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Capítulo 4 A fuga

(Esmen)

Repousando a mão sobre minha barriga, fiz cara de desconforto. Não havia comido nada mesmo.

— Não comi nada hoje. — Fiz cara triste.

— Minha barriga dói por falta de um desjejum. Como posso ser apresentada para o rei Tauron tão fraca? E se não aguentar a viagem?

Nesse momento, um deles, depois de novamente trocar olhares, me perguntou se queria algo em especial.

— Apenas me mostrem a cozinha. — A desconfiança não os deixou.

— Serei rápida. Não quero passar vergonha diante do rei vizinho. — Fiz minha melhor cara de timidez, ciente de não ter o rosto completamente visto por causa do véu de rendas floradas.

— Vamos mostrar... — Fiz uma jogada de mão descartando a possibilidade.

— Não precisa, apenas me mostrem o caminho.

— Não podemos. A vossa alteza irá fugir. — Disse um deles.

— Eu irei comer. Como posso fugir de barriga vazia? — Encarei ambos.

Um franziu o cenho, e, trocando olhares novamente, me apontaram a direção:

— É por ali. — Lancei uma cara de satisfação na direção deles, não poderia sorrir, causaria mais desconfiança.

Seguindo para a cozinha, fui acompanhada até a porta pelos dois.

Assim que abri as portas do espaço, avistei várias pessoas, a maioria cozinhando, outros ajudando. Um banquete estava sendo feito.

"Certamente é para a recepção do rei."

Permaneci perto da entrada, observando cada movimento deles. Quando fui percebida, parada na entrada da cozinha, eu os vi pararem o que estavam fazendo para se curvarem levemente.

— Bem-vinda, sua alteza! — Em uníssono, fui cumprimentada.

Recebi em silêncio. Não era culpa deles a minha infelicidade, porém, de alguma forma, eram cúmplices do meu pai.

— O que deseja? — O chefe de todo o grupo deu um passo à frente, me olhando atentamente, mas não se aproximou.

Analisei o espaço enquanto o respondia, fazendo aquilo para ser mais convincente de que estava apenas curiosa e provavelmente sendo inocente.

— Estou sem um desjejum. Então aproveitei para conhecer a cozinha e pegar algo para comer.

— Oh! Sinta-se à vontade! — O homem recuou.

— Vou escolher algo e depois provar um pouco de cada um, gosto de provar as diversidades. — Não demonstrei minha intenção, fingindo estar interessada no banquete quase completo, estendido sobre a mesa longa perto de onde estava.

— Temos um provador real, sua alteza.

— E hoje serei eu. — Não deixei espaço para contestar, mas ele o fez.

— Alteza, não é seguro.

— Por acaso estão tentando matar o rei? — Os encarei.

— Ou essa é a ordem do rei? Matar o rei Tauron e a filha bastarda, como matou a prometida dele?

O silêncio foi um tapa no rosto.

"Não pertenço a esse lugar."

— Estarei bem aqui. Não preciso de mais nada! — Dispersei a atenção deles.

Ele baixou a cabeça em compreensão e então ordenou que todos voltassem a suas tarefas.

Me aproximei da mesa, fingindo não espionar as pessoas ao redor.

O espaço era grande o suficiente para o dobro de uma dezena de pessoas, sobrando um espaço considerável por mais o tamanho da mesa longa.

"Acabei de acusar um grupo de pessoas de tentativa de envenenamento e não me sinto culpada. Parece certo."

Capturei um pequeno bolinho, o joguei na boca, comendo rapidamente. Era uma delícia, poderia me aliviar a fome.

Aprovando a criação, saí provando cada especialidade. Nem todos estavam aprovados, mas fazer aquilo me ajudava a ser realista para os soldados guardando a porta e para o chefe de cozinha, que acabava de tirar a atenção de mim, acreditando não ter outras intenções.

Observava o meu entorno constantemente, havia armários, fornos, mesas, muitas panelas e utensílios. Tudo era grandioso, no entanto, o que me interessava era a porta, não muito longe da equipe ajudante.

"Geralmente se precisa de uma segunda porta para ter mais agilidade em entregas pelos fundos."

Restava saber o quão longe ela me levaria.

— Isso não serve! — Reclamou o chefe, depois de provar uma sopa feita por seu subordinado.

"Isso vai ser descartado a qualquer momento." Esperei.

Depois de alguns bolinhos aqui e ali, alguém precisou abrir a porta para descartar a sopa.

Mal a porta abriu, eu já passava por ela, quase esbarrando no pobre homem assustado com uma panela enorme e fervente.

— Espere! — Ouvi um dos soldados.

Corri como nunca, agarrada aos lados do vestido. Como havia pensado, a porta dava acesso sem vigília à floresta que rodeava o castelo.

"Sorte que você não se importa com os pobres empregados da cozinha, papai." Se o rei se importasse com aquelas pessoas, haveria uma extensão de muro ali.

A neve parecia estar com vinte centímetros de altura acima do chão. Tive que sair quase pulando, enquanto chutava a neve muito pesada em contraste com o peso do tecido do vestido, que já ficava úmido.

— A princesa fugiu!!! — Ouvi os gritos atrás de mim.

O castelo inteiro já tinha recebido o alerta.

"Corre, Esmen!" Me forcei a continuar firme.

O caminho feito até a floresta era pior que estar dentro dela. As árvores afastadas, grandes, robustas e bonitas melhoraram o volume da neve. As raízes longas me faziam tropeçar vez ou outra quando passava por perto de seus troncos.

Minha corrida foi aliviada com menos alguns centímetros de neve. O meu maior problema era que não conseguia despistar os soldados atrás de mim. Havia uma tropa que eu não podia contar, todos dispostos a agradar seu rei capturando a princesa fujona.

Corri muito, as pernas fraquejavam de cansaço. Eu era uma boa corredora, sempre vivi no campo, mas nunca tinha experimentado correr nessa época.

O frio maltratava minha pele, parecia penetrar os ossos. Os dentes batiam incessantemente. O véu era extremamente fino sobre meus olhos e rosto, este sempre balançava por causa da minha respiração ofegante.

— Lá está ela! — Ouvi alguém gritar atrás de mim.

Olhei por cima do ombro, apenas para encontrar a poucos metros alguns soldados a cavalo.

Mal voltei os olhos para frente, as pernas fraquejaram. Me vi soltando o tecido do vestido grosso para tentar proteger meu rosto.

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