Capítulo 3
NATÁLIA

A luz eterna e ofuscante bateu no meu rosto, me fazendo gemer e me mexer no colchão macio. Meu corpo doía como se alguém o tivesse espancado até quebrar enquanto minha cabeça girava.

Demorei um momento para abrir os olhos e encarar o teto em completa confusão.

“Onde estou?” Essa foi a primeira pergunta que penetrou meus pensamentos.

Os eventos da noite anterior passaram diante dos meus olhos quando tentei me levantar, apenas para perceber que estava nua, estranhamente pegajosa entre as pernas, inegavelmente dolorida.

O pânico percorreu minhas veias, minha vida inteira começando a girar na minha cabeça.

Um suspiro escapou dos meus lábios e rolei para o lado, caindo no chão com um baque. Um som de gemido veio de cima.

Todos os meus sentidos voltaram à vida enquanto eu esquecia toda a dor na minha cabeça e no meu corpo.

Merda! O que eu fiz?!

Coloquei a mão sobre a boca, me impedindo de fazer qualquer barulho. Eu não queria gritar e acordá-lo. Meu rosto se contorceu e eu mal consegui não começar a chorar de puro horror.

Levantando-me de joelhos, espreitei por cima da cama para olhar para as costas do homem. Seus olhos azuis oceânicos passaram pela minha mente, as imagens da noite anterior se tornando ainda mais claras.

Revisei meus pensamentos, tentando lembrar onde deixei meu celular na noite passada.

— Merda! — Sibilei para mim mesma, antes de cobrir a boca e observar cautelosamente as costas do homem novamente.

Deixei meu celular no carro da Ana junto com minha mini bolsa porque era muito incômodo para mim carregar tudo isso.

Sem encontrar outra saída, meus olhos procuraram o vestido para que eu pudesse vesti-lo e desaparecer daqui antes que este homem acordasse.

Graças à Deusa! Eu o encontrei deitado no chão ao lado da cama.

Eu me arrastei até ele e o peguei. A peça de roupa rasgada balançou diante dos meus olhos, zombando de mim.

Meus olhos se desviaram para as costas do homem:

— Animal. — Sussurrei para mim mesma.

Engoli em seco, examinando o quarto mais uma vez. Para meu alívio, a camisa dele estava perto dos pés dele na cama.

Levantando-me de joelhos, estendi a mão para pegar a camisa dele. O homem se mexeu na cama de repente, me assustando.

Abaixando a cabeça, arrastei meu lábio superior entre os dentes enquanto meu coração começava a bater forte no peito.

Respirando pelo nariz, levantei a cabeça depois de um momento sem ouvir a voz dele me chamando.

As costas dele ainda estavam voltadas para mim, seus músculos tatuados salientes em plena exibição enquanto a parte inferior do corpo dele estava escondida sob os lençóis.

Cautelosamente, empurrei minha mão para frente e peguei a camisa dele antes de puxá-la para mim.

Levantei-me do chão e a vesti apressadamente. Durante todo o tempo, meus olhos permaneciam na figura dele, nervosos e cautelosos.

Depois de abotoar a camisa com sucesso, caminhei em direção à porta.

O fato de eu estar usando apenas uma camisa não me incomodava tanto quanto trair o Henrique. Lágrimas encheram meus olhos e, inconscientemente, olhei para o estranho por cima do ombro. Uma atração estranha me fez continuar olhando para ele por um momento mais longo do que eu pretendia originalmente.

Aspirei levemente e saí do quarto, apenas para esbarrar em um peito duro no meu caminho. Meu nariz captou o cheiro da pessoa à minha frente e abaixei a cabeça, ficando alerta.

Merda! Isso era o que estava faltando.

— Quem é você? De qual alcateia você é? — O homem perguntou, inclinando-se para olhar meu rosto.

Ele era o beta da Alcateia dos Caminhantes Noturnos. Reconheci o cheiro dele porque ele visitou recentemente o Alpha João para falar sobre a guerra que poderia acontecer entre nós se não atendêssemos às suas exigências. Todos começaram a odiá-los em nossa alcateia depois que esse beta nos visitou, se já não odiavam antes.

Eles eram os demônios que governam nosso mundo de lobisomens. Eram chamados Alcateia dos Caminhantes Noturnos porque eram conhecidos por atacar no meio da noite e acabar com alcateias antes que o sol voltasse a brilhar no céu. Mesmo o pensamento de encontrá-los ou irritá-los pôde fazer um lobo guerreiro se borraria de medo.

Eles eram perigosos e misteriosos. Existiam muitas lendas sobre seu Alpha demoníaco. As pessoas raramente o viram, mas todos conhecem seu nome, Ricardo Santos.

Um arrepio percorreu minha espinha ao pensar naquele monstro de homem.

— Eu fiz uma pergunta! — Ele rosnou ameaçadoramente.

— Eu...

Será que ele me reconheceu? Ficou difícil para mim respirar.

Como se a Deusa da Lua tivesse decidido me salvar, o telefone dele começou a tocar.

— Não se mova. — Ele avisou, levantando um dedo e se virou, atendendo a ligação.

— Sim, Alpha! — Ele disse.

Aquele bruta-montes estava ligando para o beta? Sério? Ele não pode simplesmente fazer uma ligação mental? Mas, por que eu me importava? Eu conseguiu minha chance de escapar.

— Aquela garota… — Uma voz rouca apareceu no alto-falante do telefone, mas minha mente estava focada em escapar desse inimigo antes que ele agarrasse meu pescoço e o quebrasse para obter algum prazer distorcido disso.

