Nos meus primeiros dias conseguia sentir olhos me guiando para onde quer que eu fosse, me dizendo para onde ir, o que eu deveria fazer, deixei que aqueles olhos me guiassem e eu me lembro de como sentia que eram os olhos da minha mãe. Dela me guiando de volta. No final eu descobri que não era minha mãe.
Não, nunca foi.Era...Outra pessoa.•| ⊱✿⊰ |•Havia uma escola, uma loja de roupas aonde Claire havia conseguido seu vestido e que ela não parava de tagarelar sobre ele, uma cafeteria, uma enfermaria e uma biblioteca. Era só isso.Não havia mais nada naquele lugar feito para mortos, nada daquilo me chamava atenção, nada além de uma pequena e fraca atração quando ela me disse sobre a biblioteca, não que eu fosse uma grande leitora — quer dizer, não me conheço o suficiente para afirmar isso — mas eu queria pesquisar mais a fundo para entender o que diabos estava acontecendo, a verdade era que eu apenas precisava esfriar minha cabeça, aquela confusão e ainda mais aquela raiva, raiva daquelas pessoas por agirem normalmente, por tudo o que estava acontecendo ao meu redor, mesmo que elas não tivessem culpa. Não conseguia me ver morando ali, era um pesadelo só podia ser, estava presa naquele pesadelo, apenas desejando intensamente acordar, uma imagem de uma mulher ajoelhada ao meu lado cantando brilha em minha mente:Durma, durma minha pequena que o sol já nasceráDurma, durma minha pequena e sonhe com os mais belos dos sonhos.Durma, durma minha pequena o coelho logo virá lhe buscar.Durma, durma minha pequena e vá ao país das maravilhas para se maravilhar.Com gatos risonhos, chapeleiros loucos e flores falantes.Durma, durma minha pequena para que possa enfim descansar.Acorde, acorde, acorde, acorde, acorde, acorde dos pesadelos.— Emma... você está aí?Me viro para Claire que me olha com curiosidade, como quem pudesse ler meus tolos pensamentos, e então eu enfim percebo que há dois garotos ao lado dela que definitivamente não estavam ali antes, esperando algo de mim, alguma reposta de uma pergunta que eu não ouvi.— Eu... eu sou Emma Tales.Eles não sorriem, mas também não dão risada o que já é alguma coisa, os olhos do de cabelo escuro brilham com algum tipo de surpresa.— Esses são Paul e Lian — ela diz se virando para mim — Os dois tem a nossa idade, então frequentamos a escola nos mesmos dias.— É um prazer conhecer vocês — digo sem saber exatamente se é verdade ou apenas mais uma mentira saindo da minha boca.Claire disse que íamos a uma escola, os mais novos iam para se lembrarem de coisas importantes, qual era o sentido de estudar quando estávamos mortos? Qual o sentido de qualquer coisa se eu estava morta? Não havia um, eu queria dizer aquilo para eles, mas algo em mim mandava eu calar a minha boca, porque a verdade era que a maioria daquelas pessoas pareciam tão... normais, elas ignoravam o passado, talvez eu devesse esquecer também.Mas não consigo não pensar na minha vida antes da morte, buscando qualquer resquício da minha família, mesmo que não houvesse... aquele lugar era... Tão diferente do que eu havia imaginado, todos estranhamente felizes, como se não houvesse problemas no mundo, talvez para eles não houvesse mesmo. Nem parecia que éramos apenas um monte de cadáveres ambulantes sem informação nenhuma, por mais que todos eles parecessem ridiculamente normais senti um certo interesse em um dos garotos, o de cabelo escuro. Talvez pelo fato dele parecer... triste, triste no meio daquele mar de sorrisos ambulantes.— Acho que já te apresentei tudo — Claire se direciona para mim — Ao menos a maioria das coisas, acho que é a sua vez agora, não é?— O que? — Pergunto sem entender.— Qual desses lugares você quer ir primeiro?Não tinha nenhum lugar particularmente que eu desejava ir, uma parte minha queria ir para o quarto, uma parte muito grande minha queria descansar e chorar até que o dia acabasse, queria tirar a m*****a camisola branca que envolvia meu corpo e que era terrivelmente fria, mas... Por mais que quisesse muito tirar a camisola não sentia vontade de ir na loja de roupas, não com toda aquela gente me observando e me avaliando.