CLARA ASSUNÇÃO
Era o primeiro dia em minha nova função como assistente da supervisão e pelo visto, não poderia ter começado de forma mais clichê!
Dr. Henrique, gerente do setor comercial e meu superior direto, devia ter cerca de quarenta anos. Sua fisionomia era naturalmente carrancuda, mas naquela manhã o cidadão parecia ainda mais assustador quando o vi passando rumo ao seu escritório. Em minha nova função seria responsável por auxilia-lo a organizar sua agenda, manter os relatórios das operações atualizados e fazer o que fosse necessário para facilitar a vida do homem dentro da empresa. Era uma vaga cobiçada por se tratar de um cargo diretamente ligado a administração de todo o setor de atendimento, o que acabava abrindo portas para quem se destacava na função. Com um pouco mais de estudo e com muita dedicação, talvez em um ou dois anos poderia concorrer a algum cargo de supervisão, quem sabe um dia, até a gerencia de algum setor. Aquela oportunidade poderia ser minha passagem só de ida para uma vida estável e tranquila financeiramente falando.
Cursava o quarto período de ciências contábeis em uma faculdade particular, custeada com o auxílio de uma das bolsas de estudos que o governo oferecia para estudantes com boas notas no exame nacional. Detestava todas aquelas planilhas, os números e cálculos chatos, mas imaginava que se me esforçasse bastante contando a grana dos outros, uma hora ou outra teria que contratar alguém para contar o meu dinheiro também. Confesso que essa nunca teria sido minha primeira opção de carreira se tivesse a oportunidade de escolher livremente. Se pudesse ter liberdade para ser o que quisesse, teria escolhido algo voltado para literatura ou artes visuais, mas essas carreiras não costumam dar nenhuma garantia de sucesso, muito menos segurança financeira.
Fazia um ano e meio que havia sido chamada para iniciar um estágio na Medeiros Alencar.
Fui indicada por uma professora que sabia da minha dedicação para manter boas notas e da situação difícil que passava para me manter sozinha na cidade de São Paulo. Fui aceita para a vaga, mas passei os seis meses seguintes comendo o pão que o diabo amassou e ainda cuspiu em cima. O salário miserável de aprendiz mal cobria os custos com o aluguel da quitinete onde morava em um bairro muito afastado do centro.
Tinha que trabalhar na Medeiros Alencar durante o dia e estudar a noite de segunda à sexta. Durante aqueles meses, os sábados e domingos eram dias de correr atrás de uma grana extra e eu fazia todo o tipo de bico como garçonete ou atendente nos restaurantes e bares da região central. Costumava receber ótimas gorjetas além das diárias pelo serviço e assim fui conseguindo pagar as contas. Mas vivia exausta e foram tempos difíceis de verdade, minhas notas chegaram a baixar e tive que fazer recuperação em algumas matérias naquele período.Quando concluí o estágio fui automaticamente efetivada como auxiliar de recursos humanos, o que garantiu um salário um pouco mais digno para finalmente começar a me erguer nessa cidade. Durante o último ano, me dediquei especialmente aos cursos de aperfeiçoamento que a empresa oferecia. A corporação se orgulhava muito do seu ótimo plano de carreira e valorizava os funcionários que se destacam por seus esforços. Então, quando surgiu a vaga como assistente da gerência já estava muito bem capacitada para exercer a função.
E foi desta forma que consegui a vaga:
Através do meu esforço!
Mesmo assim, havia quem questionasse minha competência por causa da minha pouca idade e aparência. Eu tentava não dar ouvidos às fofoquinhas machistas que rolavam, mas não posso negar que a forma como alguns tentavam diminuir minha conquista incomodava bastante.
