Naquele mesmo dia.
06:00a.m. Kellan A MULHER QUE AGORA NÃO me recordo o nome estava nua, dormindo ao meu lado. Ela era extremamente deliciosa, isso eu tinha que admitir. Observo seu belo corpo com uma cintura acentuada, peitos fartos e uma bela bunda redonda. Dou mais uma tragada no cigarro e jogo pela janela, sentindo meu corpo relaxar quase que de imediato, torno a expulsar a fumaça tóxica dos meus pulmões, sentindo-me grogue e visivelmente mais calmo. Meu outro vício que, acredite ou não, eu odiava profundamente, mas é a segunda coisa no mundo que me acalma quando não estou correndo como um louco em cima de uma moto. Observo como a garota dorme tranquilamente e solto o ar pesadamente, com uma inveja palpável. Decido que está na hora de vazar daqui. Posso ser um grande filho da puta por sair dessa maneira, disso eu não tinha dúvidas, mas não consigo me importar menos. Eu já estava familiarizado com o gosto ruim que ficava na boca quando tudo terminava, quando a luxúria dava lugar a outro sentimento, só restava a sensação de vazio. E isso era o suficiente para me fazer ir embora. Levanto sorrateiramente da cama e começo a catar minhas roupas pelo quarto. Quando estou terminando de calçar as botas ouço sua voz rouca e sonolenta: — Já está indo, bebê? — Sim. — Não quer ficar mais um pouco? — Não. Tenho umas coisas para resolver. Absolutamente não. Foda-se. — Não precisamos dormir. — seu tom é malicioso. — Acho que você não entendeu, não costumo repetir uma trepada. — amarro os cadarços da bota. Ouço a cama ranger um pouco antes de sentir seu hálito quente se chocar em minha nuca. Ela passa os braços ao redor da minha cintura e beija meu pescoço. — O sexo não foi bom para você? — sinto seus lábios macios tocaram minha pele e plantar outro beijo suave e molhado no local. — Posso te fazer mudar de ideia. Bufo impaciente. — Não me leve a mal, Selena. — É, Céline. Eu não dava a mínima. — O que fizemos ontem foi bom, foi muito gostoso, mas foi só isso. Agora, eu tenho que ir. Sei que peguei pesado quando sinto suas mãos quentes se afastarem de mim tão rápido quanto tocaram. Me viro para encarar seu rosto. Seus olhos transbordam de um sentimento bastante conhecido por mim, mas que não me abala, poucas coisas me incomodavam verdadeiramente e uma mulher com ego ferido não era uma delas. Passo meus olhos por toda extensão de seu corpo nu. Definitivamente uma gostosa, e estava pronta para mim, e se eu não estivesse agindo como um filho da puta sem coração com certeza estaria por cima dela agora. — Vá em embora logo, porra. — cospe irritada. — Até logo. Eu nunca mais a veria novamente. [...] Durante o dia fico pensando em como ganhar mais dinheiro para o tratamento de Sophie. Minha irmã tinha uma doença grave chamada cardiopatia isquêmica, ela não estava morrendo, mas precisava de remédios para continuar bem e o dinheiro estava acabando. Descobrirmos essa doença fazendo alguns exames de rotina, alguns meses depois dela completar dezoito anos, desde então se passaram dois anos que ela luta para sobreviver sozinha. Eu faço o que posso, mas morria de medo de perdê-la, não suportaria, Sophie era tudo que me restava como família. Quando sai da prisão prometi que levaria ela comigo aonde quer que eu fosse. Nossa tia cuidou muito bem dela, mas eu preferia que Sophie ficasse perto de mim para que eu pudesse protegê-la. Perdi dez anos da minha vida na cadeia, mas pretendia recuperar o tempo perdido com minha irmã. Quando eu estava preso Sophie me ligava diariamente perguntando quando eu iria vê-la, ouvir sua voz de choro todos os dias do outro lado da linha foi difícil pra caralho, mas agora que finalmente estamos juntos ela tem que lutar contra isso. E o que mais me impressiona é que ela faz isso com um sorriso no rosto, sem reclamar de nada. Sophie tinha um coração enorme. Eu não sei o que aconteceu com nossa mãe, se mudou de vida ou continua com a mesma vida de merda, eu sabia apenas de uma coisa, que estava viva. Tia Olívia disse que sabe onde ela está, mas eu pedi que não