(Leila)
Aperto o interruptor e ilumino todo o interior do meu apartamento. Tudo em ordem, como sempre e do jeito que deixei antes de fechar a porta. Solto a chave no aparador de madeira que fica bem na entrada e elas se chocam umas com as outras deslizando. Respiro fundo, fecho a porta atrás de mim e rodo a cabeça para soltar os músculos do meu pescoço. Tiro os sapatos de salto e piso livremente no chão, relaxando.
Enquanto caminho para o quarto e solto a bolsa em cima do sofá, pego o celular e confiro o horário. É quase meia noite, mas ainda assim envio uma mensagem para meu namorado.
Leila: Oi :), Cheguei em casa… Vem jantar comigo?
A resposta demora o tempo que levo para me despir. Sei que nesse horário ele está dormindo. Bernardo tem feito o link ao vivo de trânsito antes das seis horas da manhã, mas não resisto em chamá-lo, preciso dele.
Bernardo: Seu relógio quebrou, linda? É quase meia noite...
Leila: Eu sei, mas estou com saudades. Vou tomar um banho… e faço o jantar. Vem?
Bernardo: Vou tirar o pijama e chego aí.
Yey! — Vibro feliz com os braços para cima e largo o celular na cama. Vou para o banho e repito o ritual de sempre. Sinto-me exausta e hoje depois do show fizemos algumas cenas de encerramento para ter material de cenas extras. Trabalhar com o Fabrício tem sido tão estressante que meus cabelos estão caindo aos chumaços. São fios e fios que se descolam de mim cada vez que passo a mão pelos meus cabelos entre o shampoo e o condicionador, perco fios. Isso deve ser sinal de que algo está muito errado.
Saio enrolada na toalha, sento na cama e olho para o celular de novo. Passaram só quinze minutos e eu me estico na cama, pensando em como a minha vida conseguiu ficar ainda mais bagunçada do que já era.
***
A campainha toca. Acordo no susto, com o corpo todo dolorido e muita sede. O travesseiro está molhado como meus cabelos e não reparei que dormi de toalha. Ai, parece que caí de um prédio! Mais um toque de campainha e eu me recordo de que deveria estar preparando o jantar… é muito ruim a namorada tirar o namorado da cama para um jantar na madrugada e ainda por cima esquecer de cozinhar?
Levanto-me com pressa, escorrego para dentro de um babydoll e corro para a sala. Esqueci de trancar a porta, mas preciso abri-la ainda assim. Encaro Bernardo, que está com os cabelos bagunçados e uma camisa azul marinho. Ele sorri e eu derreto, mas já enlaço os braços em seu pescoço, puxando-o para mim.
Ele me beija, daqueles beijos de tirar o fôlego. Sua boca está com gosto de pasta de dente, a fragância do perfume está forte porque ele acabou de passar e suas mãos não me envolvem como de costume. O beijo é mais rápido do que eu queria, ele quase cai para frente e eu tenho que me separar dele. Só então percebo o porque da falta de equilíbrio, ele está segurando uma garrafa de vinho e na outra mão ele está equilibrando uma bandeja de isopor.
— Ai, Bê! Você passou num restaurante? — Fico vermelha e sem graça. Não sei, parece que o Bernardo advinha…
— Achei uma boa ideia porque você anda tão cansada… — Ele comprime rapidamente os ombros enquanto sorri, fazendo parecer que é algo totalmente casual sair da cama meia noite para jantar com a namorada que esqueceu de cozinhar. — E você nunca tem vinho o suficiente na geladeira.
— Verdade. — Digo e deixo ele entrar, segurando a bandeja e levando para a cozinha. — Eu acabei pegando no sono e não cozinhei nada! — Explico, mas acho que ele já imaginava. Solto a bandeja no balcão da cozinha e espio dentro.
Com certeza ele passou em um restaurante que fomos uma vez perto da casa dele, porque só comi essa receita uma vez e foi lá: filé mignon ao molho de jabuticaba e purê de abóbora, com salada de palmito. É uma delícia, vocês deviam provar.
— Desculpe te tirar da cama essa hora. — Peço, enquanto passo para o outro lado do balcão e consigo dois pratos e talheres para nós.
— Não tem problema. — Bernardo sorri enquanto abre o lacre do vinho. — Além do mais, adoro quando você me chama de repente.
