(Leila)
É no terceiro andar que preciso tirar os saltos para subir escadas. Tive uma ideia estúpida, para variar e me escoro contra a parede onde uma enorme placa marcando “3” está pendurada. Respiro fundo, tiro meus sapatos e os pego na mão. Ainda tenho que subir até o 19 e estou arfando e suando… mas eu que não entro naquela caixa maldita de madeira, nem pensar!
Estou de calça jeans, bata e casaco de couro. Lá fora está frio, mas aqui dentro, um calor horroroso causado unicamente em mim pelo meu esforço. Legal chegar toda descabelada, fedida e com o pé sujo para um encontro!
Vou subindo até quase ficar desidratada e finalmente a plaquinha do “19” é avistada
O tapete é ridículo e num tom rosa choque queimado que me lembra o esmalte da coleção passada. Os bancos são de madeira avermelhada e as paredes brancas, decoradas com flores tão falsas que são até um pouco amareladas de poeira. O mais irritante mesmo são as luzes fluorescentes, que vão de deixar com olheira nas fotos. O fotógrafo aleatório contratado na porta da capela bate uma fotografia e me cega com um flash. Quase tropeço na barra do vestido, que é um pouco comprido para mim e quase caio de cara no chão, mas calma, foi só um susto. Puxo a frente da saia e caminho com um sorriso no rosto até a ponta do altar, onde um distraído Fabrício me espera. Ele está conferindo alguma coisa no celular, mas para assim que a música começa a tocar (um pouco atrasada devido a minha entrada catastrófica) e sorri. Seu terno é alugado, mas ele fez questão de
(Leila)— Não, Fabrício nem pensar. — A ideia me horrorizou de imediato, embora a vista pela janela fosse linda, perfeita, com um maravilhoso por do Sol. — Pra que um apartamento com seis suítes?Nem pensar que vou deixar o Fabrício fazer essa loucura! Só de imaginar a bagunça que ele faz no meu flat multiplicado por seis cômodos, cada um do tamanho do meu flat, me desespera e minhas pernas ficam trêmulas.— Preciso de espaço e os imóveis nessa cidade estão cada vez menores… — Responde simplesmente como se precisar de espaço quisesse dizer o
Assim que decidimos o dia da viagem, meus problemas começam. Vamos em tópicos. Primeiro: Faltando dois dias para viajar, descobri que a Blackout marcou um show de pré-turnê no Best Buy Theatre e os ingressos esgotam, o que me dá mais raiva ainda! Quando pergunto ao meu excelentíssimo marido porque ele fez isso, sua resposta é algo como “Já que você e suas amigas resolveram tornar a minha lua de mel um inferno, eu não achei má ideia transformá-la em trabalho.”, segurando uma garrafa de uísque e fumando, o que me deixa possessa, sabe? A forma com
(Leila) — Leila? Leila? — Bernardo segura no meu rosto. Não sei, acho que desmaiei porque tudo isso foi demais pra mim. Só acordo porque começo a sentir uma chuva fina e gelada caindo sobre a gente. Começo a chorar, a Ruth também já estava chorando de antes e o Bernardo, o único calmo como um unicórnio alado, abre um guarda-chuva que ele tinha no bolso e nos leva para o primeiro café na esquina, onde nos sentamos em um sofá. Ruth fica de mãos dada comigo e a cabeça apoiada no meu ombro, enquanto o Bernardo vai nos comprar alguma coisa quente para beber. É até engraçado de você pensar que o Clube das Desapaixonadas
(Leila) Mesmo depois de muito anestésico, Fabrício ainda sente muita dor e mal consegue respirar. Só por esse motivo que levanto a bandeira branca para a Ruth durante o café da manhã. No jornal saiu uma nota sobre o acidente durante o show e, claro, sobre nosso casamento. Podem me culpar por isso, já que contei o ocorrido para meu ex-namorado, um jornalista cheio de amigos loucos por esse tipo de informação. — Não acredito nisso, Fabrício. — Eduardo está com o rosto escondido pelas folhas do jornal, mas podemos imaginar sua careta de pavor, pois ela deve ser semelhante a de Drica, sentada bem ao seu lado de cabelos presos em um coque e com um vestido recém-adquirido para grávoda. — Casar ass
Ruth limpa a boca e olha para mim através do espelho. Eu estou estática na porta, segurando-a com uma mão e a bolsa na outra.— O que é que você está olhando, Leila? — Ruth me pergunta seca, com a voz enrouquecida pelo esforço que fez sua garganta. Eu engulo seco.— Você está bem? — Pergunto, mas nem me mexo e mal respiro. Ruth está com um olhar de puro ódio em cima de mim e eu ainda tento entender como foi que isso tudo aconteceu. — Quer ajuda?— Estou ótima e não preciso da sua piedade. — Ela puxa a toalha de papel do dispositivo na parede e seca o rosto. A pia co
Não tem para onde fugir, por isso eu congelo. Ruth fica em pé e chama atenção de Fabrício que se ergue do sofá também. Estou um caos, mas acho que isso é o de menos diante da situação.Ruth seca os olhos e Fabrício é quem se aproxima de mim. Sabe, a ideia de que eles vieram juntos no mesmo veículo, conversando sobre o bebê me chateia demais. Abaixo os olhos e acabo vendo as botas do Fabrício chegando junto de mim. Eu me odeio por um instante, o fato de como meu estômago revira com um panapaná dentro dele só porque é o Fabrício que chega perto de mim, esse poder que ele tem sobre minha existência inteira é minha maior fraqueza.— (Leila)Todos os testes de farmácia deram negativo, não estou grávida. Possivelmente estou com uma gastrite daquelas depois de tanto estresse e ainda nem comecei.Marquei um jantar com a Drica, mas já estou pensando em fugir, especialmente depois que a Yolanda marcou uma reunião com um fornecedor de lâmpadas para holofotes. Nossa, sério que eu tenho que cuidar desses detalhes chatos da empresa de eventos do Fabrício? Que droga.Depois do almoço (que não consigo comer sem vomitar), eu me junto ao sofá com Fabrício e seu violão, para escolhermos logo nosso apartamento, o Flat está fic18 — Família