Catando os pedaços do meu coração
Catando os pedaços do meu coração
Por: Totomo Injobua
Capítulo Um

Felícia Santos

Sentada em meu quarto, pinto minhas unhas calmante, teria um encontro junto de minhas amigas, teríamos uma tarde de meninas. Desde que comecei o meu relacionamento com Vasco, não tinha mais tempo para elas e elas começavam a reclamar, principalmente a minha melhor amiga Sandra que, não gostava nem um pouco do meu namorado. No início do meu relacionamento com Vasco, eu não entendia o porquê de ela não gostar dele, mas depois de mais de quatro meses juntos, começo entender o porquê de ela não gostar dele, Vasco não era mais o mesmo  rapaz doce e galante que conheci no início, tinha se transformado num sujeito ciumento, possessivo e desrespeitoso. Nosso relacionamento não era mais o mesmo, nós nos víamos pouco, mas nas poucas vezes em que nos encontrávamos, nós brigamos feio, ora porque a minha roupa é curta demais ou porque eu olhei para um outro homem.

— Mãe! Eu vou sair com as meninas, vai precisar de mim? — indaguei parada na porta, minha mãe estava na cozinha fazendo um bolo. 

Ela tinha o hábito de fazer tal coisa, todos os sábados, ela tirava os sábados para se dedicar aos filhos. Como contabilista, ela trabalha de segunda a sexta-feira, e sempre volta tarde da noite, ou eu e meu irmão mais novo estamos dormindo ou estamos ocupados com nossas tarefas escolares.

— Já? Pensei que fosse mais tarde, vai demorar? — retrucou parando de fazer seu bolo.

Minha mãe é tão parecida comigo que, às vezes pensou que estou olhando para mim mesma. Eu sou tão igual a ela, desde os dentes desorganizados que me davam um charme delicado, até ao nariz gigante que era nossa marca registrada. Eu tinha puxado as curvas da minha mãe, mas tinha puxado a falta de seios dela em compensação, eu tinha um corpo muito bonito, de dar inveja a qualquer um.

— Prometo chegar cedo, e te fazer companhia ao assistir a anatomia de grey, mesmo não gostando da série — prometi dando um beijo em suas bochechas.

Ela recebeu minhas palavras com um olhar ameaçador. Minha mãe é louca por Anatomia de grey, sempre tinha que acompanhá-la em suas maratonas semanais, mesmo que não gostasse da série, não que fosse chata, mas eu detesto sangue.

— Acho bom, não posso ver aquela obra de arte sozinha — informou se virando e voltando toda sua atenção ao bolo.

— Se refere a série ou aos médicos bonitões? — indaguei me afastando porque eu sabia que ela me lançaria com o pano em suas mãos.  Antes que eu conseguisse sair da cozinha, senti o pano atingir meus ombros e o grito da minha mãe vindo da cozinha.

— Me respeita menina! Eu ainda sou tua mãe! — minha mãe berrou da cozinha e eu fugi de lá.

Sai até o quintal da minha casa e fui até a garagem de casa, levei o meu carro e fui até a casa da minha amiga Sandra. Diferente de muitas casas convencionais moçambicanas, a minha casa tinha um arquitetura nigeriana, em que a base da casa aparenta ser muito pequena e não suportar o peso do tecto, daí que é sustentada por Piras enormes e possui um tecto em formato de cone. Em Moçambique, para ter uma carteira de motorista é preciso atingir a maioridade que cá, é com dezoito anos, só que para tal é necessário sofrer muito, muito mesmo, pois, a burocracia neste está mais abundante que carteiras em salas de aulas. Quando alguém jovem como eu, consegue ter uma carta de condução em tão pouco tempo, ou pagou ou tem um familiar trabalhando no INATER, que é a entidade responsável, por emitir as cartas de condução.  A viagem da minha casa, até a casa da minha amiga, não durou muito tempo, pois, apesar de estarmos em bairros diferentes, nós estamos no mesmo distrito e não é muito difícil sair da Matola gare até o Malhapsene.