me contasse senão fraquejaria. Sophie não sabia disso, ela acha que nossa mãe está morta, se soubesse a verdade iria querer procurá-la. Ela poderia se decepcionar. Era melhor assim. O que eu ganho com as corridas e o bico de mecânico da para nos manter vivos, não é como se estivéssemos passando fome, mas eu precisava de mais para Sophie. Penso que preciso fazer manobras mais arriscadas, correr mais rápido. Colocar minha vida em perigo não faz parte do plano de cuidar de Sophie, mas eu precisava tentar isso, ter mais dinheiro me ajudaria a cuidar dela melhor. — Vamos, Kellan, você me prometeu. — Sophie choraminga, balançando meu braço como uma menina pidona. — Tem que ser hoje, Sophie? Não pode ser outro dia? — Não, você disse isso semana passada. — ela se j**a ao meu lado no sofá. Era verdade, eu estava enrolando essa menina há semanas. Primeiro, eu não queria ir à um balé, não era a minha praia. Segundo, um ingresso para um balé desses deve custar meu rim. Sophie deve ter um faro para coisas caras, era a única explicação para escolher apenas lugares chiques e caros. Eu estava cansado e só queria me deitar um pouco depois de um longo dia na oficina, mas Sophie não iria sossegar até levá-la nesse balé. Ela costuma ser bem insistente quando quer. — Tá bom — me rendo a outro capricho seu. — Você tem vinte minutos para se arrumar. […] Chegamos ao teatro e compro dois ingressos. Antes de entrarmos compramos também algumas rosas, falei para Sophie que não seria preciso, mas ela queria jogar ao final do espetáculo, então não me opôs a isso. Nos acomodamos em nossos lugares, que por sinal eram bons o suficiente para ver os dançarinos de perto. Eu queria dar a melhor experiência para ela e isso me custou caro. Olho para Sophie que está com um sorriso enorme no rosto, eu sabia que era porque estava perto do palco e isso me fez sorrir também. Vê-la feliz com algo tão simples me deixava satisfeito. A luzes do teatro foram apagadas e todas as vozes que preenchiam o ambiente foram silenciadas. A luz no centro do palco se acendeu e uma música começou a tocar no piano, segundos depois uma bailarina entrou no palco graciosamente, acompanhada de outro bailarino. Não consegui ver seu rosto porque ela se agachou rapidamente olhando para baixo, mas no mesmo instante em que levantou a cabeça eu soube que nunca tinha visto nada igual. Tenho um vislumbre do seu belo rosto angelical por breves segundos, e tenho plena certeza que essa imagem não sairia da minha mente. Era encantadora. Eu não entendia merda nenhuma de balé, mas não conseguia desviar o olhar. Gostaria de ver seu rosto melhor, mas a distância não ajudou muito e isso me decepcionou bastante, porque é uma visão que eu queria apreciar por mais tempo, de seu rosto levemente corado da dança. Eu podia dizer que estava ficando louco, meus amigos diriam que eu estou mesmo louco, mas quem se importa. Reparo em seu corpo esguio girando na ponta dos pés. Com lindas curvas e um quadril delicado, ela se movia deliciosamente pelo palco. Era impossível não notar sua beleza à quilômetros de distância. Meu pau pulsa dentro da calça, e fico sem ar ao encara-la por tanto tempo. Controlo minha respiração para não parecer um maluco babando por uma dançarina que mal conhece. Mas que porra? Meu corpo não me obedecia, eu estava perecendo um garoto de dezessete anos, e isso nem era o pior, estar do lado de Sophie deixava tudo mais constrangedor. Nunca achei que teria a necessidade de conhecer alguém, mas eu queria saber tudo sobre ela. Nunca tinha visto alguém tão doce. Por isso que eu queria, não, eu tinha a necessidade de prova-lá. O espetáculo termina e eu me sinto um completo idiota. As luzes são acessas e as cortinas se fecham, só para abrir minutos depois com os dois bailarinos se curvando. Olho para a rosa branca em minha mão, beijo aquela flor e jogo para ela. Eu não esperava que a mesma pegasse, mas tamanha foi minha surpresa quando ela se aproximou e pegou do chão a rosa. Olhava para seu rosto e via um lindo anjo com toda sua