Arthur bebia de seu vinho tranquilamente, e sem medo de alguém pegá-lo no expediente de serviço. Quando ele decidiu cuidar pessoalmente das questões pendentes do concurso, não imaginou que seria tão entediante. Era cada resposta mais infantil e vulgar que a cada gole do vinho, seu cérebro implorava por mais para poder aguentar aquela tortura.
Várias pilhas de papéis estavam sobre a imensa mesa de mármore legítimo. As vinte e oito cadeiras estavam vazias, estando ocupada somente a da ponta.
ー Vossa alteza, ー Comprimentou um homem de aparência jovial invadindo a sala de reuniões. Só pela voz o príncipe já teve o desprazer de reconhecer o dono. ー Vejo que a rainha parou de te privar das delícias da coroa. ー completou com pura insistência, se sentando do outro lado da mesa em frente ao príncipe, pondo as longas pernas cruzadas em cima da mesa.
ー Faz um favor para todos, vai se ferrar! ー Disse o príncipe largando a caneta e olhando para o Duque que tanto odiava.
O mais velho apenas lhe direcionou um sorriso cínico, as pouquíssimas rugas que tinha ao lado dos cantos de sua boca só o deixava mais atraente ー ou no ponto de vista do príncipe, muito irritante.
Só ali, naquele instante que Arthur pôde notar o quão mudado o Duque estava. Sua pele negra brilhava pelos hidratantes caríssimos que ostentava, seus olhos cor de mel não conseguiam expressar nada além de um fogo fulminante, seus cachos baixos e laterais cortadas no um dava uma aparência jovial. Seu cavanhaque ralo por fazer o deixava mais atraente ninguém poderia negar isso, nem mesmo o príncipe.
ー O que veio fazer aqui Guilherme, seu filhinho mimado não se contentou com o título de lord? ー Indagou o mais novo voltando sua atenção às provas das candidatas. ー Se bem que nem isso ele merece… ー Concluiu arqueando uma sobrancelha pelo absurdo que acabara de ler.
ー Se eu já não estivesse acostumado com seu ódio pela minha parte da família por ter roubado toda a beleza, diria que está com muita pressão sobre seus ombros, priminho. ー Um sorriso malicioso brotou em seus lábios rosados, porém, houve um imenso silêncio, o que o incomodava intensamente.
Guilherme tomou rapidamente o papel das mãos do príncipe. Arthur o olhou com raiva explícita em seus olhos, seus grunhidos e cerrar de dentes prova a teoria de que ele poderia matar o Duque a qualquer momento.
Descaradamente o homem negro continuou a ler, era audaciso mas muito promissor, a cada linha lida ele sentia que a monarquia de Gernovya precisava daquilo.
ー Essa tal de Kalinda concluiu a primeira fase com louvor, né? ー Inquiriu arqueando uma sobrancelha.
ー Não. ー respondeu ele enraivecido pelo comportamento anti-ético do primo. ー Agora me dê logo essa merda!
De queixo caído pela resposta recebida, Guilherme devolve o pedaço de Folha que poderia mudar o destino de uma pobre plebéia.
ー Como assim? ー Perguntou novamente quase gritando. ー Essa menina é mais parecida com a rainha do que você e Charles juntos! ー Exclamou apontando o dedo, era descomunal sua irritação pela decisão precipitada do primo.
ー Tem setenta e oito provas que se saíram melhores do que essa candidata! Ela ainda por cima zombou da nossa irresponsabilidade. ー Justificou o príncipe, organizando o restante dos papéis.
ー Mas…
ー Mas nada! ー Exaltou Arthur cortando o argumento infundado do primo. ー Essa é a minha decisão e não pode ser mudada. Fim. ー Concluiu pondo a pilha de escolhidas em seu colo e rodando as rodas de sua cadeira até a saída.
Após o príncipe sair deixando o Duque sozinho na sala, a mente dele só focava em um único pensamento: "Conseguir que Kalinda fosse aceita na segunda fase do concurso".
Depois de pensar muito sobre o assunto, enfim chegou a uma decisão. Se levantou da cadeira com seu peito inflado, barriga para dentro e coluna ereta, foi no encalço do seu primo. Saiu perguntando aos empregados para que lado Arthur teria ido.
Andando pelos corredores do primeiro andar do palácio, ele viu o príncipe colocando todas as provas aceitas dentro de uma caixa com todos os dados sobre o conteúdo na lateral feita de papelão.
Ao deixar a caixa ali no primeiro degrau da escola e ir de forma apressada pelo corredor que dava acesso ao banheiro, o duque sorriu vitorioso, afinal não seria tão difícil assim fraudar aquele resultado.
