IsabellaSinto uma leve pressão na minha mão, e, mesmo adormecida, isso me traz uma sensação de calor. Como se, no meio desse vazio em que me encontro, houvesse algo firme, algo real.Aquele homem... Raed. Seu nome ecoa na minha mente como uma melodia distante. Não sei quem ele é, mas, de alguma forma, sinto que posso confiar nele.Por que não consigo me lembrar? Por que minha mente está tão em branco, mas meu coração reage ao som da voz dele, ao toque suave de suas mãos?Mesmo sem respostas, me agarro a essa sensação. Por enquanto, é tudo o que tenho.RaedA madrugada passa lentamente. Não consigo sair de perto dela, mesmo quando as enfermeiras insistem que eu deveria descansar. Como posso descansar enquanto ela está aqui, lutando para se lembrar de quem é? De quem somos?Com o amanhecer, o médico entra no quarto, interrompendo meus pensamentos. Ele examina Isabella com cuidado enquanto faço perguntas rápidas, tentando controlar a ansiedade.— A perda de memória é comum em casos de t
Não acredito que ele tinha as fotos esse tempo todo com ele e não me mostrou!—Essas são da Itália.Eu sorrio.—Itália?As mãos de Raed parecem tremer e ele me entrega o celular.—Passe os dedos na imagem para avançar.Imagens de nós dois começam surgir. Em castelos, videiras, em oliveiras, paisagens ao fundo. E uma minha sozinha fazendo pose.—São lindas Raed. —Entrego para ele o celular.Kate quer ver também. Raed dá o celular para ela. Ela sorri para nós, seus olhos brilham com as lágrimas. Então ela o entrega para Raed.—Kate te ajudará a se trocar. Vou esperar lá fora.—Está certo.Quando ele saiu eu ri.—Você me parece feliz em ir com ele.—Como não estaria? Raed tem sido um amor. Seus olhos refletem isso. Parece que eu o conheço a vida toda. Estou mais surpresa do que amedrontada de ir com ele.—Você é uma garota de sorte! Esse homem te ama.—Verdade. Eu me sinto mesmo.Saio do hospital como se estivesse entrando em um mundo novo. Olho tudo, observo as pessoas. Raed sorri de me
Raed funga.—Você era mulher difícil de se conquistar. Eu estava investindo nisso para te pedir em casamento. Sinto-me até frustrado, pois nunca parece ser um bom momento.Eu o abraço.—Eu? Difícil de conquistar?—Sim... —Ele me diz com o semblante triste.—Eu me caso.—O quê?—Raed, não sei como, mas eu te conheço. Eu posso não ter as lembranças, mas eu sei que nunca me sentirei bem com alguém como quando estou com você. Eu não tenho dúvidas que você é um homem maravilhoso. Não quero que esse acidente atrapalhe nossos planos. Eu acredito que eu queria me casar com você, não queria?Vejo, em alguns instantes, o conflito em seu rosto.—Acredito que sim. —Surpreendi-me com seu tom de voz, é como se ele não tivesse certeza. Algo acontecera. Sem sombra de dúvida. — Mas eu acho melhor você se lembrar. Aí sim, voltaremos a ter essa conversa. —Ele diz, parece inseguro ainda.—Bem, você é quem sabe. Se quer que sua mulher passe uma imagem errada...Raed me pega pelos ombros.—Eu te amo. Todos
Ele franze a testa.—Por que foi embora? Insegurança?Eu respiro fundo.—Vi seu pai doente, e eu “o motivo” da discórdia entre vocês. Você infeliz, como se carregasse o mundo nas costas. Então perdi o bebê. Somando-se a isso, eu não tinha certeza de seus sentimentos. Tive medo de que seu passado o estivesse influenciando a ficar comigo.Raed funga e me olha com dureza nos olhos.—Por que se envolveu com Luke?Eu respiro fundo.—Era um acordo comercial. Ele é um homem volúvel e precisava de uma pessoa que estivesse sempre com ele, mas sem compromisso. Tudo isso para passar uma imagem de homem sério. Kate me contratou quando viu que eu era a pessoa ideal, pois eu não o olhava como a maioria das mulheres. Eu era totalmente imune ao charme dele.A feição de Raed não melhora.—Ela me contou. —Ele confessa. Então me olha. —Mas por que você não ficou com sua tia até tudo se resolver?Seus olhos continuam duros.—Minha tia não gosta de companhia. Ela tem suas manias. Adora sua vida independen
