Capítulo 5 •

Abro um olho e depois o outro, lentamente. O dono da voz está diante de mim, com os braços cruzados e com um conjunto moletom preto que eu novamente queria morar dentro. Por que essa coisa ruim fica tão sexy nessas roupas? Devia ser proibido uma pessoa completamente ignorante ser bonita. Seu cabelo está levemente molhado pelo suor, esse homem curte se exercitar, eu queria ter essa disposição.

— Um minuto de paz arruinado com sucesso. — Bufo irritada e cruzo os braços. Ativando minha criança interior que parece irritar muito ele — E outra coisa, eu não menti sobre nada do que eu disse a eles. Então, não acho que tem o direito de argumentar sobre isso. — Arqueio a sobrancelha direita, assumindo uma expressão insolente.

— Você me conhece há pouco menos de um dia e já tem opinião formada sobre mim?

— Já ouviu falar de ranço à primeira vista? Então, foi isso. — Ele arqueia a sobrancelha, imitando minha expressão — Sabe quando olha para alguém e pensa: Certeza que é esse daí é babaca. Foi basicamente isso.

— Você é realmente corajosa e muito mal—educada. — Finjo que seu comentário foi como um elogio.

— Sou sincera, é diferente. Acho que seria bem pior se eu fizesse isso pelas suas costas.

— Mas você faz isso também. — Me acusa e dou de ombros.

— Exato, mas para mim não faz diferença. Não gosto de você e faço questão de deixar explícito. Acho que jogou muito baixo me chantageando. — Decido ficar de pé, pois olhar para cima já está me cansando. Não que eu seja do tamanho dele ou maior, porém sinto que mesmo um pouco menor, fica de igual para igual. — Foi rude e desumano. — Cruzo os braços.

— Eu precisava cuidar do meu filho. — Ele quase b**e o pé após a fala. — E eu faria qualquer coisa para vê—lo bem, inclusive contratar uma pessoa tão insolente como você.

— Você precisa cuidar é de outra coisa. — Murmuro irritada. Devia estar prestando atenção na mulher e não em mim. — Cuidar do seu filho significa tirar a liberdade de outra pessoa? Mesmo ela sendo insolente?

— Eu não tirei sua liberdade, você está apenas pagando pela besteira que fez. — Cruza os braços, me deixando um pouquinho intimidada. — Você não tem noção? Eu te fiz um favor!

— Ah, falou a pessoa que nunca cometeu um erro. — Jogo a mão pro ar, já prestes a explodir.

— Cometi muitos erros, um deles foi ter essa ideia louca de te contratar, mas nenhum deles envolveu entrar na casa de uma pessoa para roubar. — Retruca, me fazendo crer que o argumento dele é muito bom.

— Nós não íamos roubar! — Digo frustrada batendo o pé e vejo ele arquear a sobrancelha direita — Eu não ia roubar. — Conserto, deixando somente sobre mim a culpa. — Quer saber? Você é insuportável e muito arrogante. — Acrescento. — Você quer um pedido de desculpas? Ok, desculpa ter invadido sua casa. Melhorou? — Pergunto bufando já e tendo certeza que a elevação em nossas vozes denunciam nossos estados de pura raiva. — Está feliz?

— E você é muito petulante, garota. Suas desculpas não valem de nada agora, visto que não tem uma profundidade verdadeira, guarde para si. — Eu odeio quando ele está certo, o que me deixa com mais raiva ainda. — Acho que um cachorro seria bem mais fácil de lidar do que você!! — Diz irritado e eu bufo mais irritada ainda. Que audácia. Eu posso ter insultado ele, agora comparar a um animal aí já é demais. Mesmo o animal em questão sendo extremamente fofo.

— Então me manda embora e compra um cachorro para pôr em meu lugar! — Falo bem alto, quase gritando — Acho que vai surtir o mesmo efeito. — Passo por ele, batendo em seu braço com força — Idiota! — Sinto o ódio querendo escorrer pelos meus olhos em forma de lágrimas, mas me controlo.

— Volta aqui, garota. Eu não terminei de falar com você! — Me viro irritada.

— Compra um cachorro que você vai poder falar com ele o que quiser. E o melhor de tudo, ele não vai retrucar e nem ser petulante contigo. — Ele está vermelho de raiva, mas apenas passa por mim, indo para a academia. Consigo sentir a raiva dele por mim a cada bufada e passo que da para dentro.