— Eu acho... que gostaria de conhecer a biblioteca.Algo em mim brilhou quando ela falou sobre lá, talvez eu pudesse entender melhor o que estava acontecendo, ela sorriu.— Uma viciada em livros então... talvez devesse falar com Paul.O garoto ao lado dela fez uma cara feia, mas não disse nada. Os olhos dele eram um misto de frieza por trás dos óculos. Mas o outro... ao lado dele...— Está a muito tempo aqui?O menino triste, Lian, não virou a cabeça para me olhar ao responder:— Sim — ele dizia como um boneco, uma marionete, atiçando a minha curiosidade como se estivesse me cutucando com uma vara.Pergunte — dizia a voz em minha cabeça — Vamos Emma, pergunte a ele, descubra sobre o que está acontecendo nessa cidade.Descubra mais sobre os mortos que andam sobre ela.— Gosta daqui?O garoto enfim me olha, seus olhos castanhos se encontrando com os meus. Mas por mais que olhasse para mim... Por que sentia que via outra pessoa?— As pessoas são felizes aqui.Não foi o que perguntei.Não consigo segurar minha boca ao dizer:— Você acha que não deveriam?Ele me olha estranhamente.— Por que pergunta isso?— Porque bem... estamos mortos.Uma fração de surpresa se passa em seu rosto quando digo aquilo. Ele sabe, não é? Sabe que está morto, que é um cadáver ambulante, seus movimentos são até parecidos com o de um, diferente das almas vivas que sorriam, a dele parecia tão morta quanto a minha.Talvez seja por isso que gostei dele assim que o vi.— Não nos lembramos das nossas vidas... então não é como se o fato de termos morrido faça diferença, não é como se importasse.Como não? Aquilo era o que mais importava.— É tipo... o céu? — Pergunto.— Aqui é tudo, menos o céu.Olho para ele, não esperava aquele tipo de reação, sorrio maliciosamente, não posso negar que gostei.— Não há muito a dizer sobre esse lugar, apenas... posso te avisar para não sair durante a noite, pode ser perigoso, acho que é o único aviso que preciso dar a você.— Por quê? — pergunto — Estamos mortos mesmo.— Por isso, já morremos então não podemos nos dar ao luxo de morrer de novo.Então se eu morresse não voltaria... interessante. Qual a diferença de mim mesma para a minha outra eu? O que havia acontecido na vida passada? Em outro mundo?Perguntas, perguntas e mais perguntas.Talvez no fim das contas, tudo aquilo fosse um sonho mesmo, ou um teste para ver se eu era boa, para ver aonde eu iria após minha morte. Eu sabia que se aquilo era um teste, eu não passaria.— Os seguranças não gostam muito das pessoas saindo e vindo, especialmente à noite, temos um toque de recolher sabe?Ele não disse, mas senti que havia algo errado em relação a fala dele. Será que era apenas por causa daquilo que não era para se sair durante a noite?Se tem seguranças então qual o perigo?Por mais que eu tivesse desejado que viesse conosco até a biblioteca observo quando ele se afasta do grupo, indo em direção a floresta, algo muito, muito errado circulava aquele garoto, seguro a minha vontade de ir correndo atrás dele e entro.— Ali fica o bibliotecário Smile, ele também é quem se comunica com os doutores quando precisamos.Dou uma boa olhada para o homem, que apesar de ter um nome como Smile... não parecia muito feliz, ao que parece nem todos são tão felizes assim.