02 noite da aposta

Um dia antes.

KELLAN

A MULHER QUE AGORA NÃO me recordo o nome estava nua, dormindo ao meu lado. Ela era extremamente deliciosa, isso eu tinha que admitir. Observo seu belo corpo, com uma cintura acentuada, peitos fartos e uma bela bunda redonda.

Dou uma última tragada no cigarro sentindo meu corpo relaxar quase que de imediato, em seguida torno a expulsar a fumaça tóxica dos meus pulmões, me sentindo meio grogue e visivelmente mais calmo. Meu outro vício que, acredite ou não, eu odiava profundamente, mas é a segunda coisa no mundo que me acalma quando não estou correndo como um louco em cima de uma moto.

Observo como ela dorme tranquilamente e solto o ar pesadamente, com uma inveja palpável. Decido que está na hora de vazar daqui. Sou um grande filho da puta por sair dessa maneira, disso eu não tinha dúvidas, mas não consigo me importar menos, eu já estava familiarizado com o gosto ruim que ficava na boca quando tudo terminava, quando a luxúria dava lugar a outro sentimento. Só restava a sensação de vazio. E isso era o suficiente para me fazer ir embora.

Nada que me fizesse ficar.

Levanto sorrateiramente da cama e começo a catar minhas roupas pelo quarto depressa. Me visto rapidamente, e quando termino de calçar as botas ouço sua voz rouca e sonolenta: — Já está indo, bebê?

— Sim.

— Não quer ficar mais um pouco?

— Não. Tenho umas coisas para resolver.

Absolutamente não. Foda-se.

— Não precisamos dormir. — seu tom é malicioso.

— Acho que você não entendeu, não costumo repetir uma trepada, meu bem. — amarro os cadarços da bota.

Ouço a cama ranger um pouco antes de sentir seu hálito quente se chocar em minha nuca. Ela passa os braços ao redor da minha cintura e beija meu pescoço.

— O sexo não foi bom para você? — sinto seus lábios macios tocaram minha pele e plantar outro beijo suave e molhado no local. — Posso te fazer mudar de ideia.

Bufo impaciente.

— Não me leve a mal, Selena.

— É, Céline.

Eu não dava a mínima.

— Que seja. O que fizemos ontem foi bom, foi muito gostoso, mas foi só isso. Sexo. Agora, eu tenho que ir.

Sei que peguei pesado quando sinto suas mãos quentes e nervosas se afastarem de mim tão rápido quanto tocaram. Mas nada disso importava para mim. Me viro para encarar seu rosto. Seus olhos transbordam de um sentimento bastante conhecido por mim, mas que não me abala, poucas coisas me incomodavam verdadeiramente e uma mulher com ego ferido não era uma delas.

Passo meus olhos por toda extensão de seu corpo nu. Definitivamente uma gostosa e estava pronta para mim, e se eu não estivesse agindo como um filho da puta sem coração com certeza estaria por cima dela agora. Fodendo gostoso.

— Vá em embora logo, porra. — cospe irritada.

— Até logo.

Eu nunca mais a veria novamente. Dou as costas e saio do quarto.

[...]

Durante o dia fico pensando em como ganhar mais dinheiro para o tratamento de Sophie. Minha irmã tinha uma doença grave chamada cardiopatia isquêmica, ela não estava morrendo, mas precisava de remédios para continuar bem e o dinheiro já estava acabando. Descobrirmos essa doença quando ela ainda tinha dezoito anos, desde então se passaram dois anos que ela luta contra essa doença miserável que pode tirá-la de mim a qualquer momento. Eu morria de medo de perdê-la, não suportaria. Sophie era tudo que me restava como família.

Quando sai da prisão prometi que traria ela comigo. Minha tia cuidou bem dela, mas eu preferia que Sophie ficasse perto de mim para protegê-la. Perdi dez anos da minha vida na cadeia, mas pretendia recuperar o tempo perdido com minha irmãzinha. Faz dois anos que moramos em Paris, e a exatamente dois anos descobrimos que Sophie pode morrer a qualquer instante. Puta merda.

A noite marco para me encontrar com Aaron e Jesse para beber umas cervejas no bar perto de casa. Não era lá grande coisa, mas era bem aconchegante. Eles não tinham chegado ainda, então peço uma para mim e me sento no balcão.