— Gosto de fazer as coisas de repente. — Abro um sorriso e pego duas taças e o saca rolhas, que entrego para ele.
— Eu sei. — Ele me olha e ergue as duas sobrancelhas.
Lanço meu corpo por cima do balcão só para beijá-lo na boca. É que o Bernardo fica uma gracinha quando me observa desse jeito e a única coisa que consigo fazer é me atirar para cima dele. A gente se beija com força e eu quase derrubo a garrafa de vinho, o que faz com que eu tenha que me afastar um pouco do Bernardo.
Vamos para a mesa, nos sentamos e ele me serve de vinho.
— Vai beber assim tão perto de entrar em um link ao vivo? — Pergunto enquanto passo a mão por suas costas, fazendo um carinho.
— Tenho tempo e não é como se eu fosse me embebedar. — Ele ri e me beija de leve na boca. Claro que não, o Bernardo faz tudo do jeito certo. — Como foi o seu dia?
— Chato, chato, chato! — Conto observando ele se servir de vinho também. — As vezes me pergunto se não deveria arrumar outra coisa…
— Ué, por quê? — Bernardo joga os olhos intensamente sobre mim e sinto calor. — Fabrício está causando problemas?
— N-não, claro que não! — Nego, em pânico.
— Se ele estiver…
— Não está.
— Mesmo?
— Como disse a você, estamos “ok”, eu o ignoro na maior parte do tempo e quase não nos cruzamos nos bastidores. — Tomo a taça de vinho para mim e dou um gole para me calar. É um vinho bom, mas eu não sou assim muito ligada em castas de uvas e não tenho um paladar apurado.
— Nesse caso, não saia agora do emprego. — Bernardo me aconselha. Olho em dúvida para ele. — Agora que você já aceitou, melhor ir até o fim.
— Achei que você estava só esperando eu dar sinal de que quero sair para me incentivar a ficar à quilômetros de distância do Fabrício.
— Você disse que ele não está causando problemas.
— Não está.
— Então sem problemas… e você já está terminando, certo?
— Sim, mais algumas cenas e poderemos finalizar. — Digo. — Só estou cansada de tanto trabalhar, sinto saudades do meu descanso!
— Eu sinto saudades de você. — Bernardo me diz e eu me inclino para ele beijar minha cabeça.
Meus horários estão bem malucos, porque trabalhamos basicamente quando a banda Blackout trabalha, que é nos horários mais loucos, por exemplo: o Henrique faz ensaios com o Cleber (baixista) as quarta-feiras sete da manhã. Sério, que músicos acordam esse horário? Eu achava que eles dormiam até depois das duas (ao menos, o Fabrício é assim).
— Se você ficar sempre largando os empregos pela metade… vão começar a comentar que você não é compromissada o suficiente.
— Entendo. — Concordo. Bernardo tem os melhores conselhos, aprendi a escutá-lo mais! — Obrigada pelos toques.
— Que isso, linda. — Ele me beija.
Depois do jantar eu me deito por cima de Bernardo no sofá e sintonizo a televisão em qualquer canal. Não importa o que vamos assistir, porque é só uma desculpa comum que casais inventam para passar mais tempo juntos. Eu o beijo, delicadamente e o Bernardo responde me abraçando forte, colando seu corpo no meu. Adoro como ele me envolve desse jeito, me sinto tão desejada. Nosso beijo começa a ganhar mais ritmo e eu subo em cima dele, mordiscando sua boca, segurando firme em seus ombros e quase rasgando sua camisa.
Ele desliza as mãos por minhas costas. Inclino-me e ele desliza a barba por meu pescoço, ombro e colo devagar. Eu tiro sua camisa, passando a mão em seu tórax definido e ele puxa meu babydoll, despindo-me. Ele sorri quando olha para meu corpo e isso me faz feliz.
O Bernardo tem mãos firmes e fortes, que me seguram com vontade, enquanto sua língua me explora, quando estou em seus braços, não penso em mais nada, me isolo do universo e só existe a gente… é o efeito do Bernardo em mim.
Fico louca de prazer, desabotôo sua calça jeans e a gente faz sexo ali no sofá mesmo, de um jeito delicioso, mas ao mesmo tempo, cheio de carinho.
