Maria havia muitos segredos. E como um bom escritor anônimo me sinto no dever de revela-los.
A verdade era que aquela enfermeira amava o seu doutor, Joseph Blow era o homem de seus sonhos, e ela sabia assim que botou os olhos nele. Maria não passava de uma moradora de rua antes de o conhecer, abandonada pela família, com fome e morrendo quando ele a encontrou, e decidiu a salvar.
Ele a deu um lar, deu algo para comer, uma cama para dormir e o mais importante, um motivo para viver. E o motivo era ele é claro, só havia um problema, o homem de seus sonhos era casado! E pior ainda, havia uma filha. Maria havia princípios, e os teria seguido se o homem não tivesse alimentado suas tolas esperanças, assim fazendo-a cair em tentação, um beijo, prometeu a si mesma, apenas um beijo e então irei me afastar para sempre!
O que foi uma mentira, é claro.
Logo ficou mais
Elise Poulain, era uma simples francesa que havia ido para o sul da Alemanha passar a vida com seu marido que tinha familiares no país — Além de uma boa oportunidade de emprego lá — eles haviam acabado de se casar e todos estavam em comemorações, a pequena e humilde família Poulain estava feliz pela garota, nunca tiveram muito dinheiro, sempre com pouca comida na mesa, e uma baixa renda, agora ela se casaria com alguém que podia ajudá-la nas dívidas, seu noivo não era exatamente o homem mais rico do mundo, mas seria uma vida boa, ao menos preferível a morar junto de seus pais, além de que os dois se gostavam muito, poderia até dizer que estavam apaixonados um pelo outro, oui, c'est une belle histoire d'amourTudo começou a desandar para Elise quando seu marido foi atropelado por um moço descuidado, um marido tão bom e amoroso mo
Quando Elise chegou em frente ao hospital já percebeu que havia feito a escolha certa, uma parte sua estava com medo de que o lugar não a passasse confiança.Mas era o contrário.O local era belíssimo, havia flores vermelhas em volta da janela, pintada em tons de rosa e branco, Elise ficou tão feliz que pensou que poderia desmaiar, sorriu com alegria para o sol, feliz por sua nova chance.— Salut! — Disse ela enquanto batia na porta.Esperava encontrar alguém alto e forte assim que a porta se abrisse, como um príncipe encantado, mas ao invés disso encontrou uma garotinha bela sorrindo para ela, cheia de laços no vestido, com um coelhinho branco nas mãos.— Olá —Disse a menininha — Seja bem vinda ao hospital, a senhora precisa de alguma coisa?Elise ficou encantada com a criança, ela era tão
Maria arrumava a mesa de preparação enquanto ouvia música, lá fora o dia estava lindo.De longe conseguia ver Louise se arrumando, a filha do doutor e agora também sua, afinal de contas, Maria era a única pessoa que a garota havia no momento, elas estavam juntas, haviam fugido juntas e agora só haviam uma a outra. Ela observou atentamente a menina que arrumava a placa do hospital, a casa das duas após colocarem fogo na antiga mansão, não conseguiu não imaginar o que seu antigo noivo — agora falecido — pensaria ao ver sua filha dessa maneira, ao vê-la trabalhando em um hospital, e o que ele pensaria ao ver a garota crescer e se tornar cada vez mais uma belíssima mulher.Era impressionante a semelhança entre os dois.Mas não por causa da aparência.— Ela é igualzinha a você doutor.E então Maria voltou ao
Foi a minha primeira noite de sono boa, a primeira entre tantas em que não fui atormentada e nem aterrorizada com pesadelos. E aquilo não era apenas uma obra do acaso. As coisas estavam mudando. Aquilo era fato.O gosto do veneno atinge forte minha língua, parecia que aquilo nunca ia sair, ao menos as aulas estavam rendendo, Nicolas me fez tomar um de seus venenos inofensivos, contenho o impulso de vomitar ao pensar no líquido descendo pela minha garganta. Apenas queria que ele tivesse me avisado que era quase impossível tirar aquilo da língua, mesmo depois de beber toda a água disponível na cozinha parecia que não ia embora, não importava o que eu fizesse, mas eu mesma o havia procurado, não podia reclamar agora.Fazem apenas dois dias desde que começamos a planejar a fuga de Green Lake, todos chegaram à conclusão que precisamos ter um conhecimento melhor do ambiente em que vivemos e decidimos separar grupos, todos os dias uma dupla iria se aventurar pela floresta, precisava ser pouc
