Capítulo 6
NATÁLIA

— Ok! Concordo com vocês duas. Por favor, me ajudem a encontrar esse homem. — Eu disse a Ana e Diana, que estavam sentadas na cama de Diana.

A preocupação e a ansiedade estavam claras nos olhos delas, junto com uma pena suprimida. Eu tinha enfaixado a minha cabeça mais cedo e, como de costume, a Doutora Luana insistiu para que eu admitisse que alguém estava me maltratando, mas... eu menti para ela e disse que tinha caído das escadas, como sempre faço. Essa desculpa estava se tornando ridícula neste ponto, mas ninguém nesta alcateia dava a mínima para o que acontecia com a filha do Beta sem lobo. Para todos eles, eu deveria morrer logo.

Em vez de ir para casa depois de enfaixar minha cabeça, fui para a casa de Diana. Como esperado, ela e Ana estavam esperando por mim. É como uma rotina. Toda vez que sou repreendida, venho aqui para buscar de conforto. Os pais de Ana e Diana me permitem ficar na casa delas porque são os únicos, além de Henrique, que se importam comigo.

— Então você acredita que ele é seu companheiro agora. — Ana fez uma afirmação animada.

— Não. Há algum erro nessa situação. — Eu disse a elas sem piscar os olhos.

— Você está brincando com a gente? Já passou da meia-noite e você não morreu. Isso só significa uma coisa. Aquele homem é seu companheiro e ele te reivindicou corretamente. — Diana explodiu comigo.

Balancei a cabeça:

— Eu me recuso a acreditar nisso.

— Você não pode negar isso, Natália. Por favor, tente entender... Henrique não é seu companheiro. — Ana agarrou minhas mãos nas dela e afirmou.

Balancei a cabeça novamente:

— Ele disse que é meu companheiro e não há nada nem ninguém em quem eu confie mais do que nele. Henrique é meu companheiro, Ana.

Os olhos de Ana perderam o brilho e ela trocou um breve olhar com Diana, que parecia igualmente frustrada.

— Vocês duas sabem de algo. — Murmurei.

— Precisamos encontrar esse homem. Ele pode te fazer entender isso melhor. — Diana interveio.

Assenti com a cabeça. Sim, aquele homem com olhos de oceano poderia me fazer entender por que eu não estava morta, mesmo depois de ele me marcar indevidamente.

— Talvez... eu tenha consentido enquanto estava bêbada. — De repente, um pensamento me ocorreu.

Ana soltou um suspiro pesado e largou minhas mãos.

— Eu sabia que você viria até nós, então reuni as fotos de todos os Alfas. — Ana me disse.

Diana gritou entusiasmada e se aproximou de nós. Eu não entendia por que minhas duas melhores amigas queriam desesperadamente que Henrique não fosse meu companheiro. Henrique também era nosso amigo de infância, mas algo havia mudado entre nós quatro. Por um lado, eu era sua companheira, mas por que isso afetava tanto Diana e Ana? Tinha certeza de que descobrirei em breve.

— Veja. — Ana empurrou a tela do telefone perto do meu rosto para que eu pudesse ver a foto.

— É ele? — Diana perguntou esperançosamente.

Balancei a cabeça. Ana me mostrou a próxima foto e depois a próxima e outra. Vimos muitas fotos, mas ele não era nenhum deles.

— Você tem certeza de que ele era um Alfa? Já te mostrei fotos de todos os Alfas. — Ana jogou o telefone de lado e se deitou na cama, irritada.

— Não posso ter certeza, Ana. Acho que ele era um Alfa porque parecia poderoso como um. Mas meus sentidos não funcionam tão bem quanto os seus, então não posso ter certeza. — Dei de ombros.

Diana bateu a palma no rosto e se deitou ao lado de Ana para se lamentar. Me juntei a elas instantaneamente e nós três ficamos olhando para o teto em silêncio por um tempo.

— Como ele era? — Diana sussurrou depois de um tempo.

Meu coração estranhamente pulou uma batida perigosa quando me lembrei do toque dele, de seus movimentos fortes, de seu olhar penetrante. A dominação que ele exalava era algo de outro mundo. A maneira como ele me reivindicou parecia parte de uma fantasia proibida.

— Ele era um idiota. — Murmurei.

— Seu coração não concorda. Você sempre esquece que podemos ouvir os batimentos do seu coração. — Diana riu baixinho.

— Aposto que você estava pensando na noite passada agora mesmo. — Ana provocou.

Franzi os lábios antes de fechar os olhos. Minha cabeça estava começando a doer novamente. O efeito do analgésico estava passando.

— Não me lembre de algo que estou morrendo de vontade de apagar da minha mente. — As palavras saíram da minha boca sem controle.

