Para Clézio, mais difícil ainda do que ir para a Zona da Morte, seria convencer a sua esposa de que ele precisava fazer isso. Ele pensava em algo, mas ao mesmo tempo, enquanto achava que deveria dizer a verdade, pensava em até mesmo partir sem avisar. E além de tudo isso, Alice deveria sobreviver até que ele retornasse, se não, seria tudo em vão.
Após o encontro com Alan, ele não deixava de pensar em que tipo de coisas poderia encontrar na Zona da Morte, se as histórias dos noticiários realmente seriam reais ou se não passavam de coisas inventadas para mantar as pessoas afastadas, afinal, agora que alienígenas não eram mais um mito ou uma lenda, teorias de monstros e mutantes seriam mais aceitas. Durante a noite, não dormiu, viajando em pensamentos e em pesadelos. O medo de não retornar da Zona da Morte existia, e se morresse, além de falhar em salvar sua filha, também deixaria sua esposa sozinha, sem ambos.
Pela manhã, levantou bem cedo para fazer o café. Ele se arrumava, vestindo o uniforme da empresa que trabalhava, o mesmo possuía um cheiro forte de óleo e graxa, mesmo estando totalmente limpo. Olhou para sua esposa, que ainda descansava na cama, seus olhos hesitavam em se manter abertos, estava exausta, mas juntou suas forças e perguntou:
— Clézio. — disse ela com a voz rouca e cansada. — Você acha que Alice irá melhorar?
Se manteve em silêncio por alguns segundos, ele vestia as botas de couro da empresa. Enquanto isso, formulava alguma resposta em sua mente.
— Acredito que sim. — respondeu. — Realmente, espero que sim.
Então, ela abriu os olhos, possuía uma tristeza profunda em seu olhar.
— Por que você está mentindo para mim? — questionou com um tom de seriedade.
— O que quer dizer com isso? — perguntei espantado.
— Ontem à noite, eu fui até o hospital... e falei com o doutor. — disse ela. — E ele me contou que as chances dela são poucas, quase inexistentes. E que ele já o havia contado sobre isso.
Ele novamente se manteve em silêncio, virou o rosto para o outro lado, mas ela continuou.
— Olhe para mim, Clézio!
Quando ele retornou o contato visual, percebeu que seus olhos castanhos estavam entrando em lágrimas.
— Não pense que sou fraca e que não aguentaria. Eu preferiria mil vezes que você tivesse me dado essa notícia ao invés do médico. O que fez, foi injusto comigo, eu também estou sofrendo com isso.
— O médico falou sobre desligar as máquinas? — perguntou repentinamente, olhando para o lado novamente.
— Sim... ele disse isso.
Clézio respirou fundo.
— Eu não vou deixar que isso aconteça. — disse ele. — Eu não vou deixar que nossa Alice morra.
Desta vez, Danielle que ficou em silêncio.
— Ainda existe uma forma de salvá-la. — continuou. — Foi por isso que não contei nada a você ainda.
— O que? — ela perguntou enquanto se levantava da cama. — Como assim?
Ele se aproximou dando alguns passos, não imaginava que seria este o momento certo para contar sobre o ocorrido, mas já estava o fazendo, acreditando que pudesse entende-lo.
— Existe uma chance! — disse ele olhando em seus olhos com uma expressão de esperança.
— Mas, como? O que você está querendo dizer? — ela perguntou um pouco confusa.
Neste momento, hesitou um pouco em dizer, mas já que estava começando, eu teria que continuar.
— No mesmo dia em que o médico me contou sobre a Alice, aconteceu algo. Você não vai acreditar, mas eu juro a você, que é verdade e que isso me deu esperanças.
Então, ela escutou.
— Enquanto eu olhava para a Alice, já sem esperanças, um homem estranho entrou no quarto, e com ele, havia uma pedra, mas não era uma pedra qualquer, era uma Kamen.
— Uma Kamen? Aquelas que falam na internet? — ela perguntou.
— Sim. — respondeu. — No começo, não entendi muito bem. Ele tirou dos bolsos uma caixinha de chumbo, e de dentro dela, uma pedra verde brilhante, que ao colocar sobre nossa filha, ela reagiu!
— Reagiu? — perguntou com espanto.
— Sim. Foi como um milagre, e a melhora foi significativa em poucos segundos. Ela até mesmo mexeu os dedos, abrindo os olhos e me chamando, dizendo “papai”. Aquilo mexeu comigo, Dani, eu não consigo pensar em mais nada além disso. Mas, o problema disso tudo, é que quando ela estava reagindo, o homem retirou a pedra de perto dela, então, ela retornou ao estado em que estava.
— Isso... é incrível! — ela disse com um sorriso aberto e cheio de esperanças. — Então, nós realmente podemos salvá-la?
