A água caia em meu rosto de maneira reconfortante e agradável, consigo sentir a pressão se esvaziando do meu corpo aos poucos, a sujeira da floresta indo embora, também sinto as minhas memórias se alinhando aos poucos, minha mãe, deitada e doente em uma cama dizendo para eu ser forte... ainda consigo sentir o calor da pele dela sobre a minha, mas se ela era quem estava doente por que fui eu quem morri? Não fazia sentido, será que eu peguei a doença dela enquanto a assistia adoecer? Enquanto segurava a sua mão?Será que ela também morreu?Não me lembro e não sei, provavelmente jamais saberei sobre ela, por mais que meu coração grite em desespero para encontrá-la, um passarinho fora do ninho, clamando pela sua mãe, era assim que eu me sentia, desesperada por um rosto conhecido...Eu queria ir para casa, minha verdadeira casa, seja lá aonde ela fosse.Mas ir para onde?Nada, nenhum lugar.Olho para o espelho em frente ao chuveiro, focando nas pequenas sardas mesmo que não fossem muitas, e
— Eu não quero que eles saibam!— Como você quer procurar por ela com só nós duas? Deveríamos ao menos chamar aqueles seus dois amigos... qual o nome deles mesmo? O ruivinho de óculos e o moreno.— Paul e Lian — Claire responde bufando. Não sei se Lian iria querer nos ajudar, do jeito que parecia meio afastado e esquisito, mas...— Esses mesmos — Digo balançando a cabeça — O que quero dizer é: Nós precisamos de ajuda, quanto mais gente melhor!— Você não entende Emma... eles não vão nos ajudar, eles nunca acreditariam em mim... não adianta conversar...Claire continuava a bater o pé dizendo que queria que só nós duas tentássemos procurar por Sofia, eu nem sabia como duas pré-adolescentes mortas iriam conseguir encontrar alguém que podia nem sequer estar desaparecido.Em que merda eu fui me meter?— O que você quer que a gente faça então? — Pergunto a ela desistindo, já estava achando tudo aquilo uma péssima ideia — Não é como se pudéssemos fazer muita coisa sozinhas.— Eu... eu não se
— De que cor era o cachorro?A cada passo que dou as coisas parecem mais difíceis e a cada segundo Lian me pergunta sobre a droga do cachorro que não existe.— Era... não sei não vi direito — Minto — Só ouvi sei lá uns latidos e vim ver o que era, talvez fosse coisa só da minha cabeça.Ele parece pensar a respeito. — Você não o viu então? — Pergunta.— Olha, se não acredita em mim pode ir embora, ok?Espero que ele se vire e vá, mas ele não faz isso, apenas sorri e diz:— Acredito em você.Pois não deveria. — Você realmente quer encontrar esse cachorro, né? — Pergunto, levemente irritada por ele ainda estar aqui. Lian dá de ombros.— Eu já tive um. Não preciso perguntar quando, ele tinha um antes de morrer.— Sente falta dele? — Pergunto desinteressada. Ele solta um suspiro.— Não é como se sentir falta adiantasse algo, não faz mais sentido, é um passado que não me lembro muito bem, é um passado que não posso concertar.— Queria poder pensar assim também — Digo fazendo careta.E n
— Parece que um caminhão passou por cima de você — Diz Claire enquanto limpa meu rosto com a mão, falhando miseravelmente — Eu estava preocupada, você sumiu do nada o que estava fazendo? — Procurando... pela floresta.Mentira.— Por que demorou tanto para voltar? — Me perdi com o tempo, não percebi que estava tão tarde — Minto.Ela não parece acreditar em mim, que acredite no que quiser, não vou contar o vexame que passei.— Você encontrou alguma coisa? — Pergunto — Alguém? — Não encontrei nada, e você? Eu havia encontrado alguém, mas isso não parecia relevante então apenas balanço a cabeça dizendo que não, ela se senta ao meu lado triste e decepcionada, não havia nada que pudéssemos fazer a respeito de Sofia e não havia nenhum plano para encontrar a sua amiga.Bem... eu ainda havia uma coisa.— Claire... você sabe se Sofia tinha um... talvez um diário? Ela se vira para mim, acho que se perguntando como eu sabia daquilo.— Oh sim... ela tinha um, nunca me deixava ver, usava de vez