O silêncio caiu entre nós novamente. De repente, meu telefone tocou. Me sentei na cama e peguei o telefone da mesa de cabeceira.

Ao ver o nome de Henrique brilhando na tela, me peguei prendendo a respiração.

— Não conte nada a ele. Não até você descobrir por si mesma. — Ana foi rápida em me avisar.

Atendi a ligação e coloquei o telefone ao lado do ouvido.

— O…Oi... — Minha voz falhou.

Lágrimas se acumularam em meus olhos, meu aperto no telefone se intensificando.

— Deusa! Onde você esteve? Quero se ver agora! — Henrique suspirou imediatamente.

Meus olhos se moveram para o olhar de aviso de Ana.

— Eu... eu estou na casa da Diana. — Eu disse a ele, a culpa corroendo minhas entranhas.

— Espere aí. Estou indo se buscar. Precisamos conversar. — Henrique desligou a ligação após me instruir.

— Ele sabe? Ele descobriu? — Comecei a hiperventilar instantaneamente.

— Não. Ele não sabe. — Diana se levantou e esfregou minhas costas.

— Calma, Natália. Ele só quer te ver. — Ana tentou me tranquilizar.

Mas eu não conseguia respirar. Henrique nunca mais vai me ver depois de hoje. Esse pensamento é suficiente para fazer meu coração sangrar.

— É tudo minha culpa. Eu nunca deveria ter ido lá. — Joguei minha cabeça nas minhas mãos.

— Vamos lá, Natália. Não se culpe por isso. O que está feito está feito. Vamos consertar isso. Eu prometo. — Diana passou os dedos pelo meu cabelo suavemente enquanto tentava me convencer.

Balancei a cabeça e respirei fundo. — Eu estraguei tudo feio.

*****

Como Henrique disse, ele veio me buscar na casa de Diana em meia hora. A Sra. Cátia — mãe de Diana — veio me informar no quarto de Diana.

— Não cometa mais erros, Natália. — Ana segurou minha mão e me parou ao lado da porta principal.

Diana correu até nós e agarrou minha outra mão:

— Tome a decisão certa. Você precisa.

Eu não sabia o que elas estavam pedindo, mas ainda assim assenti a cabeça antes de sair da casa de Diana.

Henrique estava do outro lado da rua, encostado em uma árvore, me observando. Eu tremi e inconscientemente ajustei a gola da minha blusa.

O homem diante de mim era o exemplo de perfeição. Seu cabelo castanho desgrenhado e seus olhos castanhos se complementavam. Ele não era frio como aquele que me marcou contra minha vontade. Ele era compreensivo, educado e gentil. Tudo o que uma mulher quer em seu companheiro, em seu namorado ou marido.

Caminhei em direção a ele com o coração pesado.

— Oi. — Minha voz era pequena.

— Oi. — Ele respondeu com um sorriso suave.

— Caminhe comigo. — Ele me disse em seguida.

Assenti a cabeça e segui sua ordem sem pensar duas vezes. Caminhamos pela rua, lado a lado.

— O que aconteceu na noite passada? — Ele fez a pergunta mais temida.

Minha cabeça se virou em sua direção. Encontrei-o já olhando para mim, seus olhos castanhos parecendo negros na luz fraca.

Será que ele sabia? Eu deveria ter sabido que Emília contaria a ele imediatamente. Lágrimas se acumularam em meus olhos.

— Eu... — Respirei fundo.

— Eu fiquei preocupado quando Diana e Ana me ligaram mentalmente e disseram que você estava desaparecida. Você ficou bêbada e dormiu na beira da estrada. Você acha que isso é seguro? — Ele desabafou, sua voz aumentando de volume a cada momento.

Soltei um suspiro de alívio e balancei a cabeça:

— Desculpa.

Ele não sabia.

— Eu não disse que você não deveria ir a lugares como aqueles? Não é seguro agora. — Ele bufou, cruzando os braços sobre o peito.

— Desculpa. Eu realmente sinto muito. — Pedi desculpas novamente.

— E se você fizer isso de novo? — Ele questionou, levantando a sobrancelha esquerda perfeitamente esculpida.

— Eu não vou. Eu prometo. — Murmurei.

Embora ele estivesse falando sobre ir a boates, eu estava falando sobre algo completamente diferente.

— É melhor você cumprir suas palavras. — Ele advertiu com uma voz severa.

Balancei a cabeça sutilmente.

Henrique descruzou os braços e pegou minha mão antes de começarmos a caminhar pela rua novamente.

Um nó se formou na minha garganta quando percebi que ele nem se preocupou em perguntar por que minha cabeça estava enfaixada ou o que tinha acontecido comigo.

