CORTE DO AR- HÁ 50 ANOS Ele encarava seu reflexo observando como suas íris destilavam ódio. Um criado ajeitava seu terno branco enquanto Troye analisava ao redor, com um ar enojado. De sua janela conseguia ver as grandes torres de pedra infestadas de soldados armados e os muros decorados de rosas vermelhas com fadas do fogo enfeitando seus portões. Sentia o cheiro do pó mágico invadindo suas narinas e ouvia as criaturas das três cortes chegando em seus portões. O vento forte sussurrava em seus ouvidos que os minutos estavam passando rápido demais e que o tempo não possuía paciência alguma diante de sua situação. Troye odiava tudo o que seus olhos capturavam. Seu castelo estava com a decoração mais feia que já tinha visto e seus criados já não eram mais os mesmos. A rosa tatuada em seu pulso estava quase aberta por completo e o impaciente tempo estava prestes a terminar. Quando a coroação chegasse, seria seu fim. O fim de sua vida. O fim de seu reinado. Ninguém gostaria de ter u
Seus passos eram desleixados pela floresta densa e esbranquiçada. A neve caia em peso grudando em sua capa comprida e quente enquanto ela vagava por entre as árvores sem folhas, afundando os pés na neve fofa e gélida. A garota sentiu alguém se aproximando, mas não se importou em verificar quem poderia ser, apenas continuou sua caminhada arrastando o vestido vermelho como sangue pelo cenário claro. Evie sentiu a presença estranha cada vez mais próxima, estava perto o bastante para que conseguisse enxergar a silhueta masculina, embora não conseguisse identificar suas feições, pois seu rosto era um borrão escuro e esganiçado. Desse modo, ela desistiu de observar o homem sem rosto e seguiu para longe, se emanharando nos confins da floresta. O sol estava se pondo junto ao sorriso genuíno que a menina possuía ao começar sua caminhada inocente. Avistou de longe algo que lhe chamou atenção. Era vermelho, da cor de seu vestido, e cintilava sobre a neve branca. A rosa vermelha brilhava int
Batom, pó, pérolas e seda estavam jogados em frente a Evie. Suas irmãs invadiram seu quarto alegando que ela precisava de ajuda para o grande baile. Evie não queria ir, mas se dissesse algo às suas irmãs, teria que contar do noivado arranjado e isso era algo que a garota estava mantendo a sete chaves. Pelo menos até pensar em um plano decente. Heloisa e Beatriz ajeitavam tudo com um grande sorriso no rosto enquanto Evie suspirava olhando da janela a neve cair. Ela estava pensando que a noite poderia passar despercebida. Não queria nem ao menos colocar um vestido grandioso como os de suas irmãs. A vontade de atazanar o Visconde no baile havia passado e agora a garota gostaria apenas de silêncio para pensar com clareza. Ela precisava ser esperta se quisesse vencer Johnny. — Vamos, Evie — Beatriz a puxou pelo braço colocando-a no centro do quarto. Bia e Heloisa a rodearam uma de cada vez enquanto Evie mordia os lábios olhando para o vestido verde simples que usava. Estava pensando e
As irmãs de Evie derraparam abruptamente no meio do caminho, tamanho era a surpresa ao ouvirem as palavras da mais nova. Os convidados tentavam de todo modo se aproximar dos anfitriões a fim de ouvir a conversa completa. Até mesmo os músicos cochichavam entre si, deslumbrados com a possível fofoca da elite. Entretanto, para Evie, aquilo não era um espetáculo qualquer, era a vida de sua família seguindo um rumo decepcionante e infeliz. O visconde sorria tão descaradamente que não seria possível esconder sua vitória. — O que está fazendo? — O duque, pela primeira vez, parecia genuinamente preocupado com a filha mais nova. Evie passou grande parte da sua vida esperando receber aquele olhar, mas naquele momento não sentia nada que não fosse revolta. Estava decepcionada e com raiva.— A escolha certa — Disse em tom amargo— Já que o senhor optou pela errada.— Não — Falou entre os dentes — Não tomei a escolha errada. Você não deveria ter se metido nesse assunto, Evie.— O que está aco
A fera sentiu alguém tocar o muro de espinhos. Em específico uma das três grandes rosas. E isso o assustou. Com um rugido feroz, correu pela floresta de sua corte, assustando as pequenas criaturas que habitavam a noite nebulosa. Troye berrou sobre o vento observando o muro — que dividia o seu mundo do mundo asqueroso dos humanos — cada vez mais próximo. Quando enfim chegou a divisa, parou abruptamente sobre o local exato em que as rosas encantadas eram protegidas. Havia uma para cada corte: Ar, Fogo e Gelo. Significavam a criação. A existencia de todas as criaturas mágicas. Elas criaram raizes juntos as plantas seculares que encobriram a barreira. Eram protegidas pelo espirito dos deuses dos três elementos do mundo mistíco. E uma delas não estava ali. Ninguém além dos guardiões poderiam tocá-las. Troye observou a rosa de sua corte e da corte de Gelo intactas. Mas a rosa de fogo havia sumido e o guardião legítimo, herdeiro do fogo, estava muito longe para necessitar de sua r
—Eu devia matá-la — Disse Troye encostado em uma árvore — Te cortar em pedacinhos. Agora, com o sol sob sua cabeça, o rei desfrutava de seu corpo humanoide novamente. O rei amaldiçoado não conseguia tirar os olhos da humana desmaiada na neve, passou a noite toda a velando e protegendo. Mesmo com o dia nascendo ela ainda permanecia adormecida. Troye não entendia o que o havia feito hesitar na noite passada, mas algo naquela menina era peculiar. Talvez seus olhos tão encantadores ou o modo como ela conseguia parecer ainda mais bonita quando dormia, quase como uma deusa. Não que Troye tivesse reparado em como ela era bonita… — Tsc!— Resmungou e apontou o dedo indicador para a garota— A senhorita é uma encrenca. Eu vou te matar agora mesmo! Ele se aproximou em um pico de coragem e se ajoelhou em frente ao corpo dela. Pegou uma faca e apontou para seu peito. Suas mãos tremeram. Percebeu a lâmina brilhar e a jogou longe da garota. Troye grunhiu se perguntando o que havia de er