O medo, apesar de ser um sentimento fácil de ser identificado, possui ramificações que podem variar de acordo com as circunstâncias. Existe o medo inibidor, aquele que paralisa todos os sentidos e bloqueia todos os impulsos, fazendo com que a pessoa fique totalmente sem ação face a um desafio ou um fator ameaçador. Esse é o medo que a maioria das pessoas experimenta, e que pode ser facilmente confundido com a ansiedade. Trata-se do alerta que é emitido pelo cérebro, que se comunica imediatamente com o resto do corpo, dizendo que algo está errado e que todo o cuidado é pouco. Tal comando cerebral é tão eficaz em sua comunicação que os estímulos são praticamente imediatos. A palpitação, a sudorese e o tremor passam a um estágio incontrolável e a liderança do cérebro se torna tão patente e absoluta que o próprio dono do corpo passa a não possuir mais o controle sobre o organismo. Daí vem a paralisia e a falta de ação. Entretanto, uma pequena parcela da humanidade aprende, seja em carrei
Pequim - China. Quatorze anos antes...Em raras ocasiões, a paz reinava por completo na residência de Feng Huang e sua esposa Mia Zhang. Naquele final de inverno, eles aproveitavam o período de descanso proposto pelo chefe do Serviço de Inteligência Chinesa. Feng e Mia eram atuavam como agentes secretos do Governo Chinês e suas atribuições consistiam principalmente em mapear, descobrir e desarticular possíveis eventos terroristas. Com bastante frequência, viajavam aos países investigados e criavam uma rede de relacionamento com os principais mentores das organizações. Ora se disfarçavam de burocratas ansiosos por contratar seus serviços, ora se passavam por fornecedores de armas e, em tentativas mais ousadas, se disfarçavam de turistas para serem capturados de propósito e assim descobrir o modus operandi das organizações. Feng e Mia eram espiões experientes e naturalmente angarivam inimigos a cada missão bem sucedida. Em toda a sua carreira, o casal continuou para a prisão de mais d
Pela primeira vez desde que o pesadelo começou, Annchi Zhang conseguiu vislumbrar uma possibilidade de virar o jogo a seu favor. O bilhete do Doutor Delta, embora enigmático e com mínimos traços de sanidade, proporcionou um fio de esperança para o grupo, para Westfield e para o resto do mundo. Existia um antídoto, que possuía até mesmo um nome. Eurídice foi criado e concluído até onde se sabia. Entretanto, ao contrário do Orpheu, ele estava oculto, escondido em um lugar específico. As dúvidas eram comuns a todos os membros do agora formado grupo de sobreviventes. Se Brandon Davis e a equipe de virologia da Ômega criaram o Orpheu e o estimaram, caracterizando-o como um vírus sem falhas, por que se preocupar em desenvolver um antígeno? E mais do que isso, por que escondê-lo? E mais ainda, a quem estava destinado o bilhete? Era fato, a partir de então, que o Doutor Delta tinha um medo, um ponto fraco. Ele sabia que, em algum momento, o Ômega poderia sair de seu rígido controle. Annchi se
A cada dia que passava, era mais evidente o fato de a grande metrópole Westfield ter se tornado parte de um passado de honra e prosperidade. As ruas, antes extremamente movimentadas e ruidosas, naquele momento eram um grotesco deserto, em que imperava o silêncio e a sensação de abandono. Seus habitantes, já sem vida há muito, caminhavam a esmo, tropeçando em guias de calçada, olhando para restaurantes onde jamais irão jantar, sentindo o cheiro de mofo e morte. Seus ouvidos aguçados ouviam somente os lamentos dos cadáveres companheiros, que chegavam em hordas cada vez maiores. Homens, mulheres e também crianças vagavam pelos quarteirões inóspitos e pareciam não se importar com suas peles e órgãos sendo expelidos de seus corpos em decorrência da decomposição.No entanto, alguns Carnívoros hospedeiros da variante do Orpheu, aparentavam maior agilidade e atenção, além de uma pequenina, porém existente porção de raciocínio. Também caminhavam sem destino, mas seus rostos eram voltados para
