02

Na manhã seguinte acordei, como de costume, com um pesadelo. Levantei da cama e fui ao banheiro tomar um banho.

Desci as escadas observando meu pai e minha mãe conversando, sem me importar, peguei minha mochila e segui meu caminho até a escola, peguei o atalho que meu pai havia me mostrado.

Chegando na escola, todos me olhavam como ontem, segui de cabeça baixa até a minha classe, um professor estava sentado na cadeira, e para minha surpresa ele parecia muito com meu amigo Robert que havia sido preso.

- Bom dia mocinha!  - Ele disse sorridente.

Não respondi nada e fui me sentar. A aula havia começado e, como ontem, a garota ainda não tinha chegado, por algum motivo fiquei apreensiva para vê-la.

- Este ano letivo nós vamos fa. . .  - Alguém bateu à porta atrapalhando a explicação.

“É ELA”pensei alegremente.

O professor não disse nada e a deixou entrar. A garota me deu um sorriso amigável e sentou ao lado de suas amigas, aquilo me fazia viver mais feliz o resto do dia sem nem mesmo saber seu nome. O dia passou num piscar de olhos. Eu observava aquele garoto beijar ela como se fosse um animal, e de repente eu senti vontade de bater nele até cansar, ela gritava para ele parar e ele continuava, me levantei e esbarrei propositalmente em seu ombro fazendo-o parar e me olhar.

- Qual o problema dela?  - Ele reclamou irritado.

Eu continuei andando fingindo não ter percebido, um sorriso maldoso cravou em meus lábios, eu só queria lhe provocar.

Depois do intervalo, entrei na classe e percebi que o garoto e seus amigos não paravam de olhar para traz e comentar, fiquei desconfortável com seus olhares.

- James, preste atenção na aula.  - O professor bateu em sua mesa tirando toda a atenção dele em mim.

A aula acabou, eu fui saindo da sala quando ouvi alguém chamar meu nome.

- Ei vampira me espere!

Me virei e me deparei com o tal James e seus amigos me olhando. A sala já estava vazia e eu estava começando a me preocupar.

- Você conhece a Melissa, né?  - Ele disse rindo malignamente.

- Quem. . . ?  - Eu realmente não sabia quem era.

- Minha namorada.  - Ele disse me fazendo lembrar da garota linda.  - Então. . . vocês são amigas?

- Não, eu só. . . o que te importa?  - Fiquei irritada.

- Você costuma ser grossa assim com todo mundo?  - um de seus amigos riu de minha preocupação.

- Eu preciso ir embora.  - Corri para a porta que logo foi barrada por um dos babacas.

- Eu ainda não terminei.  - James segurou meu braço.  - Eu percebi o jeito que você olha pra ela.

Eu congelei no tempo, não sabia o que fazer.

- Você está ficando louco?  - Fingi que o que ele falara era um absurdo.

- Olha garota, se você chegar perto dela eu juro que acabo com a sua vida.  - Ele tentava me segurar mas eu consegui sair de sua mão.

- Eu não sei do que está falando, e nem me importo, agora deixe me ir embora.  - Ordenei e o mesmo saiu da frente.

Fui pelo caminho desesperada, não sabia o que estava acontecendo, eu só queria chorar. Todas aquelas árvores e arbustos pareciam estar cinzentas e o chão parecia se abrir.

Entrei em casa sem dizer “oi' aos meus pais e fui para o quarto, me joguei na cama e chorei, não de tristeza mas de raiva. Aquele garoto havia me ameaçado e eu não disse nada.

Acabei adormecendo naquela posição.

Acordei com o rosto marcado, olhei no relógio que marcava 07:30h, eu tinha me atrasado e faltado a aula, eu não queria ir a aula mesmo.

Desci as escada e minha mãe estava conversando com um homem.

- Bom dia querida.  - minha mãe disse sorridente.  - este aqui é o senhor Rodrigues, ele é. . . psicólogo. . .

Eu não acreditei no que estava ouvindo. O homem veio me cumprimentar e a única coisa que pude fazer foi ignorar.

- Mãe. . . como você pode?  - Perguntei com lagrimas nos olhos.

- Filha, eu só quero te ajudar.  - Minha mãe se aproximou tentando me tocar.

Desviei de seu to que e subi as escada correndo. Eu estava magoada por ter sido ameaçada e minha mãe ainda faz uma coisa dessas.

Depois de algumas horas trancada no quarto decidi sair. Abri a porta lentamente para que ninguém ouvisse, desci as escadas e sai de casa, ninguém havia notado minha ausência. Caminhei sem rumo pela pequena cidade.

Um bar estava aberto,  sem hesito adentrei aquela espelunca. Um homem forte me olhava atentamente.

- Criança, esta perdida?  - ele falava com um sorriso malicioso no rosto.

Eu queria me aproveitar de tudo o que eu pudesse, então tive uma ideia não muito boa.

- Me compre um cigarro?

- Você tem quantos anos?  - o homem perguntou quase subindo encima de mim.

- O suficiente para lhe pagar.  - Eu não estava nem louca em fazer tal besteira, mas mesmo assim eu o iludi.