Invertemos posições, eu o beijo demoradamente enquanto o abraço, deslizando as mãos por suas costas. Ele me posiciona, deixando-me confortável no sofá. É perfeito estar com ele, envolve carinho e desejo em doses suficientes.
— Leila, eu te amo. — Ele diz entre sussurros e gemidos.
— Eu te amo. — Digo e logo depois, desmaio em seus braços.
***
— Leila? — Bernardo beija minha cabeça, acordando-me. Ainda é noite, meus olhos podem ver o relógio digital marcando três e meia. — Preciso ir.
— Hmmmm… — Eu não quero levantar e não levanto. Bernardo tenta sair debaixo de mim mas eu o seguro. — Nãaaao, fica…
— Eu quero, mas tenho que ir. — Ele diz e me beija levemente na boca, antes de me empurrar para o lado.
Eu volto a dormir.
Quando acordo, estou na cama, enrolada no lençol (como cheguei aqui?) e não tem nenhum sinal de que o Bernardo esteve na minha casa, de um jeito que parece até que eu sonhei tudo o que rolou.
É que o Bernardo arruma tudo antes de sair, ele é muito organizado — eu já não comentei isso?
No começo isso me incomodava um pouco, homens em um geral são uma bagunça, mas o Bernardo não. Acho que porque ele morou um tempo em outra cidade e teve que se virar sozinho em todos os aspectos, adquiriu hábitos mais saneados até mesmo do que eu. Reclamei com ele uma vez e agora ele me dá pequenos sinais de que esteve na minha casa (mas sempre deixa tudo limpo ao sair).
Tomo um banho, coloco uma roupa de folga (camiseta, jeans, allstar) e vou atrás do resto do jantar, porque já estou faminta. Abro a geladeira, pego a bandeja de isopor e um garfo, sem nem esquentar. Sento-e no sofá. Dou risada quando percebo um post-it na tela.
Largo meu prato ao lado, no sofá mesmo, e me adianto para pegar o bilhete. O Bernardo é um fofo mesmo!
“Bom dia amor! Liga pra mim depois? Quero repetir a noite, se possível todos os dias. Amo você, Bê”.
Tenho que ir até o quarto atrás do meu celular só para m****r uma mensagem para ele. Olho nossa fotografia que deixo como fundo de tela do celular e suspiro apaixonada.
Leila: Achei seu bilhete, te amo. Vem hoje de novo que te faço uma massagem.
Ainda espero por uma mensagem dele, mas acredito que agora ele está dormindo pesado em casa. Volto para a sala, reposiciono o prato no meu colo e alcanço o controle remeto. Ligo a televisão e remexo na programação que fiz para gravar o link ao vivo do Bernardo, porque adoro vê-lo na televisão. É algo bem rápido, ele está próximo a uma avenida, ventando muito e diversos farois de carro passam por ele.
Ele deve estar morrendo de sono, mas não aparenta. Apenas diz que as duas vias estão livres, sugerindo-a como opção de tráfego. Ele sorri ao se despedir, mas aquele sorriso televisivo dele não me convence, sabe, é muito diferente do sorriso que ele dá quando fala de peixes.
Mordo a unha, nervosa, lascando meu esmalte.
Já tem uns dias que ando pensando nisso e me sinto mal toda vez que penso que estou colaborando para o Bernardo ser infeliz. As coisas não devia ser assim… o Bernardo faz de tudo para me ver feliz e estou falhando de fazer o mesmo com ele, preciso incentivá-lo mais.
Preciso conversar seriamente com ele sobre isso.