— Vamos brincar prima Sofia.Olho para a linda garotinha a minha frente correndo por toda a pequena casa e passo minhas mãos pelos cabelos dela.— A priminha tá fazendo almoço pra você, já está quase pronto depois eu brinco. — Que horas a mamãe vai chegar? Olho para o relógio pensando no que a tia Lisa disse, ela ia precisar que eu ficasse com a Lúcia até que chegasse do trabalho novo, mas não disse quando voltava.— Mais tarde — Respondo.Ela faz cara de emburrada, mas logo volta a brincar. Toc Toc. — Quem é prima? Ninguém me avisou sobre visitas.Toc Toc.A porta continua a bater.Toc Toc. •| ⊱✿⊰ |•— Lúcia!! Cuidado!!!Estou prestes a tirar minha prima da porta quando...Eu...Eu não sou Sofia, eu sou Emma e estou em Green Lake, repito pra mim mesma novamente para ter certeza que entendi, eu não sou Sofia, eu sou Emma e estou em Green Lake, eu só tive um pesadelo.... mas parecia tão... tão real.Senti como se realmente fosse ela.Ignoro isso e olho para o lado, Claire não acor
Ele tocava guitarra.Tocava lindamente, as notas circulando pelo ar, observo enquanto ele e o garoto loiro por quem a Claire tinha uma queda tocavam juntos, Louis ensinava a ele algumas coisas e Lian era um garoto estudioso e obediente. Senti até mesmo vontade de elogia-lo pelas músicas. Mas eu não podia fazer isso é claro.Afinal, ele não sabia que eu estava ali, escondida atrás da porta levemente aberta, observando tudo.Minha rotina havia sido assim nos últimos dois dias, comigo correndo e seguindo Lian para aonde ele fosse, anotando tudo o que fazia em um caderno, havia descoberto algumas coisas sobre o garoto misterioso, por exemplo, ele gostava de cozinhar, preparava comidas e pães cheios de temperos e molhos de iogurte. Ele gostava da biblioteca, embora não se mostrasse muito interessado pela leitura, gostava mais de histórias em quadrinhos. Fazia dois dias que eu estava na mesma situação, observando o possível sequestrador. Eu não sabia o que pensar a respeito dele, era um g
Sofia havia acolhido Lian quando ele mais precisava, e ele fazia de tudo para compensa-la, havia marcado piqueniques, encontros no lago, tirava fotos e tudo ao seu alcance para faze-la sorrir, e embora no começo fizesse isso apenas para compensa-la ele sabia que esse motivo era apenas uma desculpa, a verdade era que Lian gostava da companhia dela.E com o tempo, ele foi aprendendo a ama-la, amar estar ao lado dela, havia apenas duas coisas que pareciam estragar um romance entre os dois: primeiro a amiga loira que estava sempre com ela, Claire não gostava de Lian, não por ter algo contra ele, apenas se frustrava com a amiga que ás vezes passava mais tempo com ele do que com ela, o que era um exagero e ele poderia até dizer que era mentira, Sofia ficava muito mais com ela.O outro problema envolvia a própria Sofia, que parecia confusa demais em relação a ele, alguns dias dizia que o amava, em outros o ignorava completamente, Lian ficava em segundo ou terceiro plano na vida dela, com o te
— Realmente... me desculpe pelo que fiz.Eu e Lian estamos caminhando na floresta no meio da noite despreocupados, já estava bem tarde, solto um suspiro, era vergonhoso pensar em tudo que fiz, estava tão cega pela minha ambição de encontrar Sofia que acabei não vendo algumas coisas que eram óbvias.— Tudo bem... acontece todo dia — Ele diz sorrindo — Ser ameaçado e acusado de sequestrador. Por mais que seu tom seja em brincadeira eu solto um soquinho em seu braço, o fazendo rir. — Eu... eu tinha certeza que era você — Digo me explicando — Não acredito que cheguei tão longe para no fim não ser, mas bem, vou deixar isso de lição. — Vou anotar isso, nunca sequestre alguém, nem ameace com uma faca e também não diga que a envenenou apenas como blefe — Ele diz ao meu lado. Faço uma careta para ele que ri como se tivesse apenas fazendo uma piada.— Você parece estar levando numa boa tudo isso, se eu fosse você estaria muito brava nesse momento.— Então fique feliz por eu não ser você, sin