pureza. Um anjo que eu não podia corromper de jeito nenhum.Cecílie DESÇO AS ESCADAS COM certa pressa, com a bolsa no ombro esquerdo e o celular na mão. Meu dia começou bem, eu estava atrasada e me sentia muito cansada ainda. Na cozinha, pego uma torrada e coloco na boca, mastigando e engolindo mais rápido do que eu gostaria. Eu não gostava de chegar atrasada nos meus compromissos, mas hoje eu passei um pouco do horário; não sei o que deu em mim, talvez tenha sido ontem, a peça exigiu muito de mim. — Querida, coma devagar, você pode se engasgar. Está atrasada? — indaga mamãe, passando geleia na torrada. Ela estava bem calma para quem está atrasada também. — Um pouco — digo de boca cheia. — O que aconteceu? Você nunca se atrasa. E não coma de boca cheia, é mal educado. — não sei se está me repreendendo ou preocupada. — Desculpa — digo ainda com a boca cheia e ela revira os olhos. — A senhora também está atrasada. — afirmo. — Os chefes nunca estão atrasados, querida. — papai entra na sala vestindo um terno preto, com o cabelo molhado e co
Cecílie — Não, não, isso está horrible! O que eu fiz para merecer isso, mon Dieu — Lucien coloca a mão na testa parecendo desesperado. — Sylvie, mon cher, Giselle está com o coração partido, eu quero mais emoção nisso, seja lá o que você estiver fazendo. Cecílie, s'il te plaît — Lucien pede que eu tome o lugar de Sylvie. — Pode começar. Eu estava nervosa, mas sabia toda a sequência de Giselle. Começo com os primeiros passos e dou tudo de mim nesse ensaio, eu queria mostrar para Lucien que eu era completamente capaz de fazer o papel de Giselle. Eu não faria ele duvidar de mim. — Sim, que belo — Lucien me elogiava. — Parfait. Obrigado, pode voltar para o seu lugar. Você viu como Cecílie dançou, Sylvie, ela dançou com o coração, é isso que eu espero de todos vocês. Por hoje é só. Eu não conseguia nem descrever o que eu estava sentindo nesse momento, só que eu estava muito feliz em ter a aprovação de Lucien, que era muito difícil de agradar. Nada nesse mundo me faria desistir desse p
Filadélfia, 2012. Doze anos atrás. Kellan ESTOU CAINDO INERTE E NÃO tinha onde me segurar. Estava em um letífero conflito entre mim e meus pensamentos, que agora se encontravam completamente bagunçados. Minha visão começava a ficar turva, porém eu conseguia enxergar claramente quem estava caído à minha frente, com sangue escorrendo por sua blusa e manchando o piso de madeira desgastado da nossa antiga casa velha. Eu não queria acreditar. Olhando para o corpo pálido do meu padrasto no chão da sala eu começava a entrar em um desespero silencioso. Não posso entrar em pânico agora, não quero acordar minha irmãzinha que dorme no quarto ao lado, mas mamãe não colaborava. Mamãe se encontrava jogada em cima dele, aos prantos. Uma certa raiva crescia dentro de mim ao vê-la chorar por esse imbecil. Ah, minha querida mãe, eu não queria dizer que a entendia, pois não conseguia de forma alguma. Alguém que sofreu abusos na mão de outra pessoa deveria odiá-la profundamente, mas o que mamãe dizi
França, 2024. Dias atuais. Cecílie EU ESTAVA COMPLETAMENTE fora de mim. Lufadas de ar saiam dos meus pulmões como brasa, rápidas e precisas, eu sabia a hora exata de inspirar e respirar. Existia apenas eu, flutuando com minhas sapatilhas pelo palco do teatro ao som de black swan instrumental. Consigo sentir a atmosfera quente, no ato IV, giro sete vezes e me jogo em direção ao chão, com movimentos dolorosamente lentos. Fechou meus olhos embriagada com a sensação. O mundo tem cerca de oito bilhões de pessoas e cada pessoa tem seu vício em particular, o meu era o poder que eu exercia em cima do palco. Eu era intocável. Tudo que me faz sentir mal, desaparece quando estou dançando. O balé se tornou minha válvula de escape. E está tudo bem, cada um se mata à sua maneira. A música estava chegando no clímax. Eu completava meus últimos movimentos, bem mais suaves dessa vez, completamente satisfeita comigo mesma por ter dado um show, e muito orgulhosa. Raphael me pega em seu colo e me j*