(Esmen)“Escrava?” Eu não estava acreditando.— Você não pode… — minha voz saiu hesitante.— Ah! Eu posso! Eu serei o covarde que você me pintou. Espero que fique feliz com isso.Aquela promessa me fez estremecer inconscientemente. Eu realmente estava com medo de tudo que me esperava agora.Quando acreditei que ele me deixaria e se afastaria, o senti tirando os meus brincos de pérolas.— Eu disse que adornos não fariam mais parte da sua vida. — realmente havia sido uma das primeiras coisas que saíram de sua boca assim que o vi entrar naquele cômodo.Eu estava em choque. Então ele se afastou, colocando os brincos dentro dos bolsos, me deixando sozinha dentro do quarto.Meu peito doeu e minha cabeça parecia que ia explodir; talvez estivesse segurando a respiração, mas não tinha percebido.“Escrava…” Eu ainda não acreditava como poderia ter chegado a esse ponto.De sequestrada a uma princesa, de uma princesa à escrava. E que tipo de escrava seria?De repente, meus olhos saltaram das órbi
(Esmen)Mas eu sabia que tinha que reagir da melhor forma. Mesmo que tivesse que aceitar tudo que estava acontecendo em mim, não podia deixar ninguém ver minhas lágrimas, não podia deixar farejarem o meu medo. Depositando a xícara no pires, mordisquei mais um pedaço de bolo. Então, me afastei para que Ernest pudesse removê-la da mesa.— Posso ir, Alteza?— Sim.Segui em direção ao que parecia ser uma divisória; imaginava que ali estava uma banheira com água para o banho.— Deseja que eu peça para alguém preparar o seu banho? — Ernest se prontificou.Neguei de imediato, levantando a mão levemente.— Não é necessário, eu faço isso!Ernest saiu hesitante.— Alteza! — Ele fez uma pequena reverência antes de passar pela porta.Ficando novamente sozinha no quarto, encontrei a grande banheira de madeira, que comportava duas pessoas adultas dentro dela. Havia um sistema curioso de água, que eu não consegui identificar como era feito.Sem me preocupar com aquilo, observei a banheira encher, ci
(Esmen)Parecia estar fazendo isso há um tempo. Mostrando ter percebido tudo que havia acontecido, insinuava que houvera algum tipo de interação irreal entre mim e o ferreiro. Ele desviou brevemente o olhar entre mim e o homem, que permanecia inocente de sua atenção.“Oh! Não!” Eu realmente me colocara em uma situação difícil.Um arrepio percorreu meu corpo, fazendo-me recuar um pouco, imperceptivelmente tirando as mãos da mureta e voltando para o quarto, como um gato assustado.Quase não percebi, mas não havia tirado os olhos do rei, e agora a janela que o revelava para mim estava vazia. As cortinas balançavam com o vento frio que entrava por elas, destacando a sua ausência.“Parece que todos estão acostumados com o frio extremo.” Eu não sabia se esta parte do mundo era daquelas em que o clima era sempre o mesmo.Achava difícil me adaptar ao frio constante, que fazia meus ossos tremerem.Meu pensamento não foi tão rápido quanto eu esperava. Onde estava agora aquela mulher desconfiada
(Esmen) O frio intenso parecia querer despedaçar o teto velho, feito de telhas de barro sobre nossas cabeças, pois vinha acompanhado de um vento forte, capaz de arrepiar qualquer corpo mal vestido. Busquei minha mãe pela pequena casa e a encontrei perto do fogão a lenha, onde havia uma panela completamente cheia de sopa, em sua última fase, quase pronta para ser servida. Seu corpo magro, como o meu, envolto em roupas surradas e finas, era aquecido pelo calor do fogo, ao qual ela se mantinha próxima, mexendo na sopa. O único casaco de pele quentinho que possuíamos estava sobre meus ombros. Eu o daria a ela quando se sentasse à pequena mesa junto comigo. Por ora, me aferrava a ele como se fosse a salvação da minha vida. Com o capuz cobrindo meus cabelos castanhos escuros, ainda sentia minhas bochechas queimando. O frio intenso passava pelas fissuras na madeira desgastada da porta estreita, soprando diretamente no meu rosto. Deixei apenas os olhos verdes, como esmeraldas, de fora, ob
