Clézio dormia profundamente sobre uma poltrona de couro inclinada, ela era tão aconchegante quanto sua cama. O fogo da lareira em sua frente esquentava seus pés, enquanto sonhava com o que poderia encontrar na Zona de Exclusão. Uma mão tocou sem ombro e o balançou, fazendo com que despertasse assustado.
— Desculpe acordá-lo, mas temos que ir, imediatamente. — disse Jacov.
Ele esfregou os olhos e percebeu que Jacov vestia uma roupa totalmente diferente, estava com uma jaqueta de couro e uma calça escura, junto a uma máscara de gás preta, pendurada em seu pescoço, em suas mãos, vestia luvas de couro sem dedos.
— Tome! — disse ele entregando um par de luvas igualmente as suas. — Você vai precisar. Ah, e isso também. — disse em seguida retirando uma pistola da cintura.
— Isso... é uma arma de fogo?
<Clézio estava em choque, não conseguia mover um músculo, suas mãos estavam trêmulas, assim como suas pernas, travadas ao chão como se possuíssem raízes. Sabia que as chances de sair vivo dali eram pequenas. Muitas coisas se passaram em minha mente, imaginou que seria ali, antes mesmo de começar, onde sua jornada já terminaria.Até que uma voz surgiu ao meio dos soldados.— O que está acontecendo aqui? — disse o comandante, que acabava de chegar ao local.— Senhor. — disse o sargento. — O sentinela avistou invasores cruzando o perímetro.O Comandante se aproximou de um dos homens que estava ao chão, ainda vivo e sangrando. Ao se aproximar, o homem tentava dizer,” por favor”, mas antes mesmo de terminar de falar, foi recebido com um tiro em sua cabeça, o executando no mesmo momento.&mdash
Alexei, Valery e Boris caminhavam entre os escombros de concreto em sua frente, iam lentamente, suas pernas travavam, era difícil dar um passo em frente, sabendo que rumavam para a boca de monstro, mas ao mesmo tempo, estavam mais rápido que podiam. Cada segundo que permaneciam ali, era mais um segundo próximo da morte certa. Era difícil respirar, além da tensão que lhes custava o ar, as máscaras que usavam eram pesadas. Enquanto desviavam das pedras maiores ao chão, Alexei percebeu que Boris estava nervoso, ele também estava, mas como era o mais velho da equipe, se sentiu obrigado a tentar acalmá-lo, mesmo não conseguindo pensar em nada confortante para o momento.— Como vai, Boris? Você se lembra de mim? Eu costumava vir aqui toda semana, checar os painéis eletrônicos da sala de comando. — disse Alexei um pouco forçadamente, sua voz ecoou por toda a extens&atil
Na madrugada de 26 de abril de 1986, a explosão do Reator 4 da Estação Nuclear VI Lenin Memorial causou o maior desastre nuclear da história. A radiação espalhou-se rapidamente por uma ampla área ao redor do local da explosão. O caos e o pânico dominaram a região enquanto o governo realizava a evacuação de todas as pessoas que moravam em um raio de trinta quilômetros do local. E sobre a Usina Nuclear de Chernobyl, para conter a radiação, um paredão de quatrocentos mil metros cúbicos de concreto e sete mil e trezentas toneladas de estrutura metálica foi construído e batizado de “O Sarcófago”.Após o pandemônio causado e inúmeras vidas ceifadas ao decorrer do tempo, a área ao redor de Chernobyl foi contaminada por níveis letais de radiação. Por conta disso, o Governo proibiu totalmen
A entrevista ainda estava sendo transmitida pela TV da sala de espera no quarto andar de um Hospital Pediátrico, enquanto uma enfermeira andava pelo corredor com uma prancheta em mãos, entrando pela porta na sala e encontrando-se com um homem adulto, de cabelos loiros, com uma leve calvície sobe sua testa. Sua barba estava por fazer e seu olhos estavam profundos, com olheiras tão intensas que davam a impressão que ele havia recebido um golpe em cheio em ambos. Ele usava uma camiseta verde escura, a mesma possuía um logotipo de uma empresa de metalúrgica, além de um relógio prateado no pulso. Suas mãos, estavam sujas e calejadas, com sujeira provinda de graxa entre as unhas. Sua expressão era de nervosismos e ansiedade, assim como era a da maioria das pessoas numa sala de espera de hospital.— Senhor, Clézio Schavaren? — disse a enfermeira olhando o nome na prancheta para se certifi