Analisava os detalhes de meu novo posto como assistente, quando fui tomada pela alegria de minha pequena realização. "Minha mãe sentiria orgulho de mim" pensava antes de ser despertada de meu devaneio pelo toque estridente da campainha do telefone a minha direita. Quando atendi a voz áspera de Dr. Henrique mandou que fosse até sua sala, pedi licença antes de entrar e, ao receber permissão, dei alguns passos em direção a mesa de onde o homem carrancudo me observava com certo desdém. Havíamos sido apresentados na tarde anterior quando fiz um passeio para conhecer meu novo setor e também para saber mais sobre as novas atividades que iria exercer. Já não havia gostado da primeira impressão que tive do senhor sisudo e a segunda também não ia nada bem:
_ Bom dia Dr. Henrique, no que posso ajudá-lo? _ questionei polida.
_ Pode começar passando os relatórios referentes às operações de julho. Também traga um café forte e aspirinas, minha cabeça está para explodir e ainda não são nove da manhã. _ resmungou insatisfeito enquanto digitava alguma coisa em seu computador.
Pedi licença outra vez e me retirei para executar as tarefas. Honestamente esperava mais do que ser a moça do cafezinho a aquela altura, mesmo assim, preparei tudo da melhor forma que pude. Se aquele homenzinho corpulento queria que lhe servisse um café, lhe serviria a porra do melhor café que o arrombado já tomou naquela droga de escritório!
Em poucos minutos retornei sala do gerente do setor de atendimento e depositei a sua frente os arquivos do mês de julho:
_ Os relatórios que o senhor solicitou. _ anunciei com seriedade.
Em seguida, contornei a mesa com muita habilidade e servi o café forte com um aroma delicioso que trouxe em uma bandeja de vidro, acompanhado por uma taça, água com gás e os comprimidos que o homem pediu. Se meu superior pensava que sua cara de zangado iria me intimidar de alguma forma ele até podia ter razão, mas nada me impediria de tentar dobra-lo com cordialidade e profissionalismo até conquistar o respeito que merecia.
Dr. Henrique me encarou com certa surpresa e provou o café fumegante arqueando as sobrancelhas em uma expressão de satisfação:
_ Pode voltar ao trabalho Maria Clara, obrigada. _ concluiu com o tom quase cortês e soube que tive êxito em meu capricho.
Voltei à minha mesa e preparei alguns relatórios que entregaria no período da tarde aos encarregados, e comecei a organizar a agenda do supervisor para aquela semana. O tempo correu ligeiro e quando dei por mim estava voltando do horário de almoço. Tinha passado a última hora com uma colega do setor de RH, dando risadas sobre como era enfadonho Dr. Henrique e sobre como outras funcionárias ficaram putas com minha promoção. Algumas trabalhavam na corporação há anos e pareciam acomodadas em suas funções. Era muito mais fácil para elas dizer que eu estava “dando pra algum chefão", do que se dedicar fazendo todo o tipo de treinamento que aparecia para conhecer melhor a empresa em que trabalhavam e poder bater comigo de frente na concorrência pelo cargo.
Fracas!
Era óbvio que rolaria aquele tipo de fofoca, mesmo que nunca tivesse dado um mínimo motivo para que esse tipo de pensamento fosse levantado a meu respeito. Eu sabia muito bem quem eu era, como tinha conseguido chegar até ali e para mim bastava!
Retornei ao meu posto e comecei a enumerar as anotações que fiz na parte da manhã para que Dr. Henrique aprovasse. Mas, antes de conseguir me organizar, fui surpreendida por meu chefe ao telefone solicitando minha presença em seu escritório novamente:
_ Pois não Senhor? _ me apresentei solícita.
_ Preciso que vá ao vigésimo primeiro e entregue estes contratos a Gabrielle Frotta imediatamente. _ Meu coração deu um pequeno salto no peito. _ Diga a ela que aguardo o briefing publicitário para o jantar de arrecadação de fundos.
_ Certo senhor, algo mais? _ perguntei tentando esconder minha excitação.
_ Não, isto é tudo. Mas seja rápida, sim?! _ sugeriu enérgico.
O respondi com um menear de cabeça e voltei a minha mesa segurando o fôlego.
Eu realmente iria até lá?
Meu Deus!
