Por conta das inscrições para o concurso, o conselho decidiu anunciar um feriado de última hora, possibilitando a inscrição de várias jovens, inclusive a de Kalinda, que se ocupavam com, trabalho, escola, ou qualquer outra coisa.
O pátio enorme da instituição estava lotado, um grande tumulto tomou conta dos corredores. Kalinda observava tudo com muito medo, temia ser pisoteada, caso algo acontecesse, ou pior, ser morta por alguém, e não poderem identificar o responsável.
A sua mãe havia se desprendido de si, assim que entrou, com a desculpa de ir se informar. E ela ficou ali, debaixo de uma árvore, sentada em um banco de mármore falso, com as pernas cruzadas e um livro em mãos, por mais que ela quisesse que fosse um belo livro de fantasia romântica, a realidade apenas poderia lhe proporcionar um livro sobre autobiografia do romancista, Romants.
ー Uma boa escolha. ー Disse um rapaz alto e viril atrás dela.
A jovem se assustou dando um pequeno pulo. Seu coração batia acelerado, nem a própria saberia dizer se fora por conta do susto, ou pela beleza do rapaz, que agora estava em sua frente, a encarando.
ー Desculpe. Não foi minha intenção assustá-la. ー Ele diz olhando para o chão como se estivesse envergonhado, logo voltando sua atenção para a face ainda confusa da jovem.
Kalinda havia se perdido na imensidão esmeralda dos olhos do jovem, e nem percebeu. Ele era bem alto, tinha a pele bronzeada e cabelos castanhos claros, cortados recentemente, com as laterais mais baixas e o topo um pouco grande, em um topete de lado.
ー Não me assustou. ー Respondeu ela com uma certa dificuldade, depois de muito analisar ele.
Um belo sorriso brotou nos lábios do homem, que apesar da idade, parecia um adolescente qualquer.
ー Que bom. ー Disse e suspirou aliviado. ー Pensei que poderia perder uma amiga em potencial.
ー Amiga em potencial, isso é uma estratégia esquisita de tentar se referir a mim, como se fôssemos próximos? ー Indagou ela fazendo uma cara cômica e confusa.
O rapaz engoliu seco, não sabia o que responder. Ele achou fofo e ingênuo da parte dela, não percebeu o flerte ousado e direto.
ー Sim?. ー Respondeu não muito convicto.
Com vergonha e desconfortável com o rumo que a conversa estava indo, ele pôs as mãos dentro dos bolsos do sobretudo preto curto que vestia.
ー Não precisa ficar com vergonha. ー Ela avisou ao perceber a coloração avermelhada das bochechas do jovem. ー Senta aqui. ー Mandou batendo a mão levemente sobre o banco.
Ainda que hesitante, ele se sentou. Ele via inocência nos olhos dela, diferente das outras quinhentas candidatas, das quais havia fugido poucos minutos atrás.
ー Qual o seu nome? Se me permite perguntar, é claro. ー Ele diz côrtes, olhando no fundo dos olhos castanhos claros da jovem.
ー Não sei se deve dizer, te conheci não faz nem dez minutos. ー Ela desconversou provocando-o.
A oscilação de humor e personalidade daquela garota, deixou ele completamente intrigado, e vidrado. Todo esse jogo de gato e rato, estava o deixando com um sentimento quentinho no peito, um que só acontecia quando ele morava no exterior, quando não se aproximavam dele por interesse.
ー Certo. Hum… ー Dizia ele pensando. Tentando achar uma forma de descobrir o nome dela. ー Não me enxergue como um desconhecido, tente visualizar um homem que está tentando descobrir o seu nome, um homem que quer ter a sua confiança e que não vai perdê-la tão facilmente. ー Completou calmamente.
Kalinda tinha muita dificuldade em confiar em estranhos. Mas, aquele homem parecia conseguir derrubar todos os seus muros e ao mesmo tempo alertá-lo do perigo.
ー Tipo o meu avô? ー Indagou ela inocentemente, depois de pensar um pouco.
ー Um homem um pouco mais viril, talvez. ー Disse ele rindo do comentário, ela também riu, mais uma vez mostrando como ele conseguia se aproximar dela facilmente.
Eles ficaram ali, conversando sobre coisas aleatórias e desconexas com os assuntos que antecederam os vários novos que surgiam. Riram e debateram sobre assuntos não tão sérios, como por exemplo: a péssima escolha de palavras no discurso da princesa Anastácia Segunda, nos anos setenta. E o infame acontecimento do vazamento das fotos e vídeos da princesa Cassandra.