— Então, agora vem a parte crítica. — respondeu com o olhar baixo. — O homem queria me vender a pedra, então, eu me encontrei com ele ontem de manhã para negociarmos. Mas ele pediu um preço extremamente alto nela, para ser exato, quinhentos mil. Bom, é claro que seria impossível eu ter esse dinheiro, mas ele me deu uma semana para conseguir.
— Quinhentos mil?! — disse ela espantada e desiludida. — Isso é realmente muito dinheiro para conseguir em uma semana. Mas, talvez se vendermos tudo que temos e conseguirmos algum empréstimo com alguém, algum agiota...
— Há outra saída. — disse Clézio, interrompendo o raciocínio de Dani. — Ontem, fui ao Liberdade à Rainha, para tentar pensar em alguma coisa, então, encontrei um velho amigo. Alan Chaves, você se lembra dele?
— Sim, eu me lembro. Aquele que abandonou a faculdade, né?
— Esse mesmo! Comentei com ele sobre tudo isso, expliquei exatamente tudo, então ele me deu uma informação muito importante.
— E o que ele disse? — perguntou demonstrando interesse.
— Alan conhece um homem, chamado Jacov. Ele organiza expedições dentro da Zona da Morte, e poderia me ajudar a entrar lá, para encontrar uma Kamen por conta própria.
— Ir até a Zona? — perguntou pensativa. — Mas... isso não seria perigoso demais?
— Extremamente. — respondeu. — Mas, é a única chance que ainda temos. Não temos como conseguir o dinheiro necessário, e muito menos saber se Alice aguentará mais uma semana. A única chance que nos restou é ir até lá, e conseguir uma pedra dessas com minhas próprias mãos.
— Você acha que consegue? Você acha possível? E se você não voltar e eu perder os dois? Como eu ficaria?
— Eu entendo. Mas eu não posso ficar sentado esperando nossa filha morrer, eu me culparia durante o resto de minha vida por não ter tentado todas as formas de salvá-la. E ter encontrado Alan com essa informação no Liberdade à Rainha, me fez acreditar que é o destino me ajudando a salvá-la.
Ela abaixou sua cabeça novamente e sentou-se na cama.
— Amor... — disse ela pausadamente. — Me diga... Em quanto tempo você acha que consegue?
— Eu não posso demorar. — respondeu. — Retornarei no máximo em cinco dias.
Dani parecia estar pensando bem sobre o assunto, então, após alguns segundos, respondeu:
— Clézio. Salve a nossa filha!
Sexta-Feira, 25 de abril de 1986. Um dia comum de primavera na cidade Pripyat. Seus quarenta e três mil habitantes viviam o seu dia-a-dia normalmente, com seus trabalhos e afazeres domésticos. Casais de jovens que iam para o cinema, ao parque central, idosos sentados em cadeiras de balanço em suas varandas, crianças brincando e correndo para os lados com seus pais pedindo que saíssem do sol, pois estava um dia quente, um dia memorável. Se soubessem que aquele seria o último, teriam aproveitado de melhor forma.A noite chegou, silenciosa e dominante, mas para outros, principalmente os operários do turno da madrugada, ela apenas havia começado. Próximo a cidade, existia uma grande Vladmir Ilyich Lenin, também conhecida como Usina Nuclear de Chernobyl, que alimentava não apenas a cidade, mas também Kiev e outras próximas ao local. Pripyat era uma cidade rica, feita e projetada especi
Na TV, um homem vestindo terno e de aparência importante falava sobre os últimos acontecimentos na Zona de Exclusão de Chernobyl, dizendo que o lugar estava totalmente isolado, nenhum tipo de acesso era permitido, qualquer civil e principalmente estrangeiro fosse apanhado no local ou até mesmo ao redor, seria preso no mesmo momento. Os EUA, é claro, não ficou em silêncio, pois continuaram com as insinuações e acusações de que a Ucrânia estaria construindo armas nucleares utilizando a tecnologia alienígena e a radiação condensada de Chernobyl, pois já era um fato de que a radiação e a chegada dos alienígenas possuíam alguma ligação. Quando houve a chagada, grande quantidade de massa radioativa que já existia na Zona de Exclusão se espalhou pelo ar da Europa, assim como em 1986, contaminando muitos alimentos e até mesmo matando animais em fazendas a muito mais de 100 quilômetros de distância. Uma grande parte da população, também fora afetada, muitos ficaram doentes ap
Na TV, um homem vestindo terno e de aparência importante falava sobre os últimos acontecimentos na Zona de Exclusão de Chernobyl, dizendo que o lugar estava totalmente isolado, nenhum tipo de acesso era permitido, qualquer civil e principalmente estrangeiro fosse apanhado no local ou até mesmo ao redor, seria preso no mesmo momento.Os EUA, é claro, não ficou em silêncio, pois continuaram com as insinuações e acusações de que a Ucrânia estaria construindo armas nucleares utilizando a tecnologia alienígena e a radiação condensada de Chernobyl, pois já era um fato de que a radiação e a chegada dos alienígenas possuíam alguma ligação.Quando houve a chagada, grande quantidade de massa radioativa que já existia na Zona de Exclusão se espalhou pelo ar da Europa, assim como em 1986, contaminando muitos alimentos