Todos sabiam que apenas o pessoal da elite trabalhava acima do décimo quinto andar, ter contato com os profissionais do vigésimo primeiro era o sonho da grande maioria. Trabalhar para um deles então, era a garantia de um salário astronômico e um currículo impressionante para apresentar onde quer que fosse.
Caminhei até os elevadores e apertei o botão na placa de mármore, olhei meu reflexo nas portas de metal enquanto aguardava sua chegada. Segurava os documentos apertados contra o peito como se fossem a coisa mais importante do mundo a ser protegida. O elevador estava relativamente cheio quando se abriu e algumas pessoas precisaram dar espaço para que pudesse entrar. O ascensorista perguntou o andar quando começamos a subir e quando anunciei para onde estava indo não pude deixar de notar os olhares curiosos em minha direção. Conforme subíamos o elevador foi esvaziando e quando passamos pelo décimo oitavo estávamos somente eu e o ascensorista. Virei para o espelho me perguntando internamente se parecia profissional o suficiente, o blazer justo da loja Zara até me dava um certo ar de elegância, mas a calça jeans e sapatilhas da Renner não passavam tanta credibilidade.
Nunca me importei com esse tipo de coisa até começar a trabalhar aqui.
No início foi bem difícil me encaixar nessa questão, eu era praticamente uma adolescente quando entrei. Não tinha grana pra nada e meu guarda roupas se resumia a algumas calças e shorts jeans, camisetas e alguns moletons surrados. Nada realmente apropriado para trabalhar em uma multinacional. Com o tempo, alguns presentes de minha madrinha e o aumento de salário fui montando um guarda-roupa mais profissional. Até diria que não passava vergonha, mas estava longe de parecer com as executivas que desfilavam pelo hall em Valentinos e tailleurs da Chanel. Felizmente, os andares inferiores não tinham uma regra específica a respeito de vestimenta e a maioria fazia o estilo mais casual mesmo.
Ajeitei o cabelo em minhas costas e consertei a postura, segurei os documentos ao lado do corpo e me preparei para o que fosse. Quando as portas se abriram enquanto o ascensorista anunciava que havíamos chego ao topo do monte Olimpo. Dei alguns passos em direção as mesas dispostas a minha frente e parei sem saber para onde ir, olhei ao redor observando o ambiente, era realmente sofisticado. O lugar era moderno, o centro da repartição tinha o pé direito muito alto com vista para um corredor circular no segundo andar. As paredes dos escritórios que podia ver ao redor do grande cômodo eram como janelas de vidro cobertas por persianas claras e imaginei que a Sra. Gabrielli deveria estar em uma delas.
Continuei correndo olhos pelo lugar e parei em uma linda garota de cabelos escuros, vestia um tubinho preto e me olhava de cima a baixo, curiosa, sentada no que parecia ser uma ilha de trabalho. Abri um pequeno sorriso e caminhei em sua direção enquanto observava melhor a aparência da garota atrás da mesa.
A desgraçada parecia a porra de uma modelo de alguma marca muito cara!
No mesmo instante me toquei que teria que melhorar o guarda-roupas novamente, se minhas subidas até o alto da torre de Babel virassem rotina. Quando parei a sua frente, a mulher analisou minhas roupas e voltou a me encarar com a expressão desinteressada:
_ Boa tarde, tenho alguns documentos para entregar para a diretora comercial, poderia fazer a gentileza de indicar onde posso encontrá-la? _ perguntei tímida.
A garota abriu um sorriso nitidamente forçado e indicou a terceira porta a minha direita. Enquanto caminhava até a sala sentia minhas mãos formigarem, aquele era o momento de causar uma boa impressão e não podia deixar a desejar. Parei diante da porta e respirei fundo antes de bater levemente e ouvi a voz feminina pedindo para que eu entrasse.
