Capítulo 3 Plano

(Esmen)

— Por que ele fez isso? — perguntei, enquanto ajustavam o corpete do vestido, apertando minha cintura fina.

— Sua majestade?

— Sim — encarei cada uma delas.

A maioria fingia não ouvir a conversa com a colega enquanto trabalhava.

— Dizem que foi um erro. Apenas isso.

Aquilo não poderia ser verdade, mas elas não sabiam.

"Como alguém mata outro e chama isso de erro?"

— Apenas um erro? — encarei a mulher que havia falado.

Ela baixou os olhos por alguns segundos, fingindo estar alisando o tecido do vestido. Alguém sempre sabia mais do que deixava transparecer, e rumores sempre corriam com pedaços maiores de verdade. Estavam dispostas a me manter no escuro, mesmo sabendo que jogavam "sua alteza" diretamente na boca do leão.

"Não vão me tratar bem nesse novo reino." "Antes, nem sequer me tratavam como uma delas. Agora, estou aqui para servir de moeda de troca, mas não tenho importância para ninguém. Estou apenas salvando suas cabeças."

Estava decidido. Na primeira oportunidade, eu fugiria.

Pentearam meus longos cabelos, agora sedosos e cheios do aroma de flores do banho. Arrumaram meus fios em um coque e decoraram minhas orelhas com brincos pesados de prata e pérolas brancas. Ainda não colocaram o véu. Trouxeram um espelho grande para que eu visse meu reflexo depois de me calçarem.

Eu não rejeitei nenhuma ajuda. Agora entendia por que minha mãe insistia tanto em me ensinar etiqueta e a fazer coisas como me vestir, me banhar e calçar sozinha. Sempre reclamei, dizendo que ela não era minha empregada, mas sua resposta sempre foi:

— Apenas aprenda!

Em seguida, ela pedia: — Seja obediente!

— Não serei a ninguém mais — eu retrucava.

— Então finja ser. Assim, viverá mais — aconselhava.

Ela estava me moldando para ser uma princesa, uma rainha, ou talvez as duas ao mesmo tempo.

"Por que não me disse antes?" Eu me perguntava, sozinha. Enquanto não a encontrasse, não teria minhas respostas.

"Como ela conseguiu fugir daqui?" Certamente o rei não abriria as portas para ela, a menos que a tivesse exilado.

"Por que minha mãe seria exilada? Ela teria feito algo?"

Com esses pensamentos, me preparei para encarnar a mentira. Seria dócil até que a oportunidade de fugir surgisse. Se ela não aparecesse antes da chegada do tal rei, eu a criaria.

Encarei meu reflexo. Uma mulher linda, de lábios carnudos, nariz pequeno, olhos verdes esmeralda sob sobrancelhas grossas e escuras, me olhava de volta. Parecia mesmo uma princesa.

As empregadas começaram a se retirar, e apenas duas ficaram. Ouvi passos do lado de fora do quarto. A porta foi aberta por uma delas, e então o rei entrou. Ele me avaliou.

— É digna de uma rainha — disse, com um sorriso estranho.

Eu apenas permaneci o encarando, erguendo ainda mais o queixo.

— Vejo que sua orgulhosa mãe lhe ensinou alguns traços da personalidade dela — ele conhecia bem minha mãe.

Fiz uma reverência, agarrando levemente os lados do vestido com os dedos.

"Receba meu insulto, meu rei." Para mim, suas palavras foram o maior elogio que poderia dar. Eu não queria ser comparada a ele, especialmente sabendo que era um assassino e trapaceiro.

— Mas isso não vai funcionar com o seu rei — ele se manteve na porta, com os braços atrás das costas, a expressão irritada.

Compreendi que o "rei" mencionado era o homem com quem ele havia me negociado. Havia muitas perguntas que eu queria fazer, mas sabia que ele não as responderia.

— Por que me fez vestir assim? — perguntei. Não cederia a ele.

Ele franziu o cenho por um segundo, visivelmente irritado por não estar sendo respeitado como pai ou rei. Após me analisar, ele riu.

— É a tradição dele. Um pedido da parte dele. Não faço ideia do porquê — riu novamente.

Não esbocei nenhuma reação, o que fez com que perdesse a graça. Ele estava sendo ridicularizado na frente de suas empregadas e soldados, pela própria filha.

Queria perguntar sobre seus planos para o casamento, mas ele desconfiaria de mim. Portanto, permaneci em silêncio.

— Se fosse um homem, eu não teria custado tanto para deixá-la escondida com sua mãe. Você daria um ótimo rei — suas palavras não me iludiram.

Mudando sua postura, ele apertou os olhos em minha direção. Agora, eu parecia uma estátua. Queria que todos soubessem que não ganhariam nada de mim, e com sorte, nem manteriam suas cabeças intactas, pois eu fugiria.

— A acompanhem até a sala do trono. Ele chegará em breve! — ordenou aos soldados na porta.

— Vai me manter como um objeto até a chegada dele? — disse, com um sorriso irônico.

Sem responder, o rei se retirou. As empregadas correram até mim e colocaram o véu sobre minha cabeça, cobrindo meu rosto. Quase suspirei de frustração. No fundo, não era culpa dessas pessoas, mas apenas do meu pai. Um pai que eu gostaria de não ter conhecido.

Conseguia enxergar através das rendas do véu e vi os soldados me aguardando.

"Não serei carregada como um saco de batatas novamente." Precisava estar atenta. Minha fuga tinha que ser certeira. Me obriguei a sair pela porta.

No corredor, observei tudo com cautela: as portas entreabertas, as fechadas, e o que parecia ser a saída pelos fundos. A construção era imensa, e descobrir a saída seria arriscado. Não havia tempo para explorar o terreno, logo eu seria reivindicada como mercadoria de outro reino.

Aos olhos dos soldados, eu era uma princesa perfeitamente educada e pronta para casar. Eu sabia disso ao ouvir dois deles cochichando sobre como minha aparência havia mudado após o banho e as roupas novas.

"Ridículos!" Estava enojada por tudo ao meu redor.

Caminhei alguns metros mais. Minha mente, a mil, me mostrou uma saída.

Interrompi meus passos e me virei para os soldados. Eles pararam bruscamente, visivelmente evitando encostar em mim.

— O rei de vocês é tão cruel que nem se deu ao trabalho de perguntar se eu já comi algo — disse, sarcástica.

Os dois trocaram olhares desconfiados.

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