E em menos de cinco minutos, nos encontramos e tivemos um embate fervoroso. Eu definitivamente odeio esse cara e se ele quiser me mandar embora agora. Eu iria com muito prazer e felicidade, mesmo ficando levemente triste pelo Pietro, mas eu realmente acho que se ele tiver um cachorro, pode surtir o mesmo efeito. Afinal, ter cachorro é quase uma terapia.

Volto pelo mesmo lugar que cheguei e cada passo é uma bufada diferente, além do pé batendo no chão parecendo até um cavalo galopando. Isaac e sua incrível reação sobre mim, que é totalmente diferente da que causaria em Samantha.

— Aaaaah. Que ódio! — Aperto os dedos na palma da mão com força, quase rasgando com as unhas.

Quando entro na casa, quase derrubo batendo a porta, mas não foi por querer, o vento que ajudou a dar esse drama todo. Escuto uma porta bater com força no andar de cima e vejo Grandão sentado na mesma poltrona de antes. Ele faz menção de falar, mas levanto o dedo trêmulo em sua direção. Cortando totalmente sua fala.

— Agora não. Agora não. — Subo o primeiro degrau para ir ao meu novo quarto.

— Faíscas. Preciso da minha roupa de proteção para quando rolar esses embates habituais.

— Ele quem começou. — Ainda na metade da escada, viro para ele com uma expressão típica de exorcista, quando percebe, seus olhos se arregalam — Ele falou que um cachorro seria muito mais fácil de lidar do que eu. Ele por acaso já se olhou no espelho? Parece até um lobisomem com aquele tanto de pelo no rosto. — A reação de Bob — estou com raiva dele no momento para usar o apelido fofo —, é totalmente diferente do que imaginei. Pois ele simplesmente começa a rir, não pouco e sim muito, de quase cair de onde está sentado. — Não somos mais amigos! Você é uma pessoa horrível. — Acuso voltando a seguir meu rumo.

Volto a subir a escada, indo em direção ao quarto. Preciso de novos aliados, os velhos já não me agradam mais. Pessoas irritantes. Eu deveria mesmo ter fugido. Acho que era melhor ficar escondida do que passar por esses dramas todos os dias. Eu odeio drama, mesmo que eu seja rainha dele. Se ainda não deu nem meio dia e as coisas já estão assim, quero nem imaginar o que vai ser um mês nessa tortura. Começo a pensar que ter sido presa teria me poupado de muitas coisas, mesmo acrescentando outras.

(...)

Fiquei trancada no quarto o dia todo e muito menos desci para comer. O que me salvou foi o pacote de biscoito que furtei cedo, tinham tantos que ninguém iria dar falta. Acho que por ser comida, não é bem um furto, pois se vou ficar aqui, vou ter de me alimentar. Meu joelho ainda está feinho e ralado, mas a dor não está tanta e é mais quando encosta, depois que tomei banho ontem e limpei, melhorou bastante.

Antes um pouco de anoitecer, Silvia veio aqui e disse que eu iria participar do jantar, assim como todas as refeições eu faria na mesa, junto com Pietro, para incentivá-la a comer. Apesar de não ter muitas roupas para escolher, tentei escolher a minha melhor, não para impressionar o lobisomem ou qualquer outro, mas por ser o primeiro dia, eu não quero passar uma impressão de desleixada. Bom... e também a super modelo internacional namorada dele, que tem possíveis casos extraconjugal e se veste impecavelmente, estará presente.

Termino de colocar meu tricot amarelo largo e prendo a ponta da frente na barra da saia jeans alta. Inclino a cabeça, para saber se ficou bom ou não e abro um sorriso, vendo que combinou com meu tênis. Acho que fiquei bem fofa. Dou uma última olhada, vendo que já estou pronta para esse martírio.

Saio do quarto rumo ao dos meninos. Verei se meu pequeno príncipe e acompanhante da noite está pronto. Bato na porta e logo entro.

— Cat, você está linda! — Pietro diz pulando na cama. Ele está arrumado lindamente. Tomara que não seja assim todo jantar, eu definitivamente não tenho roupas para isso.

— Cass, bebê. — Digo tocando a ponta de seu nariz.

— Prefiro cat, pois a senhora é gata e eu amo gatos. — Diz com aqueles olhos brilhantes que me derretem.

