(Esmen)
Por sorte não cheguei a mais que balançar para frente. Equilibrando-me capturei novamente os lados do traje, me obriguei a ser mais resistente. — Volte princesa! “Loucos!” Corria como nunca, a neve me atrapalhava mais do que poderia ter pensado, o vestido longo estava completamente frio, me impedindo de ser mais rápida. O peso de todo aquele tecido atrapalhava muito a persistência que queria adquirir. O véu ainda estava sobre os meus fios negros. O ar saía como fumaça por entre meus lábios, a cada respiração. Podia ouvir os cavalos relincharem sob os gritos dos soldados a perseguir-me. Mas eu não desistiria, eu iria até onde não conseguisse mais correr. Já tinha corrido por horas, de repente tropecei novamente, desta vez, caindo de cara na neve. Tentei me levantar, mas as pernas e braços não obedeciam, apenas pude virar meu rosto. Estava queimando. Minha face queimava em contato com a neve, a renda do véu parecia fundir-se com a minha pele. “Não posso morrer assim.” Forcei minha mente a ajudar o corpo. “Você não está tão cansada assim. Eu sou mais forte do que penso.” Com muita convicção, consegui me erguer de mal jeito, tudo tremia, era cansaço e falta de calor. Percebi ao longe o sol baixando por trás das árvores. “O sol está quase se pondo.” O rei estava chegando, o sentimento antes escondido me abraçava junto ao frio. O receio do desconhecido. Eu precisava de ajuda, não conseguiria sozinha, estava desamparada. Desviando a atenção de onde a tinha posto, respirei fundo encarando meu corpo, tentei mentir para mim, dizendo que os soldados gritando mais perto não me encontrariam. Levantando o olhar, à frente avistei um homem todo de negro. “Os soldados não se vestem assim…” seria minha salvação? Seus cabelos um pouco abaixo das orelhas eram negros, lisos, seus olhos pareciam brancos, seus lábios muito rosados por causa do frio, sua face meio corada. Ele não carregava sequer um capuz. Não vestia luz, mas era minha oportunidade, minha luz. Sem pensar muito, me joguei em sua direção. Poucos passos dados, sem avaliar de verdade suas expressões… Eu não tinha tempo. — Por favor! Me ajuda! Ele me encarou, por um momento vi curiosidade e desconfiança. O alcancei, era normal reagir daquela forma se ele fosse alguém de fora da situação. “Ele não está me perseguindo. Posso confiar.” Ele pareceu estar indiferente por me analisar de cima a baixo. “Ele não sabe que sou uma princesa fujona.” Me agarrando com força a suas roupas, eu supliquei ajuda. — Me tire daqui! — me sentia fraca, prestes a desmoronar. Os lábios dele se separaram quase imperceptíveis, mas pude ouvir claramente o som grave de sua voz. — Eu farei… Estranhei de imediato sua resposta. “Como pode estar disposto a ajudar-me tão rapidamente?” Ele segurou em meus ombros, me fazendo ficar em alerta, minhas mãos caíram de sua roupa. “Ele não vai me ajudar, vai?” A esperança sumiu do meu ser, as pupilas dele retraíram, ficando semelhantes a um ponto escuro no mar de gelo de suas íris. — Quem é você? Meu mundo girou, as pernas desabaram, o homem notou, deixou meus ombros para segurar nos meus braços, me firmando. Tudo escureceu, mas ouvi sua resposta à minha pergunta com clareza: — Sou eu quem veio buscá-la. “O quê? O rei Tauron?” Senti cair em algo duro e quente. O breu me envolveu até a mente. (Tauron) Minutos antes… Ciente da desonestidade do infame Vitorian, decidi partir para seu território mais cedo, pois ele não poderia ter um lugar considerado reino para mim. Havia saído ao raiar do dia. A neve cobria todo o caminho à distância, apenas o vento soava nos meus ouvidos como barulho de moscas me rondando. Não tinha pressa, pois havia chegado cedo, queria ver a surpresa no rosto de Vitorian quando eu chegasse e não encontrasse a noiva que ele me prometeu, pois nunca tinha ouvido falar dela, uma filha que ele dizia ter. Quando me aproximei, deixei a minha tropa para trás, a uma certa distância do reino dele. Não queria avisar sobre minha chegada e dar-lhe chance de se preparar. Dispensava suas bajulações e egoísmo. Por mais que eu não tivesse as mãos limpas, era para o benefício do meu reino, para a segurança do meu povo, mas ele, ele sempre seria um assassino aos meus olhos. E eu era um rei. Usando a rota da floresta, sozinho caminhei por entre as árvores. Um homem de confiança me acompanhava a metros de distância. Minha ordem era que não queria vê-lo no