Assim que decidimos o dia da viagem, meus problemas começam. Vamos em tópicos.
Primeiro: Faltando dois dias para viajar, descobri que a Blackout marcou um show de pré-turnê no Best Buy Theatre e os ingressos esgotam, o que me dá mais raiva ainda! Quando pergunto ao meu excelentíssimo marido porque ele fez isso, sua resposta é algo como “Já que você e suas amigas resolveram tornar a minha lua de mel um inferno, eu não achei má ideia transformá-la em trabalho.”, segurando uma garrafa de uísque e fumando, o que me deixa possessa, sabe? A forma com
(Leila) — Leila? Leila? — Bernardo segura no meu rosto. Não sei, acho que desmaiei porque tudo isso foi demais pra mim. Só acordo porque começo a sentir uma chuva fina e gelada caindo sobre a gente. Começo a chorar, a Ruth também já estava chorando de antes e o Bernardo, o único calmo como um unicórnio alado, abre um guarda-chuva que ele tinha no bolso e nos leva para o primeiro café na esquina, onde nos sentamos em um sofá. Ruth fica de mãos dada comigo e a cabeça apoiada no meu ombro, enquanto o Bernardo vai nos comprar alguma coisa quente para beber. É até engraçado de você pensar que o Clube das Desapaixonadas
(Leila) Mesmo depois de muito anestésico, Fabrício ainda sente muita dor e mal consegue respirar. Só por esse motivo que levanto a bandeira branca para a Ruth durante o café da manhã. No jornal saiu uma nota sobre o acidente durante o show e, claro, sobre nosso casamento. Podem me culpar por isso, já que contei o ocorrido para meu ex-namorado, um jornalista cheio de amigos loucos por esse tipo de informação. — Não acredito nisso, Fabrício. — Eduardo está com o rosto escondido pelas folhas do jornal, mas podemos imaginar sua careta de pavor, pois ela deve ser semelhante a de Drica, sentada bem ao seu lado de cabelos presos em um coque e com um vestido recém-adquirido para grávoda. — Casar ass
Ruth limpa a boca e olha para mim através do espelho. Eu estou estática na porta, segurando-a com uma mão e a bolsa na outra.— O que é que você está olhando, Leila? — Ruth me pergunta seca, com a voz enrouquecida pelo esforço que fez sua garganta. Eu engulo seco.— Você está bem? — Pergunto, mas nem me mexo e mal respiro. Ruth está com um olhar de puro ódio em cima de mim e eu ainda tento entender como foi que isso tudo aconteceu. — Quer ajuda?— Estou ótima e não preciso da sua piedade. — Ela puxa a toalha de papel do dispositivo na parede e seca o rosto. A pia co
Não tem para onde fugir, por isso eu congelo. Ruth fica em pé e chama atenção de Fabrício que se ergue do sofá também. Estou um caos, mas acho que isso é o de menos diante da situação.Ruth seca os olhos e Fabrício é quem se aproxima de mim. Sabe, a ideia de que eles vieram juntos no mesmo veículo, conversando sobre o bebê me chateia demais. Abaixo os olhos e acabo vendo as botas do Fabrício chegando junto de mim. Eu me odeio por um instante, o fato de como meu estômago revira com um panapaná dentro dele só porque é o Fabrício que chega perto de mim, esse poder que ele tem sobre minha existência inteira é minha maior fraqueza.— (Leila)Todos os testes de farmácia deram negativo, não estou grávida. Possivelmente estou com uma gastrite daquelas depois de tanto estresse e ainda nem comecei.Marquei um jantar com a Drica, mas já estou pensando em fugir, especialmente depois que a Yolanda marcou uma reunião com um fornecedor de lâmpadas para holofotes. Nossa, sério que eu tenho que cuidar desses detalhes chatos da empresa de eventos do Fabrício? Que droga.Depois do almoço (que não consigo comer sem vomitar), eu me junto ao sofá com Fabrício e seu violão, para escolhermos logo nosso apartamento, o Flat está fic18 — Família
(Bernardo)Uma lufada de ar bate em meus cabelos quando atravesso a portaria de desembarque internacional. A intenção é de climatizar o corpo para o contraste entre o ar-condicionado e a temperatura ambiente, mas tenho certeza que é apenas a primeira das coisas as quais terei que me habituar.— Bê! — Escuto uma voz conhecida do meio da multidão e procuro por entre os rostos anônimos aquele que eu conheço. — Bê!— Drica! — Aproximo-me dela no instante em que a vejo. Puxo com calma a minha mala cinza escura, velha companheira de guerra. (Leila)— Fabrício! — Berro tão alto que a voz arranha e quase fico rouca. Estou na minha cama king size, enrolada com lençóis mais do que confortáveis.O Fabrício tinha me prometido que eu só ficaria rouca gritando seu nome na cama e não é exatamente assim que eu achei que fosse acontecer.Que irritante!São duas horas e meia da manhã e o Fabrício não sai desse piano! Ele não sabe tocar nada, mas fica batendo as teclas e fazendo o objeto ressoar pela casa inteira. <20 — O piano incrível
(Leila) Fabrício estica os olhos cor de mel para o meu celular e para escapar de sua curiosidade, atendo o telefone. — Alô? — Leila? — Oi tio! — Atendo com animação forçada. Fabrício me faz uma cara esquisita e entra dentro do carro, tentando acalmar os cachorros que repentinamente resolveram latir. — Tio? É o Bernardo, Leila, vai dizer que deletou meu número? — Sua voz sai dura e consigo imaginá-lo revirando os olhos enquanto bate o punho na mesa da bancada da cozinha, como ele costuma fazer quando se sente contrariado e