Só percebo que estou puxando os fios soltos da toalha quando sinto o calor das mãos dela sob as minhas e foi o ápice para mim. Foi como abrir a porta e deixar sair todos os sentimentos que estavam presos dentro de mim por tanto tempo, e com apenas esse mísero toque, eles foram libertos e não foi bonito. As lágrimas escorriam em abundância, como se fizessem anos que não chorava de verdade e me senti novamente uma criança abandonada, outra vez com apenas três anos, indefeso em uma casa.— Sério que… — David começa a falar, mas é interrompido pela minha mãe.— Cala a boca, David! — o tom firme não deixa brechas para objeções da parte dele.Só percebo que está saindo do quarto porque ouço o barulho dos sapatos sob o piso. Ele sai do quarto, pisando forte e soltando palavrões pelo caminho. Às vezes, parece adolescente. Não que eu seja a pessoa mais sensata para falar isso. Não possuo moral alguma para reclamar do comportamento dele.— Vai ficar tudo bem. — diz, me puxando para mais perto.
Já é noite quando acordo e por mais tarde que possa ser, a luz da lua adentrando a janela me ajuda a visualizar o ambiente. Olho em volta e avisto minha mãe na poltrona, com a cabeça no recosto. Seus olhos estão fechados e seu peito sobe e desce com tranquilidade, a feição calma me tranquiliza. Ao menos ela conseguiu descansar um pouco.Ela não sai do meu lado por nada e isso me dói. Ela não merecia passar por isso.Desvio os olhos dela, já sentindo as lágrimas arderem em minhas pupilas e foco a atenção para a luz da lua. Questiono-me se algum dia tudo isso terá fim e acabo adormecendo novamente enquanto me perco em meus devaneios.Um barulho me desperta e ao abrir os olhos constato serem meus pais discutindo próximos à porta. Antes que consiga identificar sobre o que estão falando, minha mãe vira a atenção para mim, como se percebesse meu despertar. Mas, não preciso ser muito inteligente para saber o motivo da discussão.— Bom dia, meu amor. — Ela se aproxima de mim e para ao meu lad
Doutor Thomas me observava, impassível e sem esboçar nenhuma reação, afinal, ele deve passar por isso todos os dias. Calmamente ele veio até mim, colocando uma mão em meu ombro e esticando a outra mão para mim, pedindo a mala, sem precisar verbalizar nada. — Eu sei que tudo isso é difícil… — Sua voz era calma e ele falava tranquilamente, com um pequeno sorriso. — Ver sua mãe sofrendo por isso deve ser avassalador para você. — Aquiesci, olhando em seus olhos, devido a sua estatura ser menor do que a minha, tive que olhar para baixo. — Mas pense que é para o bem de todos! Você, infelizmente, nesse momento apresenta o risco para si caso permaneça em sociedade sem o devido tratamento para o seu vício e consequentemente um risco para todos que lhe amam. Só então notei que ele me levava para dentro da clínica enquanto conversava comigo, me tranquilizando e informando como seria o tratamento. Teria que passar por consultas com psicólogo, psiquiatra, dentre outros médicos, conforme o trat
Nunca imaginei que chegaria a esse ponto da minha vida, enfiado em um completo abismo cheio de dor, vícios, surtos e culpa. Logo eu, que sempre fui tão controlador com a minha vida e minhas escolhas, me afundei nelas sem ao menos perceber. Meu psicólogo, o Robert, dizia ser muito comum isso acontecer, devido aos inúmeros traumas que passei desde a infância, ter o controle nas mãos era o que me deixava são e longes de todos os surtos, só que eu mal percebia que quanto mais controle tinha, mas descontrolado eu ficava, sem ao menos notar os sintomas que meu próprio corpo estava me dando. Falta de sono, de apetite, alto consumo de álcool, humor instável e pesadelos quando dormia. Meu corpo estava me pedindo socorro e ao invés de escutá-lo, o que eu fiz? Me afundei ainda mais nos vícios, tentando dopar toda a dor. — Sem vícios, Caleb. — Robert falava calmamente, enquanto fazia anotações no costumeiro bloco dele, como em todas as nossas consultas. — Não tem como você se afastar de um
