(Esmen)
Não recuei. Havia mais soldados de todos os lados, e eu ainda tinha esperança de que ele estivesse errado sobre a paternidade. Quando se aproximou o suficiente, ele me dirigiu a palavra: — Você é minha filha. Abri a boca para contestar, mas soube pelo seu olhar reprovador que não era tudo o que ele tinha a dizer. — E será preparada para casar com o rei Tauron, hoje à noite. Meus olhos saltaram. Agora não havia permissão ou tradição alguma que me fizesse ficar calada. — Como? — Você, Esmen, será a mulher do rei Tauron. — Ele não parou de me fitar. Parecia estar vendo minha mãe em mim; seu olhar pesava como uma tonelada, trazendo algo como frustração e satisfação ao mesmo tempo. Provavelmente por me vender como mercadoria para alguém. — Eu não... — me interrompeu com um erguer de mão, que chegou perto demais do meu rosto frio. Diferente de mim, que tinha roupas surradas e finas, como um vestido longo verde desbotado, sapatos gastos e apenas os cabelos alinhados, ele estava adornado de ouro, roupas quentes e capa felpuda de tigre. Tudo era novo e caro. — Sua vida não importa aqui. O que importa é o reino e a guerra que seguirá se você não casar com ele. — Eu não me importo! — vi-me soltando aquilo de repente. Um tapa ecoou da sua luva para o meu rosto. Minha mão foi parar no lugar quente que ardia, meus olhos, que estavam no chão, levantaram-se para os dele com raiva. — Leve-a para seu quarto e deixem que as empregadas a preparem para a apresentação! Assim, ele não me deixou dizer mais nada. Fui carregada à força pelos soldados, mas não evitei encará-lo até certo ponto, vendo-o me ignorar, demonstrando não ter importância sobre a paternidade ou família. "Preciso fugir! Que sofram eles por um acordo não cumprido", pensei, enquanto era levada para o quarto luxuoso. Lá, eles me trancaram com diversas mulheres vestidas de empregadas, que usavam lenços sobre os cabelos. Suas roupas não eram tão quentes para aquele tempo. Ver aquilo me fez encarar as minhas. — Alteza, vamos dar um banho na senhorita — disse uma, se aproximando. Eu a observei. Ela não parecia nada ameaçadora, por isso a deixei me levar para o banho, certamente mais quente por lá. Havia uma banheira gigante de madeira, com água quente cheia de ervas aromáticas. — Isso é para sua pele — informaram assim que me ajudaram a tirar minha roupa. Imediatamente escondi minha nudez. Elas não se importaram, apenas me guiaram para a água. — Não preciso que me banhem! — avisei. Acenaram, ficando pelos lados, todas em posturas corretas e submissas a quaisquer ordens. — Posso ficar sozinha? — indaguei quando me coloquei na água aromática e quentinha. Aquilo relaxava meus músculos doloridos pela força colocada em mim antes para me conter, e pela viagem malfeita. — Não podemos — respondeu outra. Suspirei, chateada. Então, fiz o que podia. Tomei meu banho para esquentar meu corpo, mas na cabeça já fazia planos. "Não será esse o meu destino!" Afundei-me na água até ver uma das mulheres correndo até a beira da banheira para tentar me tirar. Subi, irritada. — Não vou me matar. Ainda tenho uma mãe para cuidar — falei para a mulher. Saí da banheira e deixei que me enrolassem com uma toalha macia e me guiassem de volta ao quarto. Meus cabelos encharcados pingavam muito. Uma delas os secou enquanto as outras me mostravam a roupa que eu deveria vestir: um luxuoso vestido branco, cheio de camadas pesadas, que cobria até os pulsos. Para as mãos, havia luvas iguais, sapatilhas da mesma cor, e, sobre os cabelos, um véu cairia em breve. — O que é isso? — perguntei, assustada. — Seu vestido de casamento. — Mas eu não... — interrompi-me. Não poderia revelar meus planos. — O rei não chegará só durante a noite? — ainda era por volta do meio-dia, pelo menos para mim. — Não. Ele pode chegar ao pôr do sol, dependendo da tempestade. — E estamos longe disso, não é? — Não havia como me situar com aquele tempo. Minha mãe e eu sempre comíamos quando podíamos, não dependíamos de horários fixos. — Faltam poucas horas para a chegada dele, sua alteza. — E por que devo usar esse vestido? — perguntei, olhando para as minhas roupas de baixo, que eram extremamente pequenas. Não eram anáguas ou algo parecido; era uma espécie de top decotado com um short minúsculo, que mostraria tudo, certamente. — Prefiro as minhas roupas — resmunguei, tentando dispensá-las. — Mas estão molhadas, alteza. Infelizmente, não precisava olhar para baixo para comprovar que minhas anáguas estavam pingando. Meu silêncio as fez me guiar até uma repartição pequena, onde havia um pano