Sem esperar mais um momento, empurrei-o com velocidade relâmpago e corri pelo corredor.

— HEY! PARE AÍ! — Ele gritou de trás, aparentemente ainda muito ocupado demais falando com seu Alpha babaca para me perseguir.

Nunca cometi o erro de olhar para trás e mostrar meu rosto, o rosto da filha do beta da alcateia rival deles.

Merda! Tenho certeza de que ele não me reconheceu, só perguntou porque sentiu que eu era uma lobisomem e ele precisava ter certeza de que eu não era uma ameaça para ele ou para qualquer um dos seus companheiros que possivelmente estava andando por aqui.

Suspirei de alívio quando saí do clube, a luz do sol brilhando sobre mim.

Instantaneamente, fui agarrada por uma figura que apareceu à minha direita.

— Onde diabos você estava?! Nós estivemos procurando por você a noite toda! Você está louca?! Até tivemos que ligar para o Henrique porque achamos que alguém poderia ter te sequestrado! — Diana me repreendeu.

Minha alma deixou meu corpo de verdade dessa vez. Virei-me para olhar para ela, meu rosto ficando pálido.

— Henrique?! Vocês ligaram para o Henrique?! — Gritei.

A porta do clube se abriu atrás de mim. Prendi a respiração quando o cheiro da Ana invadiu minhas narinas.

— Natália! Graças à Deusa! Estávamos procurando por você há tanto tempo e não conseguimos te encontrar. Você quase nos matou de preocupação. — Ana me envolveu em um abraço por trás enquanto eu permanecia imóvel, tentando encontrar uma solução.

— Onde está o Henrique? — Afastei Ana e me virei.

— Ele está no segundo andar do clube, procurando em todos os quartos para te encontrar. — Ana me informou com uma carranca entre as sobrancelhas.

— Precisamos ir. Agora. — Gritei para minhas melhores amigas e corri direto para o estacionamento onde me lembrava que Ana tinha estacionado o carro.

— Deixe-me chamar Henrique! — Ana gritou de trás e meus pulmões pararam de receber oxigênio.

— NÃO! — Gritei para ela.

Ela me seguiu até o estacionamento, junto com Diana, cujos olhos estavam arregalados, o choque aparente neles.

Os olhos dela me examinaram e um olhar de entendimento passou pelo rosto dela.

— Vamos. Vamos embora. Podemos contar a Henrique depois. — Diana agarrou o pulso de Ana e a puxou para o carro.

Ana tirou as chaves da bolsa e destrancou o carro. Pulei no banco de trás, mantendo a cabeça baixa, caso Henrique aparecesse do nada e me pegasse assim.

Eu não sabia. Eu não sabia o que fazer além de fugir dele. Eu não queria que ele descobrisse, não assim.

Diana subiu no banco do passageiro e se virou para me encarar imediatamente:

— Você tem muito o que explicar.

Assenti com a cabeça enquanto Ana ligava o motor e tirava o carro da garagem.

— Você transou com alguém. — Ana concluiu com uma voz estranhamente calma.

Ela estava tão ocupada com o alívio de me encontrar que nem percebeu que eu não estava usando meu vestido e que eu tinha um cheiro horrível de sexo misturado ao cheiro de outro homem.

— O que aconteceu?! — Diana bufou, mantendo a cabeça virada para mim.

Inalei profundamente e olhei para ela e depois para Ana, que estava me encarando pelo espelho retrovisor.

— Eu estava bêbada… — Não era uma desculpa boa o suficiente.

— E eu… me senti calor… por alguma razão estranha… Eu não consegui me controlar e fui atrás desse… desse homem que eu nem conheço e não imaginei que as coisas se desenrolariam assim… — Falei com dificuldade, tentando aliviar minha dor.

— Merda! Eu me sinto tão horrível. Eu deveria ter ficado para trás, deveria ter contado ao Henrique. — Aspirei alto.

Diana balançou a cabeça.

— Não. — Ana me deu um olhar incisivo.

— O quê? — Parei de chorar por um segundo.

— Não conte ao Henrique. Você sabe como ele é… ele não vai aceitar isso de ânimo leve e… eu não acho que seja completamente sua culpa. É a temporada de cio… e não é totalmente raro para… lobas experimentarem o cio quando estão perto de seus companheiros. — O olhar de Diana alternava entre mim e Ana.

— Ele não era meu companheiro! Ele era um homem aleatório. Eu… eu nem sei quem ele era… e… e… eu deveria ir contar ao Henrique agora mesmo… — Olhei para minhas amigas com descrença, achando difícil formar as palavras certas.

Diana estendeu a mão para o meu pescoço. Eu não recuei e permiti que ela empurrasse o colarinho para o lado esquerdo:

— Então como você explica isso, Natália?

Ela pressionou um ponto onde meu pescoço encontra minha cabeça e um chiado escapou dos meus lábios involuntariamente.

— É ... é uma marca. — Ana arfou alto, pressionando o pé no freio abruptamente.

O carro parou com um tranco e meu rosto bateu no encosto do banco do motorista, com força.

O choque afastou toda a dor e culpa. Minha mão tocou o mesmo ponto e senti um pequeno inchaço em forma de cabeça de lobo.

Recostei-me e olhei no espelho retrovisor. A marca vermelha brilhante de uma cabeça de lobo olhava de volta para mim.

Minhas mãos ficaram frias. O tempo desacelerou ao meu redor.

— Aquele desgraçado me marcou! — Gritei em descrença.

— Sim. E você ainda está viva… então… — Diana estremeceu antes de um sorriso conhecedor se espalhar pelo lábio dela.

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