CLARA ASSUNÇÃO
O dia mal havia clareado e já estava com tudo pronto para partir rumo ao desconhecido.
A ansiedade me mantinha agitada andando de um lado para o outro do meu pequeno quarto, olhando de cinco em cinco minutos pelas venezianas da janela.
Aguardava impaciente pelo motorista que ele disse que mandaria logo cedo, mas já passavam das nove da manhã e nada ainda. Começava a pensar que o empresário havia se arrependido de contratar uma garota "sem sal" como eu, quando ouvi leves batidas. Me apressei perguntando quem era e a voz masculina do outro lado disse que estava ali em nome do senhor Medeiros Alencar. O cara era forte, devia ter mais de quarenta anos e se ofereceu para ajudar com a "bagagem". Deixei que levasse minha única mala e a mochila com os livros da faculdade. Então peguei minha bolsa sobre a cama de solteiro e fui para a porta, mas antes de fecha-la me despedi daquele cantinho que havia me orgulhado tanto por ter conquistado.
Afast
CLARA ASSUNÇÃO O quarto era enorme como quase tudo naquele lugar, havia sido decorado em tons de rosa e amarelo pastel. No centro havia uma cama box elevada por uma espécie de mezanino, sua cabeceira em matelassê rosa-chá apoiava diversas almofadas coloridas, nas laterais do cômodo haviam poltronas, estantes e mesas com lindos objetos de decoração. Uma das paredes do quarto era como uma enorme janela de vidro com cortinas brancas que iam do chão ao teto. E por falar em teto, dele pendia uma linda luminária circular composta por inúmeras pequenas flores de cristal. Definitivamente me parecia o quarto dos sonhos de qualquer princesa! A governanta entrou logo atrás e começou a me mostrar tudo no cômodo. Falou onde podia encontrar os controles da TV, ar condicionado e persianas, apontou para um notebook e celular dizendo que eram meus para usar como preferisse. Logo após me levou para o lado oposto a parede de vidro e me fez entrar no closet espaçoso, cheio de ga
CLARA ASSUNÇÃO Me despedi da renomada socialite por volta de 21h achando seu nome muito apropriado para a função que exercia. Subi novamente para o quarto que me foi reservado, liguei o televisor e tentei me distrair alternando entre as opções de filmes em um dos streamings disponíveis. Acabei escolhendo qualquer coisa, que ficou passando sem que eu prestasse atenção, enquanto conversava com Camila pelo W******p, minha amiga queria saber como estava minha madrinha e como havia sido a viagem até Rio Claro. Tive que criar uma justificativa para meu sumiço repentino da republica e inventei uma série de mentiras, me sentindo muito mal por não poder compartilhar meus medos e alegrias com minha amiga. Também mandei mensagem para tia Gorete tentando prepara-la para o que estava para acontecer, minha madrinha realmente se importava comigo e mantínhamos uma relação próxima mesmo estando a quilômetros de distância. Contei que tinha uma grande surpresa que aconteceria e
CLARA ASSUNÇÃO Dentro estava uma encadernação relativamente fina que comecei a folhear curiosa: _ Só isso? _ inquiri estarrecida. _ Aí está o principal, coisas que nós dois devemos saber sobre como nos conhecemos, como começamos a namorar e como mantivemos o segredo até o momento. Será o suficiente para começar, os detalhes vamos inventando com o tempo. _ explicou confiante. _ Preciso que decore o que está aí e depois esconda estes papéis, vai encontrar um pequeno cofre atrás de uma das molduras no seu closet. Deve guardar o roteiro e nosso contrato de serviço, seria difícil explicar se alguém encontrasse documentos sobre como começamos a namorar. Confirmei e ele prosseguiu: _ A partir de amanhã as coisas vão ficar bem agitadas para você. No fim dessas páginas vai encontrar o contato da minha assessora, se quiser convidar alguém para o noivado peça a Laura que ponha o nome na lista. _ Melhor não... ainda está tudo muito confuso na minh
