DANIEL ALENCAR
Faltava menos de uma semana para a celebração e os preparativos para o grande dia estavam a todo vapor.
Tudo estava sendo organizado com muito requinte para receber o corpo de acionistas e investidores, além de muitos amigos, empresários e alguns figurões da cidade. Seria algo relativamente pequeno, para cerca de 300 convidados e mais umas sessenta personalidades da mídia. Porém grandiosamente sofisticado, com toda a ponta e circunstância que o noivado de um herdeiro de família tradicional deveria ter. A imprensa estava em polvorosa tentando descobrir qualquer detalhe sobre a festa mas, principalmente, queriam saber quem era a noiva misteriosa que seria apresentada ao mundo dentro de poucos dias.
As especulações passavam por mulheres que já haviam sido flagradas em minha companhia e iam até as personalidades mais improváveis do submundo das web celebridades. No entanto, ainda não havia realmente tomando uma decisão sobre qual das candidatas faria o papel como a futura esposa.
Laura tagarelava a respeito dos preparativos quando Emílio cortou:
_ Parece que será um grande evento Laura, _ o senhor negro concordou com um sorriso sacana na cara _ mas será que vamos ter uma noiva de carne e osso ou vamos presenciar o Alencar escandalizando a todos enquanto coloca um anel de diamantes no próprio pau inflado diante dos convidados? _ me encarou debochadamente.
Laura também pareceu se divertir com a pergunta e aguardou a resposta:
_ Lógico que vai haver uma garota! _ confirmei sério, mas logo afrouxei o riso _ Só não decidi qual delas merece a honra de ser esposa do cara mais gostoso da cidade.
Laura cruzou as longas pernas e se posicionou melhor na poltrona preta:
_ Seria bom se a escolhida soubesse com alguma antecedência que vai ficar noiva, não acha? _ a pergunta veio carregada de ironia e repreensão _ A coitada vai precisar de tempo ao menos para aprender a lidar com essa sua presunção.
Mas antes que pudesse responder, Emílio lançou as palavras:
_ Deveria contratar a tal da Jessica Marinho. É bem nascida, bem educada, gostosa pra um cacete, já viajou metade do mundo... Parece perfeita pra você Alencar. _ aconselhou assertivo.
Olhei para uma das pinturas abstratas que decoravam as paredes do amplo escritório sem janelas e ponderei por um instante, realmente essa Jessica era o melhor que tínhamos conseguido até o momento. Nos encontramos algumas noites antes mas, para ser honesto, brochei completamente com a situação.
A garota era linda.
Ruiva, olhos verdes, os peitos pareciam querer estourar o tecido do vestido fino que usava de tão duros. Tinha 23 anos, formada em moda na universidade de New York, teve uns dois relacionamentos que duraram alguns anos com caras que até que poderiam ser considerados respeitáveis. Ela parecia mesmo adequada.O problema é que não consegui sequer suportar o teor da conversa da garota.
Era chata! Mimada ao extremo, com uma porrada de opiniões e pretensões ridículas sobre o que poderia ser nosso relacionamento de mentira. Sua voz, aguda, era tão estridente que fazia meus tímpanos latejarem a cada palavra, quis enfiar o pau na boca dela apenas com a intenção de mantê-la ocupada com qualquer outra coisa que não fosse falar. Claro que não precisaria conviver com a conversa fútil de qualquer mulher que fosse após firmar o contrato, mas seria interessante se, ao menos, tolerasse a companhia da minha futura esposa:
_ Essa foi a mais irritante até agora Emílio! A garota não parou de falar um minuto, se acha dona do universo por ser a caçula dos donos da emissora. _ desdenhei e finalmente pedi o que queria _ Laura, mande chamar funcionária bonitinha do elevador, quero ter uma conversinha com ela.
Precisava falar com a garota apesar de, àquela altura, já estar a par de quase tudo que parecia ser importante para se saber sobre ela.
Quando me aproximei dias antes, confirmei o que suspeitava: A moça parecia a porra de um anjo! Era simplesmente linda, com uma carinha de santa que fez meu pau pular na mesma hora e fiquei completamente excitado pela forma como reagiu no elevador. Seus olhos azuis eram contornados por longos cílios de boneca, o nariz pequeno era fino e empinado. Tinha os lábios cor de rosa e imaginava que os bicos dos seios e sua bocetinha acompanhavam o mesmo tom. O corpo era pequeno, mas muito bem feito nas curvas que pude notar por debaixo de suas roupas baratas. Seu cabelo claro cintilava, estava preso na parte da frente em um rabo de cavalo alto, mas descia solto até a cintura por suas costas. Parecia uma das musas das pinturas de Botticelli, tinha altivez ainda que possuísse uma doçura quase inocente em seu olhar. Perdi realmente muito tempo admirando aquele rosto que me encantou com sua doçura.
