— Pega leve com a bebida, irmãozinho. — Jason tentou me dar bronca pelo alto consumo de álcool, mas não conseguiu manter a carranca por muito tempo, caindo na gargalhada segundos depois. — Desse jeito vou acabar tendo que carregar você até o carro. — Igual nos velhos tempos. — Pisquei para ele, brincando. — Mas agora você não é mais uma criança com menos de 1,50 cm. — Ele bebeu o resto da cerveja numa golada só. — Agora você está maior do que eu e com uma tonelada de músculos no lugar dos braços. Recostei no banco de couro não conseguindo conter a risada. — Isso é inveja maninho? — Cruzei os braços, salientando o bíceps de propósito, fazendo Jason revirar os olhos. — Vai se foder Caleb! — Ele riu enquanto levantava e seguia até o bar para pedir outra bebida. Nos encontrávamos nesse mesmo bar a quase 4 anos desde o primeiro ano de faculdade do Jason, ao menos uma vez ao mês, era meio que um ritual para ambos. Na verdade, eu sabia que era um modo do meu irmão se sentir menos
Aquela sensação rasgou meu peito, fazendo soluços involuntários escaparem de meus lábios e o choro que antes estava contido, escapar com força, fazendo meu ombro chacoalhar devido à intensidade das lágrimas. — Me… Pro… — Jason respirava com dificuldade. — Promete? — Ele tentou apertar minha mão, seus dedos estavam gelados causando um choque em minha pele. — Prometo irmão. Te prometo qualquer coisa, só não se esforça mais. — As lagrimas deixavam minha visão embaçada e meu peito parecia que ia explodir a qualquer momento de tanta dor. — Não precisa… — Jason gemeu de dor. — Mais cumprir… — Ele respirou fundo, como se quisesse puxar todo o ar que ainda restava em seus pulmões. — Nossa promessa… — Senti seus dedos apertando com um pouco mais de força minha mão. E poucos minutos depois meu anjo da guarda se foi. Deixando um buraco imenso em meu peito e levando consigo toda a minha vontade de viver. O coração dele parou de bater e o meu se foi com ele naquele dia. — Jason! — Gritei
— Quem é você? — Perguntei e me surpreendi por minha voz permanecer tão firme e sem gaguejar. — Sou seu pior pesadelo! — Ele sibilou, quase como uma cobra pronta para dar o bote final. Pela primeira vez em anos, temi pela minha vida e senti um enorme calafrio me percorrer a espinha, me causando uma série de arrepios pelo corpo. — Como você entrou a... — Ele apertou a arma em minha testa, me fazendo cambalear para trás e só retirou o cano de minha pele quando minhas costas bateram com força no encosto do sofá. — Um par de olhos verdes e um pouco de charme ajuda muito, sabia? — Ele batia o cano da arma em sua têmpora, rindo. — Não foi difícil achar seu apartamento depois disso. — Ele deu de ombros, olhando ao redor pela primeira vez. — Que bela vista hein. — Ele puxou o cão da arma, voltando a apontá-la para mim e seus olhos, antes verdes, agora eram cobertos por uma certa escuridão e um brilho perverso. Quem quer que ele fosse, veio determinado a me encontrar e não sairia daq
Os pesadelos já estavam diminuindo e junto, as altas doses de medicamentos, principalmente os que controlava a abstinência e a falta de sono. As sessões continuavam do mesmo modo, duas vezes por semana e confesso que conversar com alguém de fora de toda essa situação estava me ajudando. Ajudando a entender tudo o que aconteceu comigo na infância e a tudo que acontecia após adulto. Estava atarefado com as provas, mal tinha tempo para pensar em outra coisa e com isso nem me toquei da data de hoje, só pensei nisso quando recebi a ligação da minha mãe, como fazia todos os anos. Na mesma data. — Oi, mãe! — Apoiei o celular no ombro, me contorcendo entre terminar o trabalho e falar com ela. — Oi, meu amor. — Sua voz era baixa e chorosa, me fazendo largar tudo que estava fazendo e dar atenção a ela. — Desculpa… — Ela fungou, tentando conter a voz chorosa. — Todo ano prometo a mim mesma que não vou te ligar, mas, não tenho mais ninguém para falar sobre ele. — Olhei no calendário do note