ー Eu nem sequer dei bola, na real, achei uma babaquice, espero que o ou os culpados paguem. ー Disse ela com um certo pesar no tom de voz.
ー Eles vão! ー Respondeu ele com uma certeza absoluta, o que chamou a atenção da jovem.
ー Como pode ter tanta certeza assim, quem é você? ー Indagou ela, estreitando os olhos, tentando passar um ar de intimidadora.
ー As damas primeiro! Qual o seu nome? ー ele perguntou com um sorriso convencido, como se tivesse ganhado algo.
As covinhas dele até eram bonitas, porém, a curiosidade e a desconfiança por parte da morena, falavam mais alto.
ー Filha, é a sua vez! Vem. ー Chamou a sua mãe na entrada para um grande corredor, um pouco mais afastado do banco onde ela estava.
ー Adeus, estranho misterioso. ー Disse Kalinda se levantando do banco.
ー Você é uma candidata. Vê se não é desclassificada de primeira, e prometo que iremos nos ver de novo. ー Respondeu ele com convicção, como se aquilo fosse um aviso, uma promessa e um conselho.
ー Então tá, beijo. ー Ela disse, antes de sair rumo ao corredor junto de sua mãe, enquanto o homem a via ir.
~¥~
Lorenzo e Arthur estavam passeando pelo enorme jardim do Palácio. O mais velho empurrava a cadeira do mais novo, ambos apreciando a bela vista e acima de tudo, a companhia um do outro.
O jardim era magnífico, tinha um labirinto verde de altos "muros". Flores que nunca haviam visto antes em todo reino e também típicas da região, o gramado verdejante e a ventania leve e sublime que açoitavam os seus rostos.
ー Como andam as coisas na academia? ー Arthur perguntou, finalmente quebrou o silêncio.
ー Bem, na medida do possível é claro.
ー Estou com saudades, talvez eu fale com a minha mãe… já passou da hora de toda essa merda de príncipe coitadinho acabar! Ela precisa entender que já sou dono do meu próprio nariz. ー Disse o príncipe calmo, porém, irritado com a forma com que tratam ele, com exceção de sua prima Cassandra, seu irmão, e o Lorenzo.
ー Eu concordo. Só tenta não explodir e m****r todos irem de fuder, tá legal? ー Propõem o professor, sabendo muito bem do que o amigo e aluno era capaz, quando contrariado.
ー Tudo bem. ー Murmurou o príncipe sorrindo para o homem, tocando em uma das mãos dele que estava em seu ombro.
ー Ótimo. ー Disse Lorenzo, um pouco mais relaxado.
Os dias passaram de forma rápida, mas, ainda sim, muito cansativos. A mãe de Kalinda a obrigou a ficar na imensa fila de espera, tinha jovens de todas as formas, tamanhos e etnias diferentes, cada uma mais bela que a outra. Todas elas tinham sonhos com a realeza, diferente de Kalinda que apenas usaria o diploma para entrar em uma universidade respeitada.Ainda que, pobres igualmente, ou até mesmo pior que Kalinda, todas estavam com suas melhores roupas, e maquiagens que até mesmo as princesas não usavam. Enquanto a morena usava apenas um vestido florido de um tecido vagabundo, nem de longe poderia ser comparado aos das demais candidatas, também usava tênis surrados e gastos, com o cabelo preso em um rabo de cavalo baixo.
