(Tauron)
Era sinal de que Vitorian não queria sua fuga, não era uma encenação para chamar minha atenção. Então o verme também obriga outras pessoas, até mesmo a sua filha, a fazer as coisas que ele não quer. Tudo para manter sua própria cabeça em cima do pescoço. “Eu sabia sobre o medo dele com relação a mim, mas não queria que fosse um covarde tão patético.” Enojei-me. Seus olhos pousaram em mim, verdes, como as folhas das árvores, que se não fosse a neve as cobrindo desde o topo, estariam da mesma cor, tendo o mesmo brilho. Vir a ilusão passar nos seus olhos, ela acreditou que eu era a esperança chegando para salvá-la. Mas não estava trazendo brilho, eu estava trazendo as trevas para sua vida. Não importava quem ela era, apenas de quem ela era filha e o que ele tinha feito para mim. Ela não imaginou quem estava à sua frente, o desespero nublava sua mente. Eu faria Vitorian pagar através dela, e se não fosse o suficiente, iria voltar atrás dele, seria o seu carrasco pessoalmente. Ciente de que ela viria ao meu encontro por acreditar ter a esperança a sua frente, ser o que tanto desejava. Eu a deixei agarrar minhas roupas. Seus verdes esperançosos fitaram os meus azuis, quando não encontrou neles o aquecimento que esperava, pelo contrário encontrou o frio de todo o inverno que eu trazia dentro de mim, ela deixou suas mãos caírem. Não era seu pai, não mentiria. Então disse apenas a verdade, uma vantagem de tê-la em minhas mãos era não precisar olhar para a cara de Vitorian. Mas diferente dele, eu era alguém de princípios, mesmo que a pessoa em questão, não merecesse sequer estar viva. Mandaria alguém para avisar que já tinha recebido o meu presente, obrigando assim, seus soldados a voltarem de mãos vazias, e não pegar o que era meu. Queria poder ver na cara dele a encenação, se queria mesmo a filha, como ele tratava como moeda de troca por sua cabeça, se gostava dela a ponto de fazer a minha vingança valer a pena. Mas duvidava que isso aconteceria, já que ela estava fugindo, assim como ele nunca amou a mulher que o deixou, provavelmente, a mãe da princesa fugitiva. Eu sabia de parte da história. A garota desabou em meus braços, seu corpo estava gélido, seus olhos perderam o foco rapidamente, se fechando com facilidade. Suspirei com irritação. Tive que colocá-la em meus braços, carregando-a de volta para a minha tropa. Mas ela não teria esse privilégio o tempo inteiro, eu a queria ver rastejar, e não ficar nos meus braços. Quem eu teria ali já tinha ido, e seu pai foi o responsável por tirá-la de mim. “Você irá pagar por tudo que ele me fez!” Não esperei pelo inimigo. Logo encontrei com meu aliado, o mandando de encontro com o pai daquela que carregava. Vitorian teria apenas o breve recado como compensação. “Recebi o presente. Agradeço por torná-lo mais fácil.” Não eram palavras verdadeiras aquelas que mandava por meu subordinado, era apenas o indicativo de calmaria por um tempo. Quando cheguei na carruagem, a coloquei dentro, a frente de onde ficaria sentado. Ela não se moveu, o corpo ainda fraco. Chateado tive de cobri-la com minha capa, apenas para não ficar doente, caso contrário, teria mais trabalho com ela. Cuidar dela não era meu objetivo. Mas se ela morresse tão cedo seria um desperdício. Não era sua morte o meu desejo, eu a queria sofrendo dia e noite ao meu lado, pelo resto da vida, apenas para compensar a falta de alguém que deveria está ao meu lado agora. Eu tinha certeza de que ela seria um peso morto, porém, estava disposto a permanecer com a mesma, fazendo da sua vida cada dia mais infeliz. (Esmen) O barulho de xícaras tocava os meus ouvidos. Parecia que uma bandeja cheia delas estava sobre a minha cabeça. Pelo menos o aroma era extremamente bom. Consegui identificar o barulho de uma colher pousando sobre um pires antes de abrir meus olhos, sentindo a temperatura diferente. Diante de mim se revelou um cômodo majestoso, carregado de peças de alta qualidade, assim como os móveis. Tudo estava em vermelho, cortinas grandes na frente da majestosa janela. Um tecido quentinho da mesma cor sobre o meu corpo. Uma cama macia abaixo de mim. Castiçais em cada canto do quarto, além de uma cruzeta deitada sobre minha cabeça, ficando suspensa por cordas, com quatro velas nele. Parecia ser noite. Então minha atenção foi atraída por uma mulher