Felícia Santos
— Fefé! Amiga, eu não falo isso porque quero o fim do teu relacionamento — Sandy começa, entrelaça nossos dedos enquanto fala — Muito pelo contrário, eu quero sua felicidade, não importa com quem esteja, mas esse namoro não te faz bem, você está infeliz, isso não é saudável — Sandy volta a falar o que eu não quero ouvir, como se eu não soubesse nada sobre o meu namoro. Todos pensam que sou ingénua e fraca, todos pensam que sou uma boneca manipulável, que não sabe o que acontece na própria vida, mas o que muitos não sabem é que, eu sei o que acontece na minha vida, eu sei qual é o comportamento de Vasco e sei quando ele não está sendo bom. A ideia da dieta foi minha, apesar de ter partido de um comentário dele, mas eu decidi e escolhi fazer essa dieta. — Amiga, eu escolhi fazer essa dieta, não foi Vasco quem me falou para fazer isso, eu só quero ser mais saudável — comento desconectando nossos dedos, dando a entender na hora que não vou mudar de ideia. — Aaaah! Vocês, parem com isso, hoje viemos nos divertir, parem de se olhar como se fossem duas inimigas, vocês são melhores amigas, depois vocês resolvem isso — Debby comenta tentando acabar com o clima estranho na mesa. O comentário dela muda tudo na mesa, Sandy concorda e voltar a prestar atenção em outro assunto que não seja o meu namoro com Vasco. Assim que nossos pedidos chegam, cada uma se concentrar em seu hambúrguer e eu na minha sala de frutas, confesso que sinto um pouco de inveja, afinal, hambúrguer e batatas fritas, são as coisas que mais gosto no mundo. — Toma, sair um pouco da dieta não vai matar ninguém — Sandy murmuro empurrando metade do pedido dela em minha direção. Ela me conhece tão bem que não foi preciso que eu falasse para que, ela notasse que eu estou a fim de um bom hambúrguer gorduroso e uma boas batatas fritas. — Você adora me levar para a má vida — comento com um sorriso nos lábios, levando de bom grado o metade do hambúrguer dela. Confesso que não estava com menor vontade de comer aquela salada de frutas. — Uhm! Uhm! Novidades na área — Debby arranha a garganta não vendo a hora de contar a suposta novidade dela das férias, todas nós paramos o que estamos fazendo e prestamos atenção nela. — Pode começar a contar, o meu lado fofoqueira não vai aguentar por muito tempo, não saber o que aconteceu de tão especial nessas férias — Vanessa comenta eufórica, não vendo a hora de descobrir o que aconteceu nessas férias. Confesso que estou bastante curiosa em saber o que está acontecendo, Debby é bem apocalíptica e se tem novidades, é porque algo extremamente interessante aconteceu com ela. — Uhm! Vocês não sabem o que me aconteceu nas férias — começa seu relato, mas ainda no princípio a gaja começa a rir — Encontrei um Boy, bem boff na ponta, bae! Bem boff uhmmm! — Debby fez gestos com as mãos para tentar explicar a magnitude da beleza do Boy da praia — Bem boff, vocês não estão a imaginar, mais boff que Khensane — completa arrancando uma risada colectiva de todas nós na mesa. A comparação dela parece não fazer sentido, mas faz todo o sentido do mundo, para nós meras mortais, não existe ninguém mais bonito que Khensane Neith, ele é simplesmente a pessoa mais bonita respirando os ares da building genius e os ares de Maputo. Ele não passa despercebido de nenhum lugar, onde ele vai, ele é o centro das atenções. A mistura de Moçambique e Alemanha, resultou num boff que tão bonito que é, não paga em alguns lugares que vai. Até mesmo Sandra que o odeia, reconhece que o rapaz é bonito. — Aaah! Mais bonito que Khensane? Tem algum defeito, só pode, é impossível encontrar alguém mais bonito que aquele desgraçado — Sandy comenta a contra gosto, como se fosse morrer ao assumir que o Neith é gato. — Estou a vir mana, vocês não imaginam a bomba que vem aí — Debby acrescenta fazendo o possível para segurar o riso, como se a coisa fosse muito engraçada — Eu conversei com ele, não tinha mau hálito, nos paqueramos — continua contando, mas ela não vê a hora de chegar a bomba — Saímos juntos, brooow! Eu pensando que encontrei o amor da