Meu nome é Flora Grossman. E eu, meu querido leitor, sou a escritora desse livro do qual você está lendo. O que posso dizer sobre mim? Ah caro leitor... minha vida não é nada interessante, nada mesmo! Bom... para começar, nasci na Alemanha, fui criada em um lar para garotas, e tenho 24 anos, quer dizer, teria se não estivesse morta. E sim, eu sei, você não está aqui por minha causa, você não está lendo esse livro para saber quem eu sou, ou o que faço com a minha insignificante vida. Mas mesmo assim, irei contar um pouco, apenas para contextualiza-lo, ou apenas porque... eu quero, e o livro é meu, e tem algo extremamente libertador em escrevê-lo. Tecnicamente os doutores não querem que eu me lembre da minha vida passada, mas isso é apenas mais um dos erros dos quais eles cometeram, além do erro de terem trazido pessoas de volta à vida, e não, não vou perder seu precioso tempo explicando o porquê de isso ser uma péssima ideia, até porque, se tivessem me perguntado, eu nunca iria qu
— Espere mais um segundo....Estou atrás de uma árvore grande com Lian ao meu lado. O vento está uivando e o sol batendo com força na minha cabeça. E bola de neve, o coelho de Louise, está comendo uma cenoura tranquilamente.— Mais um segundo — Eu sussurro — Apenas mais um pouco...— Sem pressa... — Ele diz baixo se motivando — Está perto... consigo pega-lo... esse coelho não vai escapar das minhas garras. Bola de neve continua a comer tranquilamente... como se nada de ruim pudesse acontecer, como se o mundo fosse apenas cenouras e um monte de mato ao redor. Embora talvez no caso dele de fato fosse.— E... agora!Assim que minhas palavras saem Lian começa a correr. O coelho percebe assim que ele começa a se movimentar, e corre para longe, fazendo com que Lian tropece e caia de cara no chão antes mesmo de chegar perto, tornando a cena patética e — ok admito — um tanto hilária. — Por favor me diga que você não está rindo — Ele resmunga ainda do chão.— Parece que alguém escapou das su
Passo o dia escutando a minha mãe cantar enquanto cuida das rosas, o cabelo ruivo dela esvoaçava pelo vento, o que a deixava ainda mais bonita, não havia muito para fazer em casa. Ou melhor, não havia dinheiro para se fazer alguma coisa, às vezes era bom apenas me sentar sobre a grama, e escutar a voz da minha mãe flutuar pelo ar.— Mamãe — Eu a chamo gentilmente — Por que você está cantando com essas palavras esquisitas?Ela se vira para mim, e solta uma risada gentil.— Não são palavras esquisitas meu amor, é que estou cantando em francês.A olho incrédula, sem entender muito bem.— Então não cante — Peço — Eu não consigo entender nada do que você está dizendo nessa língua esquisita!— Querida — Ela se senta ao meu lado e acaricia o meu cabelo, passando os dedos entre os fios — Não diga assim, saiba que francês é uma língua muito bonita.— Mas eu não entendo nada! — Digo emburrada.Minha mãe acha graça.— Ora meu amor, pois deveria entender — Ela diz — Porque um dia... irei te levar
— Eu disse que você não iria escapar de mim. Lian está segurando um tipo de caixa de transporte aonde está com o coelho dentro, ele brinca com o bichano pelas frestas. — Se não fosse por Paul nós nunca conseguiríamos pega-lo — Eu digo e recebo um olhar feio em troca. Ele suspira. — Tanto faz — Responde — Vamos só colocar a coleira de uma vez e soltá-lo de volta, já estava cansado de correr atrás dele. — Eu também — Digo enquanto coloco a coleira azul no pescoço do coelho — Prontinho, já podemos tira-lo daí. Lian o solta, fico com um pouco de pena ao ver o bichinho se incomodando com a coleira, mas em todo caso não está apertada, não vai machuca-lo. — Ele vai nos levar direto para o buraco das maravilhas — Sussurro baixinho, mas ele parece me escutar. — O que? — Alice no país das maravilhas — Digo dando de ombros — Claire deu para mim de presente e eu estou lendo. — Falando nisso o que você vai dar de presente para ela amanhã? Mordo o lábio quando penso na pergunta de Lia
