Consequências Machucam
Consequências Machucam
Por: Nayla Quill
01

“Fátima, me ajude! “ele gritava e eu não sabia o que fazer, os policiais me seguravam e batiam nele, batiam nele como se ele fosse alguém muito cruel, consegui me soltar e corri até ele que sangrava no chão, os alunos assistiam ao “show”pela janela.

- Eu quero você longe da minha escola!  - O diretor da escola se referia ao meu professor que havia apanhado dos policiais.

Eu não sabia o que fazer estava totalmente fora de mim. Acordei com minha mãe gritando, eu estava de pé na cozinha apontando uma faca para meus pais que me olhavam assustados.

- Fátima, se acalme minha filha, se acalme.  - Minha mãe se aproximava lentamente de mim.

- Está tudo bem.  - Meu pai me abraçou me fazendo soltar a faca e chorar como um bebê.

Me dirigi ao meu quarto e me deitei na cama, fiquei pensando no meu professor que havia sido preso por mim, aquilo me corroía por dentro. Amanheceu e eu nem tinha pegado no sono ainda, me levantei da cama e desci os degraus me espantando com meus pais quase se batendo, fiquei ouvindo.

- Bob, ela tem problema e precisa ir para um psicólogo querendo ou não!  - Minha mãe gritava.

- Já disse que se ela não quiser não vou obriga-la!  - Meu pai se levantou e veio a minha direção dando um pulo de susto. - Filha. . . não sabia que já tinha acordado.

Não disse nada e fui para a cozinha beber água, minha mãe veio e parou do meu lado engolindo seco e pensando no que dizer.

- Querida, Fátima. . . seu pai e eu estávamos pensando em te levar para um psicólogo.

Eu engoli outro gole da água amargamente e lhe dei uma olhada penetrante.

- Eu não sou louca!

- Fátima, não estou dizendo isso, é que você fez aquilo a semana inteira.  - Minha mãe disse olhando para baixo.

Eu colo quei o copo d'água na pia e subi para meu quarto sentando no chão e pegando meu violão, dedilhando algumas notas. De repente percebi que um farelo caiu do teto, ignorei e continuei tocando, senti uma dor na cabeça e olhei para o teto me deparando com ele todo rachado, esfreguei os olhos e tudo tinha voltado ao normal, continuei tocando violão sendo interrompida com meu pai batendo na porta, me levantei e abri a porta.

- Querida se arrume já estamos de saída.  - Disse meu pai me apressando.

Fechei minha porta e fui tomar um banho de banheira, meus pais estavam se mudando da cidade, pois eles estavam sofrendo preconceito depois do que aconteceu no colégio, fechei os olhos e respirei fundo, quando abri os olhos percebi que a água da banheira estava com uma cor diferente, estava totalmente preta, esfreguei os olhos e a água havia voltado ao normal, se meus pais soubessem que eu tinha essas alucinações eles me colocariam no manicômio, então eu preferia manter em segredo. Quando saí do banho e me vesti eles me esperavam impacientes sentados no sofá da sala.

- Que demora, o caminhão de mudança está esperando nós sairmos para eles terminarem de empacotar a mobília.  - Meu pai disse bravo olhando para mim.

Assenti com a cabeça e fui para fora de casa colocando a touca da jaqueta, entrei dentro do carro e comecei a mexer no celular, meu pai e minha mãe entraram no carro e me olharam curiosos, não entendi a curiosidade e os olhei.

- O que foi?  - Perguntei.

- Nada. . .  - Minha mãe disse rindo.

Abaixei a cabeça e comecei a jogar um jogo bobo durante toda a viagem, a cidade era bastante longe e eu comecei a ficar entediada, me virei para a janela e observei a paisagem que me trazia más lembranças, observei vacas no pasto, porcos, e um cavalo que corria na mesma velocidade que o carro. De repente o céu começou a escurecer, tapei os olhos e abri-os novamente, meu pai percebeu.

- O que foi filha?

- Nada, estou bem.  - Menti.

Minha mãe virou para trás e sorriu, queria descontrair colocando uma musica e cantando junto, logo meu pai começou a cantar junto me deixando mais estressada. Chegamos na nova cidade que tinha mais mato do que cidade, a casa não era lá aquelas coisa como meu pai dizia, a cidade não era uma cidade muito grande e as casas eram pequenas então me senti envergonhada, entramos dentro da casa que tinha chão de madeira por todos os lado, a casa era praticamente feita de madeira que faziam barulhos irritantes o tempo todo, subi as escadas e haviam dois quartos e um banheiro, subi mais uma escada e havia um quarto e um banheiro, peguei esse quarto pra mim e fiquei esperando trazerem as mobílias.

Ouvi meus pais subirem as escadas e baterem na porta.

- filha, lembra que eu te matriculei na nova escola?  - Meu pai disse gentilmente.  - Então, está na hora de ir.