minha vida, bae! — ela continua fazendo drama e suspense. Neste momento nós estamos nervosas e ansiosas querendo saber o que o Boy mais gato que Khensane tinha de tão mal para Debby fugir dele. — Quando chegamos nos finalmentes, iiiih! Djoooo! Bicho pequeno iiiih! Parecia de Criança Aaaah! Fiquei desmoralizada — Debby completa a última parte com lágrimas nos olhos de tanto rir. Assim que o faz, nós a acompanhamos e nos matamos de rir junto com ela. A nossa mesa é preenchida por gargalhadas tão altas que suspeito que a qualquer momento seremos expulsas do estabelecimento. Debby está com lágrimas nos olhos, Vanessa segura a barriga que dói de tanto rir e Sandy tenta filmar nós outras rindo. A tarefa está difícil, pois, ela deve equilibrar o celular e a gargalhada. — Eu sabia que tinha algo de errado, eu falei, que era impossível ser tão perfeito assim — Sandra comenta rindo. O comentário dela aumenta as nossas gargalhadas. — Ih! Vocês, será que Khensane também é assim? Tanta beleza deve ser para compensar algo né? — Vanessa comenta quando todas nós ficamos mais calmas. O comentário dela, cessa as risadas na mesa, afinal de contas, nenhuma de nós o viu sem roupas, se ele fosse como o outro, a minha vida estará acaba, não conseguirei olhar para os homens bonitos da mesma forma. — Uuhm! Impossível, nem um pouco, nem aqui nem na China — Sandra surge para o defender, como se alguma vez o tivesse visto sem roupas. — Como você sabe, já lhe viu sem roupas? — Debby pergunta. Para falar a verdade também estou curiosa. Todas nós olhamos atentas para Sandra, querendo saber se ela viu ou não Khensane sem roupas. — É claro que já lhe vi, nós somos vizinhos esqueceram? Os nossos quartos estão de frente um para o outro, é óbvio que eu já vi o material, e não foi uma ou duas vezes, foram várias vezes — comenta nem um pouco envergonhada. Nós trocamos olhares cúmplices e arregalados, como se perguntassemos o que aqueles dois têm. Eu tenho vizinhos, mas não costumo os ver várias vezes pelados ou nunca os vi pelados. — Ah! Meu Deus — Debby fala pausadamente — Você vê Khensane Neith pelado várias vezes e só nos diz hoje? Que amiga egoísta você é nem para tirar fotos — completa nos fazendo rir da reclamação dela. — Que tal, o material é grande? — Vanessa indaga levantando as sombracelhas num gesto sugestivo. — Uhm! Bem grande iiiih! Aquilo não é de Deus, eh! Deve ser o quê? Uns 25 centímetros ou mais eeeeeeeeh! Não é normal — explica fazendo todo o drama possível digno da pessoa dela. Nós nos matamos de rir. — Vocês, eu não vou conseguir olhar Khensane com os mesmos olhos, não esqueçam que ele é amigo do meu namorado, não é bom isso que estamos a fazer — reclamo, mas ao invés de me darem ouvidos, elas se põem a rir. — Não temos culpa nós se estás a namorar com amigo dele, o que é bonito é para ser visto — Debby retruca e as outras concordam. Continuamos jogando conversa fora, jogamos boliche, mas como ninguém sabe todas perdemos. — Bom! Meninas eu não posso ir agora, tenho que esperar por Vasco — murmuro receosa, porque o assunto Vasco é delicado no nosso meio. — Tudo bem, eu volto de Yango — Sandy concorda sem fazer muito drama. As meninas saiem e eu fico esperando por meu namorado. Que demora muito e chega acompanhado de sua gangue. Os outros meninos ficam do outro lado e Vasco vem até mim sozinho, a cara dele não está muito boa, parece até que está nervoso com alguma coisa. — Que roupa essa? — Vasco sussurra em meu ouvido, antes de me cumprimentar ou perguntar como estou. Ele segura o meu braço com muita força e aperta com muita força, não se importando se está me machucando ou não. — Ai! Qual é o teu problema? Está me machucando — reclamo e tento me desvencilhar de seu aperto que provavelmente deixará marcas roxas em minha pele. — Desculpe, não quis ser muito bruto, é que essa roupa é muito chamativa amor, me entenda, todos estão a olhar para ti e eu não quero que pensem que você é uma qualquer, eu te amo e me preocupo contigo — sussurra enquanto solta o meu braço, seu tom não está tão rude como antes e sua feição