Eu sabia aonde estava antes mesmo de abrir meus olhos. O cheiro era o mesmo, algo como rosas e morangos.E havia mais um cheiro estranho também.Um muito, muito familiar.Quando abro os olhos sei quem eu vou encontrar, e lá está ela, usando um vestido de estrelas e noite, o cabelo ruivo-castanho e os olhos... Era como olhar para um espelho, como olhar para algo além de mim mesma.Eu olhava para minha irmã.Não uma alucinação, não uma imagem ficcional, não mais alguma das vozes em minha cabeça.Era minha irmã.— Acho que você gosta de fazer isso — Ela diz, as primeiras palavras dela direcionadas a mim — Gosta de roubar meu lugar.Olho para ela, os olhos vazios de sempre, a mesma casca.— Mas não importa não é mesmo? — Ela solta uma risadinha — Acho que isso foi apenas uma maneira que o universo achou de fazer piada sobre nosso passado.O passado. Quando éramos pequenas e ela matou a nossa mãe, quando fomos para o orfanato.— As coisas estão se repetindo — É a única resposta que tenho
Depois O cheiro da fumaça do cigarro invadiu o seu apartamento. O doce, refrescante e reconfortante cheiro do cigarro.O cheiro dela.Que um dia já havia sido algo como laranjas e chuva, uma mistura com o da irmã que cheirava a morangos e rosas, hoje não passava de cheiro de fumaça de cigarro.E de bebidas, é claro.Ela se encostou no sofá e inalou tudo, a droga da cidade, a droga da fumaça, o doce e reconfortante cheiro da merda que sua vida havia se tornado.E que grande merda.O único barulho mais irritante do que o da cidade era o da televisão. Aonde se passavam as maiores mentiras existentes. Como se o mundo estivesse voltando a ser como um dia já foi.Mas ao invés de levantar a porcaria da bunda do sofá e mudar de canal, ou para desligar a televisão que fazia sua cabeça doer — é claro que a bebida e os cigarros não tinham nada a ver com suas dores de cabeça — ela assistiu, ficou olhando a garota loira que fingia sorrir.Uma grande piada de fato, até parece que alguém iria acred
Era mais um daqueles dias de bebedeira. Sakura chegou ao bar usando a mesma jaqueta preta surrada de sempre e cumprimentou as pessoas que conhecia com um leve aceno de cabeça. — Aonde ela está? — Perguntou assim que chegou.O responsável pelo bar fez uma careta.— De um jeito nela antes que eu dê. Sabia exatamente o que aquilo significava, com um breve suspiro a encontrou quase que desmaiada entre as cadeiras. — Vamos Mia, você não pode ficar assim. Ela resmungou.— Vai se foder, me deixa em paz.Aquele era um dia ruim. Sabia disso. Alguém havia a denunciado para seu pai. O pai de Mia era um político famoso pela cidade, mas ambos se detestavam, ela costumava dizer que ele era um canalha sem igual. Todo mundo sabia quem era seu pai no colégio, isso afastou o grupo dos garotos que as incomodavam por um tempo, mas quando foi descoberto que ambos não se davam bem isso passou a ser ignorado.Até que um deles passou a pegar pesado, Mia havia salvado Sakura dos bullying, então a guerra
1. Acorde Alice 2. Foi apenas um sonho 3. Nem todos os contos de fadas4. Tem finais felizes 5. As vezes é melhor assim 6. Que se foda as histórias 7. Aqui é a realidade8. Não existe país das maravilhas 9. Nem sempre as coisas dão certo 10. E se fosse real 11. Alice seria louca 12. E se ela quisesse voltar?13. Talvez tenha se perdido 14. Era uma rosa branca afinal 15. Em meio a milhares de rosas vermelhas 16. Não confie nas vermelhas 17. Não deveriam existir 18. São as regras do jardim 19. Elas devem ser arrancadas 20. Isso não é um conto de fadas 21. A vida não tem final feliz22. A realidade tem suas regras23. E como no xadrez24. Precisa saber sua posição 25. Não finja ser quem não é26. Ah... mas ela não sabia seu lugar 27. Queria ficar entre os vermelhos 28. Mesmo que não pertencesse 29. Ninguém gosta de ficar sozinho 30. É a natureza humana 31. Alice foi internada 32. Não havia coelho33. Não havia uma rainha vermelha 34. Desesperada ela tentou voltar