Quando perguntei seu nome a moça pareceu entrar em choque. Devia saber muito bem quem sou e estava acostumado com a expressão de pânico que minha simples presença causava em alguns funcionários. No entanto, a garota respondeu calmamente e ainda teve a audácia de sustentar seu olhar no meu como se estivesse incomodada ou algo assim e foi naquele momento que me senti realmente hipnotizado por aqueles olhos. Eu tinha que provoca-la, saber do que era feita... então fui direito ao ponto e passei a cantada de leve. A menina ficou vermelha com meu elogio a sua aparência e quis rir da sua incapacidade de esconder o que estava sentindo. Estava pronto para vê-la abrir um sorriso, desviar o olhar ou qualquer coisa que uma garota faz quando está flertando com um cara.
Mas não.
Ao invés de virar a cara ou simplesmente agradecer com um sorriso antes de me passar seu número, me encarou frieza e praticamente me mandou tomar no cu de uma forma educada. Me senti tratado como um pedaço de bosta e comecei pensar em como a colocaria em seu lugar _ que gostaria que fosse de quatro chupando meu pau _ quando a porra do elevador se abriu. Confesso que a atitude de minha pequena presa foi muito diferente do que esperava, mas lá fundo até que gostei disso.
Quando retornei ao escritório, solicitei que fosse feita toda a investigação e as informações que recebi no dia seguinte foram: Se chamava Maria Clara Assunção, tinha vinte anos e trabalhava para mim desde os dezoito. Era natural do interior do estado e tinha origem "humilde", o que significava que era pobre e sem estirpe. Era órfã de pai e mãe e aparentemente morava sozinha na cidade, estudava contabilidade e morava num muquifo alugado em algum lugar medonho da periferia. Ainda não havíamos encontrado nada sobre relacionamentos antigos e muito pouco sobre suas amizades, mas tudo que foi levantado sobre sua conduta dentro empresa era positivo. Era uma funcionária modelo e havia acabado de ser promovida a assistente por seu esforço e competência, tudo levava a crer que era ambiciosa e tinha o objetivo de construir uma carreira dentro da corporação.
Aquela moça estava longe de minhas expectativas em muitos quesitos, principalmente por ser "baixa renda" demais, mas tinha o fator determinação a seu favor, o que me fazia pensar no quanto estaria disposta a fazer para crescer na vida:
_ Não acredito que ainda está considerando está caipira como candidata. _ a assessora retrucou estarrecida _ É só olhar para ela e ver que saiu de algum buraco sujo, pelo amor de Deus Daniel! _ enfatizou muito seca.
_ Tem alguma coisa ali Laura, sabe que meu faro não costuma se enganar. _ retruquei antes de provar um gole de whisky.
A mocinha me enfrentou como igual me tacando um balde de água fria com a maior naturalidade e, na minha concepção, poderia ser facilmente confundida com uma de nós se usasse a roupa certa:
_ Potencial ela parece ter, poderíamos ensinar o que lhe falta. Não há ignorância que algumas aulas de etiqueta não possam mascarar. A garota é inteligente o suficiente para aprender o quer que seja e com essa dedicação toda para subir de cargo, estou certo de que vai fazer o que for necessário para subir na escala social também. _ argumentei e prossegui passando o ponto vista _ Essa coitada pode ser facilmente administrada e creio que alguém com suas origens dará muito mais valor a oportunidade de fingir que é noiva de um milionário. Me fala a porra de um favelado que não sonha em ter vida de rico? _ finalizei, cuspindo a pergunta retórica.
Meus funcionários mais próximos se entre olharam e o conselheiro foi o primeiro a se manifestar:
_ Bom, alguém tão jovem que superou tantas adversidades... essa menina tem uma bela história pra contar e a mídia adora enaltecer esse tipo de coitadinha. _ pontuou Emilio.
O coroa pareceu compreender meu ponto de vista, mas a sapatão caminhoneira que se travestia como assessora corporativa de elite fez questão desdenhar:
_ Vai mesmo repetir o conto da gata borralheira pra sociedade, Alencar? Os jornais vão rotular essa infeliz como o pior tipo de interesseira. _ menosprezou.
