolvidos na Segunda Guerra. Ou talvez os países que saíram vitoriosos. Engoli em seco. Cara, como vou lembrar disso? Gente, eu passei da idade e da memória. Estudei tanto pra concurso que posso me lembrar das leis da constituição, mas isso? — Hum, os Estados Unidos? Essa foi fácil. Eles sempre ganham, né? Ou fazem de conta que sim, acho. — Quem mais? Os alunos ficaram me fitando enquanto eu dizia uma série de países aleatórios, lembrando-me de todas as brincadeiras de adedonha das quais já participei. — Vai ficar após a aula, senhorita Jéssica. Droga. Eu não devia ter dito Shangri-la. Isso é nome de país imaginário. — Olha, professor, isso é ridículo. Só falta me deixar de castigo e m****r escrever 100 vezes no quadro “devo prestar atenção na aula”. Isso é um absurdo. Quer dizer, somos universitários; esse sistema arcaico de punições é inteiramente... — É uma ótima ideia, senhorita Jéssica. Escreverá 100 vezes: “devo prestar atenção na aula”. Estão dispensados, classe. Meu queixo caiu. O que faltava agora? Palmatória? Quando todos os alunos saíram, eu fui atrás do meu carrasco. Não, não é Zack. Ele é meu caçado. — Professor... você não está falando sério, não é? O sr. Jones suspirou e balançou a cabeça. — Desculpe-me, senhorita. Realmente é um método arcaico; mas infelizmente foram ordens do diretor. — Castigar a mim, a filha do embaixador?? Choquei!! Ah, sim. Meu outro disfarce. Pior que desse eu gosto. — Não, os engraçadinhos. Agora, com sua licença. Eu estava frustrada. Não bastava só ser castigada como uma adolescente. Eu tenho alergia a pó de giz. Quando peguei o maldito pedaço para começar a riscar no quadro, Zack deu batidinhas na porta. — Jessi? Você não vem? — O professor me mandou escrever 100 vezes “devo prestar atenção na aula”. Tudo por sua causa. — Você está brincando! Nossa, isso é tão... arcaico! — Fala por experiência própria? Ele deu um sorriso e tomou o giz da minha mão. — Deixe que eu escrevo! É culpa minha. Arrume suas coisas, depois a gente sai. Eu não me opus, mas sei que a gente ia passar horas ali. Arrumei minhas coisas e, enquanto eu pensava em como Zack ia conseguir colocar 100 frases naquele quadro minúsculo, deixei cair meu queixo quando virei. Estava tudo escrito, cada centímetro do quadro. — Hum – ele pôs a mão no queixo pensando – deu 99 apenas. Acha que o professor vai se importar? — C... como... ah, deixa pra lá. Vamos, antes que o pó do giz me faça espirrar feito uma doida. Ele sorriu, pegou-me pelo braço e assim que pisei do lado de fora, pude visualizar as frases que tinha escrito no quadro. Eu dei um grito, mas ele bateu a porta da sala mais rápido. Tarde demais. Ali estava escrito: “Devo prestar mais atenção em Zack”. Amanhã vou ser famosa na sala.Hoje eu pego ele. Afinal, Zack vivia tirando uma com a minha cara; eu não podia deixar isso barato, podia? O mestre caçador de vampiros nunca mais ia poder me atormentar com isso. Já tinha tudo preparado: água benta, algemas, estaca e a janela estava aberta. Só mais alguns minutos agora; já passara das seis da tarde e a noite já se firmava bela e serena do lado de fora. Era só questão de... — Jessi! Boa noite! Aquele rosto lindo acabara de aparecer na minha janela. Devo admitir que essa era a parte mais difícil do meu trabalho. —
É, eu sei. Eu não deveria estar fazendo isso. Mas vamos falar sério. Zack só ganhou até agora. Não posso deixar isso barato; afinal ele está sempre me sacaneando e eu tenho que dar a volta por cima. O que meus pais, caçadores de vampiros profissionais, iriam dizer? Hum, provavelmente me dar uma surra por eu estar na porta do quarto de um vampiro agora. É isso aí, estou parada na porta do quarto de Zack. Planejei uma vingancinha. Afinal, sou filha de Deus. O prédio de Zack é isolado e eu morro de medo, mas eu tinha que salvar minha conta bancária. Eu estou afundando em dívidas e o Conselho não vai me dar mais nenhum centavo enqu