meu encalço até segunda ordem. Acreditei que chegaria ao castelo em silêncio, mas para minha surpresa, quanto mais me aproximava, mais ouvia gritos de soldados e relinchos de cavalos. Pelo tamanho do movimento, algo acontecia. Menos surpreso fiquei quando avistei uma mulher correndo. Ela se fundia à neve, mas não à floresta. Parecia desamparada, desesperada. “Quem, em sã consciência, correria em meio à torrente de neve?” Mas ela o fazia, o que me deixou impressionado de imediato, até perceber seu vestido de noiva. Vestido esse que eu perderia como prova da verdade ao rei Vitorian, o indicativo de que ele realmente tinha uma filha. “Pelo visto, é real, ele tem uma filha.” Ela tropeçou em algo invisível. Quase a socorri, apenas um reflexo de segurança, mas imediatamente recordei quem tinha à minha frente. Imaginei que, por sua imagem aparente, por ser princesa, provavelmente alguém fingida a ser frágil, ela não se levantaria do chão, permaneceria na neve. Dei alguns passos para o lado, saindo de trás da árvore em que me encontrava. Então ela se levantou, mesmo tremendo, fraquejando. Talvez não fosse o frio, talvez fosse o cansaço, a exaustão. A distância de onde se encontrava até o castelo era considerável, apesar da neve atrapalhar o trajeto. Seus olhos se voltaram para o horizonte, procurando o pôr do sol. Compreendi de imediato: ela estava ciente da minha chegada. Ela estava fugindo de mim.(Tauron)Era sinal de que Vitorian não queria sua fuga, não era uma encenação para chamar minha atenção.Então o verme também obriga outras pessoas, até mesmo a sua filha, a fazer as coisas que ele não quer. Tudo para manter sua própria cabeça em cima do pescoço.“Eu sabia sobre o medo dele com relação a mim, mas não queria que fosse um covarde tão patético.” Enojei-me.Seus olhos pousaram em mim, verdes, como as folhas das árvores, que se não fosse a neve as cobrindo desde o topo, estariam da mesma cor, tendo o mesmo brilho.Vir a ilusão passar nos seus olhos, ela acreditou que eu era a esperança chegando para salvá-la. Mas não estava trazendo brilho, eu estava trazendo as trevas para sua vida. Não importava quem ela era, apenas de quem ela era filha e o que ele tinha feito para mim.Ela não imaginou quem estava à sua frente, o desespero nublava sua mente.Eu faria Vitorian pagar através dela, e se não fosse o suficiente, iria voltar atrás dele, seria o seu carrasco pessoalmente.Ci
(Esmen)“Não. Ele não quer minha morte. Certamente quer vingança pela mulher que amava.”Arrumei minha postura, sentando-me com certo cuidado, pois não sabia como estava minha condição física, se ainda sentiria exaustão ou fraqueza. Utilizei a cabeceira da cama como apoio e recebi a xícara. Ela pegou o bule e derramou um pouco do chá que havia dentro dele, apenas o suficiente. Curvando-se levemente, retrocedeu dois passos.— Se desejar um pouco mais, avise-me.Desconfiada, bebi um pouco do chá, com a intenção de me aquecer, mesmo que já sentisse uma boa temperatura. Aqueles panos e aquela cama eram superquentes; sequer parecia que eu havia andado na floresta durante uma nevasca. Recordando-me disso, tomei mais um gole, com o intuito de fazer perguntas àquela mulher. Para tal, precisava ser receptiva ao que ela trouxera, pois provavelmente fora feito por ela mesma.Depositando a xícara de volta no pequeno prato, levantei os olhos e a encontrei interessada em minha imagem. Perguntei:—
(Esmen)Teria de me recompor, já que não poderia fugir por ser tudo diferente. Era outro território, eu não conhecia nada nem ninguém, não poderia pedir ajuda e provavelmente não era nada aos olhos das pessoas e nem seria; não teria súditos, seria apenas o objeto do Rei.“As pessoas guardavam rancor de mim assim como seu soberano?”As duas opções ainda estavam rodando a minha mente, acostumar-me à nova vida e ser uma serva fiel dele ou desafiar e sofrer todas as consequências que já sofreria apenas por culpa do passado, por meu genitor.Eu tinha um palpite de qual iria escolher, mas primeiro queria conhecer o rei.Então segui em direção à porta, tentei puxá-la, e para minha surpresa estava aberta, quase tropecei. Seria apenas um teste, mas havia dado certo.“Isso é bom demais para ser verdade.” Coloquei a cabeça para fora, uma parede de pedra do corredor estava a poucos metros.“Ninguém?” Tirei meus dedos da maçaneta, dando três passos largos para fora.Pulei no lugar:“Minha nossa!”