Está tudo pronto para o show e a contagem regressiva para o fim do meu trabalho marca cinco! Finalmente. Hoje faremos a gravação de boa parte das músicas que vão para o DVD ao vivo da turnê nacional e uma rádio vai transmitir o show de hoje ao vivo. Minha equipe recebeu um adicional de dez pessoas, fora os técnicos do Fabrício, para toda a parafernália que ele usa no palco. Contratei duzentos figurantes para preencher a plateia (eles são contratados para puxar coro, aplausos, distribuir faixas e chorar para que mais pessoas façam a mesma coisa) e distribuímos convites o suficiente para que além da venda normal de ingressos, muitas pessoas fossem ao show. Em alguns casos, fechamos tudo com figurantes, mas a Blackout tem potencial o suficiente para trazer os próprios fãs... e vieram milhares. (Bonus: Drica) Já solicitei duas taças de Chandon Rosé antes mesmo da Leila se jogar exausta na minha frente depois de mais um cansativo dia de trabalho. Hoje é sexta-feira, dia de folga para a banda, mas estou por dentro dos acontecimentos e sei que a Leila ficou até tarde na ilha de edição. Eu sou basicamente chefe dela, então consigo checar as escalas. — Ai, estou tão exausta, não aguento mais, Drica. — Ela me diz, choramingando e passando as mãos pela cabeça, puxando os cabelos castanhos para trás. — Não achei que isso fosse algo tão exaustivo! — É um pouco, mas também é muito legal. — Digo, com um sorriso. — Como estão as coisas entre você e o Bernardo? 03 — Pedindo um favor
(Leila) É domingo a tarde, estou com tempo livre e Bernardo também, por isso combinamos de nos encontrar na casa dele para depois irmos ao cinema. No trajeto, de táxi, fico repensando como foi o meu encontro com a Drica e em como a vida foi cruel com ela nos últimos meses. Além de se envolver com um viciado, ela engravidou dele… Agora eu tenho um segredo (a gravidez dela), que não posso contar para ninguém e uma missão: convencer o Fabrício de dar uma chance para o irmão e chamá-lo para trabalhar com ele. Sério, era tudo o que eu não precisava! Por que a Drica não toma anticoncepcional como toda mulher normal? Eu morro e medo de engravidar e ela se mete nessa
(Leila)Drica: Você já viu aquele probleminha pra mim? Por favooooor não me deixa na mão, amiga!Drica: Leila… e o Fabrício? Conseguiu algo?Drica: O que preciso fazer para você me ajudar? :(Drica: Preciso de você Leilinha :(((((((((Drica: Ai, não estou legal… me ajuda, Leila!Drica: Estou vomitando demais e o Eduard
A primeira vez foi no calor do momento, embriagada de prazer e não estava pensando direito. A segunda vez foi por saudade, meu julgamento ainda estava comprometido. A terceira, foi porque um piercing na língua tem muito poder argumentativo mesmo quando sua consciência te repreende. E a quarta foi porque eu quis. Unicamente porque eu quis... Isso faz de mim uma adolescente sem controle hormonal que traiu o namorado perfeito com o ex-namorado gostoso. Já aconteceu com alguma de vocês? Sempre fui contra traição. Considero um ato sujo e egoísta, de extrema falta de noção e respeito. Mas agora que estou do outro lado da linha divisória de caráter, entendo porque existem pessoas que traem. É um a
(Fabrício)Seria muito melhor estar aqui se a Leila estivesse comigo. Fato.Infelizmente minha raposinha fugiu assustada com medo do que fez. Ela se arrependeu, certo? Melhor acreditar nisso do que concluir que de tanto conviver com as amigas e aquele idiota do Bernardo, ela se tornou uma manipuladora como eles e só transou comigo para me forçar a estar aqui hoje a noite.A verdade que não quero admitir para mim mesmo é que estou subindo esse elevador por vontade própria… já estava pensando em vir mesmo. Embora a vontade de revirar a morte do meu pai seja nula, sei que já passou da hora de eu ter
(Leila) É com a minha mão trêmula que giro a maçaneta da porta do meu apartamento. Respiro fundo antes de puxá-la na minha direção e encarar os fatos. Bernardo sorri fofo ao me ver, provavelmente achando que teríamos um encontro a dois essa noite, mas o sorriso dele imediatamente murcha e sua expressão muda para a de preocupação: as sobrancelhas se unem perto da linha do nariz e o sorriso desaparece. Acho bom eu me acostumar com isso: em como eu vou destruir o seu sorriso. — Linda? O que houve? — Bernardo, como todo homem atencioso e o namorado perfeito que ele é, tenta me abraçar, mas eu me esquivo porque isso seria um martírio e sei que no fundo, ele não va
(Ruth)— Saindo do prédio, encontro o Fabrício entrando... Pensei em quebrar a cara dele, te juro, mas como nem todas as minhas economias pagariam a indenização, desisti.— E aí?— Lembrei que no meu bolso tava a chave da casa da Leila e não pensei, peguei a chave e entreguei na mão dele, dizendo: "Pode ficar com o prêmio consolação, está usado mesmo." — Uau que ousado… E ele fez o quê?— O