Ela parecia estar sendo curada milagrosamente, Clézio não conseguia compreender o que estava acontecendo. Uma emoção forte de alegria começou a preencher seu coração rapidamente. Para ele, aquilo era um milagre, em sua mente este homem poderia ser um anjo ou um deus. Porém, o homem, em um ato quase inesperado, retirou a mão com a pedra de cima de sua filha, recolhendo novamente para si, e a guardando na caixa de chumbo. A menina sufocou, como que se não suportasse o fardo de estar viva, retornando ao estado de inconsciência.A expressão maravilhada do rosto de seu pai mudou no mesmo instante, de felicidade e emoção, para desespero, angústia e fúria.— O que está fazendo? —perguntou a ele. — Por favor, faça de novo, ela estava quase send-— Curada? — disse ele interrompendo. — Isso mesmo, ela estava sendo
Ao sair de casa, caminhou pela cidade de São Paulo ao meio de prédios cinzentos e marrons, o dia estava frio, uma garoa caia entre os arranha-céus e cortavam a carne, ao respirar ou falar, conseguia ver vapor saindo de sua boca. Ele estava bem agasalhado com uma jaqueta grossa e marrom. Acendeu um cigarro, e então, após alguns minutos, chegou até o local onde havia marcado com o estranho homem. Ao chegar no estabelecimento, o homem já o esperava com um jornal em suas mãos. Clézio puxou uma cadeira e sentou-se à sua frente. Então, o homem disse:— Como essas pessoas são hipócritas, veja só. Graças ao depoimento daquele cuzão do Vladmir, estão dizendo que a história sobre a Zona da Morte são todas mentirosas, que tudo não passa de uma farsa feita na internet, e que as Kamens são falsas. Grandes id
Para Clézio, mais difícil ainda do que ir para a Zona da Morte, seria convencer a sua esposa de que ele precisava fazer isso. Ele pensava em algo, mas ao mesmo tempo, enquanto achava que deveria dizer a verdade, pensava em até mesmo partir sem avisar. E além de tudo isso, Alice deveria sobreviver até que ele retornasse, se não, seria tudo em vão.Após o encontro com Alan, ele não deixava de pensar em que tipo de coisas poderia encontrar na Zona da Morte, se as histórias dos noticiários realmente seriam reais ou se não passavam de coisas inventadas para mantar as pessoas afastadas, afinal, agora que alienígenas não eram mais um mito ou uma lenda, teorias de monstros e mutantes seriam mais aceitas. Durante a noite, não dormiu, viajando em pensamentos e em pesadelos. O medo de não retornar da Zona da Morte existia, e se morresse, além de falhar em salvar sua fil
Sexta-Feira, 25 de abril de 1986. Um dia comum de primavera na cidade Pripyat. Seus quarenta e três mil habitantes viviam o seu dia-a-dia normalmente, com seus trabalhos e afazeres domésticos. Casais de jovens que iam para o cinema, ao parque central, idosos sentados em cadeiras de balanço em suas varandas, crianças brincando e correndo para os lados com seus pais pedindo que saíssem do sol, pois estava um dia quente, um dia memorável. Se soubessem que aquele seria o último, teriam aproveitado de melhor forma.A noite chegou, silenciosa e dominante, mas para outros, principalmente os operários do turno da madrugada, ela apenas havia começado. Próximo a cidade, existia uma grande Vladmir Ilyich Lenin, também conhecida como Usina Nuclear de Chernobyl, que alimentava não apenas a cidade, mas também Kiev e outras próximas ao local. Pripyat era uma cidade rica, feita e projetada especi