Capítulo 4
NATÁLIA

— Eu vou morrer. — Falei seriamente.

Meus olhos arregalados encararam a marca no meu pescoço. Por um momento, esfreguei-a o mais forte que pude para tentar me livrar dela, idiotamente, mesmo sabendo que essa marca não estava gravada apenas no meu pescoço, mas na minha alma agora.

— Você não vai morrer. — Diana revirou os olhos, suspirando.

— NÃO! Aquele homem não é meu companheiro e ele me marcou... o que significa que eu vou morrer. — Engoli em seco.

Lágrimas encheram meus olhos depois de imaginar minha vida terminando por causa desse único erro.

Eu já ouvi muito sobre isso. Se alguém que não é seu companheiro te marcar sem seu consentimento, então você morre em vinte e quatro horas. Acontece de repente e você nem tem tempo de pensar em nada antes de desaparecer para sempre.

— Você não está ficando doente nem nada. Você não parece estar morrendo também. — Ana me inspecionou antes de chegar à sua própria conclusão.

— Vocês duas não estão nem um pouco preocupadas comigo? E se suas especulações forem completamente erradas e eu realmente morrer depois de vinte e quatro horas? — Lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos, traçando minhas bochechas e caindo do meu queixo.

Ana e Diana trocaram um olhar preocupado. Abriram as portas, e ambas saíram, vieram para o banco de trás para me abraçar dos dois lados.

— Você não vai morrer. Eu não vou deixar. — Ana sussurrou no meu ouvido, me consolando.

— O que diabos eu devo contar... continuar a falar para... para o Henrique agora? Que dormi com um estranho qualquer e ele me marcou e eu vou m…morrer? — Solucei, colocando as mãos no braço de Ana que estava ao redor dos meus ombros.

— Você não precisa contar nada a ele ainda. Precisamos resolver isso primeiro. — Diana suspirou pesadamente, dizendo em um tom estranhamente irritado.

— Quem era esse homem? Você realmente não sabe? — Ana se afastou, olhando para o meu rosto coberto de lágrimas.

Respirei fundo, lembrando do rosto dele, do corpo tatuado, do poder que ele emanava. Tudo era… memorável nele. Engoli em seco meus pensamentos estranhos e balancei a cabeça.

Diana limpou minhas lágrimas com as pontas dos dedos, me dando um olhar preocupado.

— Ele emanava uma aura de Alpha. E ele parecia velho – muito mais velho que nós. — Revelei.

O queixo de Diana caiu e Ana refletiu suas expressões surpresas.

— Você está vinculada a um Alpha? — Ana exclamou em admiração.

— Eu não estou vinculada a ele. Eu vou morrer. — Gritei, começando a chorar de novo.

— Eu não quero morrer. Não antes de conseguir minha loba pelo menos. A vida toda, esperei ter minha loba e agora, eu vou morrer? Isso parece tão injusto para mim. — Coloquei as mãos sobre o rosto, chorando de frustração.

— Por que você tem tanta certeza de que ele não é seu companheiro? — Diana suspirou pesadamente.

— Porque eu sou a companheira do Henrique! — Minha voz aumentou de volume.

— Por que vocês duas nunca acreditam nisso? Por que odeiam tanto o Henrique? — Resmunguei, limpando minhas bochechas.

Ana e Diana trocaram um de seus olhares misteriosos novamente.

— Parem de olhar uma para a outra e me digam o motivo, por favor! — Implorei.

— Natária. — Ana exalou suavemente. — Henrique acredita que você é a companheira dele. Ele pode estar enganado. Você não deveria acreditar nele a menos que sinta o vínculo você mesma.

— Você já se sentiu atraída por ele? Alguma vez sentiu qualquer tipo de faísca? Tenho certeza de que é possível sentir a conexão mesmo que não tenha uma loba. — Diana acrescentou em um tom estridente.

Passei os dedos pelo meu cabelo embaraçado, lembrando cada momento que passei com Henrique.

— É verdade que nunca senti qualquer tipo de conexão com ele, mas ele disse… eu sou a companheira dele e com certeza ele não estava mentindo para mim. — Rejeitei a ideia de que Henrique estava me enganando.

— Não estamos dizendo que ele estava mentindo. Estamos dizendo que ele pode estar enganado. — Ana e Diana trocaram aquele olhar sorrateiro novamente.

Olhei para as duas, uma por uma:

— Como alguém se engana sobre ser companheiro de alguém?

A pergunta deixou Diana e Ana sem palavras. Todas nos olhamos em completo silêncio.

— Sinto que vocês duas estão escondendo algo de mim. — Murmurei, esquecendo de tudo por um momento.

— Como era esse Alpha? — Ana mudou de assunto, abrindo a porta do carro e saindo.

— Você não respondeu a minha pergunta. — Apontei.

Diana seguiu Ana e ambas voltaram para o banco do passageiro e do motorista em silêncio.