(Esmen)— O rei não se importava com a condição dela? — perguntei, tentando soar um pouco esnobe com relação à classe social.— Não! Ele era um homem apaixonado. Perdão por dizer isso!“Apaixonado? Ele a amava.”— Não se preocupe. — forcei um sorriso em sua direção, me pondo de pé.— Mas eu acredito que ele será muito mais feliz com a alteza.— Quê? — as palavras dela me fizeram arrepiar, mas não de um jeito bom.“Feliz? Comigo? Por quê? Como?”— O rei precisa de alguém de linhagem forte para que ninguém conteste suas decisões na hora da guerra.“Guerra. Aqui se fala disso. No reino anterior se falava de tomar território. Saquear.”“Como se eles fossem inocentes. Meu pai não era, ninguém é.”— Não acredito que isso afetará em algo positivo. — alisei meus braços por cima da roupa, fazendo o arrepio me abandonar.— O soberano precisa da alteza.— Não precisa. — murmurei.— Ah! Mas eu digo, alteza. O rei precisava nos dar uma rainha digna.“O povo pensou em me considerar?” Fui pega de su
(Esmen)“Escrava?” Eu não estava acreditando.— Você não pode… — minha voz saiu hesitante.— Ah! Eu posso! Eu serei o covarde que você me pintou. Espero que fique feliz com isso.Aquela promessa me fez estremecer inconscientemente. Eu realmente estava com medo de tudo que me esperava agora.Quando acreditei que ele me deixaria e se afastaria, o senti tirando os meus brincos de pérolas.— Eu disse que adornos não fariam mais parte da sua vida. — realmente havia sido uma das primeiras coisas que saíram de sua boca assim que o vi entrar naquele cômodo.Eu estava em choque. Então ele se afastou, colocando os brincos dentro dos bolsos, me deixando sozinha dentro do quarto.Meu peito doeu e minha cabeça parecia que ia explodir; talvez estivesse segurando a respiração, mas não tinha percebido.“Escrava…” Eu ainda não acreditava como poderia ter chegado a esse ponto.De sequestrada a uma princesa, de uma princesa à escrava. E que tipo de escrava seria?De repente, meus olhos saltaram das órbi
(Esmen)Mas eu sabia que tinha que reagir da melhor forma. Mesmo que tivesse que aceitar tudo que estava acontecendo em mim, não podia deixar ninguém ver minhas lágrimas, não podia deixar farejarem o meu medo. Depositando a xícara no pires, mordisquei mais um pedaço de bolo. Então, me afastei para que Ernest pudesse removê-la da mesa.— Posso ir, Alteza?— Sim.Segui em direção ao que parecia ser uma divisória; imaginava que ali estava uma banheira com água para o banho.— Deseja que eu peça para alguém preparar o seu banho? — Ernest se prontificou.Neguei de imediato, levantando a mão levemente.— Não é necessário, eu faço isso!Ernest saiu hesitante.— Alteza! — Ele fez uma pequena reverência antes de passar pela porta.Ficando novamente sozinha no quarto, encontrei a grande banheira de madeira, que comportava duas pessoas adultas dentro dela. Havia um sistema curioso de água, que eu não consegui identificar como era feito.Sem me preocupar com aquilo, observei a banheira encher, ci
(Esmen)Parecia estar fazendo isso há um tempo. Mostrando ter percebido tudo que havia acontecido, insinuava que houvera algum tipo de interação irreal entre mim e o ferreiro. Ele desviou brevemente o olhar entre mim e o homem, que permanecia inocente de sua atenção.“Oh! Não!” Eu realmente me colocara em uma situação difícil.Um arrepio percorreu meu corpo, fazendo-me recuar um pouco, imperceptivelmente tirando as mãos da mureta e voltando para o quarto, como um gato assustado.Quase não percebi, mas não havia tirado os olhos do rei, e agora a janela que o revelava para mim estava vazia. As cortinas balançavam com o vento frio que entrava por elas, destacando a sua ausência.“Parece que todos estão acostumados com o frio extremo.” Eu não sabia se esta parte do mundo era daquelas em que o clima era sempre o mesmo.Achava difícil me adaptar ao frio constante, que fazia meus ossos tremerem.Meu pensamento não foi tão rápido quanto eu esperava. Onde estava agora aquela mulher desconfiada
(Esmen) O frio intenso parecia querer despedaçar o teto velho, feito de telhas de barro sobre nossas cabeças, pois vinha acompanhado de um vento forte, capaz de arrepiar qualquer corpo mal vestido. Busquei minha mãe pela pequena casa e a encontrei perto do fogão a lenha, onde havia uma panela completamente cheia de sopa, em sua última fase, quase pronta para ser servida. Seu corpo magro, como o meu, envolto em roupas surradas e finas, era aquecido pelo calor do fogo, ao qual ela se mantinha próxima, mexendo na sopa. O único casaco de pele quentinho que possuíamos estava sobre meus ombros. Eu o daria a ela quando se sentasse à pequena mesa junto comigo. Por ora, me aferrava a ele como se fosse a salvação da minha vida. Com o capuz cobrindo meus cabelos castanhos escuros, ainda sentia minhas bochechas queimando. O frio intenso passava pelas fissuras na madeira desgastada da porta estreita, soprando diretamente no meu rosto. Deixei apenas os olhos verdes, como esmeraldas, de fora, ob