— Também tem a ajudante, que é Júlia, ela fica organizando os livros então se precisar encontrar alguma coisa é só falar com ela.Claire me deixa um pouco sozinha vagando pelos corredores enquanto vai até uma seção de romances e me vejo perdida em meio a dezenas de prateleiras altas e desgastadas, meus dedos levemente roçando nas lombadas dos livros.Livros... livros...Precisava de alguma informação sobre o que estava acontecendo, sobre o que era aquele lugar, eu precisava daquilo... meu coração rugia em desespero. Eu precisava me lembrar da minha antiga vida... Isso é claro, se eu havia tido uma.Procuro por informações, mas não encontro nada além de prateleiras com histórias e ficções, do jeito que as coisas estavam talvez um livro de ficção pudesse me ajudar, já que tudo aquilo parecia ser uma fantasia. Então me lembro que Claire falou que havia uma ajudante aqui, talvez ela me ajude a encontrar.Saio em busca da tal ajudante.Mas ao invés de encontrar alguém guardando livros encontro outra coisa, uma garota, sentada em uma das milhares de mesas espalhadas pelo local, lendo tranquilamente se escondendo atrás da franja escura, percebo que ela sabe que estou olhando para ela.Está se escondendo de mim.E por mais que algo em mim grite para deixar a menina em paz eu sigo minha curiosidade, me guiando diretamente até ela.— Olá.A garotinha não responde, se escondendo não somente embaixo de sua franja, mas também no livro, fingindo não me ouvir, mas eu não desisto.— Eu sou Emma Tales, sou a nova moradora aqui.— Sei quem é — Ela fala então de repente.— Então você fala é?Ela automaticamente parece se arrepender de ter falado.— O que está lendo?A capa não é exatamente muito reveladora, apenas está coberta por um veludo vermelho estranho com letras pequenas em preto escrito: "Flora"— É um suspense — ela diz.— O nome dele é Flora?— Não — diz com a voz tremendo, me sinto uma idiota fazendo perguntas tão imbecis — É o nome da escritora, ela vive aqui em Green Lake.Então havia até mesmo uma escritora naquela cidade, interessante.— Eu... estava procurando por alguém que conhecesse a biblioteca então a vi e bem... pensei que pudesse me ajudar.— Júlia deve estar por aí para te ajudar, é ela quem faz isso.— Eu sei, mas não a encontro em lugar nenhum.A menina finalmente parece levantar o rosto do livro, revelando um rosto pálido de olhos puxados coberto por um véu de cabelos negros cobrindo as orelhas e indo até seu umbigo. E apesar de tudo... assim como senti algo estranho naquele outro garoto sinto na garota também, algum tipo de tristeza que a cobria, ela não era como as outras duas crianças que corriam e sorriam. Ela parecia tão... terrivelmente solitária...A garota da biblioteca.— Qual seu nome? — pergunto a ela, que parece se encolher, mas então responde:— Edith.Um nome estranho, como se não combinasse.— Certo Edith... pode me ajudar?— O que exatamente quer encontrar?Sinto vergonha e frustração ao pensar que queria encontrar informações, então apenas digo a ela:— Não sei... apenas queria conhecer a biblioteca.— Não tem como eu te ajudar a encontrar algo se você nem sequer está procurando.Pisco os olhos. O que?— Bem eu... só queria conhecer o lugar... achei que pudesse me ajudar, me desculpa.Me direciono para sair, mas então a garota segura na minha camisola, tão de leve e tão suavemente que eu mal a sinto.— Espera eu... — Sua voz muda de tom, ela balança a cabeça frustrada — Desculpe, eu... tenho algo a dizer para você.— Achei que não iria me ajudar — Retruco.— Não é isso é que...Observo a garota, que parecia se encolher, como se estivesse com.... parecia...Ela parecia estar com medo.— E-Ela disse... ela disse para você...— Ela quem? — Pergunto.Mas Edith me ignora completamente e apenas diz:— Ela disse que é para você cumprir sua promessa.Eu paro.— Edith... ela quem?Mas a garota a minha frente apenas se levanta, guardando o livro.— Ela disse para você cumprir a sua promessa, e para não acreditar nas mentiras deles.E com isso... ela sai.Indo embora... e me deixando ali, com todas as minhas perguntas, com... com...Naquele momento, eu esqueci que Claire ainda estava ali, esqueci de todos aqueles livros e daquele lugar. E sai correndo daquela biblioteca, enquanto as palavras dela ecoavam na minha mente:Não acredite nas mentiras deles.•| ⊱✿⊰ |• ɐɔuɐɹq ɐsoɹ ɐɯꓵ— Olá? Você está bem?Meus olhos se abrem, e a primeira coisa que me atinge é a luz do sol brilhante, me cegando levemente, as nuvens ao redor andando e se movimentando... E havia aquela voz, me chamando.