Seis meses depois. — Está pronto para ir para casa? — Carmem me perguntou, enquanto entrava no meu quarto. Sua voz sempre me fazia sorrir, seu timbre era calmo e acalentador, igual de uma avó feliz em ver o neto. A voz dela me tranquilizava, mesmo que por pouco tempo. — Não vejo a hora! — Respondi eufórico e só então percebi o quão ansioso estava para sair dali. — Precisa de ajuda? — Ela perguntou enquanto se colocava ao meu lado. Levantei levemente a cabeça e neguei, sorrio para ela que sorri de volta, assentindo. Voltei a atenção ao que estava fazendo; arrumar minhas malas. Havia uma série de coisas espalhadas pela cama; roupas, livros, meus medicamentos e com calma organizava tudo na mala, tentando conter a excitação por antecipação para sair dali. Sabia que do outro lado do portão em menos de 1 hora minha mãe estaria me esperando e isso enchia meu peito de um misto de sentimentos, dentre eles; alegria e saudade. — Terminei! — Falei mais animado do que o normal, colocand
Me levantei e segui até ao estacionamento do restaurante, onde certamente Albert me aguardaria. E foi exatamente isso que aconteceu, quase suspirei de alívio ao ver meu carro estacionado ali, era uma Bugatti Grand Sport Vitesse, pertencia ao meu irmão e quando ele morreu ficou comigo, era de longe o maior bem que o Jason já teve. Meu irmão morria de ciúmes desse carro e não deixava absolutamente ninguém dirigi-lo. Quando ele morreu, nossa mãe quis se desfazer do carro, mas quase implorei para que não fizesse isso e ela acabou dando-o para mim — contra a vontade do meu pai, — mas como foi ela que deu o carro para o Jason, nada ele poderia fazer. — Sabe quanto custou esse carro Scarlett? — Meu pai esbravejava, andando de um lado para o outro na sala e passando as mãos furiosamente pelos cabelos, mais um pouco e ele ficaria careca. — Sei, até porque fui eu que comprei o carro e se eu quiser desmontá-lo todinho e jogar no lixo, eu faço! — Minha mãe era um poço de calma e me a surpreen
— Pega leve com a bebida, irmãozinho. — Jason tentou me dar bronca pelo alto consumo de álcool, mas não conseguiu manter a carranca por muito tempo, caindo na gargalhada segundos depois. — Desse jeito vou acabar tendo que carregar você até o carro. — Igual nos velhos tempos. — Pisquei para ele, brincando. — Mas agora você não é mais uma criança com menos de 1,50 cm. — Ele bebeu o resto da cerveja numa golada só. — Agora você está maior do que eu e com uma tonelada de músculos no lugar dos braços. Recostei no banco de couro não conseguindo conter a risada. — Isso é inveja maninho? — Cruzei os braços, salientando o bíceps de propósito, fazendo Jason revirar os olhos. — Vai se foder Caleb! — Ele riu enquanto levantava e seguia até o bar para pedir outra bebida. Nos encontrávamos nesse mesmo bar a quase 4 anos desde o primeiro ano de faculdade do Jason, ao menos uma vez ao mês, era meio que um ritual para ambos. Na verdade, eu sabia que era um modo do meu irmão se sentir menos
Aquela sensação rasgou meu peito, fazendo soluços involuntários escaparem de meus lábios e o choro que antes estava contido, escapar com força, fazendo meu ombro chacoalhar devido à intensidade das lágrimas. — Me… Pro… — Jason respirava com dificuldade. — Promete? — Ele tentou apertar minha mão, seus dedos estavam gelados causando um choque em minha pele. — Prometo irmão. Te prometo qualquer coisa, só não se esforça mais. — As lagrimas deixavam minha visão embaçada e meu peito parecia que ia explodir a qualquer momento de tanta dor. — Não precisa… — Jason gemeu de dor. — Mais cumprir… — Ele respirou fundo, como se quisesse puxar todo o ar que ainda restava em seus pulmões. — Nossa promessa… — Senti seus dedos apertando com um pouco mais de força minha mão. E poucos minutos depois meu anjo da guarda se foi. Deixando um buraco imenso em meu peito e levando consigo toda a minha vontade de viver. O coração dele parou de bater e o meu se foi com ele naquele dia. — Jason! — Gritei