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Conto 2 - Como assim cinema? Eu quero te matar!

        Não acredito. Isso é tudo culpa daquele vampiro descarado.

Zack.

        Por que estou zangada? Porque graças a ele, tenho que assitir a uma incrível aula de universidade sobre a Segunda Guerra Mundial no auge dos meus 30 anos.

        Por que graças a ele? Por causa do meu odioso disfarce de estudante. Sou uma caçadora, você sabe, mas ninguém mais pode saber ou ponho em risco a vida dos alunos.

        Não que alguns não mereçam.

        Desculpe, estou meio mal-humorada, eu sei. Mas é que ele devia estar aqui sofrendo comigo e...

        Um uivo.

        Não estou brincando; alguém uivou do lado de fora da sala.

        Abri a janela e estiquei o pescoço para fora. Não fiquei nada surpresa quando percebi que era apenas o meu vampiro caçado, Zack, aprontando outra das suas.

        O que raios está fazendo? – sussurrei da janela, esperando que ele pudesse me escutar do jardim.

        Ele estava sentado no banco na frente do prédio, abaixo do andar onde eu estava tendo aula. Onde ele também deveria estar tendo aula, aliás.

        Zack virou a cabeça com seu meio sorriso.

        Oi, safadinha! Sabe, estou cansado de ser vampiro. Agora eu quero ser lobisomem.

        Por quanto tempo você vai me sacanear com Crepúsculo, idiota? Não cansa não?

        Depende. De te sacanear? Não. Você está tentando me matar!

        Você também tentou me matar! – sibilei.

        Mas você começou.

        Eu entrei de volta na sala. Não estava com humor pra isso.

        Eu culpo a Segunda Guerra. Quer assunto mais horrível que esse?

        Ah, claro. Big Brother Brasil.

        Então uma pedrinha bateu na minha janela.

        Acho bom eu responder antes que ele resolva tacar uma maior.

        O que você quer? – protestei aos sussurros – Não devia estar aqui dentro, aliás?

        Está brincando? Eu sei tudo sobre a Segunda Guerra. Eu estava lá!

        Eu pisquei, surpresa.

        Lutando?

        Não, tirando vantagem da situação.

        Ah, é. Vampiro. Que gracinha.

         Então me deixa em paz. Não vamos lutar hoje, não é? Desinfeta.

         Está zangada porque eu enterrei seus livros, não é?

         Ah, imagina. Por que eu estaria zangada? Eu não tinha terminado de ler!

       Bom, eu li a série dos Prazeres Malditos. Se quiser eu conto pra você. Melhor, eu demonstro pra você – e sorriu com malícia.

        Zack, o professor daqui a pouco vai chamar minha atenção – mudei de assunto, antes que a cor das minhas bochechas superassem a dos meus cabelos – Então vai assaltar o banco de sangue e me deixa, certo? Mais tarde eu vou atrás pra te matar.

        Espere! Não quer ir ao cinema comigo, depois da aula?

        Ao... cinema? Mas não é arriscado pra você, com tanta gente... você sabe... perder o controle ou algo assim?

        Ele arqueou uma sobrancelha.

        Você diz atacar as pessoas? Por quê? Quando você está com fome e está dentro de um supermercado você ataca as prateleiras?

        Bem, se eu estiver na TPM e as prateleiras tiverem chocolate...

        Está bem! – dei uma olhada rápida para dentro da sala e voltei – O que quer assistir?

        Hum, que tal o Ladrão de Raios? Estava doido pra ver!

        Pensei que quisesse ver algo como “O ataque dos zumbis mutantes assassinos”.

        Opa! Já tem trailer?

        Deixa pra lá... – murmurei, me dando por vencida – Está bem... assim que terminar a aula. Agora me deixa.

        Ah! Vista alguma coisa decente. Senão você me deixa com fome.

        Bati a janela pau da vida. Ele adora me deixar sem graça, não é?

        Ai, não.

        Bati a janela. Da sala de aula.

        Senhorita Jéssica? Talvez queira contar-nos os países envolvidos na Segunda Guerra. Ou talvez os países que saíram vitoriosos.

        Engoli em seco. Cara, como vou lembrar disso? Gente, eu passei da idade e da memória. Estudei tanto pra concurso que posso me lembrar das leis da constituição, mas isso?

        Hum, os Estados Unidos?

        Essa foi fácil. Eles sempre ganham, né? Ou fazem de conta que sim, acho.

        Quem mais?

        Os alunos ficaram me fitando enquanto eu dizia uma série de países aleatórios, lembrando-me de todas as brincadeiras de adedonha das quais já participei.

        Vai ficar após a aula, senhorita Jéssica.

        Droga. Eu não devia ter dito Shangri-la. Isso é nome de país imaginário.

        Olha, professor, isso é ridículo. Só falta me deixar de castigo e m****r escrever 100 vezes no quadro “devo prestar atenção na aula”. Isso é um absurdo. Quer dizer, somos universitários; esse sistema arcaico de punições é inteiramente...

        É uma ótima ideia, senhorita Jéssica. Escreverá 100 vezes: “devo prestar atenção na aula”. Estão dispensados, classe.

        Meu queixo caiu. O que faltava agora? Palmatória?

        Quando todos os alunos saíram, eu fui atrás do meu carrasco. Não, não é Zack. Ele é meu caçado.

        Professor... você não está falando sério, não é?

        O sr. Jones suspirou e balançou a cabeça.

        Desculpe-me, senhorita. Realmente é um método arcaico; mas infelizmente foram ordens do diretor.

        Castigar a mim, a filha do embaixador?? Choquei!!

        Ah, sim. Meu outro disfarce.

        Pior que desse eu gosto.

        Não, os engraçadinhos. Agora, com sua licença.

        Eu estava frustrada. Não bastava só ser castigada como uma adolescente. Eu tenho alergia a pó de giz.

        Quando peguei o maldito pedaço para começar a riscar no quadro, Zack deu batidinhas na porta.

        Jessi? Você não vem?

        O professor me mandou escrever 100 vezes “devo prestar atenção na aula”. Tudo por sua causa.

        Você está brincando! Nossa, isso é tão... arcaico!

        Fala por experiência própria?

        Ele deu um sorriso e tomou o giz da minha mão.

        Deixe que eu escrevo! É culpa minha. Arrume suas coisas, depois a gente sai.

        Eu não me opus, mas sei que a gente ia passar horas ali. Arrumei minhas coisas e, enquanto eu pensava em como Zack ia conseguir colocar 100 frases naquele quadro minúsculo, deixei cair meu queixo quando virei.

        Estava tudo escrito, cada centímetro do quadro.

        Hum – ele pôs a mão no queixo pensando – deu 99 apenas. Acha que o professor vai se importar?

        C... como... ah, deixa pra lá. Vamos, antes que o pó do giz me faça espirrar feito uma doida.

        Ele sorriu, pegou-me pelo braço e assim que pisei do lado de fora, pude visualizar as frases que tinha escrito no quadro. Eu dei um grito, mas ele bateu a porta da sala mais rápido.

        Tarde demais.

        Ali estava escrito: “Devo prestar mais atenção em Zack”.

        Amanhã vou ser famosa na sala.

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