Um brinde para a garota mais doce e mais gentil que conheci, um brinde a Claire Clarke.Parte 1.— Claire... Claire....— Hum... o que foi? — Ela diz sonolenta.A balanço de um lado para o outro. — Acorda Claire.Ela pisca os olhos lentamente. — Por quê? — Pergunta sonolenta.Sorrio para ela. — Porque hoje é seu aniversário sua boba.Imediatamente ela se levanta em um pulo.— O que? — Pergunta — Que horas são? — Meia-noite — Respondo. Claire faz uma careta, e me olha como se fosse capaz de me matar. — Por que me acordou tão tarde? Dou de ombros. — Porque... é seu aniversário. — Por isso mesmo — Ela diz bufando — Deveria deixar eu ter meu sono da beleza.Reviro os olhos e dou risada. — Vamos lá, é seu aniversário — A balanço de um lado para o outro, mas Claire continua sonolenta e irritada. — Você já tem um presente para mim? — Pergunta se animando.— Só vou entregar a noite — Respondo, o que me rende mais uma careta. — Não acredito que você me acordou e nem sequer tem um p
Claire segura a minha mão enquanto eu me afasto de Lian, as mãos delas são macias e quentes contra as minhas. Mas só consigo pensar em Lian. — E então? — Ela pergunta baixinho e eu mal a ouço. — Então o quê? — Pergunto atordoada. Claire ri. — Vocês se beijaram? Eu fico sem entender por um momento. — O que... nós não estávamos... — Então por que está tão vermelha? — Ela sorri maliciosamente. Estou? — Claire, foi você quem me chamou — Eu lembro a ela. — Eu sei, te chamei porque alguém aqui tinha prometido que iria passar o dia comigo. Fico me sentindo culpada ao me lembrar que menti para ela quando disse que não iria tratar de outros assuntos. — Me desculpe... eu... a gente... Tento me explicar, mas Claire me para dando um cutucão. — Emma, não estou brava com você, quando eu falei sobre passar o dia comigo queria apenas te dizer para não se preocupar hoje, não quero que pense sobre todos os problemas que você está passando, apenas... por favor nós podemos hoje, ape
— Bom dia flor do dia! Quando abro os olhos vejo apenas um borrão loiro, inicialmente penso que há um anjo na minha frente. Mas com o tempo a imagem vai melhorando e percebo que é só Claire. Ela usa um roupão cor de rosa claro, e abre as cortinas do quarto, sorrindo gentilmente para mim, os cabelos loiros caindo sobre o ombro.— O que... — Olho ao redor — Aonde eu estou?— Aonde você precisa estar — Ela se aproxima. — Que bom que acordou — Diz outra voz — Já estava demorando.Lian aparece de repente na porta, ele sorri ao me ver. — Como você está? — Pergunta vindo em minha direção. — Eu... Começo a dizer, mas então quando tento levantar percebo que não consigo, não consigo me mexer. Estou paralisada e presa na cama, o desespero começa a tomar conta de mim e começo a me debater.— Pare de se mexer assim — Diz Claire — Você não vai conseguir sair.— Aonde eu estou!? — Pergunto — Me tira daqui! — Aonde merece estar — Diz Lian passando as mãos pelo meu cabelo.Me debato mais. — O q
Novamente, acordo no meio da noite.Mas dessa vez não é por causa de algum pesadelo terrível, ou por assombrações do passado, é apenas porque minha barriga começa a doer. Coloco as mãos sobre ela, tentando fazer com que pare, mas não adianta, estou com fome, cansada e fraca.Passei o dia todo ao lado de Lian em busca de algo, em busca de comida, de alguma saída, mas não havia nada. Apenas perda de tempo, e logo estávamos com tanta fome que não conseguimos fazer nada. Já fazia dois dias que estávamos ali. E não havia muito o que fazer. Quanto mais o tempo passava, menos esperanças eu tinha.Eu me pergunto o que aconteceu em Green Lake.Se mataram Sakura.Ou se ela fugiu.Eu não sabia. E se morresse, jamais iria saber. Solto um suspiro, aquilo não adiantaria em nada. Começo a andar de fininho, com medo de acabar acordando Lian e me esgueiro pelos corredores da mansão, pego uma lanterna e começo minha busca.Minha barriga reclama, minha garganta está seca. Talvez se fosse uma pessoa viv