Assim que chego no condomínio dela, tenho que me identificar e falar para onde vou. Assim que autorizam a minha entrada, vou directo a casa dela.

— Amigaaaa! Você está linda —  Sandy gritou assim que me viu entrando em sua casa.

— Ai! Obrigada, mas você é suspeita ao dizer uma coisa dessas, você é minha melhor amiga e óbvio que tem a obrigação de me bajular —retruquei com humor e isso arrancou uma gargalhada dela.

— Eu pensei que fosse soberba, mas você, superou todos os limites — comentou abrindo espaço para que eu entrasse no interior de sua sala.

— Já estás pronta? — indaguei tentando ver o que faltava no look, e aos meus olhos ela estava perfeita.

Diferente de mim que estou cheia de curvas exaradas, Sandy tem um corpo com tudo perfeito, barriguinha chapada, pernas finas que combinam perfeitamente com seu quadril que não é largo, nem fino demais, ela tem um corpo de supermodelo e se quisesse um dia seguir carreira na área, com certeza seria uma óptima modelo.

— Já só falta buscar a minha boina e já vamos — comentou subindo para o andar de cima de sua casa.

Ela está de uma saia com um corte idêntico ao da minha saia, mas diferente da minha que é de Jeans preto, a dela é de um cetim preto, sem brilho e que se estica nos lugares certos. Sandy, tem um estilo meio paty,  diferente de mim que vesti a minha saia com um Cropped de mangas compridas e sapatilhas brancas da Puma. Ela acompanhou sua saia com um body branco de mangas compridas e gola alta e umas botas de cano baixo. Ela tem um estilo tão paty que, só para uma simples saída com suas amigas, veste-se igual a uma burguesa. Provavelmente, para além da boina, ela desceria com um sobretudo preto.

— Eu sabia! Que estarias com esse teu casaco de burguesa, meu Deus! Sandy! Você é muito paty — comentei com humor assim que a vi descendo com o casaco em seus braços.

— Ah! Está frio hoje, me espanta você que está com esse tipo de roupa — retrucou vestindo sua boina.

Já prontas, saímos da casa dela, rumo ao Bowling marés. Este é o nosso último sábado juntas, antes do início das aulas, escolhemos o Bowling marés, porque aos sábados costuma ter promoções excelentes e eu adoro promoções.

A viagem da casa de Sandra dura mais de uma hora, o Bowling marés fica na cidade de Maputo, próximo a praia da Costa do sol, as nossas casas ficam na província de Maputo, então! Sair de Malhapsene até a cidade é uma tarefa que requer muita paciência. Dentro do carro, cantamos a música de Yaday Angel.

— Tu pensas que sou tua escrava, aí é que tu te enganas, eu sou uma negra bala, olha bem para mim — cantarolamos a música da Yaday Angel.

Eu me considero e sou uma Angel, fala á sério, quem não gosta dela? As letras dela são óptimas, ela é óptima e para piorar ela é moçambicana, é alguém com quem posso me cruzar em qualquer lugar de Maputo.

— Achas que eu não vou encontrar, um homem que vai me tratar, como eu mereço, como eu mereço, oh, uh,oh,Ooooh, como eu mereço — cantarolamos a segunda estrofe até que Sandy baixa a música.

— Amiga, escuta, eu não quero ser inconveniente nem insensível com você, mas você escuta todos os dias essas músicas, ela não te diz nada? — Sandy questiona olhando bem sério para mim. Eu sei onde ela quer chegar e sinceramente, eu não quero me indispor com ela, ela é minha melhor amiga e não quero discutir com ela.

— Sandyyy! Djoooo! Esquece isso, hoje é um óptimo dia para nós curtimos o fim de nossas férias, acha que devemos estragar por causa disso mesmo? — murmuro rezando para que ela esqueça o assunto do meu suposto namoro abusivo.

Ela insiste que Vasco não me faz bem, para falar a verdade, eu acho que ela só está a ser paranóica. Ele nunca me bateu, nunca gritou comigo. Ela só está paranóica porque ele mexe no meu celular, ou porque às vezes ele escolhe o que vou vestir, falando sério, onde está o abuso aí?

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