Sabia que Laura tinha alguma razão, aquilo poderia ser um tiro no pé caso desse errado, mas estava curioso sobre aquela moça atrevida que não conseguia tirar da cabeça então, sem medir as palavras, ordenei:
_ Foda-se Laura! Vá buscar a garota e depois lidamos com a mídia. _ o tom rígido que usei bastou para fazer minha assessora calar a boca e dirigir-se indignada para fora do escritório.
Laurinha era uma de minhas melhores amigas, me conhecia muito bem e sabia que não valia a pena bater de frente quando decidia alguma coisa. Mesmo que vivêssemos para trocar farpas, éramos sinceros e gostávamos verdadeiramente um do outro por sermos parecidos em muitas coisas. Logo que minha parceira fechou a porta me dirigi novamente a Emílio:
_ Já perdi muito tempo com mais de cem garotas iguais nas últimas semanas, não vai custar tanto conversar com a única diferente por cinco minutos.
O diretor ergueu as sobrancelhas em uma expressão de concordância e se levantou antes de dizer:
_ Só espero que depois dessa menina você finalmente tome alguma decisão. Ainda há muito a fazer antes que o noivado aconteça e não temos mais tempo pra ficar enrolando. Cara... _ Emílio começou a se afastar em direção a porta, mas me lançou um olhar de cobrança antes de sair _ Apenas escolha qualquer uma e vamos esperar para ver em que merda isso vai dar.
DANIEL ALENCAR Todos que sabiam sobre o plano estavam putos com a minha aparente falta de interesse em resolver aquilo de uma vez, mas a verdade é que estava tão incomodado com a situação que simplesmente não conseguia aceitar nenhuma delas. Estava sendo obrigado a me comprometer com alguém para manter a imagem que os outro queriam que tivesse e não estava gostando nada daquilo! Permaneci sentado apreciando meu Scotch enquanto pensava nas perguntas que faria para a moça. Apesar de ser praticamente uma indigente, havia qualquer coisa nela que chamava atenção além da aparência e estava curioso para entender melhor o seu potencial. Passaram cerca de 20 minutos até ouvir as batidas na porta do escritório: _ A senhorita Clara Assunção está aqui como solicitou, deseja algo mais senhor Alencar? _ Laura apertou os olhos furiosa e um sorriso sarcástico me escapou por sua amabilidade forçada. _ Isto é tudo por enquanto. Mande-a entrar, por favor. _ retorqui e a
Daniel Alencar Foi a vez de Clara respirar fundo enquanto pensava no que lhe disse: _ Ok?! Pelo que entendi, o senhor quer me pagar 60 mil pra levar chifres. _ ela riu debochando deliberadamente da situação. _ Olha, não entendo muito sobre essas coisas, mas acredito que vai parecer ainda pior pra sua imagem com os caras. Ah... mas que porra de garota irritante: _ Que bom que divirto você... _ retribui o sorriso irônico _ Lógico que terei que tomar alguns cuidados extras e também vou precisar contar com sua total discrição. Estreitei um pouco os olhos antes de continuar: _ Preciso deixar claro que você não deverá confundir as coisas entre nós em nenhum momento. Vou sair quando quiser, com ou sem você e pode estar certa de que vou ficar com outras garotas. Não teremos nenhum tipo de relacionamento afetivo, não vou dever nenhum tipo de satisfação a você e ciúmes é uma palavra que quero que retire do seu vocabulário. _ a moça revirou os ol
CLARA ASSUNÇÃO Desde que iniciei como assistente, todos os dias Dr. Henrique me mandava fazer alguma coisa nos andares superiores e estava amando poder trabalhar alguns profissionais que só conhecia pelo nome até então. Por este motivo passei a caprichar um pouco mais no visual do que costumava. Naquela manhã fiz uma trança indiana que aprendi com minha falecida mãe e vesti uma das melhores roupas que tinha, a saia social preta acompanhada da blusa de viscose branca com mangas compridas e uma fileira de botões que subiam até decote discreto. Passei uma leve maquiagem e coloquei os pequenos brincos de zircônio que havia ganho de minha madrinha um tempo atrás. Ao me olhar no espelho sorri satisfeita. Quase parecia umas das garotas do vigésimo primeiro andar e sai do meu modesto quarto da república estudantil em Guaianases com a certeza de que um dia chegaria lá. Me sentia feliz por estar me saindo bemcomo assistente e milhões de id