está mais calma e menos bruta que antes. Mas a merda já está feita, eu não conseguirei olhar para ele da mesma forma, eu só quero sair daqui e ir chorar na minha casa, por ser tão burra.Dylan Neith— Felícia Arthur Santos, filha de Artur Santos e Ana Joaquina Campos, dezanove anos de idade, tem um irmão, filha de pais divorciados — leio atentamente as informações que recebi do meu detetive particular. Eu sei o que está parecendo, que eu sou um stalker de merda que está perseguindo essa pobre menina, mas eu garanto que não sou nenhum stalker, só estou tentando conhecer melhor o amor da minha vida. Não é todo o dia que você encontra o amor da sua vida. — Seu pai é um engenheiro muito experiente, atualmente trabalha nas minas de carvão mineral em moatize na província de Tete, esteve preso por cinco anos, por alegada violência doméstica a sua ex-esposa, a mãe de seus dois filhos, atualmente ele perdeu a guarda de seus filhos e só é permitido vê-los uma vez por ano, tem um histórico com álcool, mas atualmente ele tem feito parte dos alcoólicos anónimos e está há cinco anos sem meter uma gota de álcool na boca — continuo lendo as informações que recebi do meu detetive, q
Dentro do meu carro voltando para casa, penso no meu ombro que dói e penso nas palavras de Vasco, será mesmo que as minhas roupas estavam tão vulgares assim aponto de chamar atenção de todos no estabelecimento? Ou era só loucura da cabeça dele. Eu não quero dar razão as minhas amigas, mas também não quero continuar num relacionamento assim, eu não sei como sair desse buraco no qual estou me afundando. — Mãe, já dormiu? — sondo a minha casa, procuro por minha mãe e irmão, mas eles não estão em casa. Pelas horas e por ser um final de semana, eu acho que também foram dar uma volta na casa de uma tia, eu acho óptimo, assim vou poder fazer uma massagem no meu braço e tentar esconder as marcas que estão no mesmo. Saio da sala e vou procurar uma bacia, vou fazer uma massagem com água e sal, isso vai aliviar a dor que estou sentindo, só não sei se a for está no meu braço ou na minha alma. — Ai, merda — gemo angustiada assim que o pano quente entra em contacto com a minha machucada. Contin
Dylan NeithO encontro com os amigos do meu primo, será no bowling marés, um lugar que sempre costumamos passar para comer uma boa pizza, além de é claro termos a disponibilidade de jogar boliche. Em Moçambique, o boliche não é uma actividade praticada com frequência, as pessoas não gostam e nem têm lugares que possibilitam praticar o mesmo. — Khen! Vamos logo eu não gosto de me atrasar nem de deixar ninguém esperando, mesmo que esse alguém seja o ex da minha namorada — falo com meu primo tentando apressa-lo, mas mesmo que a minha cara seja de bravo meu primo não se abala, ele não está preocupado com a minha pressão. — Relaxa, eu marquei o encontro para hoje por volta das quinze horas, o que para um moçambicano, significa dezasseis horas — meu primo retruca relaxado, como se estivesse acostumado em marcar um encontro numa certa hora e a pessoa chegar numa outra hora, ou ele mesmo chegar numa outra hora. — Vocês moçambicanos são estranhos — comento me dando por vencido e descendo a
Eu me enganei mais uma vez, o pedido de desculpas de Vasco não mudou nada no nosso relacionamento, o nosso encontro de minutos atrás terminou mal, mais uma vez, por causa dos ciúmes dele. — Você está louco, se pensa que vou me livrar do meu vestido da Shein — berro assim que ele estaciona o carro em frente da casa dele. A ideia seria de passar a noite na casa dele, mas eu estou me arrependendo amargamente de ter concordo com isso. — Você vai queimar sim, esse vestido, está parecendo uma vagabunda, nem acredito que deixei que os meus amigos te vissem nisso — Vasco berra descendo do carro e tentando se aproximar de mim, enquanto eu fujo dele andando para trás. Ele está surtando, por causa do meu pobre vestido que, comprei com tanto sacrifício e que pensei que ele fosse gostar. O vestido é de uma modelo básico e tipico da Shein, um vestido curto com estampa de cerejas, na cor vermelha e com alcinhas, o vestido destaca as minhas curvas e me dá um ar sexy e delicado, não entendo o po
