(Leila)
É com a minha mão trêmula que giro a maçaneta da porta do meu apartamento. Respiro fundo antes de puxá-la na minha direção e encarar os fatos.
Bernardo sorri fofo ao me ver, provavelmente achando que teríamos um encontro a dois essa noite, mas o sorriso dele imediatamente murcha e sua expressão muda para a de preocupação: as sobrancelhas se unem perto da linha do nariz e o sorriso desaparece. Acho bom eu me acostumar com isso: em como eu vou destruir o seu sorriso.
— Linda? O que houve? — Bernardo, como todo homem atencioso e o namorado perfeito que ele é, tenta me abraçar, mas eu me esquivo porque isso seria um martírio e sei que no fundo, ele não va
(Ruth)— Saindo do prédio, encontro o Fabrício entrando... Pensei em quebrar a cara dele, te juro, mas como nem todas as minhas economias pagariam a indenização, desisti.— E aí?— Lembrei que no meu bolso tava a chave da casa da Leila e não pensei, peguei a chave e entreguei na mão dele, dizendo: "Pode ficar com o prêmio consolação, está usado mesmo." — Uau que ousado… E ele fez o quê?— O
(Leila) É no terceiro andar que preciso tirar os saltos para subir escadas. Tive uma ideia estúpida, para variar e me escoro contra a parede onde uma enorme placa marcando “3” está pendurada. Respiro fundo, tiro meus sapatos e os pego na mão. Ainda tenho que subir até o 19 e estou arfando e suando… mas eu que não entro naquela caixa maldita de madeira, nem pensar! Estou de calça jeans, bata e casaco de couro. Lá fora está frio, mas aqui dentro, um calor horroroso causado unicamente em mim pelo meu esforço. Legal chegar toda descabelada, fedida e com o pé sujo para um encontro! Vou subindo até quase ficar desidratada e finalmente a plaquinha do “19” é avistada
O tapete é ridículo e num tom rosa choque queimado que me lembra o esmalte da coleção passada. Os bancos são de madeira avermelhada e as paredes brancas, decoradas com flores tão falsas que são até um pouco amareladas de poeira. O mais irritante mesmo são as luzes fluorescentes, que vão de deixar com olheira nas fotos. O fotógrafo aleatório contratado na porta da capela bate uma fotografia e me cega com um flash. Quase tropeço na barra do vestido, que é um pouco comprido para mim e quase caio de cara no chão, mas calma, foi só um susto. Puxo a frente da saia e caminho com um sorriso no rosto até a ponta do altar, onde um distraído Fabrício me espera. Ele está conferindo alguma coisa no celular, mas para assim que a música começa a tocar (um pouco atrasada devido a minha entrada catastrófica) e sorri. Seu terno é alugado, mas ele fez questão de
(Leila)— Não, Fabrício nem pensar. — A ideia me horrorizou de imediato, embora a vista pela janela fosse linda, perfeita, com um maravilhoso por do Sol. — Pra que um apartamento com seis suítes?Nem pensar que vou deixar o Fabrício fazer essa loucura! Só de imaginar a bagunça que ele faz no meu flat multiplicado por seis cômodos, cada um do tamanho do meu flat, me desespera e minhas pernas ficam trêmulas.— Preciso de espaço e os imóveis nessa cidade estão cada vez menores… — Responde simplesmente como se precisar de espaço quisesse dizer o
Assim que decidimos o dia da viagem, meus problemas começam. Vamos em tópicos. Primeiro: Faltando dois dias para viajar, descobri que a Blackout marcou um show de pré-turnê no Best Buy Theatre e os ingressos esgotam, o que me dá mais raiva ainda! Quando pergunto ao meu excelentíssimo marido porque ele fez isso, sua resposta é algo como “Já que você e suas amigas resolveram tornar a minha lua de mel um inferno, eu não achei má ideia transformá-la em trabalho.”, segurando uma garrafa de uísque e fumando, o que me deixa possessa, sabe? A forma com
(Leila) — Leila? Leila? — Bernardo segura no meu rosto. Não sei, acho que desmaiei porque tudo isso foi demais pra mim. Só acordo porque começo a sentir uma chuva fina e gelada caindo sobre a gente. Começo a chorar, a Ruth também já estava chorando de antes e o Bernardo, o único calmo como um unicórnio alado, abre um guarda-chuva que ele tinha no bolso e nos leva para o primeiro café na esquina, onde nos sentamos em um sofá. Ruth fica de mãos dada comigo e a cabeça apoiada no meu ombro, enquanto o Bernardo vai nos comprar alguma coisa quente para beber. É até engraçado de você pensar que o Clube das Desapaixonadas
(Leila) Mesmo depois de muito anestésico, Fabrício ainda sente muita dor e mal consegue respirar. Só por esse motivo que levanto a bandeira branca para a Ruth durante o café da manhã. No jornal saiu uma nota sobre o acidente durante o show e, claro, sobre nosso casamento. Podem me culpar por isso, já que contei o ocorrido para meu ex-namorado, um jornalista cheio de amigos loucos por esse tipo de informação. — Não acredito nisso, Fabrício. — Eduardo está com o rosto escondido pelas folhas do jornal, mas podemos imaginar sua careta de pavor, pois ela deve ser semelhante a de Drica, sentada bem ao seu lado de cabelos presos em um coque e com um vestido recém-adquirido para grávoda. — Casar ass
Ruth limpa a boca e olha para mim através do espelho. Eu estou estática na porta, segurando-a com uma mão e a bolsa na outra.— O que é que você está olhando, Leila? — Ruth me pergunta seca, com a voz enrouquecida pelo esforço que fez sua garganta. Eu engulo seco.— Você está bem? — Pergunto, mas nem me mexo e mal respiro. Ruth está com um olhar de puro ódio em cima de mim e eu ainda tento entender como foi que isso tudo aconteceu. — Quer ajuda?— Estou ótima e não preciso da sua piedade. — Ela puxa a toalha de papel do dispositivo na parede e seca o rosto. A pia co