Meu aperto sobre sua mão se intensificou quando esse pensamento surgiu em minha mente.

Henrique sabia qual era o problema comigo e como todos me tratavam. Talvez, por isso ele não quisesse perguntar porque tinha medo de me deixar desconfortável. Convenci minha mente e depois meu coração em absoluto silêncio.

Mas, isso não aliviou a dor no meu coração estúpido.

Continuamos a caminhar e paramos quando a casa do Alfa — a casa de Henrique — apareceu à vista. Meus olhos notaram uma figura familiar, o beta da Alcateia dos Caminhantes Noturnos.

Eu o encarei e Henrique também.

O Alfa João e o Beta estavam agora apertando as mãos. Havia sorrisos sombrios em seus lábios, tão falsos quanto o acordo temporário que tinham, seja ele qual for.

Havia sangue ruim entre a Alcateia dos Caminhantes Noturnos e toda a comunidade de lobisomens. Todos nós os odiávamos e mais do que qualquer um, odiávamos o Alfa deles, Ricardo Santos.

Por quê? Alguém devia perguntar. Claro, ele matou pessoas e era implacável e força as pessoas a fazerem o que ele queria, mas não eram todos os Alfas assim? Então, por que todos nós odiávamos tanto Ricardo?

Isso porque ninguém podia derrotá-lo. Ele era incomparável em termos de força, poder e riqueza. Por isso todos nós o odiávamos, eu achei. Não podíamos nos livrar dele, mesmo que ele fosse uma dor no traseiro de todos.

O Beta se virou para caminhar em direção ao seu BMW elegante quando seus olhos pousaram em mim.

Oh minha Deusa! Ele ia me reconhecer!

Respirei fundo quando ele estreitou os olhos e os moveu para minha mão, segurada pela mão maior de Henrique.

Uma emoção estranha passou pelos seus olhos quando seu olhar voltou para meu mais uma vez. A emoção era tão estranha e forte que eu arranquei minha mão do aperto de Henrique e recuei.

O Beta me lançou um sorriso significativo e se sentou no banco de trás do carro.

— Você o conhece? — Henrique perguntou.

— Não. — Menti sem hesitação.

— Por que ele estava sorrindo para você então? — O tom de Henrique se tornou grave.

— Não sei. — Dei de ombros.

O carro desapareceu de vista, mas meu transe não se quebrou. O que acabou de acontecer?

— Você não está mentindo para mim, está? — Henrique veio a minha frente e me tirou do transe.

— Eu nunca poderia... — Mentir para você.

Não podia mais dizer isso a Henrique.

— Por favor, me leve para casa. — Engoli o nó que se formou na minha garganta e pedi.

Henrique me encarou, longo e firme. Então, cedeu com um suspiro.

Caminhamos pelas ruas vazias no meio da noite em um silêncio constrangedor.

Parando em frente à minha casa, Henrique se virou para mim e segurou meu rosto. Ele se aproximou, seus lábios quase tocando os meus.

Uma onda de choque passou por mim quando o empurrei para trás e me afastei.

— QUE DIABOS HÁ DE ERRADO COM VOCÊ?! — Ele gritou.

Meu coração pulou uma batida, com medo de que alguém saísse de casa.

— Desculpa. Eu realmente sinto muito, Henrique, mas eu... eu não estou me sentindo bem. Me perdoe! — Eu disse, correndo para dentro de casa.

Henrique não me chamou e só parei para respirar quando tranquei a porta principal por dentro.

— Que visão interessante! — Emília bocejou da sala de estar, mas não se deu ao trabalho de acordar mamãe e papai dessa vez.

— Deixei a pintura no seu quarto. — Murmurei antes de desaparecer escada acima.

Todos na minha família moravam no andar térreo e eu era a única cujo quarto ficava no primeiro andar. Tinha algo a ver com o fato de que era tudo o que minha família podia fazer para me isolar.

Balançando a cabeça, parei em frente à minha porta e encostei a testa nela.

O que estava fazendo?

Tomei a decisão certa. Diana me pediu.

Foi a decisão certa não deixar Henrique me beijar quando eu sabia que estava marcada por outra pessoa? Como podia ser tão leal a alguém que nem conheçia quando nem fui leal ao homem que afirmava ser meu companheiro?

O que estava fazendo? Eu não sabia mais.

Achei que tudo ficaria bem, desde que eu encontrasse aquele homem, mas falhei nisso também. Ele não era um dos Alfas e eu não sabia onde encontrá-lo agora.

Suspirando, empurrei a porta do meu quarto para abrir. Um suspiro horrorizado saiu dos meus lábios quando vi a figura muito familiar sentada na minha cama como se fosse dele.

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