Não havia tempo para decidir se os olhos dos sobreviventes estavam realmente contemplando a realidade. Os túneis da rede de esgoto de Westfield estremeciam com os golpes e espasmos do monstro enorme que assomava diante deles. A imensa cauda do crocodilo ricocheteava nas paredes e no teto dos túneis, causando uma bizarra sensação de viver no tempo jurássico, onde os seres humanos já não compunham o topo da cadeia alimentar. Alex Stevens se colocou à frente do grupo e exclamou:— Fiquem todos juntos!— Mas que merda é essa? - indagou Kai Yagami, mais para si mesmo do que para os outros. — É uma mutação causada pelo Orpheu! - explicou Annchi - O vírus, quando injetado em certos organismos, pode aumentar a capacidade celular, triplicar a densidade hormonal e intensificar a níveis astronômicos o nível de adrenalina. — Isso quer dizer...? - questionou Sahyd Kai resolveu responder no lugar da doutora, antes que ela resolvesse dar mais uma explicação técnica totalmente irrelevante naquele
A noite abraça a metrópole de Westfield após mais um longo dia de solidão e agonia. O odor de morte circula por cada metro quadrado da cidade e, embora as ruas estivessem desertas, tornou-se impossível percorrê-las, face ao medo e a sensação de viver um pesadelo sem fim. Prédios pegavam fogo em cantos isolados, incontáveis veículos podiam ser vistos abandonados nas avenidas e calçadas. Alguns colidiram contra postes e despencaram em córregos. Caminhões estavam tombados, alguns com líquido inflamável escorrendo pelo caminho. O ambiente era de completa destruição, porém não havia cadáveres em nenhuma das circunstâncias. Aqueles que perderam suas vidas a recuperaram. Os mortos acordaram, repletos de fome e sedentos por morte e sangue. A cada dia, o vírus Orpheu fazia o papel para o qual foi desempenhado. Suas mutações e variações estavam por todo lugar. Mesmo os abutres, que se alimentaram da abundância de carne morta que se estendia por Westfield, tornaram-se criaturas horrendas, monstr
— Fiquem juntos! — exclamou Alex Stevens, vendo as criaturas mutantes se aproximarem, sedentas por suas carnes. A Magnum já estava carregada, a Ruger de Annchi Zhang também estava pronta para atirar; Beatrice Murray sacou a faca de combate e se preparou para mais uma batalha: A espada de Kai Yagami já estava sobre a sua cabeça; Lancelot Miller preparou seu taco de baseball e também se integrou à linha de defesa. Solomon Locke posicionou-se na retaguarda, com seu rifle de precisão. O que escapasse do ataque do grupo iria direto para ele. Havia cerca de vinte monstros; nenhum deles ostentava a atitude letárgica e semi-inoperante da maioria dos Carnívoros. Eram extremamente rápidos, tinham firmeza em seus movimentos e até mesmo seus olhares eram mais fixos e cruéis. Era impressionante a maneira que eles avançavam. Era de fato um exército de mortos-vivos. O doutor Delta alcançou o seu sonho doentio, cumpriu o que prometeu. O Orpheu fez nascer super soldados, guerreiros incansáveis e imorta
A jovem Tracey Murray correu, após anos de procura, ao encontro de sua irmã Beatrice, que ainda estava ao chão, ao lado do Carnívoro, abatido pela flecha em seu crânio. Ela se agachou e lágrimas de felicidade e alívio escorreram de seus olhos. — Finalmente te encontrei, Beatrice! Você... está bem? Está ferida?Beatrice olhava admirada para a irmã, ainda sem acreditar que o encontro era real. — Tracey...? Pensei que havia morrido! É você mesmo?— Sim, irmã... quando aquela tempestade passou e nosso barco afundou, lembro de tentar salvar você, mas acabei ficando sem forças... a última coisa que vi foi aquele policial mergulhar e te levar até a praia! Você ainda estava inconsciente depois de quase ter se afogado. Ele não me viu, pois fui levada pela correnteza logo depois. Depois, tudo se apagou e só me lembro de ter acordado em um vilarejo próximo a um cais. Não fazia menor ideia de onde estava e as pessoas ali não eram nada confiáveis. Acho que o mar me levou até uma vila de ladrões.