— Se me chamar de senhora mais uma vez, vou ser obrigada a dar umas palmadas nesse seu bumbum. Me chame de você, tia, mulher mais linda do mundo. — Digo brincando e ele ri. Senhora, estou muito nova para isso. Olha eu estragando as crianças de novo.

— É senhora sim! — Silvia diz e reviro os olhos.

Quando ela vira as costas, faço que não para a criança além de fazer careta.

— Claro que é. — Concordo com ela, mas ainda fazendo que não para ele — Vamos descer? — Assente e seguro em sua mão, para ele descer da cama — Esperamos vocês lá embaixo.

(...)

Estou lendo os nomes dos diversos livros na estante, para passar o tempo quando a mulher chega, ela entra com graciosidade, parecendo até uma garça, com um vestido espalhafatoso e o cabelo loiro solto. Será que ela tá achando que esse jantar é um pedido de casamento frente a família? Pois, para estar arrumada dessa forma, só pode ser isso. Parando para pensar, até que pode ser, talvez eu tenha enlouquecido tanto ele que vai cometer essa loucura. O casamento só dá dor de cabeça, não falo por experiência e sim por ouvir falar. Se namoro já é complicado, imagina casamento. Argh.

Ela dá um sorriso quando vê Pietro e vem em nossa direção. Ele está no tapete brincando com o carrinho e parece irritado ao ser interrompido.

— Oi, pequeno. — Ela afaga o cabelo dele. Mesmo falando bem nosso idioma, o sotaque dela é bem carregado e até charmoso.

— Não bagunça meu cabelo. — Pede passando a mão na testa, para deixar a franja mais pro lado — Vai me deixar feio.

— Você sabe que é lindo. — Elogia ele, que cora um pouco.

Eu realmente estava esperando uma bruxa, a típica madrasta má que geralmente vemos em filmes, mas parece que o único defeito dela é ser traidora. Que lástima.

— O jantar vai ser servido. — Silvia chama nossa atenção. Andrew está com ela e vai para a sala de jantar. Percebi que ele é um tanto agarrado a mais velha. Pelo que descobri ela está aqui desde que ele era um bebê. Deve ser por isso.

A Garça — apelido que escolhi para não falar o nome enorme dela — tem uma outra coisa que não curti muito, é que ela sequer olhou para mim. Fingiu que eu não existo e que minha presença na sala era insignificante. Parece que combina com o Lobisomem, se bem que ele presta bastante atenção em mim, até demais.

Sentamos a mesa e logo o Lobisomem dá o ar da graça. Talvez eu tenha certa fixação em dar apelidos às pessoas, é como um hobbie. Assim que conheço alguém, procuro o que mais chama a atenção e passo a chamar a pessoa assim, mesmo que muitas vezes só em minha mente.

Ele está vestido com uma calça jeans e uma camisa social azul clara, com os três primeiros botões soltos. Cabelo levemente molhado e penteado pro lado. Quando ele me vê, sinto o ódio no olhar e desvio o meu para não encarar — tanto — o homem, ele não merece minha admiração pela sua beleza irritante.

O homem está sentado na ponta da mesa, ao seu lado na parte esquerda está a Garça e do direito Andrew, Pietro e eu. Ninguém quis sentar perto da mulher, mesmo ela aparentemente sendo legal com eles.

— Genevieve, está bonita hoje. — Fico assustada ao ouvir Lobisomem elogiar ela. Então daquela boca também saem elogios e não somente insultos. Quem diria. Estou chocada.

— Cat, está muito mais. — Arregalo os olhos quando Pietro se intromete, não costumo ficar ruborizada, mas devo estar bem vermelha agora.

— Concordo! — Andrew entra no assunto, me fazendo ficar com uma tremenda vontade de desaparecer. Que vergonha.

— Cat? — Seu pai pergunta.

— Quem é Cat, meu amor? — Garça pergunta.

— É a Cass, mas eu chamo ela de Cat pois ela é muito linda. Igual uma gatinha e também muito fofinha. — Coloco a mão na boca reprimindo uma risada, vendo ele fazendo um gesto como se estivesse apertando minha bochecha na hora de falar fofinha e também escondendo o fato de que estou completamente envergonhada.

Pelo amor de Deus, esse menino é muito fofo. Não dá para resistir a essa fofura. É aqui que percebo que irei sofrer quando tiver de ir embora, não queria me apegar a esse menino, mas percebi que vai ser impossível.