— Ah... você acordou, que bom, estava preocupada. Me viro em direção a voz, me deparando com uma bela garota de olhos verdes e cabelos escuros.— Você está bem?— O-Onde eu estou?Aquilo não parecia o lugar onde estava antes, mas espera, aonde eu estava antes? Uma lembrança vaga de uma linda biblioteca me atinge... livros... uma garota...— Aqui é o céu? — Minha voz sai tremida em desespero — Eu finalmente estou no céu?Ela sorri.— Ainda não Emma, você morreu..., mas foi trazida da volta a vida. Então não, você não está no céu, ainda.— Espera você... — Balanço a cabeça confusa — Eu vi você na floresta antes, olhando para mim.— É... era eu mesmo — Solta um sorrisinho. Penso em perguntar a ela porque parecia tão assustada, mas tenho outras coisas para perguntar primeiro.— Se esse
A água caia em meu rosto de maneira reconfortante e agradável, consigo sentir a pressão se esvaziando do meu corpo aos poucos, a sujeira da floresta indo embora, também sinto as minhas memórias se alinhando aos poucos, minha mãe, deitada e doente em uma cama dizendo para eu ser forte... ainda consigo sentir o calor da pele dela sobre a minha, mas se ela era quem estava doente por que fui eu quem morri? Não fazia sentido, será que eu peguei a doença dela enquanto a assistia adoecer? Enquanto segurava a sua mão?Será que ela também morreu?Não me lembro e não sei, provavelmente jamais saberei sobre ela, por mais que meu coração grite em desespero para encontrá-la, um passarinho fora do ninho, clamando pela sua mãe, era assim que eu me sentia, desesperada por um rosto conhecido...Eu queria ir para casa, minha verdadeira casa, seja lá aonde ela fosse.Mas ir para onde?Nada, nenhum lugar.Olho para o espelho em frente ao chuveiro, focando nas pequenas sardas mesmo que não fossem muitas, e
— Eu não quero que eles saibam!— Como você quer procurar por ela com só nós duas? Deveríamos ao menos chamar aqueles seus dois amigos... qual o nome deles mesmo? O ruivinho de óculos e o moreno.— Paul e Lian — Claire responde bufando. Não sei se Lian iria querer nos ajudar, do jeito que parecia meio afastado e esquisito, mas...— Esses mesmos — Digo balançando a cabeça — O que quero dizer é: Nós precisamos de ajuda, quanto mais gente melhor!— Você não entende Emma... eles não vão nos ajudar, eles nunca acreditariam em mim... não adianta conversar...Claire continuava a bater o pé dizendo que queria que só nós duas tentássemos procurar por Sofia, eu nem sabia como duas pré-adolescentes mortas iriam conseguir encontrar alguém que podia nem sequer estar desaparecido.Em que merda eu fui me meter?— O que você quer que a gente faça então? — Pergunto a ela desistindo, já estava achando tudo aquilo uma péssima ideia — Não é como se pudéssemos fazer muita coisa sozinhas.— Eu... eu não se
— De que cor era o cachorro?A cada passo que dou as coisas parecem mais difíceis e a cada segundo Lian me pergunta sobre a droga do cachorro que não existe.— Era... não sei não vi direito — Minto — Só ouvi sei lá uns latidos e vim ver o que era, talvez fosse coisa só da minha cabeça.Ele parece pensar a respeito. — Você não o viu então? — Pergunta.— Olha, se não acredita em mim pode ir embora, ok?Espero que ele se vire e vá, mas ele não faz isso, apenas sorri e diz:— Acredito em você.Pois não deveria. — Você realmente quer encontrar esse cachorro, né? — Pergunto, levemente irritada por ele ainda estar aqui. Lian dá de ombros.— Eu já tive um. Não preciso perguntar quando, ele tinha um antes de morrer.— Sente falta dele? — Pergunto desinteressada. Ele solta um suspiro.— Não é como se sentir falta adiantasse algo, não faz mais sentido, é um passado que não me lembro muito bem, é um passado que não posso concertar.— Queria poder pensar assim também — Digo fazendo careta.E n