Rapidamente ele saiu de trás da coluna entalhada em ouro e prata caminhando disfarçadamente até o início da enorme escadaria. Abrindo a caixa ele pôs a prova de Kalinda no meio das outras, e subiu para o seu quarto como se nada tivesse acontecido. Ele não ligava para as consequências, afinal ele ficaria naquele Palácio apenas essa noite.
Entregou-se ao sono com a sensação de missão comprida. Não seria um principezinho com alma de filósofo que iria impedir os caprichos do Duque.
ー Você parece estar cansada. ー Disse Charles debaixo do seu edredom em uma ligação de vídeo com Kalinda.
ー Sim. Hoje eu tive que descarregar um caminhão de açúcar refinado. ー Confessou a jovem mostrando apenas seu rosto na ligação.
Os dois estavam escondendo suas reais vidas. De um lado uma plebéia escondendo a pobreza que vivia, e do outro um príncipe que não queria ser tratado pela garota como nada além de um garoto qualquer do reino.
ー E não tem ninguém que pudesse te ajudar? ー Ele perguntou tentando não deixar transparecer sua preocupação mas uma pontada de medo entregou tudo.
ー Não. ー Respondeu Kalinda se ajustando melhor no sofá. ー Por que está debaixo de um edredom?
A boca do príncipe estava seca e seu coração acelerado. Não sabia o que deveria dizer, e nem como agir.
ー Er… hum, é-é por c-causa que meu irmão está se trocando. ー Disse rápido a primeira coisa que veio à mente.
ー Então tá… ー Kalinda murmura com uma expressão confusa e engraçada. ー Eu preciso dormir, boa noite Will. ー sorriu abertamente com afeto pelo apelido.
ー Boa noite, Kally. ー Respondeu Will lhe oferecendo um sorriso sincero, uma coisa rara de se ver desde que chegou ao reino. E encerrou a ligação colocando o telefone ao seu lado, se esparramou na cama enorme e deixou seu sono o dominar.
ー Luana eu estou preocupado com a nossa filha. ー Disse Ralph deitado ao lado da esposa.
ー Por que, querido? ー Ela pergunta sorrindo falsamente para o marido.
ー Esse concurso pode ser muito desgastante para alguém da idade dela.
ー Oras, não fale asneiras, Ralph, nossa filha aguentou muito coisa, não vai ser um concursinho metido a besta que vai fazer mal a ela. ー Argumentou a mulher um pouco irritada, sua convicção e certeza chegava a assustar até mesmo ao seu marido.
Arthur não sabia, mas naquela caixa que seria enviada a academia, tinha uma prova clandestina, uma fraude. Talvez até pudesse tomar o lugar de alguém que merecesse mais.
O duque sempre foi visto como aquele membro da família que não se importa em passar por cima dos seus próprios princípios quando para benefício próprio. E ele não ligava muito, pelo contrário, ele gostava. Parece que a vontade insaciável de manipular as pessoas, é de família.
O fim daquela rotina cansativa era sempre a melhor parte do dia. Em poucos minutos os nomes das candidatas que conseguiram passar estariam sendo anunciados em todos os veículos de informações, principalmente na rádio.ー Está ansiosa, filha? ー Luana senta no sofá ao lado da filha, estava com um vestido velho de ficar em casa mesmo. Seu sorriso gentil escondia uma ganância fora do normal, e Kalinda sabia disso.ー Não. As chances de eu passar são mínimas. ー Respondeu ela com um fio de voz, abraçou as pernas e apoiou o queixo sobre os joelhos.ー Não diga asneiras! ー Repreendeu com um tabefe, a jovem olhou com uma expressão confusa e desatenta. As notificações chegavam aos montes. Gael já não aguentava mais o celular de Kally tocando a cada segundo. Desde que acordou, a morena não olhava suas notificações. Não podia mesmo se quisesse, seu chefe não a deixaria. O horário proporciona mais calmaria, isto é, se a mera presença um do outro não os irrita sem.ー Mas que merda. ー Disse o gerente batendo os punhos no balcão. Não tinha cliente, apenas ele e a garota, e aquela zuada infernal.ー Eu posso colocar no silencioso… ー Propôs ela. Era cedo demais para criar mais uma briga com ele, era mais sensato conversar.ー Certo, mas nada de ficar lendo tabloides de fofoca. ー Alertou o moreno. Seus fios grossos estavam caindo sobre seusCapítulo 09 - Vermelho da Paixão.
