— Espere mais um segundo....Estou atrás de uma árvore grande com Lian ao meu lado. O vento está uivando e o sol batendo com força na minha cabeça. E bola de neve, o coelho de Louise, está comendo uma cenoura tranquilamente.— Mais um segundo — Eu sussurro — Apenas mais um pouco...— Sem pressa... — Ele diz baixo se motivando — Está perto... consigo pega-lo... esse coelho não vai escapar das minhas garras. Bola de neve continua a comer tranquilamente... como se nada de ruim pudesse acontecer, como se o mundo fosse apenas cenouras e um monte de mato ao redor. Embora talvez no caso dele de fato fosse.— E... agora!Assim que minhas palavras saem Lian começa a correr. O coelho percebe assim que ele começa a se movimentar, e corre para longe, fazendo com que Lian tropece e caia de cara no chão antes mesmo de chegar perto, tornando a cena patética e — ok admito — um tanto hilária. — Por favor me diga que você não está rindo — Ele resmunga ainda do chão.— Parece que alguém escapou das su
Passo o dia escutando a minha mãe cantar enquanto cuida das rosas, o cabelo ruivo dela esvoaçava pelo vento, o que a deixava ainda mais bonita, não havia muito para fazer em casa. Ou melhor, não havia dinheiro para se fazer alguma coisa, às vezes era bom apenas me sentar sobre a grama, e escutar a voz da minha mãe flutuar pelo ar.— Mamãe — Eu a chamo gentilmente — Por que você está cantando com essas palavras esquisitas?Ela se vira para mim, e solta uma risada gentil.— Não são palavras esquisitas meu amor, é que estou cantando em francês.A olho incrédula, sem entender muito bem.— Então não cante — Peço — Eu não consigo entender nada do que você está dizendo nessa língua esquisita!— Querida — Ela se senta ao meu lado e acaricia o meu cabelo, passando os dedos entre os fios — Não diga assim, saiba que francês é uma língua muito bonita.— Mas eu não entendo nada! — Digo emburrada.Minha mãe acha graça.— Ora meu amor, pois deveria entender — Ela diz — Porque um dia... irei te levar
— Eu disse que você não iria escapar de mim. Lian está segurando um tipo de caixa de transporte aonde está com o coelho dentro, ele brinca com o bichano pelas frestas. — Se não fosse por Paul nós nunca conseguiríamos pega-lo — Eu digo e recebo um olhar feio em troca. Ele suspira. — Tanto faz — Responde — Vamos só colocar a coleira de uma vez e soltá-lo de volta, já estava cansado de correr atrás dele. — Eu também — Digo enquanto coloco a coleira azul no pescoço do coelho — Prontinho, já podemos tira-lo daí. Lian o solta, fico com um pouco de pena ao ver o bichinho se incomodando com a coleira, mas em todo caso não está apertada, não vai machuca-lo. — Ele vai nos levar direto para o buraco das maravilhas — Sussurro baixinho, mas ele parece me escutar. — O que? — Alice no país das maravilhas — Digo dando de ombros — Claire deu para mim de presente e eu estou lendo. — Falando nisso o que você vai dar de presente para ela amanhã? Mordo o lábio quando penso na pergunta de Lia
Um brinde para a garota mais doce e mais gentil que conheci, um brinde a Claire Clarke.Parte 1.— Claire... Claire....— Hum... o que foi? — Ela diz sonolenta.A balanço de um lado para o outro. — Acorda Claire.Ela pisca os olhos lentamente. — Por quê? — Pergunta sonolenta.Sorrio para ela. — Porque hoje é seu aniversário sua boba.Imediatamente ela se levanta em um pulo.— O que? — Pergunta — Que horas são? — Meia-noite — Respondo. Claire faz uma careta, e me olha como se fosse capaz de me matar. — Por que me acordou tão tarde? Dou de ombros. — Porque... é seu aniversário. — Por isso mesmo — Ela diz bufando — Deveria deixar eu ter meu sono da beleza.Reviro os olhos e dou risada. — Vamos lá, é seu aniversário — A balanço de um lado para o outro, mas Claire continua sonolenta e irritada. — Você já tem um presente para mim? — Pergunta se animando.— Só vou entregar a noite — Respondo, o que me rende mais uma careta. — Não acredito que você me acordou e nem sequer tem um p
