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Capítulo 03 - Desconhecido Galante.

Por conta das inscrições para o concurso, o conselho decidiu anunciar um feriado de última hora, possibilitando a inscrição de várias jovens, inclusive a de Kalinda, que se ocupavam com, trabalho, escola, ou qualquer outra coisa.

O pátio enorme da instituição estava lotado, um grande tumulto tomou conta dos corredores. Kalinda observava tudo com muito medo, temia ser pisoteada, caso algo acontecesse, ou pior, ser morta por alguém, e não poderem identificar o responsável.

A sua mãe havia se desprendido de si, assim que entrou, com a desculpa de ir se informar. E ela ficou ali, debaixo de uma árvore, sentada em um banco de mármore falso, com as pernas cruzadas e um livro em mãos, por mais que ela quisesse que fosse um belo livro de fantasia romântica, a realidade apenas poderia lhe proporcionar um livro sobre autobiografia do romancista, Romants.

ー Uma boa escolha. ー Disse um rapaz alto e viril atrás dela.

A jovem se assustou dando um pequeno pulo. Seu coração batia acelerado, nem a própria saberia dizer se fora por conta do susto, ou pela beleza do rapaz, que agora estava em sua frente, a encarando. 

ー Desculpe. Não foi minha intenção assustá-la. ー Ele diz olhando para o chão como se estivesse envergonhado, logo voltando sua atenção para a face ainda confusa da jovem.

Kalinda havia se perdido na imensidão esmeralda dos olhos do jovem, e nem percebeu. Ele era bem alto, tinha a pele bronzeada e cabelos castanhos claros, cortados recentemente, com as laterais mais baixas e o topo um pouco grande, em um topete de lado.

ー Não me assustou. ー Respondeu ela com uma certa dificuldade, depois de muito analisar ele.

Um belo sorriso brotou nos lábios do homem, que apesar da idade, parecia um adolescente qualquer.

ー Que bom. ー Disse e suspirou aliviado. ー Pensei que poderia perder uma amiga em potencial.

ー Amiga em potencial, isso é uma estratégia esquisita de tentar se referir a mim, como se fôssemos  próximos? ー Indagou ela fazendo uma cara cômica e confusa.

O rapaz engoliu seco, não sabia o que responder. Ele achou fofo e ingênuo da parte dela, não percebeu o flerte ousado e direto. 

ー Sim?. ー Respondeu não muito convicto. 

Com vergonha e desconfortável com o rumo que a conversa estava indo, ele pôs as mãos dentro dos bolsos do sobretudo preto curto que vestia.

ー Não precisa ficar com vergonha. ー Ela avisou ao perceber a coloração avermelhada das bochechas do jovem. ー Senta aqui. ー Mandou batendo a mão levemente sobre o banco.

Ainda que hesitante, ele se sentou. Ele via inocência nos olhos dela, diferente das outras quinhentas candidatas, das quais havia fugido poucos minutos atrás.

ー Qual o seu nome? Se me permite perguntar, é claro. ー Ele diz côrtes, olhando no fundo dos olhos castanhos claros da jovem.

ー Não sei se deve dizer, te conheci não faz nem dez minutos. ー Ela desconversou provocando-o. 

A oscilação de humor e personalidade daquela garota, deixou ele completamente intrigado, e vidrado. Todo esse jogo de gato e rato, estava o deixando com um sentimento quentinho no peito, um que só acontecia quando ele morava no exterior, quando não se aproximavam dele por interesse.

ー Certo. Hum… ー Dizia ele pensando. Tentando achar uma forma de descobrir o nome dela. ー Não me enxergue como um desconhecido, tente visualizar um homem que está tentando descobrir o seu nome, um homem que quer ter a sua confiança e que não vai perdê-la tão facilmente. ー Completou calmamente.

Kalinda tinha muita dificuldade em confiar em estranhos. Mas, aquele homem parecia conseguir derrubar todos os seus muros e ao mesmo tempo alertá-lo do perigo. 

ー Tipo o meu avô? ー Indagou ela inocentemente,  depois de pensar um pouco.

ー Um homem um pouco mais viril, talvez. ー Disse ele rindo do comentário, ela também riu, mais uma vez mostrando como ele conseguia se aproximar dela facilmente.

Eles ficaram ali, conversando sobre coisas aleatórias e desconexas com os assuntos que antecederam os vários novos que surgiam. Riram e debateram sobre assuntos não tão sérios, como por exemplo: a péssima escolha de palavras no discurso da princesa Anastácia Segunda, nos anos setenta. E o infame acontecimento do vazamento das fotos e vídeos da princesa Cassandra.

ー Eu nem sequer dei bola, na real, achei uma babaquice, espero que o ou os culpados paguem. ー Disse ela com um certo pesar no tom de voz.

ー Eles vão! ー Respondeu ele com uma certeza absoluta, o que chamou a atenção da jovem.

ー Como pode ter tanta certeza assim, quem é você? ー Indagou ela, estreitando os olhos, tentando passar um ar de intimidadora.

ー As damas primeiro! Qual o seu nome? ー ele perguntou com um sorriso convencido, como se tivesse ganhado algo. 

As covinhas dele até eram bonitas, porém, a curiosidade e a desconfiança por parte da morena, falavam mais alto.

ー Filha, é a sua vez! Vem. ー Chamou a sua mãe na entrada para um grande corredor, um pouco mais afastado do banco onde ela estava.

ー Adeus, estranho misterioso. ー Disse Kalinda se levantando do banco.

ー Você é uma candidata. Vê se não é desclassificada de primeira, e prometo que iremos nos ver de novo. ー Respondeu ele com convicção, como se aquilo fosse um aviso, uma promessa e um conselho.

ー Então tá, beijo. ー Ela disse, antes de sair rumo ao corredor junto de sua mãe, enquanto o homem a via ir.

~¥~

Lorenzo e Arthur estavam passeando pelo enorme jardim do Palácio. O mais velho empurrava  a cadeira do mais novo, ambos apreciando a bela vista e acima de tudo, a companhia um do outro.

O jardim era magnífico, tinha um labirinto verde de altos "muros". Flores que nunca haviam visto antes em todo reino e também típicas da região, o gramado verdejante e a ventania leve e sublime que açoitavam os seus rostos.

ー Como andam as coisas na academia? ー Arthur perguntou, finalmente quebrou o silêncio.

ー Bem, na medida do possível é claro.

ー Estou com saudades, talvez eu fale com a minha mãe… já passou da hora de toda essa merda de príncipe coitadinho acabar! Ela precisa entender que já sou dono do meu próprio nariz. ー Disse o príncipe calmo, porém, irritado com a forma com que tratam ele, com exceção de sua prima Cassandra, seu irmão, e o Lorenzo.

ー Eu concordo. Só tenta não explodir e m****r todos irem de fuder, tá legal? ー Propõem o professor, sabendo muito bem do que o amigo e aluno era capaz, quando contrariado.

ー Tudo bem. ー Murmurou o príncipe sorrindo para o homem, tocando em uma das mãos dele que estava em seu ombro.

ー Ótimo. ー Disse Lorenzo, um pouco mais relaxado.

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