Fui lembrar só agora que meu pai já tinha me matriculado antes mesmo de sairmos da cidade. Me levantei e segui para fora de casa onde os ajudantes tiravam a mobília do caminhão, entrei no carro do meu pai e o esperei, depois de alguns segundos meu pai entrou e deu partida sem olhar no meu rosto. Durante o caminho ele puxava conversa.

- Sabe Fátima, eu já morei aqui quando tinha sua idade.

- Hum. . .  - resmunguei indiferente.

- Conheço um atalho para a sua nova escola.  - meu pai me olhava pelo retrovisor.  - quando eu for te buscar te ensino para não precisar mais vir de carro.

Eu estava praticamente sendo expulsa do carro do meu pai. Quando chegamos na nova escola percebi que ela era muito maior que a antiga, todos olhavam torto para o carro do meu pai. Um homem quase idoso veio andando com um sorriso amigável para perto do meu pai.

- Você por aqui novamente?

- Roger, quanto tempo não te vejo!  - meu pai disse lhe dando um abraço.  - Minha filha, Fátima, vai estudar aqui.

- Que ótimo, vou lhe mostrar a escola.  - O homem disse me puxando pelo braço.

Ao entrar o homem não parava de falar, e eu não estava nem um pouco interessada em ouvir. Todos me olhavam como se eu fosse um extraterrestre.

No colégio havia um esquema de armários de parede e isso me surpreendeu bastante. Entrei na minha classe que aparentemente estava vazia, me sentei na carteira do fundo e esperei os indivíduos chegarem. Todos me olhavam muito, eu estava quase me escondendo.

- Bom dia pessoal.  - Uma professora entrou alegremente.  - Peço a todos que se sentem e prestem bem atenção pois temos uma aluna nova.

Senti uma pontada na cabeça quando percebi que tinha que fazer uma apresentação na frente. Me levantei e fui até a frente com as mãos no bolso.

- Meu nome é. . . Fátima e eu vim de uma outra cidade.

Todos me olhavam atentamente como se eu estivesse dizendo algo muito importante.

- Você é uma vampira por acaso?  - Um dos garotos disse rindo.  - Porque você é muito branca.

Todos riam de mim como se fosse uma piada muito engraçada. Eu voltei para meu assento e fiquei de cabeça baixa.

- Ok, vamos voltar a aula. . .

Alguém bateu à porta e a professora foi atender.

- Por favor, me deixe entrar.

A voz era doce, tão doce quanto a voz de um anjo, a voz me fez ir para o céu e depois para o inferno tirando minha alma do corpo, me senti numa montanha russa.

- De Novo, quantas vezes vou ter que dizer que nenhum aluno entra na minha sala atrasado?  - minha professora disse fazendo gestos para a pessoa ir embora.

Não pude ver a pessoa mas pude sentir sua voz me possuir, passei o resto da aula lembrando da voz doce. Quando a aula terminou fiquei apreensiva para ver o dono da voz de anjo. Uma linda garota adentrou a sala de aula, pude sentir aquela mesma sensação quando a mesma falou, parecia que a classe toda ficou iluminada, eu apenas conseguia respirar com muita dificuldade. Ela me olhou com os olhos brilhantes da cor do céu azul, jogou seus cabelos folheados a ouro para o lado e deu um sorriso que me nocauteou no estomago. Eu abaixei a cabeça e suspirei, quando a olhei novamente ela estava me olhando e sorrindo, parecia que sabia o que tinha acontecido, mas para a minha decepção o mesmo garoto que havia me chamado de vampira estava a beijar seus lábios rosados. Ela a chamou de amor e isso me corroeu por dentro, foi como se eu tivesse levado um tiro e estivesse agonizando ao chão. No meio da aula a garota se aproximou de mim e sentou ao meu lado sorridente.

- Tem uma caneta para me emprestar?  - Ela sorria cada vez mais.

Eu não respondi, peguei uma caneta e lhe dei, ela se levantou e foi para seu lugar e eu fiquei tremendo loucamente. A aula terminou e nós fomos para o intervalo e a garota não me devolveu a caneta, fomos dispensados mais cedo.

Meu pai me esperava do lado de fora sem seu carro.

- Oi filha, como foi a aula?

- Nada de mais.  - Eu menti.

Meu pai abaixou a cabeça e suspirou.

- Vou te ensinar o atalho, mas é nosso segredo, ok?

Eu só fiz sinal positivo com a cabeça e seguimos pela floresta. Era uma bela vista, os pássaros cantavam e os raios de sol atravessavam as árvores, depois de uns minutos andando logo saimos de frente a minha casa.

- Viu, amanhã você vai para a escola sozinha.  - Meu pai sorriu abrindo o portão.

Entrei em casa e fui para o quarto que já estava todo arrumado, me deitei na cama e fiquei pensando na garota dos cabelos dourados que pegou minha caneta.

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