cobrindo a entrada. Era o momento de tirar as roupas de baixo, e elas logo me passaram as novas. As encarei: estavam curtíssimas, ressaltando o que eu achei que não possuía. Imediatamente pedi o vestido, quando deixaram o tecido da "porta" levantar para verificar como ficaram as peças. — A alteza Esmen está deslumbrante — disseram, e agora percebi que o rei sabia meu nome. — Como sabem meu nome? — questionei. — O rei nos avisou sobre a alteza quando fez o acordo de paz com o Senhor da Guerra — disse uma delas. — Senhor da Guerra? — Sim, o rei do reino distante — responderam enquanto me ajudavam a me vestir. — Por que o chamam assim? — eu não queria me casar, mas saber mais não causaria problema. — Porque ele não perdoa os inimigos. — Vocês são os inimigos? — Eu não me via como parte daquele reino. Nunca havia ganhado nada do rei. Nem misericórdia, pelo visto. — Somos o alvo dele. Somos o inimigo. — Por quê? — O nervosismo crescia dentro de mim enquanto o vestido era ajustado em meu corpo. — Porque sua majestade, seu pai, matou a prometida dele. Meu coração gelou. Eu estava sendo usada como moeda de troca para o inimigo do "meu pai", por ele ter executado a mulher do rei, conhecido como sanguinário.(Esmen) — Por que ele fez isso? — perguntei, enquanto ajustavam o corpete do vestido, apertando minha cintura fina. — Sua majestade? — Sim — encarei cada uma delas. A maioria fingia não ouvir a conversa com a colega enquanto trabalhava. — Dizem que foi um erro. Apenas isso. Aquilo não poderia ser verdade, mas elas não sabiam. "Como alguém mata outro e chama isso de erro?" — Apenas um erro? — encarei a mulher que havia falado. Ela baixou os olhos por alguns segundos, fingindo estar alisando o tecido do vestido. Alguém sempre sabia mais do que deixava transparecer, e rumores sempre corriam com pedaços maiores de verdade. Estavam dispostas a me manter no escuro, mesmo sabendo que jogavam "sua alteza" diretamente na boca do leão. "Não vão me tratar bem nesse novo reino." "Antes, nem sequer me tratavam como uma delas. Agora, estou aqui para servir de moeda de troca, mas não tenho importância para ninguém. Estou apenas salvando suas cabeças." Estava decidido. Na primei
(Esmen)Repousando a mão sobre minha barriga, fiz cara de desconforto. Não havia comido nada mesmo.— Não comi nada hoje. — Fiz cara triste.— Minha barriga dói por falta de um desjejum. Como posso ser apresentada para o rei Tauron tão fraca? E se não aguentar a viagem?Nesse momento, um deles, depois de novamente trocar olhares, me perguntou se queria algo em especial.— Apenas me mostrem a cozinha. — A desconfiança não os deixou.— Serei rápida. Não quero passar vergonha diante do rei vizinho. — Fiz minha melhor cara de timidez, ciente de não ter o rosto completamente visto por causa do véu de rendas floradas.— Vamos mostrar... — Fiz uma jogada de mão descartando a possibilidade.— Não precisa, apenas me mostrem o caminho.— Não podemos. A vossa alteza irá fugir. — Disse um deles.— Eu irei comer. Como posso fugir de barriga vazia? — Encarei ambos.Um franziu o cenho, e, trocando olhares novamente, me apontaram a direção:— É por ali. — Lancei uma cara de satisfação na direção dele
(Esmen) Por sorte não cheguei a mais que balançar para frente. Equilibrando-me capturei novamente os lados do traje, me obriguei a ser mais resistente. — Volte princesa! “Loucos!” Corria como nunca, a neve me atrapalhava mais do que poderia ter pensado, o vestido longo estava completamente frio, me impedindo de ser mais rápida. O peso de todo aquele tecido atrapalhava muito a persistência que queria adquirir. O véu ainda estava sobre os meus fios negros. O ar saía como fumaça por entre meus lábios, a cada respiração. Podia ouvir os cavalos relincharem sob os gritos dos soldados a perseguir-me. Mas eu não desistiria, eu iria até onde não conseguisse mais correr. Já tinha corrido por horas, de repente tropecei novamente, desta vez, caindo de cara na neve. Tentei me levantar, mas as pernas e braços não obedeciam, apenas pude virar meu rosto. Estava queimando. Minha face queimava em contato com a neve, a renda do véu parecia fundir-se com a minha pele. “Não posso morrer a