— Parece que um caminhão passou por cima de você — Diz Claire enquanto limpa meu rosto com a mão, falhando miseravelmente — Eu estava preocupada, você sumiu do nada o que estava fazendo? — Procurando... pela floresta.Mentira.— Por que demorou tanto para voltar? — Me perdi com o tempo, não percebi que estava tão tarde — Minto.Ela não parece acreditar em mim, que acredite no que quiser, não vou contar o vexame que passei.— Você encontrou alguma coisa? — Pergunto — Alguém? — Não encontrei nada, e você? Eu havia encontrado alguém, mas isso não parecia relevante então apenas balanço a cabeça dizendo que não, ela se senta ao meu lado triste e decepcionada, não havia nada que pudéssemos fazer a respeito de Sofia e não havia nenhum plano para encontrar a sua amiga.Bem... eu ainda havia uma coisa.— Claire... você sabe se Sofia tinha um... talvez um diário? Ela se vira para mim, acho que se perguntando como eu sabia daquilo.— Oh sim... ela tinha um, nunca me deixava ver, usava de vez
— Vamos brincar prima Sofia.Olho para a linda garotinha a minha frente correndo por toda a pequena casa e passo minhas mãos pelos cabelos dela.— A priminha tá fazendo almoço pra você, já está quase pronto depois eu brinco. — Que horas a mamãe vai chegar? Olho para o relógio pensando no que a tia Lisa disse, ela ia precisar que eu ficasse com a Lúcia até que chegasse do trabalho novo, mas não disse quando voltava.— Mais tarde — Respondo.Ela faz cara de emburrada, mas logo volta a brincar. Toc Toc. — Quem é prima? Ninguém me avisou sobre visitas.Toc Toc.A porta continua a bater.Toc Toc. •| ⊱✿⊰ |•— Lúcia!! Cuidado!!!Estou prestes a tirar minha prima da porta quando...Eu...Eu não sou Sofia, eu sou Emma e estou em Green Lake, repito pra mim mesma novamente para ter certeza que entendi, eu não sou Sofia, eu sou Emma e estou em Green Lake, eu só tive um pesadelo.... mas parecia tão... tão real.Senti como se realmente fosse ela.Ignoro isso e olho para o lado, Claire não acor
Ele tocava guitarra.Tocava lindamente, as notas circulando pelo ar, observo enquanto ele e o garoto loiro por quem a Claire tinha uma queda tocavam juntos, Louis ensinava a ele algumas coisas e Lian era um garoto estudioso e obediente. Senti até mesmo vontade de elogia-lo pelas músicas. Mas eu não podia fazer isso é claro.Afinal, ele não sabia que eu estava ali, escondida atrás da porta levemente aberta, observando tudo.Minha rotina havia sido assim nos últimos dois dias, comigo correndo e seguindo Lian para aonde ele fosse, anotando tudo o que fazia em um caderno, havia descoberto algumas coisas sobre o garoto misterioso, por exemplo, ele gostava de cozinhar, preparava comidas e pães cheios de temperos e molhos de iogurte. Ele gostava da biblioteca, embora não se mostrasse muito interessado pela leitura, gostava mais de histórias em quadrinhos. Fazia dois dias que eu estava na mesma situação, observando o possível sequestrador. Eu não sabia o que pensar a respeito dele, era um g
Sofia havia acolhido Lian quando ele mais precisava, e ele fazia de tudo para compensa-la, havia marcado piqueniques, encontros no lago, tirava fotos e tudo ao seu alcance para faze-la sorrir, e embora no começo fizesse isso apenas para compensa-la ele sabia que esse motivo era apenas uma desculpa, a verdade era que Lian gostava da companhia dela.E com o tempo, ele foi aprendendo a ama-la, amar estar ao lado dela, havia apenas duas coisas que pareciam estragar um romance entre os dois: primeiro a amiga loira que estava sempre com ela, Claire não gostava de Lian, não por ter algo contra ele, apenas se frustrava com a amiga que ás vezes passava mais tempo com ele do que com ela, o que era um exagero e ele poderia até dizer que era mentira, Sofia ficava muito mais com ela.O outro problema envolvia a própria Sofia, que parecia confusa demais em relação a ele, alguns dias dizia que o amava, em outros o ignorava completamente, Lian ficava em segundo ou terceiro plano na vida dela, com o te