— Cass? — Observo a mulher perguntar ao homem na ponta da mesa.

— Cassandra, na verdade. É a nova babá dele. Aquela que eu mencionei cedo sobre a contratação.

— E onde ela está?

— Acho que alguém precisa de óculos. — Digo revirando os olhos e chamo a atenção dela.

— Oh! — Faz uma expressão de surpresa — Ela é muito novinha. Eu realmente pensei que fosse alguma prima ou amiga das crianças. — Cruzo os braços irritada.

Só porque ela é alta, tem um corpo escultural de modelo e um rosto bem maduro, não pode insinuar que sou criança. Não tenho culpa de ter esse rosto angelical.

— Você costuma ignorar as pessoas assim? Sem ao menos dar um oi? — Pergunto agora encarando ela, que engole seco.

— Não, é que ...

— Estou com fomeee. — Andrew que aparentemente está sempre faminto, interrompe a tensão formada e faz um drama, como se estivesse derretendo e escorrendo pela cadeira.

— Vamos jantar. Depois conversamos sobre isso. — Diz colocando a mão sobre a da mulher e ela assente. Que casal mais sem química. Parece tudo robotizado. Elogios e gestos. Ou talvez eu ache isso por não gostar dele e ache que tudo que ele faz soe falso.

O jantar começa em total silêncio e eles se servem, eu que ainda estou sem fome, apenas observo Pietro. Silvia colocou a comida dos meninos e foi ajeitar as coisas para eles irem dormir depois. O menino dos olhos cor de mel está com os cotovelos apoiados na mesa, a mão segurando o rosto bem emburrado. É um tanto fofo, pois mesmo a cadeira dele sendo mais alta, ele ainda continua pequeno em relação a mesa grande.

— O que foi? — Cutuco a barriga dele de lado.

— Eu odeio brócolis. — Diz fazendo careta.

— Eu gosto muito. — Sou sincera e me aproximo — Posso te contar um segredo? — Ele assente animado — Você conhece aquele super herói todo verde, grandão e bem forte? Mas sem ser o Bob. — Consigo arrancar uma risada do rosto emburrado.

— Sim, sim. Eu adoro ele, mas o papai não deixa eu assistir os desenhos — Diz animado, mas logo fica triste. Anoto mais uma coisa para fazer com eles.

— Não conta para ninguém, mas ele fica daquele jeito porque come muito brócolis. Come o necessário e na medida certa, por isso ele é tão fortão e grandão. Se você quiser ficar igual a ele. Precisa comer tudinho. — Concluo e vejo os olhinhos dele brilhando. Já usei muito essa tática com as crianças da casa de adoção, com algumas funcionam e com outras não.

Ele mal espera eu terminar e já está comendo brócolis com fervor. Até Andrew pega alguns brócolis e põe no prato, persuadido pela minha história.

— Até que é um pouquinho bom. — Diz e abro um sorriso — Será que vai demorar para fazer efeito e eu ficar igual a ele? — Finjo pensar, enquanto ele levanta o braço para mostrar seu muque magrelo.

— Pelas minhas contas, em um mês você estará mais forte que ele, mas só se comer todos os dias direitinho.

Vejo que consegui animar ele e me sinto satisfeita. Ao olhar pro Lobisomem e pra Garça, vejo que ambos pararam de comer e me encaram. O homem ainda tem aquele misto de ódio por mim, mas posso perceber que ele está agradecido, pela forma que olha seu filho agora comendo a cenoura.

Já a mulher eu não consigo decifrar o olhar, porém espero que ela não tente nada, pois eu realmente sei jogar também e mesmo que ela não saiba, está em minhas mãos.

— Eu... vou é, licença. — Incomodada com a atenção, apenas me levanto e gaguejo um pouco, mas me sinto bem mais leve quando corro da sala de jantar. Consigo até respirar melhor.

Pietro já comeu bem demais hoje e esse que é meu trabalho. Fazer ele comer e socializar, então, já posso ir dormir tranquilamente. Talvez pegar alguma fruta na cozinha antes de dormir, pois sinto que ficarei com fome mais tarde.

— Ainda não te perdoei, Bob. — Passo por ele e faço pose de durona, ele ri balançando a cabeça negativamente e subo as escadas, rumo a meu novo esconderijo, o quarto super confortável e bonito.

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