Clézio dormia profundamente sobre uma poltrona de couro inclinada, ela era tão aconchegante quanto sua cama. O fogo da lareira em sua frente esquentava seus pés, enquanto sonhava com o que poderia encontrar na Zona de Exclusão. Uma mão tocou sem ombro e o balançou, fazendo com que despertasse assustado.— Desculpe acordá-lo, mas temos que ir, imediatamente. — disse Jacov.Ele esfregou os olhos e percebeu que Jacov vestia uma roupa totalmente diferente, estava com uma jaqueta de couro e uma calça escura, junto a uma máscara de gás preta, pendurada em seu pescoço, em suas mãos, vestia luvas de couro sem dedos.— Tome! — disse ele entregando um par de luvas igualmente as suas. — Você vai precisar. Ah, e isso também. — disse em seguida retirando uma pistola da cintura.— Isso... é uma arma de fogo?<
Clézio estava em choque, não conseguia mover um músculo, suas mãos estavam trêmulas, assim como suas pernas, travadas ao chão como se possuíssem raízes. Sabia que as chances de sair vivo dali eram pequenas. Muitas coisas se passaram em minha mente, imaginou que seria ali, antes mesmo de começar, onde sua jornada já terminaria.Até que uma voz surgiu ao meio dos soldados.— O que está acontecendo aqui? — disse o comandante, que acabava de chegar ao local.— Senhor. — disse o sargento. — O sentinela avistou invasores cruzando o perímetro.O Comandante se aproximou de um dos homens que estava ao chão, ainda vivo e sangrando. Ao se aproximar, o homem tentava dizer,” por favor”, mas antes mesmo de terminar de falar, foi recebido com um tiro em sua cabeça, o executando no mesmo momento.&mdash
Alexei, Valery e Boris caminhavam entre os escombros de concreto em sua frente, iam lentamente, suas pernas travavam, era difícil dar um passo em frente, sabendo que rumavam para a boca de monstro, mas ao mesmo tempo, estavam mais rápido que podiam. Cada segundo que permaneciam ali, era mais um segundo próximo da morte certa. Era difícil respirar, além da tensão que lhes custava o ar, as máscaras que usavam eram pesadas. Enquanto desviavam das pedras maiores ao chão, Alexei percebeu que Boris estava nervoso, ele também estava, mas como era o mais velho da equipe, se sentiu obrigado a tentar acalmá-lo, mesmo não conseguindo pensar em nada confortante para o momento.— Como vai, Boris? Você se lembra de mim? Eu costumava vir aqui toda semana, checar os painéis eletrônicos da sala de comando. — disse Alexei um pouco forçadamente, sua voz ecoou por toda a extens&atil
Na madrugada de 26 de abril de 1986, a explosão do Reator 4 da Estação Nuclear VI Lenin Memorial causou o maior desastre nuclear da história. A radiação espalhou-se rapidamente por uma ampla área ao redor do local da explosão. O caos e o pânico dominaram a região enquanto o governo realizava a evacuação de todas as pessoas que moravam em um raio de trinta quilômetros do local. E sobre a Usina Nuclear de Chernobyl, para conter a radiação, um paredão de quatrocentos mil metros cúbicos de concreto e sete mil e trezentas toneladas de estrutura metálica foi construído e batizado de “O Sarcófago”.Após o pandemônio causado e inúmeras vidas ceifadas ao decorrer do tempo, a área ao redor de Chernobyl foi contaminada por níveis letais de radiação. Por conta disso, o Governo proibiu totalmen
A entrevista ainda estava sendo transmitida pela TV da sala de espera no quarto andar de um Hospital Pediátrico, enquanto uma enfermeira andava pelo corredor com uma prancheta em mãos, entrando pela porta na sala e encontrando-se com um homem adulto, de cabelos loiros, com uma leve calvície sobe sua testa. Sua barba estava por fazer e seu olhos estavam profundos, com olheiras tão intensas que davam a impressão que ele havia recebido um golpe em cheio em ambos. Ele usava uma camiseta verde escura, a mesma possuía um logotipo de uma empresa de metalúrgica, além de um relógio prateado no pulso. Suas mãos, estavam sujas e calejadas, com sujeira provinda de graxa entre as unhas. Sua expressão era de nervosismos e ansiedade, assim como era a da maioria das pessoas numa sala de espera de hospital.— Senhor, Clézio Schavaren? — disse a enfermeira olhando o nome na prancheta para se certifi