O dia tão esperado tinha chegado, todas as candidatas do reino estavam alvoroçadas. O que o príncipe Charles mais temia aconteceu, as ruas estavam lotadas, nem mesmo as vielas clandestinas estavam livres.ー O que o conselho decidiu fazer em relação ao tumulto? ー Indagou o príncipe Arthur encarando o rosto sério do irmão.Charles vestia roupas formais na cor azul escuro quase pretas. O paletó estava justo em sua cintura, as lapelas eram grossas e brilhantes, a gravata era preta com minúsculos pontinhos brancos, e a calça na mesma tonalidade do paletó. Usava sapatos sociais devidamente engraçados. O seu topete molhado alinhado perfeitamente as laterais baixas.Arthur não sairia
As questões eram desafiadoras e poderiam fazer até mesmo grandes diplomatas terem uma dorzinha de cabeça para respondê-las corretamente. Kalinda poderia não ter acreditado de início, mas ali no meio daquela disputa acirrada ela percebe o quão bom foi ter estudado o máximo que pôde sobre táticas diplomáticas. Não que ela precisasse, já que as questões eram feitas apenas para jovens plebeias com um mínimo de conhecimento geral.Na primeira questão tinha uma situação hipotética, onde cabe somente à princesa impedir uma guerra contra países vizinhos. Sem rei, ou qualquer outra pessoa a quem ela poderia recorrer, tinha dez linhas onde ela deveria escrever sua tática. Segundo os ensinamentos que todo Genovyano deveria receber.Ao dar uma pausa para analisar suas adv
Arthur bebia de seu vinho tranquilamente, e sem medo de alguém pegá-lo no expediente de serviço. Quando ele decidiu cuidar pessoalmente das questões pendentes do concurso, não imaginou que seria tão entediante. Era cada resposta mais infantil e vulgar que a cada gole do vinho, seu cérebro implorava por mais para poder aguentar aquela tortura.Várias pilhas de papéis estavam sobre a imensa mesa de mármore legítimo. As vinte e oito cadeiras estavam vazias, estando ocupada somente a da ponta.ー Vossa alteza, ー Comprimentou um homem de aparência jovial invadindo a sala de reuniões. Só pela voz o príncipe já teve o desprazer de reconhecer o dono. ー Vejo que a rainha parou de te privar das delícias da coroa. ー completou com pura insistência, se sentando do out
O fim daquela rotina cansativa era sempre a melhor parte do dia. Em poucos minutos os nomes das candidatas que conseguiram passar estariam sendo anunciados em todos os veículos de informações, principalmente na rádio.ー Está ansiosa, filha? ー Luana senta no sofá ao lado da filha, estava com um vestido velho de ficar em casa mesmo. Seu sorriso gentil escondia uma ganância fora do normal, e Kalinda sabia disso.ー Não. As chances de eu passar são mínimas. ー Respondeu ela com um fio de voz, abraçou as pernas e apoiou o queixo sobre os joelhos.ー Não diga asneiras! ー Repreendeu com um tabefe, a jovem olhou com uma expressão confusa e desatenta. As notificações chegavam aos montes. Gael já não aguentava mais o celular de Kally tocando a cada segundo. Desde que acordou, a morena não olhava suas notificações. Não podia mesmo se quisesse, seu chefe não a deixaria. O horário proporciona mais calmaria, isto é, se a mera presença um do outro não os irrita sem.ー Mas que merda. ー Disse o gerente batendo os punhos no balcão. Não tinha cliente, apenas ele e a garota, e aquela zuada infernal.ー Eu posso colocar no silencioso… ー Propôs ela. Era cedo demais para criar mais uma briga com ele, era mais sensato conversar.ー Certo, mas nada de ficar lendo tabloides de fofoca. ー Alertou o moreno. Seus fios grossos estavam caindo sobre seusCapítulo 09 - Vermelho da Paixão.
O breu da noite já avisava que era hora de ir dormir. Kally estava mexendo em seu Instagram, era estranho para ela ter esse tanto de seguidores que vinha ganhando desde que foi anunciado o seu nome em todos os veículos de notícias. O seu direct estava tumultuado, várias mensagens de pessoas que nunca viu na vida, não conseguiria respondê-los mesmo se quisesse, eram muitos.Um barulho de coisa caindo prendeu sua atenção, deixou o celular de lado e foi até a janela do corredor entre sala e cozinha, olhando o lado de fora da casa, viu seu pai se levantando de um arbusto ao qual havia caído, e saiu correndo em direção ao seu carro caindo aos pedaços.ー Pai? ー Murmurou fazendo uma careta confusa. "Onde o senhor vai?" pensou a morena. Era inaceitável, um ultraje, uma audácia sem tamanho.Guilherme respirava profundamente sentado à mesa, na sala de reuniões. Seus trajes eram um terno preto e gravata vermelha. Sua impaciência e irritabilidade estavam evidentemente afloradas. Tinha uma postura desleixada e repousava seus pés sobre a mesa.A rainha abriu as portas rapidamente o pegando de surpresa. O coração dele parece ter errado uma batida pelo susto tomado. A cara da rainha não era nada boa, foi logo ao ponto sem se sentar:ー Sua forma imprudente, desleixada e vergonhosa poderia levar o reino a uma crise. Sabe que um a um, os reinos estão adotando outros tipos de governos, não vou deixar que isso aconteça eCapítulo 11 - Crianças que Comem Doce Escondido dos Pais.