Isso não ia terminar assim. Afinal, sou um vampiro de mais de 800 anos de idade e ela tem uns míseros 29, não é? Aliás, muito bem conservada, devo admitir. Mas claro que não vou dizer isso a ela. Seis horas. Jessi deve estar me esperando e claro... apavorada. Provavelmente pensando no que eu vou fazer para me desforrar. Afinal ela vendeu trocentas daquela foto miserável que tirou de mim enquanto eu estava dormindo no quarto e fiquei sabendo que foi até parar em um blog maluco, um tal de Recanto da Chefa. Ah, safadinha... espere pra ver. Quando entrei na sala de aula, as meninas malucas do meu fã-clube soltaram risinhos. Argh, se eu pudesse ia no quarto de cada uma e roubava uma por uma das fotos, mas eu tenho ma
Sofia bateu na minha porta batucando na madeira, como sempre. Sempre tem que soar uma música do estilo psicose quando ela toca? — Boooa noite, chefaa!! Vamos lá pra sessão de filme? Dei um suspiro. Chefa. Que apelido idiota elas me deram. Detesto prometer coisas para otakus[1]. Eles não esquecem; parece que tem um arquivo no cérebro que guarda tudo, desde as promessas idiotas até todos os episódios de todos os animes que lançam no Japão. Eu prometi assistir um filme japonês com elas desde que roubaram um chocolate da cantina pra mim. Na hora eu estava ocupada correndo atrás do Zack com uma serra elétrica.&
Já estava quase adormecida quando ouvi um certo tumulto do lado de fora. Sentei-me de imediato na cama, já murmurando ‘ai-meu-Deus-ela-vai-me-pegar’ e vi que Zack não estava mais na janela. Fiquei mais assustada ainda, até perceber que o que vinha do lado de fora não eram mordidas nem sangue esguichando. Era uma discussão. — Então você existem mesmo? Minha nossa, eu jurava que eram histórias da carochinha... — Carochinha? – respondeu um loiro alto, lindo e forte, com cabelos longos até os ombros – Quantos anos você tem, vampiro? 1000? 2000 anos? Que linguagem mais antiga! Ah! Quero só ver agora que eu tranquei a janela! Não, sério. Esse disfarce de estudante está me matando. Prova! Prova amanhã! Nem sei como se faz isso mais. Agora concurso, manda brasa! Não lembro mais nada dessas matérias e sumi com todas as apostilas usadas depois que me formei. Quem pode me condenar? Você não faria o mesmo, oras? Pra quê ter essas tralhas ocupando seu armário se a única coisa que você quer é ocupar sua estante com sapatos e livros de... Opa... ouvi um barulho. Não, Zack, dessa vez aqui você não entra. A janela está trancadinha com cadeado. Que por acaso... Clac! ...acaba de cair! MConto 8 - Seduzindo...
— Ai, como é difícil ser mulher! Te peguei, né? Você achou que eu ia dizer que era difícil ser caçadora. Bom, não deixa de ser, mas no momento é isso que está pegando. Pra que fui colocar meus saltinhos clop clop? Pareço estar marcando ponto a cada passo desesperado que dou. Desculpa, tem uma explicação sobre isso, verdade. Vocês vão me achar idiota, mas enfim, não parei muito para pensar. Quando aceitei o emprego eu não acreditava muito no objetivo do trabalho, sabe: caçar vampiros. Passar no TCU em primeiro lugar sem estudar era até mais plausível.&
Vou acabar desidratada desse jeito. Isso é que dá dormir de janela aberta. Bom, não que eu tenha culpa; Zack simplesmente abre a janela toda a noite, por mais que eu a feche, tranque, passe cadeado e ainda cole o batente com cuspe. Estou fungando e com garganta inflamada. Meu nariz está vermelho feito o do Bozo e a tontura é constante. Gripe maldita! Como se não bastasse todo esse mal estar ainda fico parecendo um zumbi. E tenho horror a zumbi. Tipo... eles comem cérebro. ECA. Claro, beber sangue também é nojento, mas pelo menos quem suga costuma ser uma gracinha. — Boa noite, safadinha! Pronta para passar mais um dia tentando matar o vampiro pelo qual você é perdidamente apa