próximo à cama, ela me estendia uma xícara sobre um pires. — Ainda bem que acordou, Alteza. Trouxe-lhe um chá para aquecer um pouco mais. Não conheci o ambiente, muito menos a mulher, suas roupas eram diferentes daquelas do reino do meu pai. Eram roupas mais confortáveis e mais bonitas. Ela vestia traje azul, longo, de mangas compridas, tecido de algodão. Os sapatos baixos nos pés pareciam veludo, além de uma touca baixa sobre os cabelos; cobrindo apenas metade dos cabelos e as pontas, deixando a raiz à mostra. Ela tinha os cabelos claros, devia ter por volta de vinte anos, um pouco mais velha que eu. Pousei meus olhos na xícara vazia com desconfiança. “Eles seriam capazes de me envenenar tão prontamente?”(Esmen)“Não. Ele não quer minha morte. Certamente quer vingança pela mulher que amava.”Arrumei minha postura, sentando-me com certo cuidado, pois não sabia como estava minha condição física, se ainda sentiria exaustão ou fraqueza. Utilizei a cabeceira da cama como apoio e recebi a xícara. Ela pegou o bule e derramou um pouco do chá que havia dentro dele, apenas o suficiente. Curvando-se levemente, retrocedeu dois passos.— Se desejar um pouco mais, avise-me.Desconfiada, bebi um pouco do chá, com a intenção de me aquecer, mesmo que já sentisse uma boa temperatura. Aqueles panos e aquela cama eram superquentes; sequer parecia que eu havia andado na floresta durante uma nevasca. Recordando-me disso, tomei mais um gole, com o intuito de fazer perguntas àquela mulher. Para tal, precisava ser receptiva ao que ela trouxera, pois provavelmente fora feito por ela mesma.Depositando a xícara de volta no pequeno prato, levantei os olhos e a encontrei interessada em minha imagem. Perguntei:—
(Esmen)Teria de me recompor, já que não poderia fugir por ser tudo diferente. Era outro território, eu não conhecia nada nem ninguém, não poderia pedir ajuda e provavelmente não era nada aos olhos das pessoas e nem seria; não teria súditos, seria apenas o objeto do Rei.“As pessoas guardavam rancor de mim assim como seu soberano?”As duas opções ainda estavam rodando a minha mente, acostumar-me à nova vida e ser uma serva fiel dele ou desafiar e sofrer todas as consequências que já sofreria apenas por culpa do passado, por meu genitor.Eu tinha um palpite de qual iria escolher, mas primeiro queria conhecer o rei.Então segui em direção à porta, tentei puxá-la, e para minha surpresa estava aberta, quase tropecei. Seria apenas um teste, mas havia dado certo.“Isso é bom demais para ser verdade.” Coloquei a cabeça para fora, uma parede de pedra do corredor estava a poucos metros.“Ninguém?” Tirei meus dedos da maçaneta, dando três passos largos para fora.Pulei no lugar:“Minha nossa!”
(Esmen)— O rei não se importava com a condição dela? — perguntei, tentando soar um pouco esnobe com relação à classe social.— Não! Ele era um homem apaixonado. Perdão por dizer isso!“Apaixonado? Ele a amava.”— Não se preocupe. — forcei um sorriso em sua direção, me pondo de pé.— Mas eu acredito que ele será muito mais feliz com a alteza.— Quê? — as palavras dela me fizeram arrepiar, mas não de um jeito bom.“Feliz? Comigo? Por quê? Como?”— O rei precisa de alguém de linhagem forte para que ninguém conteste suas decisões na hora da guerra.“Guerra. Aqui se fala disso. No reino anterior se falava de tomar território. Saquear.”“Como se eles fossem inocentes. Meu pai não era, ninguém é.”— Não acredito que isso afetará em algo positivo. — alisei meus braços por cima da roupa, fazendo o arrepio me abandonar.— O soberano precisa da alteza.— Não precisa. — murmurei.— Ah! Mas eu digo, alteza. O rei precisava nos dar uma rainha digna.“O povo pensou em me considerar?” Fui pega de su
(Esmen)“Escrava?” Eu não estava acreditando.— Você não pode… — minha voz saiu hesitante.— Ah! Eu posso! Eu serei o covarde que você me pintou. Espero que fique feliz com isso.Aquela promessa me fez estremecer inconscientemente. Eu realmente estava com medo de tudo que me esperava agora.Quando acreditei que ele me deixaria e se afastaria, o senti tirando os meus brincos de pérolas.— Eu disse que adornos não fariam mais parte da sua vida. — realmente havia sido uma das primeiras coisas que saíram de sua boca assim que o vi entrar naquele cômodo.Eu estava em choque. Então ele se afastou, colocando os brincos dentro dos bolsos, me deixando sozinha dentro do quarto.Meu peito doeu e minha cabeça parecia que ia explodir; talvez estivesse segurando a respiração, mas não tinha percebido.“Escrava…” Eu ainda não acreditava como poderia ter chegado a esse ponto.De sequestrada a uma princesa, de uma princesa à escrava. E que tipo de escrava seria?De repente, meus olhos saltaram das órbi