Fechei a porta com certa delicadeza quando passei, me sentia completamente nervosa, mas não podia deixar o nervosismo transparecer. O escritório era pequeno, mas muito chique em seus detalhes, haviam prateleiras repletas de livros e várias molduras com certificados decoravam as paredes. Olhei para a mulher sentada a minha frente, tinha cabelos curtos muito claros e aparentava ter uns 50 anos. Usava um conjunto azul escuro, quase preto, composto por blazer e calças sociais. Seus olhos eram em um tom acinzentado e me encaravam por cima dos óculos de armação dourada:
_ Boa tarde senhora Gabrielle, venho em nome do Dr. Henrique lhe entregar alguns documentos autenticados. _ anunciei e aguardei pela resposta da senhora a minha frente.
Gabrielle sorriu cortês, então indicou uma das poltronas a sua frente sugerindo que me sentasse e me senti honrada pelo convite. Estendi a documentação e a diretora passou os olhos rapidamente pelos papéis antes de firma-los em mim novamente:
_ Seu nome é Maria Clara, certo? _ perguntou.
E fiquei surpresa que soubesse meu nome:
_ Isso mesmo, senhora. _ confirmei tentando segurar o nervosismo.
_ Andei observando seu desempenho nos últimos meses e estou bastante satisfeita com seus resultados.
Não consegui esconder o sorriso escancarado que se abriu em meu rosto, tentei me conter antes de agradecer:
_ É uma grande honra ouvir isso de uma profissional brilhante como senhora, realmente admiro seu trabalho e como construiu sua carreira. _ disse um tanto emocionada pois conhecia sua trajetória através dos treinamentos motivacionais que participava. _ Não faço mais que o meu dever e sempre tive o apoio de equipes excelentes, ainda assim me sinto extremamente grata por seu reconhecimento. Muito obrigada mesmo.
A diretora assentiu com um menear de cabeça e prosseguiu:
_ Analisei seu histórico na companhia e fiquei impressionada com sua dedicação aos treinamentos, você parece estar muito interessada na forma como as coisas acontecem por aqui. É competente, altamente profissional... acredito que tomei uma ótima decisão promovendo você. _ Disse e baixou os olhos em direção aos papéis que havia acabado de lhe entregar.
Fiquei muda por um instante.
Aquilo era sério? Não podia ser!
Estava vivendo um sonho, certeza!_ Agradeço de todo o coração Sra. Gabrielle e prometo me esforçar para continuar sendo merecedora de sua consideração. _ estava emocionada e agradecida, sabia que meus olhos estavam brilhando como os de uma criança que ganhou um presente.
A executiva retribuiu o sorriso:
_ Tenho certeza que fará. Continue estudando e quando a oportunidade certa surgir, quero ver você conosco aqui em cima.
Meu ego quase explodiu nesse momento, mas apenas sorri e confirmei com a cabeça:
_Tem algo mais que eu possa fazer por você Maria Clara? _ Gabrielle quis saber enquanto voltava sua atenção para tela do computador.
_ Na verdade o Dr. Henrique pediu para que a senhora lhe passe o briefing do jantar de arrecadação de fundos, se possível. _ em meio a emoção ia esquecendo de perguntar.
_ Diga que assim que aprovar uma das propostas do marketing enviarei por e-mail, ok?! A pressão de Henrique não me fará escolher a primeira ideia fraca que aparecer.
Assenti complacente e me despedi agradecendo pela oportunidade e confiança mais uma vez.
Sai da sala em êxtase, aquilo foi simplesmente inacreditável!
Eu realmente havia conseguido me destacar a ponto de chamar atenção de uma das diretoras da empresa e, mais do que nunca, sentia que todo meu esforço havia valido a pena.Voltei para as grandes portas de aço inoxidável do elevador que demoram um pouco mais para se abrir daquela vez. Quando chegou, antes mesmo de entrar eu já estava sorrindo para o ascensorista, meu sorriso foi ficando cada vez maior depois que parei no centro do cubículo espelhado e baixei o rosto tentando esconder a satisfação. As portas começaram a fechar, mas o encarregado pelos botões acionou algum ponto em seu painel e o elevador voltou a abrir-se. Foi quando aquele cara surgiu diante da porta e meu sorriso desapareceu no mesmo instante.