(Tauron)Era sinal de que Vitorian não queria sua fuga, não era uma encenação para chamar minha atenção.Então o verme também obriga outras pessoas, até mesmo a sua filha, a fazer as coisas que ele não quer. Tudo para manter sua própria cabeça em cima do pescoço.“Eu sabia sobre o medo dele com relação a mim, mas não queria que fosse um covarde tão patético.” Enojei-me.Seus olhos pousaram em mim, verdes, como as folhas das árvores, que se não fosse a neve as cobrindo desde o topo, estariam da mesma cor, tendo o mesmo brilho.Vir a ilusão passar nos seus olhos, ela acreditou que eu era a esperança chegando para salvá-la. Mas não estava trazendo brilho, eu estava trazendo as trevas para sua vida. Não importava quem ela era, apenas de quem ela era filha e o que ele tinha feito para mim.Ela não imaginou quem estava à sua frente, o desespero nublava sua mente.Eu faria Vitorian pagar através dela, e se não fosse o suficiente, iria voltar atrás dele, seria o seu carrasco pessoalmente.Ci
(Esmen)“Não. Ele não quer minha morte. Certamente quer vingança pela mulher que amava.”Arrumei minha postura, sentando-me com certo cuidado, pois não sabia como estava minha condição física, se ainda sentiria exaustão ou fraqueza. Utilizei a cabeceira da cama como apoio e recebi a xícara. Ela pegou o bule e derramou um pouco do chá que havia dentro dele, apenas o suficiente. Curvando-se levemente, retrocedeu dois passos.— Se desejar um pouco mais, avise-me.Desconfiada, bebi um pouco do chá, com a intenção de me aquecer, mesmo que já sentisse uma boa temperatura. Aqueles panos e aquela cama eram superquentes; sequer parecia que eu havia andado na floresta durante uma nevasca. Recordando-me disso, tomei mais um gole, com o intuito de fazer perguntas àquela mulher. Para tal, precisava ser receptiva ao que ela trouxera, pois provavelmente fora feito por ela mesma.Depositando a xícara de volta no pequeno prato, levantei os olhos e a encontrei interessada em minha imagem. Perguntei:—
(Esmen)Teria de me recompor, já que não poderia fugir por ser tudo diferente. Era outro território, eu não conhecia nada nem ninguém, não poderia pedir ajuda e provavelmente não era nada aos olhos das pessoas e nem seria; não teria súditos, seria apenas o objeto do Rei.“As pessoas guardavam rancor de mim assim como seu soberano?”As duas opções ainda estavam rodando a minha mente, acostumar-me à nova vida e ser uma serva fiel dele ou desafiar e sofrer todas as consequências que já sofreria apenas por culpa do passado, por meu genitor.Eu tinha um palpite de qual iria escolher, mas primeiro queria conhecer o rei.Então segui em direção à porta, tentei puxá-la, e para minha surpresa estava aberta, quase tropecei. Seria apenas um teste, mas havia dado certo.“Isso é bom demais para ser verdade.” Coloquei a cabeça para fora, uma parede de pedra do corredor estava a poucos metros.“Ninguém?” Tirei meus dedos da maçaneta, dando três passos largos para fora.Pulei no lugar:“Minha nossa!”
(Esmen)— O rei não se importava com a condição dela? — perguntei, tentando soar um pouco esnobe com relação à classe social.— Não! Ele era um homem apaixonado. Perdão por dizer isso!“Apaixonado? Ele a amava.”— Não se preocupe. — forcei um sorriso em sua direção, me pondo de pé.— Mas eu acredito que ele será muito mais feliz com a alteza.— Quê? — as palavras dela me fizeram arrepiar, mas não de um jeito bom.“Feliz? Comigo? Por quê? Como?”— O rei precisa de alguém de linhagem forte para que ninguém conteste suas decisões na hora da guerra.“Guerra. Aqui se fala disso. No reino anterior se falava de tomar território. Saquear.”“Como se eles fossem inocentes. Meu pai não era, ninguém é.”— Não acredito que isso afetará em algo positivo. — alisei meus braços por cima da roupa, fazendo o arrepio me abandonar.— O soberano precisa da alteza.— Não precisa. — murmurei.— Ah! Mas eu digo, alteza. O rei precisava nos dar uma rainha digna.“O povo pensou em me considerar?” Fui pega de su
(Esmen)“Escrava?” Eu não estava acreditando.— Você não pode… — minha voz saiu hesitante.— Ah! Eu posso! Eu serei o covarde que você me pintou. Espero que fique feliz com isso.Aquela promessa me fez estremecer inconscientemente. Eu realmente estava com medo de tudo que me esperava agora.Quando acreditei que ele me deixaria e se afastaria, o senti tirando os meus brincos de pérolas.— Eu disse que adornos não fariam mais parte da sua vida. — realmente havia sido uma das primeiras coisas que saíram de sua boca assim que o vi entrar naquele cômodo.Eu estava em choque. Então ele se afastou, colocando os brincos dentro dos bolsos, me deixando sozinha dentro do quarto.Meu peito doeu e minha cabeça parecia que ia explodir; talvez estivesse segurando a respiração, mas não tinha percebido.“Escrava…” Eu ainda não acreditava como poderia ter chegado a esse ponto.De sequestrada a uma princesa, de uma princesa à escrava. E que tipo de escrava seria?De repente, meus olhos saltaram das órbi