(Esmen)Mas eu sabia que tinha que reagir da melhor forma. Mesmo que tivesse que aceitar tudo que estava acontecendo em mim, não podia deixar ninguém ver minhas lágrimas, não podia deixar farejarem o meu medo. Depositando a xícara no pires, mordisquei mais um pedaço de bolo. Então, me afastei para que Ernest pudesse removê-la da mesa.— Posso ir, Alteza?— Sim.Segui em direção ao que parecia ser uma divisória; imaginava que ali estava uma banheira com água para o banho.— Deseja que eu peça para alguém preparar o seu banho? — Ernest se prontificou.Neguei de imediato, levantando a mão levemente.— Não é necessário, eu faço isso!Ernest saiu hesitante.— Alteza! — Ele fez uma pequena reverência antes de passar pela porta.Ficando novamente sozinha no quarto, encontrei a grande banheira de madeira, que comportava duas pessoas adultas dentro dela. Havia um sistema curioso de água, que eu não consegui identificar como era feito.Sem me preocupar com aquilo, observei a banheira encher, ci
(Esmen)Parecia estar fazendo isso há um tempo. Mostrando ter percebido tudo que havia acontecido, insinuava que houvera algum tipo de interação irreal entre mim e o ferreiro. Ele desviou brevemente o olhar entre mim e o homem, que permanecia inocente de sua atenção.“Oh! Não!” Eu realmente me colocara em uma situação difícil.Um arrepio percorreu meu corpo, fazendo-me recuar um pouco, imperceptivelmente tirando as mãos da mureta e voltando para o quarto, como um gato assustado.Quase não percebi, mas não havia tirado os olhos do rei, e agora a janela que o revelava para mim estava vazia. As cortinas balançavam com o vento frio que entrava por elas, destacando a sua ausência.“Parece que todos estão acostumados com o frio extremo.” Eu não sabia se esta parte do mundo era daquelas em que o clima era sempre o mesmo.Achava difícil me adaptar ao frio constante, que fazia meus ossos tremerem.Meu pensamento não foi tão rápido quanto eu esperava. Onde estava agora aquela mulher desconfiada
(Esmen)Me virei lentamente. Parte de mim estava assustada com o som de sua voz; outra parte ficou retraída ao encontrá-lo a menos de um metro de mim.Meu quadril chegou a tocar a mureta por causa da distância entre nós. Não seria menos perigoso cair de uma altura de quase quatro metros? Eu começava a pensar que a frieza presente no seu olhar era ainda mais mortal.Ele fez um movimento com as mãos, chamando minha atenção. Colocou-as atrás das costas e me encarou mortalmente.— Era por isso que desejava sair do quarto?— Do que está falando? — indaguei, sem certeza se ele insinuava minha imagem sendo exibida aos seus homens daquela janela ou minha atenção em ser livre.O som de um sorriso anasalado me chamou a atenção, destacando suas expressões faciais muito bonitas.— Quer mesmo se fazer de inocente?— Depende de qual inocência estamos falando. — Enfrentei-o."Este homem vive atacado?"Seu olhar saltou para os lados e abaixo de nós, mirando, por míseros segundos, parte da sua conquis
(Esmen)— Então deixe de ser cego! Não irá ganhar nada com isso. Nem satisfação terá! — assegurei entre dentes. No fundo, eu gritava, o insultava.— Terei. Nem que seja uma pequena parte. Eu terei! — ele era teimoso como uma mula velha.Irritada, me sacudi em suas mãos, tentando me desvencilhar do seu aperto dolorido.— Solte-me! — exigi, estava irritada demais para medir palavras.— Quem pensa que é para falar assim? — ele começou a me empurrar pelos braços para trás.— Eu não sou ninguém, e por isso, não me preocupo com alguém como você. — tentei não tropeçar; não eram meus pés nos levando a movimentar, era a força dele.— Isso, ninguém. Mas uma ninguém na minha posse. Você será o que eu quiser que seja!Senti minhas pernas baterem em algo que me derrubou, as mãos dele me deixaram imediatamente. Ele permaneceu de pé. Eu estava deitada na cama, me sentindo ridícula a cada segundo que passava.— Não serei! — assegurei com raiva.O corpo dele se inclinou na minha direção, me assustando