Assim como o calor na minha pele e o ar dos meus pulmões.
Pai amado... era Ele!
CLARA ASSUNÇÃO O homem devia ter 1.90m, vestia um terno preto justo, fez um cumprimento rápido com a cabeça em direção ao o homem dos botões enquanto entrava e parou ao meu lado. Quando ascensorista perguntou o andar ele disse apenas "térreo", mas meu corpo inteiro estremeceu sob o som grave de sua voz. Quando o elevador começou a descer senti que os olhos do gigante se voltando em minha direção e o frio na barriga que me atingiu parecia querer congelar meus órgãos! O homem em questão era ninguém menos que Carlos Daniel Medeiros Alencar e era “só” a porra do presidente da multinacional em que trabalhava. Já não bastasse a pressão de dividir o elevador com o dono da porra toda, o cara parecia a personificação real de um deus grego antigo! Tinha os cabelos cuidadosamente penteados para trás em um tipo de topete estiloso, os olhos eram de um castanho muito claro e o maxilar quadrado estava coberto por uma barba serrada muito bem feita. Sabia que a
DANIEL ALENCAR Faltava menos de uma semana para a celebração e os preparativos para o grande dia estavam a todo vapor. Tudo estava sendo organizado com muito requinte para receber o corpo de acionistas e investidores, além de muitos amigos, empresários e alguns figurões da cidade. Seria algo relativamente pequeno, para cerca de 300 convidados e mais umas sessenta personalidades da mídia. Porém grandiosamente sofisticado, com toda a ponta e circunstância que o noivado de um herdeiro de família tradicional deveria ter. A imprensa estava em polvorosa tentando descobrir qualquer detalhe sobre a festa mas, principalmente, queriam saber quem era a noiva misteriosa que seria apresentada ao mundo dentro de poucos dias. As especulações passavam por mulheres que já haviam sido flagradas em minha companhia e iam até as personalidades mais improváveis do submundo das web celebridades. No entanto, ainda não havia realmente tomando uma decisão sobre qual das
DANIEL ALENCAR Todos que sabiam sobre o plano estavam putos com a minha aparente falta de interesse em resolver aquilo de uma vez, mas a verdade é que estava tão incomodado com a situação que simplesmente não conseguia aceitar nenhuma delas. Estava sendo obrigado a me comprometer com alguém para manter a imagem que os outro queriam que tivesse e não estava gostando nada daquilo! Permaneci sentado apreciando meu Scotch enquanto pensava nas perguntas que faria para a moça. Apesar de ser praticamente uma indigente, havia qualquer coisa nela que chamava atenção além da aparência e estava curioso para entender melhor o seu potencial. Passaram cerca de 20 minutos até ouvir as batidas na porta do escritório: _ A senhorita Clara Assunção está aqui como solicitou, deseja algo mais senhor Alencar? _ Laura apertou os olhos furiosa e um sorriso sarcástico me escapou por sua amabilidade forçada. _ Isto é tudo por enquanto. Mande-a entrar, por favor. _ retorqui e a
Daniel Alencar Foi a vez de Clara respirar fundo enquanto pensava no que lhe disse: _ Ok?! Pelo que entendi, o senhor quer me pagar 60 mil pra levar chifres. _ ela riu debochando deliberadamente da situação. _ Olha, não entendo muito sobre essas coisas, mas acredito que vai parecer ainda pior pra sua imagem com os caras. Ah... mas que porra de garota irritante: _ Que bom que divirto você... _ retribui o sorriso irônico _ Lógico que terei que tomar alguns cuidados extras e também vou precisar contar com sua total discrição. Estreitei um pouco os olhos antes de continuar: _ Preciso deixar claro que você não deverá confundir as coisas entre nós em nenhum momento. Vou sair quando quiser, com ou sem você e pode estar certa de que vou ficar com outras garotas. Não teremos nenhum tipo de relacionamento afetivo, não vou dever nenhum tipo de satisfação a você e ciúmes é uma palavra que quero que retire do seu vocabulário. _ a moça revirou os ol
