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Capítulo 5 O desconhecido.

(Esmen)

Por sorte não cheguei a mais que balançar para frente.

Equilibrando-me capturei novamente os lados do traje, me obriguei a ser mais resistente.

— Volte princesa!

“Loucos!”

Corria como nunca, a neve me atrapalhava mais do que poderia ter pensado, o vestido longo estava completamente frio, me impedindo de ser mais rápida.

O peso de todo aquele tecido atrapalhava muito a persistência que queria adquirir. O véu ainda estava sobre os meus fios negros. O ar saía como fumaça por entre meus lábios, a cada respiração.

Podia ouvir os cavalos relincharem sob os gritos dos soldados a perseguir-me. Mas eu não desistiria, eu iria até onde não conseguisse mais correr.

Já tinha corrido por horas, de repente tropecei novamente, desta vez, caindo de cara na neve. Tentei me levantar, mas as pernas e braços não obedeciam, apenas pude virar meu rosto. Estava queimando. Minha face queimava em contato com a neve, a renda do véu parecia fundir-se com a minha pele.

“Não posso morrer assim.” Forcei minha mente a ajudar o corpo.

“Você não está tão cansada assim. Eu sou mais forte do que penso.”

Com muita convicção, consegui me erguer de mal jeito, tudo tremia, era cansaço e falta de calor.

Percebi ao longe o sol baixando por trás das árvores.

“O sol está quase se pondo.”

O rei estava chegando, o sentimento antes escondido me abraçava junto ao frio. O receio do desconhecido. Eu precisava de ajuda, não conseguiria sozinha, estava desamparada.

Desviando a atenção de onde a tinha posto, respirei fundo encarando meu corpo, tentei mentir para mim, dizendo que os soldados gritando mais perto não me encontrariam.

Levantando o olhar, à frente avistei um homem todo de negro.

“Os soldados não se vestem assim…” seria minha salvação?

Seus cabelos um pouco abaixo das orelhas eram negros, lisos, seus olhos pareciam brancos, seus lábios muito rosados por causa do frio, sua face meio corada. Ele não carregava sequer um capuz.

Não vestia luz, mas era minha oportunidade, minha luz.

Sem pensar muito, me joguei em sua direção. Poucos passos dados, sem avaliar de verdade suas expressões… Eu não tinha tempo.

— Por favor! Me ajuda!

Ele me encarou, por um momento vi curiosidade e desconfiança. O alcancei, era normal reagir daquela forma se ele fosse alguém de fora da situação.

“Ele não está me perseguindo. Posso confiar.”

Ele pareceu estar indiferente por me analisar de cima a baixo.

“Ele não sabe que sou uma princesa fujona.”

Me agarrando com força a suas roupas, eu supliquei ajuda.

— Me tire daqui! — me sentia fraca, prestes a desmoronar.

Os lábios dele se separaram quase imperceptíveis, mas pude ouvir claramente o som grave de sua voz.

— Eu farei…

Estranhei de imediato sua resposta.

“Como pode estar disposto a ajudar-me tão rapidamente?”

Ele segurou em meus ombros, me fazendo ficar em alerta, minhas mãos caíram de sua roupa.

“Ele não vai me ajudar, vai?” A esperança sumiu do meu ser, as pupilas dele retraíram, ficando semelhantes a um ponto escuro no mar de gelo de suas íris.

— Quem é você?

Meu mundo girou, as pernas desabaram, o homem notou, deixou meus ombros para segurar nos meus braços, me firmando.

Tudo escureceu, mas ouvi sua resposta à minha pergunta com clareza:

— Sou eu quem veio buscá-la.

“O quê? O rei Tauron?” Senti cair em algo duro e quente. O breu me envolveu até a mente.

(Tauron)

Minutos antes…

Ciente da desonestidade do infame Vitorian, decidi partir para seu território mais cedo, pois ele não poderia ter um lugar considerado reino para mim.

Havia saído ao raiar do dia. A neve cobria todo o caminho à distância, apenas o vento soava nos meus ouvidos como barulho de moscas me rondando.

Não tinha pressa, pois havia chegado cedo, queria ver a surpresa no rosto de Vitorian quando eu chegasse e não encontrasse a noiva que ele me prometeu, pois nunca tinha ouvido falar dela, uma filha que ele dizia ter.

Quando me aproximei, deixei a minha tropa para trás, a uma certa distância do reino dele. Não queria avisar sobre minha chegada e dar-lhe chance de se preparar.

Dispensava suas bajulações e egoísmo. Por mais que eu não tivesse as mãos limpas, era para o benefício do meu reino, para a segurança do meu povo, mas ele, ele sempre seria um assassino aos meus olhos. E eu era um rei.

Usando a rota da floresta, sozinho caminhei por entre as árvores. Um homem de confiança me acompanhava a metros de distância. Minha ordem era que não queria vê-lo no meu encalço até segunda ordem.

Acreditei que chegaria ao castelo em silêncio, mas para minha surpresa, quanto mais me aproximava, mais ouvia gritos de soldados e relinchos de cavalos. Pelo tamanho do movimento, algo acontecia.

Menos surpreso fiquei quando avistei uma mulher correndo. Ela se fundia à neve, mas não à floresta. Parecia desamparada, desesperada.

“Quem, em sã consciência, correria em meio à torrente de neve?” Mas ela o fazia, o que me deixou impressionado de imediato, até perceber seu vestido de noiva.

Vestido esse que eu perderia como prova da verdade ao rei Vitorian, o indicativo de que ele realmente tinha uma filha.

“Pelo visto, é real, ele tem uma filha.”

Ela tropeçou em algo invisível. Quase a socorri, apenas um reflexo de segurança, mas imediatamente recordei quem tinha à minha frente.

Imaginei que, por sua imagem aparente, por ser princesa, provavelmente alguém fingida a ser frágil, ela não se levantaria do chão, permaneceria na neve.

Dei alguns passos para o lado, saindo de trás da árvore em que me encontrava. Então ela se levantou, mesmo tremendo, fraquejando. Talvez não fosse o frio, talvez fosse o cansaço, a exaustão. A distância de onde se encontrava até o castelo era considerável, apesar da neve atrapalhar o trajeto.

Seus olhos se voltaram para o horizonte, procurando o pôr do sol.

Compreendi de imediato: ela estava ciente da minha chegada. Ela estava fugindo de mim.

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