CLARA ASSUNÇÃO Duas horas se arrastaram lentamente até me ver novamente indo em direção aos elevadores, eram quase 18h quando secretaria ligou avisando que o senhor Alencar me aguardava na sala de reuniões do vigésimo primeiro andar. Estava subindo pela terceira vez só naquela semana ao lugar que cheguei a pensar que nunca iria ver, e o mais assustador era que estava indo assinar um contrato para trabalhar como "A Noiva" do presidente de uma dasempresas mais lucrativas do país. Quando entrei na sala com paredes de vidro, haviam três pessoas sentadas ao redor de uma enorme mesa metálica em formato oval. O próprio herdeiro Medeiros Alencar, que sentava em uma das pontas, a mulher que me buscou em meu posto horas antes e, ao seu lado, um senhor muito mais velho. Cumprimentei a todos e Daniel lançou um meio sorriso quando apontou a cadeira do lado oposto a pequena comitiva que o acompanhava. Sentei ao seu lado tentando esconder o nervosismo enquanto o jovem empresá
CLARA ASSUNÇÃO Estávamos todos de pé àquela altura, vi os funcionários indo em direção a saída e comecei a acompanha-los, mas a voz grave parecia ter outros planos e me fez girar nos calcanhares: _ Clara, espere um minuto por favor. _ quando as testemunhas do nosso acordo secreto se retiraram ele continuou _ Sei que está tarde, mas importa se conversarmos um pouco mais? _ Claro que não. Acho que precisamos nos conhecer finalmente. _ concordei insegura, porém sorrindo com certa confiança. Nos sentamos novamente, desta vez ele se acomodou ao meu lado eficamos de frente um para o outro nas cadeiras giratórias: _ Imagino que tenha um milhão de perguntas passando por sua cabeça e também estou curioso sobre você. Em breve teremos tempo para nos conhecer de fato, mas primeiro preciso explicar algumas coisas sobre toda essa farsa. Concordei novamente, minhas maiores duvidas tinham mesmo a ver com o que teria que dizer sobre nós. O
CLARA ASSUNÇÃO Desci as escadarias que davam acesso ao edifício da multinacional e pude sentir o ar gelado da noite naquele final de agosto. Caminhei pelo calçadão da avenida Paulista em direção a parada de ônibus mais próxima, passava muito das 19h e não valia a pena ir para faculdade àquela altura, então peguei a condução para república ainda tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Um cara fodidamente rico, muito arrogante etragicamente lindo tinha me contratado pra ser sua noiva de mentira e eu passaria a ganhar uma verdadeira fortuna por isso. Coisa parecida só tinha visto na ficção mesmo, mas lá estava eu bem no meio do que parecia uma fanfic de cinquenta tons de cinza. Me sentia apreensiva com o que aconteceria no futuro e as palavras de meu contratante rodeavam meus pensamentos como um fantasma: "A partir de amanhã sua vidanunca mais será a mesma." Bom, com certeza não seria!
CLARA ASSUNÇÃO O dia mal havia clareado e já estava com tudo pronto para partir rumo ao desconhecido. A ansiedade me mantinha agitada andando de um lado para o outro do meu pequeno quarto, olhando de cinco em cinco minutos pelas venezianas da janela. Aguardava impaciente pelo motorista que ele disse que mandaria logo cedo, mas já passavam das nove da manhã e nada ainda. Começava a pensar que o empresário havia se arrependido de contratar uma garota "sem sal" como eu, quando ouvi leves batidas. Me apressei perguntando quem era e a voz masculina do outro lado disse que estava ali em nome do senhor Medeiros Alencar. O cara era forte, devia ter mais de quarenta anos e se ofereceu para ajudar com a "bagagem". Deixei que levasse minha única mala e a mochila com os livros da faculdade. Então peguei minha bolsa sobre a cama de solteiro e fui para a porta, mas antes de fecha-la me despedi daquele cantinho que havia me orgulhado tanto por ter conquistado. Afast
CLARA ASSUNÇÃO O quarto era enorme como quase tudo naquele lugar, havia sido decorado em tons de rosa e amarelo pastel. No centro havia uma cama box elevada por uma espécie de mezanino, sua cabeceira em matelassê rosa-chá apoiava diversas almofadas coloridas, nas laterais do cômodo haviam poltronas, estantes e mesas com lindos objetos de decoração. Uma das paredes do quarto era como uma enorme janela de vidro com cortinas brancas que iam do chão ao teto. E por falar em teto, dele pendia uma linda luminária circular composta por inúmeras pequenas flores de cristal. Definitivamente me parecia o quarto dos sonhos de qualquer princesa! A governanta entrou logo atrás e começou a me mostrar tudo no cômodo. Falou onde podia encontrar os controles da TV, ar condicionado e persianas, apontou para um notebook e celular dizendo que eram meus para usar como preferisse. Logo após me levou para o lado oposto a parede de vidro e me fez entrar no closet espaçoso, cheio de ga