Rapidamente o homem tirou sua carteira e comprou meu cigarro. Ele me entregou o cigarro e eu fui fugindo mas o homem mesmo assim tentou.

- Me diz pelo menos o seu nome. . .  - ele gritava pois eu já estava longe.

- Fátima. . . meu nome é Fátima.  - Eu sabia que não deveria lhe dar chances mas eu não pensei.

O homem sorriu de orelha a orelha e eu corri até a escola. Sentei na calçada e pensei muito antes de abrir o maço de cigarro.

- Está sozinha?

Uma garota se aproximou, seus cabelos me chamaram a atenção, eram azuis.

- Acho que. . . sim.

Ela se sentou ao meu lado e sorriu.

- Crianças não devem fumar sabia disso?

Ela estava me chamando de criança?

A mesma riu me se apresentou.

- Meu nome é Marie.

- Fátima.  - estiquei meu braço para lhe dar um aperto de mão

Ela ficou um tempo em silencio me observando.

- Você não sabe fazer isso né?  - Ela ria de mim.

- Pare de rir, isso não é engraçado. . .  - eu senti minhas bochechas corarem.

Escondi me rosto nas mãos e isso fazia Marie rir mais.

- Deixa eu te ajudar.  - ela tomou o maço de minhas mãos e começou a abrir.

Ela lidava com aquilo muito fácil. Acendeu um cigarro e tragou.

- É facil.  - ela me deu o mesmo cigarro.

Eu traguei e comecei a tossir.

- Meu Deus.  - Ela gargalhava de mim.

- Estou me envergonhando, pare com isso.  - Eu certeza estava parecendo um tomate.

- Você é muito inocente.  - Ela limpava as lagrimas que haviam caindo enquanto ria de mim.  - Bom. . . Fátima passe seu número, quem sabe eu não te ensine algo mais?

Eu a olhei dos pés a cabeça sem dizer nada.

- Não sou uma sequestradora, muito menos uma louca que quer te matar.  - Ela ironizou a frase.

Eu passei meu número de telefone e voltei para casa.

- Fátima, onde você estava?  - minha mãe já se exaltava.

Não respondi e tentei subir as escadas, meu pai segurou meu braço e me fez sentar no sofá.

- Você quer nos matar de susto?  - meu pai cruzou os braços.

- E vocês querem me internar?  - Eu já estava de “saco cheio”

- Minha filha, entenda uma coisa, ele só é um amigo, não veio para exercer seu trabalho.  - minha mãe inventou uma desculpa.  - Mesmo assim não é desculpa para que você fuja de casa a noite.

- Suba para o quarto e pense no que fez.  - Meu pai me colocou de castigo.

Subi as escada bufando e batendo os pés.

Entrei no quarto e tranquei a porta. Sentei na cama e afundei-me nos pensamentos. Minha cabeça estava cheia, mas eu pude ter uma lembrança boa, Marie.

Peguei meu violão e voltei a dedilhar notas. Estava tendo outras visões de que a parede do quarto se rachava mas eu ignorei, num momento pude ver Melissa me olhando mas percebi que aquilo era da minha cabeça. Depois de

tanto pensar decidi que James ou qualquer outro verme não poderia me impedir de me apaixonar, iria lutar por quem eu gosto, e não desistiria tão fácil.

Na manhã seguinte acordei caída no chão da sala, isso foi muito estranho, meus cabelos negros grudavam em minha testa, eu estava soando. Me levantei e chamei meus pais que vieram correndo. O braço de meu pai sangrava fazendo me preocupar.

- O que houve aqui? Porque esta sangrando?  - Eu fazia perguntas e meus pais so me abraçavam.

- Fátima, você teve um apagão novamente.  - minha mãe dizia com a cabeça baixa.

- Eu machuquei você?  - Eu perguntava assustada.

- Esqueça isso Fátima, vá para a escola.  - Meu pai tentava amenizar a situação.

- Eu não vou para a esc. . .  - Fui interrompida com uma ligação para meu pai.

Minha mãe me fez tomar um banho e ir forçada para a escola.

Fui recebida pela garota Marie da noite passada.

- Olha só quem vei para a escola.  - Ela sorria me dando um beijo no rosto.

- Oi. . .  - Eu estava pensativa.

- O que houve?  - Ela se preocupava comigo como se fossemos amigas desde a pré-escola.

Eu não respondi nada e segui para dentro da escola.

- Fátima, vai haver uma festa na casa de um amigo, quer ir?  - Ela realmente tentava me distrair.

- Claro. . . eu adoraria ir a festa de um desconhecido.  - Eu ironizei.

- Ahh, fala serio.  - Ela implorava para que eu fosse.

- Ta bom, eu aceito.  - Não resisti e tive que aceitar.

- Ok, hoje a noite venho aqui na escola as 22h te buscar.  - Ela beijou meu rosto e saiu saltitando.

Eu só iria por um motivo, para fugir de meus pensamentos e me divertir um pouco. Sem perceber eu já estava ficando animada para ir a tal festa.

Entrei na sala de aula e Melissa já estava lá conversando com suas amigas. Me sentei no fundo como de costume.

James e seus amigos entraram na sala e logo me olharam com sorrisos ameaçadores. Ignorei e continuei ouvindo musicas.

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