Escuridão a preenchia, dor e vazio, apenas vozes existiam. — Como ela está?Os ruídos brincavam e bagunçavam a sua cabeça, como se estivesse ouvindo sussurros, ela não sabia dizer se eram reais ou não.Não sabia dizer aonde que começava a realidade e aonde terminava. Sonhava com vagalumes. Brilhando e beijando sua testa, voando sobre ela.Sonhava com crianças.E principalmente com um rosto, de uma garota, loira, bela dos olhos claros, que tinha um sorriso gentil. Aquele rosto a perturbava.Mas não sabia quem era.Não sabia se a garota estava ali ou não.Mas os sussurros continuavam.— Está se recuperando, em breve poderemos soltá-la, precisarei de mais tempo até lá.A outra voz se remexeu.— Não temos muito tempo, não podem saber sobre o erro que foi trazer essa garota para cá. O homem balançou a cabeça.— Eu devo apagar as memórias dela? Não sei se isso é uma boa ideia, seu corpo está exausto pelos testes feitos. — Então não pode apagar? O homem respondeu: — As memórias ficarão
1. Era uma vez2. Uma rosa branca3. Em meio a milhares de rosas vermelhas4. Ela estava no lugar errado5. Ela não era como nós6. Significava paz e harmonia7. E as vermelhas o sangue e a destruição8. Um cisne em meio a muitos de patinhos feios9. Ela era um erro10. Não devia estar conosco11. E então ela era a luz12. A bela em meio a todas as feras13. Ela era um erro maravilhoso14. Com um balde de tinta ela nos pintou15. Nós nãoprecisamosser vermelhos16. Nós seremos rosas brancas como ela17. Seremos a harmonia e a paz18. Todos que nos viam nos confundiam com rosas brancas19. Não éramos mais rosas vermelhas20. Ela nos libertou21. Mas apesar de tudo ela nunca foi como nós22. A rosa branca nunca foi vermelha23. Ela não precisava da tinta que nos fantasiava24. É divertido brincar de ser quem não somos25. Fingir que sou alguém boa26. Fingir que sou merecedora de paz27. Eu fui fe
Quando foi que tudo começou? Dois ou três anos atrás? Meu Deus, o tempo passa rápido, a dois anos (ou três) foi quando meu mundo desabou, ou começou, chame como quiser. Foi quando eu cheguei naquele lugar terrível. Sentada em meu novo apartamento acabado dos pés á cabeça eu percebo o quanto a minha vida mudou de uma hora para a outra, em um momento eu era apenas a filha de alguém, alguém que tinha uma família carinhosa (ou não tinha, não me lembro deles, tenho poucas memórias algumas carinhosas, outras não) em outro eu estava lá, vivendo em um lugar com pessoas estranhas. E agora aqui estou, olhando pela janela as pessoas vivendo suas vidas tristes e inúteis, elas não deveriam estar vivas, eu penso enquanto bebo mais café, e é claro, tem alguém me observando, o mesmo homem vestido com o terno preto de sempre, eu normalmente gosto de me dar a satisfação de mostrar o dedo do meio quando ele está olhando com a sua cara de desprezo. Mas hoje não, hoje é um dia difícil, visto uma roupa pr
Nos meus primeiros dias conseguia sentir olhos me guiando para onde quer que eu fosse, me dizendo para onde ir, o que eu deveria fazer, deixei que aqueles olhos me guiassem e eu me lembro de como sentia que eram os olhos da minha mãe. Dela me guiando de volta. No final eu descobri que não era minha mãe.Não, nunca foi.Era...Outra pessoa.•| ⊱✿⊰ |•Havia uma escola, uma loja de roupas aonde Claire havia conseguido seu vestido e que ela não parava de tagarelar sobre ele, uma cafeteria, uma enfermaria e uma biblioteca. Era só isso.Não havia mais nada naquele lugar feito para mortos, nada daquilo me chamava atenção, nada além de uma pequena e fraca atração quando ela me disse sobre a biblioteca, não que eu fosse uma grande leitora — quer dizer, não me conheço o suficiente para afirmar isso — mas eu queria pesquisar mais a fundo para entender o que diabos estava acontecendo, a verdade era que eu apenas precisava esfriar minha cabeça, aquela confusão e ainda mais aquela raiva, raiva daque