PrólogoTrabalhar para a realeza já é, por si só, uma tarefa árdua. Agora, trabalhar para uma realeza árabe? Multiplique isso por dez. Desde o início, tive que assumir uma postura séria, controlar sorrisos e me adaptar às rígidas regras de conduta. Meu chefe é um Sheik, e estou neste emprego há apenas seis meses.Na cultura ocidental, a palavra "sheik" remete a status social, riqueza, fama e poder. Mas essa visão é apenas a ponta do iceberg. Ser Sheik é ocupar uma posição de respeito e destaque, algo muito mais profundo.O título é reservado aos chefes de famílias árabes, clãs ou tribos, geralmente seguidores fervorosos de Maomé. Em sua essência, o título de Sheik é passado de pai para filho em sociedades patriarcais. No caso de Youssef, ele é líder de uma aldeia árabe. Forte, generoso, devoto em ajudar os pobres – mas, também, incrivelmente machista. Isso explica meu atual guarda-roupa: roupas sóbrias, tons escuros, coberturas completas.Tenho 22 anos e fui contratada como intérprete
— Como assim?Minha voz sai trêmula, e o peso daquelas palavras de Raed parece esmagar o ar ao meu redor.— Isabela, você não é o tipo de garota que meu pai sonha para o meu irmão. Quando ele souber que Zein está interessado em uma humilde assistente, ele irá contra esse relacionamento. E Zein não vai aguentar a pressão. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco: o seu.Sinto um calor subir pelo meu rosto, uma mistura de indignação e desconforto.— Você está enganado. Zein...— Zein é um fraco — Raed me interrompe, a voz cortante como uma lâmina. — Depende de meu pai para tudo. Ele não faz nada sem a orientação dele. Eu até me surpreendi quando ele falou de você.Tento segurar o que restou da minha compostura. Meu coração martela no peito enquanto me levanto abruptamente do sofá.— Bem, obrigada por vossa preocupação.Raed se levanta também, um movimento calculado, mas firme.— Por favor, não me leve a mal. Mas, quando ele me contou tudo, senti a necessidade de avisá-la.Eu o encaro
Meu coração dá um salto de esperança com a palavra "solução", mas logo a realidade me atinge como um balde de água fria. Raed nunca faz nada sem um motivo oculto.— Você me ajudará a fugir? — pergunto, minha voz carregada de uma esperança tola, quase infantil.Raed ri, e o som me desconcerta. Seu rosto se suaviza por um instante, e ele parece ainda mais charmoso. No entanto, há algo na maneira como ele ri que me faz sentir pequena, tola. Sinto uma pressão crescente na cabeça, enquanto tento adivinhar qual será sua resposta.— Não. Claro que não!Minha esperança se despedaça, e aperto os lábios para conter a frustração.— Se não vai me ajudar a sair daqui, o que você tem a propor? — pergunto, tentando manter a voz firme.Ele me encara por um momento, os olhos sérios, como se estivesse pesando cada palavra antes de proferi-la.— Você se casará comigo e, assim, poderá ser a mãe legítima de seu filho.Fico estupefata.— Mas eu sou a mãe! — exclamo, incapaz de esconder minha incredulidade.
— Você está se sentindo bem agora? — A voz de Raed é grave, mas há uma suavidade inesperada nela enquanto ele passa a mão pela minha testa, afastando a fina camada de suor frio.Meu coração se aperta quando encontro o olhar intenso dele. Aqueles olhos, sempre tão impenetráveis, agora parecem carregar algo que não consigo decifrar. Engulo em seco, desconcertada.Ele retira a mão com calma, e eu me sento contra os travesseiros, tentando recuperar algum controle sobre mim mesma.— Sim, foi só um mal-estar. — Minha voz sai mais fraca do que eu gostaria. — O Sheik não está estranhando sua atitude de vir toda hora ao meu quarto?Um leve sorriso curva os lábios de Raed, mas não alcança seus olhos.— Você não está no palácio dele, mas no meu.Piscar é a única reação que consigo esboçar.— No seu?— Sim.— Por... por que no seu? — minha voz treme de surpresa.— Porque achei melhor assim. — A resposta é seca, firme, sem espaço para perguntas. — O clima está muito ruim lá, e você precisa de paz,