Dylan NeithHoje o meu primo Khensane, voltará as aulas dele no colégio Building genius, o meu primo já terminou o ensino médio mas por teimosia continua indo as aulas com a desculpa de descobrir a sua verdadeira vocação. Nas escolas moçambicanas, você não tem a opção de escolher a disciplinas que vai estudar, você só pode escolher a secção que em várias escolas está dividida em três áreas. Letras, ciências com biologia e ciências com desenho. No primeiro ano, ele faz ciências com desenho concluiu e este ano ele está concluído a segunda secção escolhida por ele, ciências com biologias. Com a ajuda do meu primo, eu consegui me matricular na escola dele, com alguns conhecimentos básicos de informática que tenho, consegui burlar a rede da direção do colégio Building genius, e consegui me colocar na mesma turma que minha garota que coincidentemente é a turma do meu primo e da garota dele. Meu primo Khensane é um verdadeiro masoquista, ele adora se fazer sofrer, desde os dez anos que ele e
Felícia SantosAbro os olhos aos poucos, faço todo o possível para não chorar assim que o reflexo da minha mãe surge a minha frente. Eu tento reconhecer onde estou mas não consigo pensar em mais nada, só em Vasco me batendo. — Fefé minha filha, você está bem? Ai meu Deus, eu fiquei tão preocupada, eu pensei que fosse te perder meu amor — minha mãe vem até mim com olhos marejados e me abraça. Eu não consigo falar nada, apenas sei chorar por mim e pela minha mãe que está extremamente assustada, o que eu vou falar para ela? Não existe uma mentira que cubra os meus hematomas. Eu não sei se estou chorando pelos hematomas que tenho ou pelo meu coração que está extremamente destruído. — Graça a Deus que a polícia chegou há tempo de salvar vocês, se não fosse o Vasco, eu não sei o que teria acontecido com você — minha mãe sussurra ainda me abraçando. Eu não estou entendendo nada, como assim assalto? Eu me recordo de Vasco me estar sufocando mas depois disso, não me recordo de mais nada,
Dylan Neith— Ai meu Deus! O que você fez imbecil? — Khensane berra comigo assim que Sandra cai no chão da quadra de Basket Ball — Aí meu Deus, você matou ela, Sandy! Sandy! Minha nebulosa, acorda minha bruxa de Namicopo — Khensane continua sussurrando desesperado, mas Sandra não acorda. Eu estou começando a ficar preocupado, não acho que ela vai acordar, ela continua desmaiada mesmo quando a levamos para a enfermaria. — Meu Deus meninos, coloquem ela na maca — a enfermeira instrui assim que chegamos com Sandra nos braços de Khensane. A enfermeira pede que nós saiamos do quarto para que possa cuidar dela. — Primo, me perdoa, eu não quis machucar ela, eu não a vi — eu peço desculpas ao meu primo por ter sido tão descuidado na hora de lançar a bola. Eu estava tão concentrado em fugir do Vanistelroy naquele momento que nem notei a presença de mais alguém na quadra. Eu coloco minha mão no ombro do meu primo para tentar conforta-lo, ele está com as duas mãos na cara, com a cabeça enc
Felícia Santos Tento rir mais uma vez, mas minhas costelas me impedem de aumentar de nível a minha risada para gargalhada. Sandra é a primeira que consegue, se desvencilhar do emaranhado de pessoas pernas. — Amiga! Amiga! Você está bem? minha Riry — Sandy corre até bem perto da minha cama e tatea o meu rosto, ela procura por outros aranhões em mim. Eu continuo deitada sem nenhuma reacção, o que derei a elas? Se nem mesmo eu sei o que está acontecendo. Debby e Vanessa se juntam a Sandra na inspeção em meu rosto, estou me sentindo muito mal por deixar minhas amigas preocupadas. — Uhm! Eu estou melhor graças a Deus, talvez amanhã mesmo volte para casa — retruco com dificuldade, colocando minha mão na garganta para tentar aliviar a dor, mas pelos vistos ficarei a semana inteira sem conseguir falar tranquilamente. — Ai, eu fiquei assustada quase desmaiei de preocupação quando fomos informadas do seu estado de saúde — Sandra fala enquanto olha para mim como uma inspectora, ela está