O breu da noite já avisava que era hora de ir dormir. Kally estava mexendo em seu Instagram, era estranho para ela ter esse tanto de seguidores que vinha ganhando desde que foi anunciado o seu nome em todos os veículos de notícias. O seu direct estava tumultuado, várias mensagens de pessoas que nunca viu na vida, não conseguiria respondê-los mesmo se quisesse, eram muitos.Um barulho de coisa caindo prendeu sua atenção, deixou o celular de lado e foi até a janela do corredor entre sala e cozinha, olhando o lado de fora da casa, viu seu pai se levantando de um arbusto ao qual havia caído, e saiu correndo em direção ao seu carro caindo aos pedaços.ー Pai? ー Murmurou fazendo uma careta confusa. "Onde o senhor vai?" pensou a morena. Era inaceitável, um ultraje, uma audácia sem tamanho.Guilherme respirava profundamente sentado à mesa, na sala de reuniões. Seus trajes eram um terno preto e gravata vermelha. Sua impaciência e irritabilidade estavam evidentemente afloradas. Tinha uma postura desleixada e repousava seus pés sobre a mesa.A rainha abriu as portas rapidamente o pegando de surpresa. O coração dele parece ter errado uma batida pelo susto tomado. A cara da rainha não era nada boa, foi logo ao ponto sem se sentar:ー Sua forma imprudente, desleixada e vergonhosa poderia levar o reino a uma crise. Sabe que um a um, os reinos estão adotando outros tipos de governos, não vou deixar que isso aconteça eCapítulo 11 - Crianças que Comem Doce Escondido dos Pais.
Kalinda teve uma rotina cansativa nesse dia ensolarado de segunda-feira. Sempre que tentava se concentrar em algo, um flash de memória vinha a sua mente. Às vezes eram imagens lindas e atraentes de seu tão amado homem misterioso. E outras sobre a conversa estranha entre ela, Will e a encantadora Isobel.Ela estava usando uma redinha para prender o cabelo, sua fada habitual e um avental preto. Estava tão distraída com lembranças do seu galante amigo, que acabou por deixar uma taça escapar de suas mãos e cair no chão virando nada mais que cacos de vidro.Flashback:"ー Ah é, tinha esquecido de te contar! Eu trabalho no palácio como motorista particular do Príncipe. ー Will desconversou
O cantarolar dos pássaros anunciava que era hora de acordar, ao menos para os pais de Kally, pois a mesma estava desempregada. A conversa entre ela e seus pais foi mais leve e tranquila do que ela imaginaria ser. Eles aceitaram, contanto que ela arrumasse outro com rapidez.Kalinds despertou cedo e não sabia o porquê, o cheiro de cafeína paira no ar e a brisa leve e fria de manhã, ela logo vai escovar a boca e tomar banho. Ao sair da pequena lata de sardinhas vulgo o banheiro ela se deita no sofá que nem se parecia com tal móvel. Destravou seu celular entrando em seu instagram, ela não sabia se ria ou se sentia lisonjeada por ter milhares de likes na foto do seu falecido pato Leôncio.Assim que abriu a aba de mensagens quase teve um ataque cardíaco. O programa
A estrada de terra até o haras do Duque Guilherme estava deserta. Grande parte do pedaço de terra era cercado por uma floresta quase sem fim. Em determinado momento o carro preto havia parado, próximo a um estreito caminho cercado por bananeiras diversas. O entardecer já dava lugar ao anoitecer.O motorista fardado adentrou a vegetação para que segundo ele, era o chamado da natureza. Um disparo foi ouvido pelo duque que aguardava o homem ao lado do carro. Seu coração disparou ao ver um homem de capuz negro com apenas olhos azuis sombrios amostra. O homem misterioso apontou a arma para ele, a única coisa a qual o duque foi capaz de fazer foi se apegar a todos os deuses que pudessem o escutar.ー Chegou sua hora. ー A voz do homem saiu fria assim como sua alma. El
Uma chuva grossa se acomodou no céu antes límpido, agora molhando toda extensão de terra seca. O reino estava de luto pela morte honrosa que seu duque havia tido.A rainha não quis que os súditos soubessem que tudo na verdade se tratou de um assasinato, e pior, a seu mando. Uma história fantasiosa e heróica foi inventada por toda família real, a qual preferiu lembrar-se de Guilherme da melhor maneira possível.O clima no palácio estava tenso, chegava a ser quase palpável. O silêncio aterrorizante predominava em todos os corredores da construção.A única que ousava quebrar o silêncio fora a rainha, a qual se deleitava no maior dos prazeres da carne. Seus gemidos escandalosos e