CLARA ASSUNÇÃO Os dias que antecederam a festa de noivado foram mesmo agitados, isso para dizer o mínimo. Já na quinta-feira pela manhã as coisas começaram a ficar interessantes... Após o café, recebi a visita da equipe responsável por minhas redes sociais. Ficamos algumas horas montando meus perfis como "figura pública" e quando me deram o Briefing da imagem que tinham em mente, quase cai dura pra trás. Eu passaria a ideia de ser uma órfã que superou as dificuldades com muita coragem conquistando seus sonhos através de seu próprio esforço e até aí tudo bem. Mas Raquel, a Social Media que administraria minhas redes, começou com o papo de me tornar em um tipo de ícone da moda, onde eu apresentaria os lançamentos das coleções de marcas famosas, daria dicas sobre produtos de beleza e lugares bacanas para visitar. O grande problema é que tudo aquilo parecia muito distante da minha realidade, divulgaria coisas muito caras que sabia que garotas como eu nunc
CLARA ASSUNÇÃO Me perguntava o porquê de ele não ter me procurado nos últimos dias, conversei com meio mundo menos com quem mais importava, já tinha lido a porcaria do script umas cem vezes e a cada vez mais dúvidas surgiam em minha cabeça. Como começamos a conversar? Sobre o que falávamos? O que temos em comum? Quem são seus melhores amigos? Que tipo de manias ele tem? Pra que time ele torce? Ele gosta mais dos heróis da Marvel ou DC comics? Tudo isso, entre uma centena de outras questões, borbulhavam em minha mente.Havia sido instruída pela professora de atuação a usar respostas evasivas do tipo "ainda estamos nos conhecendo", "é tudo muito recente" ou "não me lembro muito bem".Ainda assim, seria ridículo se perguntassem como me apaixonei por ele e respondesse que "ainda estava pensando sobre a questão". Me sentia completamente insegura e o medo de enfrentar aquele monte de pessoas desconhecidas me enchendo de perguntas por todos os lados apenas aum
CLARA ASSUNÇÃO Estava prestes a desmoronar quando a expressão de Daniel mudou num instante. Ele pareceu entender que havia algo errado, segurou meu rosto com as duas mãos e falou próximo ao meu ouvido: _ Pssssh, fique calma coelhinha, vai ficar tudo bem. _ sussurrou e sua voz rouca me atingiu como uma onda. _ Estou aqui agora e vou cuidar de você. Então pegou minha mão direita e colocou sobre seu peito: _ Vamos lá, preciso que respire junto comigo. _ pediu enquanto puxava o ar profundamente e tentei repetir seu gesto tremendo em minhas pernas. Quando soltou a respiração pude sentir seu hálito morno em meu pescoço e ele continuou a me orientar de forma delicada como se eu fosse uma criança: _ Isso mesmo coelhinha, está indo muito bem, continue respirando fundo. _ passou a fazer carinhos com os dedos em minha bochecha. O rosto dele estava colado ao meu enquanto sua respiração tentava controlar a minha.Seus
CLARA ASSUNÇÃO Após o jantar o Dj voltou a tocar e os cumprimentos continuaram em uma profusão de rostos e nomes que me pareciam infinitos. Entre um elogio e outro, Daniel depositava beijos delicados em meus lábios, ombros e em meu pescoço... não era nada muito ousado, mas não pude evitar os arrepios que seus carinhos provocavam. O empresário falava das muitas qualidades que nem eu sabia que tinha para seus sócios e tentava parecer agradecida com as palavras que provavelmente tinha saído do roteiro que ele próprio havia criado sobre mim em sua cabeça. Em um momento fomos para a pista de dança e tentei acompanha-lo com movimentos desajeitados dentro do vestido apertando que parecia pesar uns 100 quilos àquela altura da noite. No meio da música ele olhou para mim parecendo me achar a porra da mulher mais linda do universo antes de perguntar: _ Pronta pro show? O sorriso que se abriu no rosto dele era o mais bonito que já tinha visto até então e seus olh
DANIEL ALENCAR Acordei no domingo lendo as manchetes criativas estampadas nos sites do G****e... As matérias falavam sobre como a festa havia sido grandiosa e sobre como tudo foi realizado com absoluto requinte. Haviam muitos elogios a mim e a toda a cerimônia em si, mas o assunto principal em todos os sites era "A Noiva de Cristal". Boa parte dos artigos foi destinado apenas a descrever como era linda e como estava fabulosamente vestida a futura consorte do império Medeiros Alencar. Os comentários sobre como fazíamos um belo casal e sobre como Maria Clara reluzia em seu vestido de brilhantes repetiam-se em diferentes formas de elogios. Falavam como eu parecia perdidamente apaixonado e que minha noiva era uma verdadeira princesa, algumas notas estupidas mencionavam coisas sobre o evento ser pomposo demais ou acharam a noiva extravagante. Ainda assim, de um modo geral, todos na imprensa pareciam ter adorado aquela garota, sabíamos que seria de