Encaro o teto sobre minha cabeça. Mais um dia se passou e não fiz nada de produtivo. Talvez até tenha sido, pois eu fiquei o dia todo imaginando possíveis formas de contar ao Isaac que ele é corno. Bom, como poderia provar? Eu realmente pensei em ir até meus amigos e pedir, eu que achei, eu que deveria decidir o que fazer.Meu telefone começa a tocar e isso me faz franzir a testa, ninguém tem meu número além de...— Downie. — Atendo desesperada já gritando seu nome.— Calma, precisa gritar? Isso tudo é saudades? — Pergunta convencido. — Solta, Samantha. Solta a droga do celular... — Escuto ao longe. — Que merda garota.— Oi, que saudades. — Agora é Samantha quem fala e abro um sorriso, provavelmente deu um empurrão no garoto e puxou o celular.— Vocês estão bem? — Pergunto me sentando.— Na mesma de sempre, o dinheiro acabando. Chace doente de preocupação, nada diferente do normal de todo mês.— Entendi. Posso falar com o Downie rapidinho? — Ela resmunga, mas entrega.— Diga, sortuda.
Quando abro a porta da frente, depois de descer as escadas correndo, vejo Silvia entrando no carro que Grandão dirige, prestes a ir para casa. Tudo que faço é correr em direção a eles, entrando no banco de trás e batendo a porta, assustando os dois. — Que mer.. — Ele para de falar assim que vê meu estado, chorando alto e levemente desesperada. Eu quero parar, mas não consigo. Eu odeio isso e também odeio o fato de não ter controle sobre meu próprio corpo. Sinto que minha vida foi invadida, sinto que fui burra demais em pensar que ele não faria isso. Apesar de me sentir meio hipócrita, é claro que ele faria isso. Ele não me conhecia, eu era uma estranha e ainda sou, não significo nada e não exalo confiança. — O que aconteceu, meu amor? — Sílvia entra no carro ao meu lado e me abraça. Encosto a cabeça em seu peito, fechando os olhos com força. — Me tira daqui, por favor, por favor, por favor... — Começo a murmurar em desespero e não sei bem o que acontece. Só sei que o carro é ligad
Cá estou eu, onde eu pensei que não teria mais coragem de pisar. Me sinto péssima por mais uma vez fugir e de pessoas que me acolheram tão bem. Após Sílvia ir dormir com Grandão, eu tentei dormir, mas não consegui. Então eu decidi sair, peguei a bicicleta deles e vim para casa da minha mãe. Eu estava tão absorta em pensamentos que mal tive medo de sair de madrugada. Eu fiquei tão abalada e me condeno, por deixar Isaac me afetar tanto, ainda mais com um assunto tão delicado para mim.O porteiro do condomínio que nem ligou muito quando eu saí, estava quase dormindo assim que pedi para sair e também para avisar a Sílvia que ela saberia onde me encontrar. Eu queria um tempo para pensar, em um lugar que me fizesse sentir paz. Por isso, quando cheguei, tirei a chave do esconderijo, entrei, tranquei a porta e deitei na cama da minha mãe. Ficando acolhida em seu cantinho mais adorado.E eu dormi, como não havia mais dormido antes. Me sentindo acolhida, abraçada, mas ainda sim despedaçada. Co
Sinto alguém cutucar meu braço e isso me faz resmungar, cai no sono sem nem perceber. Abro os olhos ainda pesados e arregalo eles quando vejo Samantha. Ela coloca a mão na minha boca impedindo qualquer grito e maneia a cabeça pro lado, me fazendo ver Isaac dormindo tranquilamente. Acho que nós dois ficamos envolvidos no clima aconchegante que se instalou no ar e acabamos dormindo. Ou melhor, eu acabei dormindo depois de observar ele pegar no sono.Levanto e sigo ela até meu antigo quarto, que ela fecha a porta assim que passo.— O que está fazendo aqui? — Pergunta, mas logo se joga em minha direção, me abraçando forte — Estava com saudades. — Retribuo o abraço e suspiro fundo, me afastando.— As coisas não acabaram bem quando contei para ele. — Aponto para o lado do outro cômodo.— E você fugiu como sempre faz. – Assinto me jogando na cama e ficando com o rosto contra a colcha, com os braços esticados. — Sim, velhos hábitos que não mudam. – Digo, mas sai meio abafado.— Fico feliz qu