As provas finais vieram e com elas se foram os motivos que me prendia em Chicago. Com tudo devidamente arrumado e meu mestrado finalizado, não precisava mais permanecer aqui. Viajaria para o Brasil no dia seguinte, bem cedo e já havia avisado minha mãe que assumiria a Jones nessa mesma semana. Ela concordou sem pestanejar, sabia tão bem quanto eu, que nada tiraria isso da minha cabeça. Era cabeça dura igual a ela. Ainda eram 15:00 horas, então decidi tirar o dia para relaxar, procurei um filme na televisão, preparei um lanche e abri uma cerveja, me jogando no sofá em seguida. Acabei adormecendo antes do filme acabar e pela primeira vez em dias, meu sono foi tranquilo, sem pesadelos, sudoreses, nem nada do tipo, havia finalmente conseguido descansar de verdade e acordei algumas horas depois, relaxado. Desliguei a televisão e me levantei, caminhando até as enormes paredes de vidro da sala, a lua iluminava a varanda, fazendo a água da piscina quase dançar sob seu reflexo. Tirei a c
Já fazia quase uma semana desde que desembarquei no Brasil. Iria me encontrar com minha mãe hoje, para discutimos sobre a empresa e quando eu assumiria o cargo na Jones. Terminei de fazer o nó da minha gravata e coloquei o terno, abotoando o único botão que havia nele. Me admirei no espelho, gostando do reflexo que me olhava de volta. Os cabelos penteados para trás, o terno azul-marinho de uma linha italiana que gostava muito, por baixo do terno vestia uma camisa branca e a gravata preta por cima, combinando com os sapatos que brilhavam tanto que era possível ver meu reflexo neles. — Uma água com gás, por favor. — Cheguei no restaurante combinado 20 minutos antes do horário que marquei com mamãe. A ansiedade me corroía por dentro e minha perna balançava tanto que era capaz de derrubar a mesa. — Vai acabar tendo um ataque de ansiedade. — A voz de minha mãe atrás de mim me fez relaxar e respirar fundo de alívio. — Oi, meu bem. — Ela se inclinou na minha direção, depositando um l
— Não faria isso se fosse você! — David ergueu o olhar novamente a mim, a confusão era nítida em seu rosto. — Só vim te dar um recado. — Ergui as mãos. — Não quero brigar. — Enfiei as mãos no bolso da calça, tentando conter o sorriso irônico que teimava em aparecer. — O que você quer Caleb? — Ele sibilou. — Só vim falar de negócios. — Voltei a me sentar, cruzando as mãos no joelho, despretensiosamente. Estava calmo, como uma cobra, pronto para dar o bote. A tormenta antes da tempestade. Ele nem saberia por onde viria o último golpe. David se sentou na enorme poltrona de couro e cruzou as mãos, apoiando os cotovelos no encosto da cadeira. — Fala logo moleque! Não tenho o dia inteiro! — Ele respondeu, mal-humorado. — Vim te avisar que vou assumir a Jones dentro de alguns dias! — Minha voz era tão calma que surpreendia até a mim no momento. Ele ergueu uma sobrancelha, provavelmente pensando se havia escutado certo e alguns segundos depois o som da sua risada ecoou pela sala
O prazo que dei ao meu pai já estava na metade e até o momento nada havia mudado na empresa. Enquanto arrumava algumas coisas no apartamento novo, ouvi meu celular tocar, tateei a cama e olhei no visor. Era minha mãe, por algum motivo um arrepio percorreu minha espinha, como se fosse um mal pressagio. — Oi, mãe! — Apoiei o aparelho no ombro, pressionando a orelha sob ele e continuei a dobrar as roupas na cama. — Mãe? — Minha mãe não havia respondido e aquilo fez meu peito se apertar. Havia algo de errado. — O que houve? — Perguntei aflito, sentindo o ar fugir dos pulmões. — Se… — Ela respirou fundo, dava para ouvir os soluços devido ao choro. — Seu pai. Ele sofreu um AVC e está no hospital. Senti o quarto girar em 360º graus e um soluço prender em minha garganta. Por mais que tivéssemos nossas brigas, nunca lhe desejei mal e mesmo não sendo meu pai de sangue, ele foi o homem que me criou. — Onde? — Levantei da cama com cuidado, ainda sentia o quarto rodar sob a minha cabeça.