Claire segura a minha mão enquanto eu me afasto de Lian, as mãos delas são macias e quentes contra as minhas. Mas só consigo pensar em Lian. — E então? — Ela pergunta baixinho e eu mal a ouço. — Então o quê? — Pergunto atordoada. Claire ri. — Vocês se beijaram? Eu fico sem entender por um momento. — O que... nós não estávamos... — Então por que está tão vermelha? — Ela sorri maliciosamente. Estou? — Claire, foi você quem me chamou — Eu lembro a ela. — Eu sei, te chamei porque alguém aqui tinha prometido que iria passar o dia comigo. Fico me sentindo culpada ao me lembrar que menti para ela quando disse que não iria tratar de outros assuntos. — Me desculpe... eu... a gente... Tento me explicar, mas Claire me para dando um cutucão. — Emma, não estou brava com você, quando eu falei sobre passar o dia comigo queria apenas te dizer para não se preocupar hoje, não quero que pense sobre todos os problemas que você está passando, apenas... por favor nós podemos hoje, ape
— Bom dia flor do dia! Quando abro os olhos vejo apenas um borrão loiro, inicialmente penso que há um anjo na minha frente. Mas com o tempo a imagem vai melhorando e percebo que é só Claire. Ela usa um roupão cor de rosa claro, e abre as cortinas do quarto, sorrindo gentilmente para mim, os cabelos loiros caindo sobre o ombro.— O que... — Olho ao redor — Aonde eu estou?— Aonde você precisa estar — Ela se aproxima. — Que bom que acordou — Diz outra voz — Já estava demorando.Lian aparece de repente na porta, ele sorri ao me ver. — Como você está? — Pergunta vindo em minha direção. — Eu... Começo a dizer, mas então quando tento levantar percebo que não consigo, não consigo me mexer. Estou paralisada e presa na cama, o desespero começa a tomar conta de mim e começo a me debater.— Pare de se mexer assim — Diz Claire — Você não vai conseguir sair.— Aonde eu estou!? — Pergunto — Me tira daqui! — Aonde merece estar — Diz Lian passando as mãos pelo meu cabelo.Me debato mais. — O q
Novamente, acordo no meio da noite.Mas dessa vez não é por causa de algum pesadelo terrível, ou por assombrações do passado, é apenas porque minha barriga começa a doer. Coloco as mãos sobre ela, tentando fazer com que pare, mas não adianta, estou com fome, cansada e fraca.Passei o dia todo ao lado de Lian em busca de algo, em busca de comida, de alguma saída, mas não havia nada. Apenas perda de tempo, e logo estávamos com tanta fome que não conseguimos fazer nada. Já fazia dois dias que estávamos ali. E não havia muito o que fazer. Quanto mais o tempo passava, menos esperanças eu tinha.Eu me pergunto o que aconteceu em Green Lake.Se mataram Sakura.Ou se ela fugiu.Eu não sabia. E se morresse, jamais iria saber. Solto um suspiro, aquilo não adiantaria em nada. Começo a andar de fininho, com medo de acabar acordando Lian e me esgueiro pelos corredores da mansão, pego uma lanterna e começo minha busca.Minha barriga reclama, minha garganta está seca. Talvez se fosse uma pessoa viv
A noite estava linda.Por algum motivo penso em minha mãe. Em como seu sorriso brilhava em meio a noite, com o cabelo sendo banhado pela luz. Seu rosto gentil, suas mãos fazendo carinho na minha cabeça para eu dormir, cantando músicas em francês, ou lendo Alice no País das Maravilhas. Eu me lembro dela.Talvez no fim das contas fosse isso que eu queria. Me lembrar da minha mãe, para que se algum dia eu a visse no céu, pudesse dizer a ela: Eu não te esqueci.Tento pensar em minha irmã também. Minha irmã gêmea, mas as memórias não vêm muito bem. Apenas borrões, o rosto dela, o mesmo que o meu, embora com uma luz cruel nos olhos, uma luz triste. Quebrada por dentro, assim como eu, mas de uma maneira diferente. Minha irmã sofria. Sofria em nossa casa. Sofria no orfanato, sofria ao viver.Me pergunto o que aconteceu conosco no orfanato.Me pergunto o motivo de ter matado nossa mãe.Tenho tantas perguntas... eu apenas queria encontrá-la, como se uma parte minha estivesse perdida. Era como