Para a alegria da nação, ou só minha mesmo. Completei um mês de trabalho e confesso que estou bem feliz. Eu irei receber hoje, mesmo que não fique com quase nada, pois Isaac vai descontar o que eu gastei, preciso tirar o dinheiro da aposta perdida para Grandão. Triste, porém tenho que aceitar a derrota, mesmo ainda não tendo admitido a ele.Já deixei de ser louca, achando ter sido algo horrível, pois na verdade foi muito bom e muita sorte minha. Mesmo não falando, quase sempre quando Pietro dorme e vou lhe dar o 'beijinho babado que ele ama' — palavras dele — de boa noite, agradeço por ter gostado de mim e proporcionado essa guinada em minha vida.Na verdade, nessas duas semanas que passaram não aconteceu tanta coisa assim. Conversei por celular com Samantha algumas vezes e não quis falar com nenhum dos meninos, mesmo eles insistindo tanto. Achei uma traição sem tamanho o que fizeram comigo, mas ... eu estou com tanta saudades de todos lá, que tô até pensando em abrir uma exceção em m
Levanto disposta a ver se crio coragem para usar a academia. Isaac até foi bonzinho e disse que se eu quisesse usar poderia, assim como a sala de cinema, a piscina e qualquer outro lugar da propriedade. O que mais uso é a sala de TV, acho que nunca assisti tanto filme e séries quanto fiz nessas duas semanas que passaram, porém como tudo em excesso enjoa, não aguento mais ficar frente a televisão.Confesso que quero muito sair, ir na comunidade seria o ideal. Poderia ver algumas pessoas e também meus amigos, saudades da Samantha e dos outros que vivem lá, não tanto do Chace, e um cadinho do Downie. Esse magrelo é tão fofo que não consigo ficar com raiva tanto tempo. Decido tomar um banho e quando acabo, visto uma roupa bem larguinha, short e blusão. Nada melhor do que se sentir confortável. Saio do quarto e sigo em direção ao meu objetivo, quando chego a sala em que o homem está malhando, sento em um dos aparelhos na frente dele e fico encarando.— Bom dia! — Ele quem fala e continuo
Aceno em despedida para o homem, saindo do carro e começando a caminhar feliz pelo local em que cresci. Ainda não acredito que ele topou de boa me deixar vir aqui e ainda me trazer, que avanço. Ontem ele estava de bom humor, ainda bem que perguntei ontem mesmo, pois hoje ele não acordou bem. Está bufando pelos cantos e certeza que teria dito não ao meu pedido, mas como é um homem de palavra, me trouxe e vai me buscar. Ignoro as pessoas que me olham e sigo em direção ao lar que morei nesses últimos meses. Feliz por finalmente ver meus amigos e perdoar um pouco os meninos. Provavelmente essas pessoas estão pensando que eu estou tendo algum caso com um ricaço, por isso as roupas novas e os carrões que venho. Bom, não julgo, acho que eu seria o tipo de pessoa que pensaria isso dos outros. Balanço a cabeça expulsando os pensamentos conflitantes e volto a sorrir, animada em estar de volta e sozinha. Da última vez não conta tanto, pois estava quase de madrugada e o momento era bem tenso.C
Após o sangue esfriar — pois eu literalmente tive de entrar embaixo do chuveiro gelado, obrigada pela Samantha — a dor veio mais forte e eu nem sabia que tinha como piorar. Eu aguentei bastante, como uma guerreira ferida na guerra, mas eu chorei e foi péssimo. Depois de muito gelo e uma calça agora jeans larga para esconder, me sinto preparada para encarar Isaac. Quando o carro dele para no ponto, abro um sorriso e entro, acenando para Samantha. Evito olhar pro homem, pois mesmo parando de chorar antes, meus olhos ainda estão bem caídos. Minha amiga até usou maquiagem para me ajudar, mas não tem como esconder algo tão notório.— Tudo bem? — Pergunta e abro um sorriso encarando ele.— Claro, eu só estava com muita saudade. Sabe como é, lágrimas e essas coisas. — Ele me dá uma olhada e me sinto incomodada, colocando o cabelo atrás da orelha. Seu olhar demora em mim, talvez percebendo que mudei de roupa. — Olha, aparentemente estava com saudades mesmo. — Diz apontando pro pescoço e dem