CLARA ASSUNÇÃO Desde que iniciei como assistente, todos os dias Dr. Henrique me mandava fazer alguma coisa nos andares superiores e estava amando poder trabalhar alguns profissionais que só conhecia pelo nome até então. Por este motivo passei a caprichar um pouco mais no visual do que costumava. Naquela manhã fiz uma trança indiana que aprendi com minha falecida mãe e vesti uma das melhores roupas que tinha, a saia social preta acompanhada da blusa de viscose branca com mangas compridas e uma fileira de botões que subiam até decote discreto. Passei uma leve maquiagem e coloquei os pequenos brincos de zircônio que havia ganho de minha madrinha um tempo atrás. Ao me olhar no espelho sorri satisfeita. Quase parecia umas das garotas do vigésimo primeiro andar e sai do meu modesto quarto da república estudantil em Guaianases com a certeza de que um dia chegaria lá. Me sentia feliz por estar me saindo bemcomo assistente e milhões de id
CLARA ASSUNÇÃO Duas horas se arrastaram lentamente até me ver novamente indo em direção aos elevadores, eram quase 18h quando secretaria ligou avisando que o senhor Alencar me aguardava na sala de reuniões do vigésimo primeiro andar. Estava subindo pela terceira vez só naquela semana ao lugar que cheguei a pensar que nunca iria ver, e o mais assustador era que estava indo assinar um contrato para trabalhar como "A Noiva" do presidente de uma dasempresas mais lucrativas do país. Quando entrei na sala com paredes de vidro, haviam três pessoas sentadas ao redor de uma enorme mesa metálica em formato oval. O próprio herdeiro Medeiros Alencar, que sentava em uma das pontas, a mulher que me buscou em meu posto horas antes e, ao seu lado, um senhor muito mais velho. Cumprimentei a todos e Daniel lançou um meio sorriso quando apontou a cadeira do lado oposto a pequena comitiva que o acompanhava. Sentei ao seu lado tentando esconder o nervosismo enquanto o jovem empresá
CLARA ASSUNÇÃO Estávamos todos de pé àquela altura, vi os funcionários indo em direção a saída e comecei a acompanha-los, mas a voz grave parecia ter outros planos e me fez girar nos calcanhares: _ Clara, espere um minuto por favor. _ quando as testemunhas do nosso acordo secreto se retiraram ele continuou _ Sei que está tarde, mas importa se conversarmos um pouco mais? _ Claro que não. Acho que precisamos nos conhecer finalmente. _ concordei insegura, porém sorrindo com certa confiança. Nos sentamos novamente, desta vez ele se acomodou ao meu lado eficamos de frente um para o outro nas cadeiras giratórias: _ Imagino que tenha um milhão de perguntas passando por sua cabeça e também estou curioso sobre você. Em breve teremos tempo para nos conhecer de fato, mas primeiro preciso explicar algumas coisas sobre toda essa farsa. Concordei novamente, minhas maiores duvidas tinham mesmo a ver com o que teria que dizer sobre nós. O
CLARA ASSUNÇÃO Desci as escadarias que davam acesso ao edifício da multinacional e pude sentir o ar gelado da noite naquele final de agosto. Caminhei pelo calçadão da avenida Paulista em direção a parada de ônibus mais próxima, passava muito das 19h e não valia a pena ir para faculdade àquela altura, então peguei a condução para república ainda tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Um cara fodidamente rico, muito arrogante etragicamente lindo tinha me contratado pra ser sua noiva de mentira e eu passaria a ganhar uma verdadeira fortuna por isso. Coisa parecida só tinha visto na ficção mesmo, mas lá estava eu bem no meio do que parecia uma fanfic de cinquenta tons de cinza. Me sentia apreensiva com o que aconteceria no futuro e as palavras de meu contratante rodeavam meus pensamentos como um fantasma: "A partir de amanhã sua vidanunca mais será a mesma." Bom, com certeza não seria!