Em um piscar de olhos, o coelho de Louise era algo de extrema importância para mim, era um animal, vivendo naquela floresta por conta própria. Queria saber mais sobre ele, queria saber que tipo de peça ele era em todo aquele quebra cabeça, queria saber do que se alimentava, como sobrevivia em meio a aquela floresta infernal, e principalmente, como ele podia estar de fato vivo, e não ser apenas um fruto da minha cabeça perturbada.Conversei com Paul a respeito, e ele concordou em me ajudar, Lian havia comentado comigo há alguns dias sobre ele, dizendo que ele andava meio distante, mas aquilo não me impediu de pedir aquele favor mesmo assim, ele não pareceu muito animado com a ideia, mas concordou mesmo assim. "Os dias não estão indo muito bem, mas vou te ajudar como puder" Foi o que ele disse. E no fim foi apenas isso.Uma parte minha queria perguntar mais a respeito daquilo, afinal de contas, Paul era meu amigo, mas sabia que se perguntasse, ele não me contaria, além de que ele tinh
Meu nome é Flora Grossman. E eu, meu querido leitor, sou a escritora desse livro do qual você está lendo. O que posso dizer sobre mim? Ah caro leitor... minha vida não é nada interessante, nada mesmo! Bom... para começar, nasci na Alemanha, fui criada em um lar para garotas, e tenho 24 anos, quer dizer, teria se não estivesse morta. E sim, eu sei, você não está aqui por minha causa, você não está lendo esse livro para saber quem eu sou, ou o que faço com a minha insignificante vida. Mas mesmo assim, irei contar um pouco, apenas para contextualiza-lo, ou apenas porque... eu quero, e o livro é meu, e tem algo extremamente libertador em escrevê-lo. Tecnicamente os doutores não querem que eu me lembre da minha vida passada, mas isso é apenas mais um dos erros dos quais eles cometeram, além do erro de terem trazido pessoas de volta à vida, e não, não vou perder seu precioso tempo explicando o porquê de isso ser uma péssima ideia, até porque, se tivessem me perguntado, eu nunca iria qu
— Espere mais um segundo....Estou atrás de uma árvore grande com Lian ao meu lado. O vento está uivando e o sol batendo com força na minha cabeça. E bola de neve, o coelho de Louise, está comendo uma cenoura tranquilamente.— Mais um segundo — Eu sussurro — Apenas mais um pouco...— Sem pressa... — Ele diz baixo se motivando — Está perto... consigo pega-lo... esse coelho não vai escapar das minhas garras. Bola de neve continua a comer tranquilamente... como se nada de ruim pudesse acontecer, como se o mundo fosse apenas cenouras e um monte de mato ao redor. Embora talvez no caso dele de fato fosse.— E... agora!Assim que minhas palavras saem Lian começa a correr. O coelho percebe assim que ele começa a se movimentar, e corre para longe, fazendo com que Lian tropece e caia de cara no chão antes mesmo de chegar perto, tornando a cena patética e — ok admito — um tanto hilária. — Por favor me diga que você não está rindo — Ele resmunga ainda do chão.— Parece que alguém escapou das su
Passo o dia escutando a minha mãe cantar enquanto cuida das rosas, o cabelo ruivo dela esvoaçava pelo vento, o que a deixava ainda mais bonita, não havia muito para fazer em casa. Ou melhor, não havia dinheiro para se fazer alguma coisa, às vezes era bom apenas me sentar sobre a grama, e escutar a voz da minha mãe flutuar pelo ar.— Mamãe — Eu a chamo gentilmente — Por que você está cantando com essas palavras esquisitas?Ela se vira para mim, e solta uma risada gentil.— Não são palavras esquisitas meu amor, é que estou cantando em francês.A olho incrédula, sem entender muito bem.— Então não cante — Peço — Eu não consigo entender nada do que você está dizendo nessa língua esquisita!— Querida — Ela se senta ao meu lado e acaricia o meu cabelo, passando os dedos entre os fios — Não diga assim, saiba que francês é uma língua muito bonita.— Mas eu não entendo nada! — Digo emburrada.Minha mãe acha graça.— Ora meu amor, pois deveria entender — Ela diz — Porque um dia... irei te levar