Passo as mãos pelo rosto exasperado. Eu precisava de mais dinheiro. O pouco que eu ganho não dá nem para manter o aluguel da casa, eu estava fodido. As corridas não estão pagando bem, essa merda já foi muito melhor, não é como se eu estivesse passando fome, mas eu precisava de mais para Sophie. Penso que preciso fazer manobras mais arriscadas, correr mais rápido. Colocar minha vida em perigo não faz parte do plano de cuidar de Sophie, mas eu precisava tentar isso, ter mais dinheiro me ajudaria a cuidar dela melhor.

— Que foi bonitão, precisa de mais uma bebida?

Olha para a barista de cima a baixo e lhe lanço meu sorriso mais canalha. Ela era muito linda, tinha pernas grossas e seus seios estavam quase pulando no meu rosto. Poderia fazer muita coisa com ela. Mas não estava com cabeça para isso agora.

— Sim, por favor. — peço.

Ela sai fazendo bico. Mando mensagem para Jesse perguntando onde estavam quando ouço vozes na entrada do bar, me viro e vejo Jesse e Aaron chegarem com Sophie logo atrás.

— Já disse para não andar com esses dois. — dou um gole na minha cerveja.

— Eles são gente boa.

— É Kellan, somos gente boa. — Jesse diz, lançando seu maior sorriso para mim.

As horas foram passando e nossa mesa estava cheia de garrafas de cerveja vazias. Jesse estava todo animado, Aaron como sempre na dele bebendo sua cerveja calado, e Sophie ria de tudo que o palhaço do Jesse dizia.

Eu conheço esses dois a minha vida inteira. Crescemos juntos e decidimos juntos vir para Paris recomeçar nossas vidas. Nenhum de nós tínhamos vidas boas nos Estados Unidos, era uma vidinha de merda que a gente levava. O pai de Jesse era um alcoólatra que batia nele todo dia sem nenhum motivo aparente, já Aaron tinha perdido todo mundo, não sobrou ninguém da sua família que o mantivesse lá. Nós éramos três fodidos de merda.

Jesse, Aaron e eu somos corredores de racha, não é um trabalho, muito menos algo para a gente se orgulhar, mas nos sustenta e não podíamos escolher muito não é. Por enquanto, o foco é correr e ganhar bastante dinheiro. Cada um de nós tem um objetivo na vida, mas fizemos um pacto silencioso de nem um se meter na vida do outro, mas desconfio que eles sabem o que eu faço com meu dinheiro e ficam calados.

— Que tal uma aposta? — Jesse propõe, sem mais nem menos.

— Que aposta? — Sophie pergunta animada, chegando perto interessada.

— Jogamos sinuca em duplas, quem perder cinco partidas faz qualquer coisa que a outra dupla pedir.

— Qualquer coisa?

— Qualquer coisa.

— Eu topo!

— Eu sei que eu tenho muito pouco espaço de fala aqui, então por mim tudo bem. — olho para Aaron.

— Por mim tudo bem.

— Ótimo, Sophie será minha dupla. — Jesse diz e segura em seu braço.

[…]

— Melhor de dois. — Aaron estava indignado.

O jogo terminou com eu e Aaron ganhando as quatro primeiras partidas, Jesse e Sophie a última. E parece que perdemos.

— ...Isso é um roubo. Nós ganhamos quatro vezes!

Jesse é o cara mais baixo que conheço, com certeza ele quis Sophie como sua dupla sabendo que não ganhariam as partidas e alegaria que sua dupla estava em desvantagem por Sophie não saber jogar sinuca.

— Nós ganhamos a última partida, isso que importa. E como combinado, eu quero que o meu irmãozinho me leve ao balé amanhã.

— Está certo, eu aguento essa tortura por você. — cedo ao seu capricho.

— E você, meu amigo, vou pensar em algo — diz Jesse, olhando para Aaron. Aaron revira os olhos. — Agora vamos beber!

Naquela noite nós bebemos muito, eu não conseguia contar quantas cervejas tinham em nossa mesa. Jesse e Aaron estavam muito bêbados, eu nunca vi Aaron rir tanto, eram ocasiões raras. Sophie, mesmo sem beber, se divertia mais que qualquer um, e eu me contentei em ficar na minha, apenas rindo das piadas sem graça de Jesse pois já tinha chegado ao meu limite.

Tiro um maço de cigarros do bolso e coloco um entre meus lábios, acendendo em seguida. A nicotina que entra em meus pulmões tem o poder de me acalmar rapidamente. Me encosto na cadeira, relaxado. Olho as horas e já são meia noite.

Tinha garotas de olho na gente, algumas com o olhar de inveja para Sophie, eram todas muito bonitas, mas hoje levar minha irmã para casa em segurança era minha prioridade. Não posso me distrair.

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