(Esmen) Não recuei. Havia mais soldados de todos os lados, e eu ainda tinha esperança de que ele estivesse errado sobre a paternidade. Quando se aproximou o suficiente, ele me dirigiu a palavra: — Você é minha filha. Abri a boca para contestar, mas soube pelo seu olhar reprovador que não era tudo o que ele tinha a dizer. — E será preparada para casar com o rei Tauron, hoje à noite. Meus olhos saltaram. Agora não havia permissão ou tradição alguma que me fizesse ficar calada. — Como? — Você, Esmen, será a mulher do rei Tauron. — Ele não parou de me fitar. Parecia estar vendo minha mãe em mim; seu olhar pesava como uma tonelada, trazendo algo como frustração e satisfação ao mesmo tempo. Provavelmente por me vender como mercadoria para alguém. — Eu não... — me interrompeu com um erguer de mão, que chegou perto demais do meu rosto frio. Diferente de mim, que tinha roupas surradas e finas, como um vestido longo verde desbotado, sapatos gastos e apenas os cabelos alinhad
(Esmen) — Por que ele fez isso? — perguntei, enquanto ajustavam o corpete do vestido, apertando minha cintura fina. — Sua majestade? — Sim — encarei cada uma delas. A maioria fingia não ouvir a conversa com a colega enquanto trabalhava. — Dizem que foi um erro. Apenas isso. Aquilo não poderia ser verdade, mas elas não sabiam. "Como alguém mata outro e chama isso de erro?" — Apenas um erro? — encarei a mulher que havia falado. Ela baixou os olhos por alguns segundos, fingindo estar alisando o tecido do vestido. Alguém sempre sabia mais do que deixava transparecer, e rumores sempre corriam com pedaços maiores de verdade. Estavam dispostas a me manter no escuro, mesmo sabendo que jogavam "sua alteza" diretamente na boca do leão. "Não vão me tratar bem nesse novo reino." "Antes, nem sequer me tratavam como uma delas. Agora, estou aqui para servir de moeda de troca, mas não tenho importância para ninguém. Estou apenas salvando suas cabeças." Estava decidido. Na primei
(Esmen)Repousando a mão sobre minha barriga, fiz cara de desconforto. Não havia comido nada mesmo.— Não comi nada hoje. — Fiz cara triste.— Minha barriga dói por falta de um desjejum. Como posso ser apresentada para o rei Tauron tão fraca? E se não aguentar a viagem?Nesse momento, um deles, depois de novamente trocar olhares, me perguntou se queria algo em especial.— Apenas me mostrem a cozinha. — A desconfiança não os deixou.— Serei rápida. Não quero passar vergonha diante do rei vizinho. — Fiz minha melhor cara de timidez, ciente de não ter o rosto completamente visto por causa do véu de rendas floradas.— Vamos mostrar... — Fiz uma jogada de mão descartando a possibilidade.— Não precisa, apenas me mostrem o caminho.— Não podemos. A vossa alteza irá fugir. — Disse um deles.— Eu irei comer. Como posso fugir de barriga vazia? — Encarei ambos.Um franziu o cenho, e, trocando olhares novamente, me apontaram a direção:— É por ali. — Lancei uma cara de satisfação na direção dele
(Esmen) Por sorte não cheguei a mais que balançar para frente. Equilibrando-me capturei novamente os lados do traje, me obriguei a ser mais resistente. — Volte princesa! “Loucos!” Corria como nunca, a neve me atrapalhava mais do que poderia ter pensado, o vestido longo estava completamente frio, me impedindo de ser mais rápida. O peso de todo aquele tecido atrapalhava muito a persistência que queria adquirir. O véu ainda estava sobre os meus fios negros. O ar saía como fumaça por entre meus lábios, a cada respiração. Podia ouvir os cavalos relincharem sob os gritos dos soldados a perseguir-me. Mas eu não desistiria, eu iria até onde não conseguisse mais correr. Já tinha corrido por horas, de repente tropecei novamente, desta vez, caindo de cara na neve. Tentei me levantar, mas as pernas e braços não obedeciam, apenas pude virar meu rosto. Estava queimando. Minha face queimava em contato com a neve, a renda do véu parecia fundir-se com a minha pele. “Não posso morrer a