— Precisamos encontrar esse seu companheiro. — Diana balançou a cabeça em determinação.

— Ele não é meu companheiro. — Disse, frustrada.

— Gostaria de ver você negar isso quando não morrer esta noite. — Ana revirou os olhos, ligando o motor.

— Mas e se eu morrer esta noite? — Encostei a cabeça no banco e olhei para frente.

Eu ia morrer. Eu soube disso. Aquele homem… Os olhos dele passaram diante dos meus olhos enquanto pensei nele… Ele não era meu companheiro. Ele nunca poderia ser.

Diana e Ana não me responderam e ignoraram minha existência pelo resto do caminho de volta para casa.

Nossa alcateia — a Alcateia da Floresta do Norte — estava situada nos arredores da cidade. Era uma cidade pequena… Não seria errada dizer isso.

Nos mantemo afastados dos humanos geralmente, porque não queríamos que eles soubessem sobre nossa existência. Era o mesmo para todas as alcateias, mas a nossa era a segunda alcateia mais forte no mundo dos lobisomens, enquanto a alcateia mais forte era a Alcateia dos Caminhantes Noturnos.

Ana estacionou o carro do lado de fora da minha casa de dois andares. Estava pintada de branco, por dentro e por fora, dando-lhe um aspecto elegante, mas sem graça.

Saí do carro, olhando em volta para ver se alguém estava por perto. Era o horário usual de treinamento da alcateia e da escola, então não vi ninguém.

— Vamos entrar antes que alguém te veja. — Ana agarrou meu braço, me puxando em direção à porta principal.

Diana tirou as chaves da minha bolsa sem nem perguntar e destrancou a porta.

Meu coração pulou uma batida enquanto minhas palmas começaram a suar.

Por favor, por favor, por favor, Deusa da Lua… Não me faça encontrar com a mamãe, o papai ou Emília.

Entrei na casa e caminhei instantaneamente em direção às escadas para desaparecer no meu quarto antes que qualquer membro da minha família me visse.

— Natália Silva! — Mamãe gritou da cozinha.

Minha alma deixou meu corpo e meus pés congelaram no primeiro degrau. Arrepios começaram a percorrer meu corpo.

Inconscientemente, levantei a mão e ergui a gola da camisa para esconder a marca no meu pescoço. Ela ia me matar se descobrisse que fui marcada por um estranho qualquer.

— ONDE DIABOS VOCÊ ESTEVE A NOITE TODA?! EU NÃO DISSE QUE VOCÊ NÃO PODIA SAIR?! — Ela saiu da cozinha, gritando comigo o tempo todo.

— Sra. Silva. Nós a levamos conosco. Não foi culpa dela. — Ana tentou me defender.

— Ana e Diana, queridas. — O tom dela suavizou. — Estou falando com minha filha imbecil. Sugiro que vocês duas voltem para casa depois dessa longa noite.

Meu rosto esquentou de vergonha. Meus dedos apertaram o corrimão enquanto lágrimas ameaçaram cair dos meus olhos.

— Certo, Sra. Silva. — Diana murmurou decepcionada.

Pude ouvir as duas correndo para a porta porque minha mãe pediu para elas que saíssem, de forma muito educada. A porta principal abriu e fechou.

— Se não fosse suficiente nos desgraçar com seu nascimento e sua presença… agora você está saindo e dormindo com homens aleatórios? — A voz dela soou mais próxima do que antes.

Claro. Ela sentiu o cheiro desconhecido em mim. Engoli o nó na minha garganta e me virei, apenas para encontrá-la bem atrás de mim.

— Eu…

Um tapa forte que atingiu minha bochecha esquerda me calou. Coloquei a mão sobre a bochecha, baixando os olhos.

— Emília sempre disse que você era uma vadia! Eu deveria ter acreditado nela antes. — Ela rosnou na minha cara, agarrando meu cabelo e puxando meu rosto para mais perto dela.

Fechei os olhos, inalando profundamente. Era normal, estava tudo bem. Quis dizer essas palavras a mim mesma como sempre, mas tudo o que pude fazer naquele momento foi rezar para que ela não visse a marca no meu pescoço.

— Você não tem uma loba e todos já querem que você saia embora daqui. Agora você quer que eles descubram que você está dormindo com homens que nem são desta alcateia. Você está tão ansiosa para nos expulsar desta alcateia?! — Ela soltou meu cabelo com um tranco, sibilando para mim.

— Desculpe, mãe. — Lágrimas começaram a escorrer pelas minhas bochechas.

— Saia da minha frente e não desça pelo resto do dia. Não quero te ver! — Ela gritou comigo.

Eu não perdi um momento em subir as escadas e correr direto para o meu quarto, chorando.

Morrer esta noite… não parecia mais uma má ideia. Se mamãe contasse ao papai, ele iria me matar com as próprias mãos.

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