Capítulo 2 Moeda de troca

(Esmen)

Não recuei. Havia mais soldados de todos os lados, e eu ainda tinha esperança de que ele estivesse errado sobre a paternidade. Quando se aproximou o suficiente, ele me dirigiu a palavra:

— Você é minha filha.

Abri a boca para contestar, mas soube pelo seu olhar reprovador que não era tudo o que ele tinha a dizer.

— E será preparada para casar com o rei Tauron, hoje à noite.

Meus olhos saltaram. Agora não havia permissão ou tradição alguma que me fizesse ficar calada.

— Como?

— Você, Esmen, será a mulher do rei Tauron. — Ele não parou de me fitar.

Parecia estar vendo minha mãe em mim; seu olhar pesava como uma tonelada, trazendo algo como frustração e satisfação ao mesmo tempo. Provavelmente por me vender como mercadoria para alguém.

— Eu não... — me interrompeu com um erguer de mão, que chegou perto demais do meu rosto frio.

Diferente de mim, que tinha roupas surradas e finas, como um vestido longo verde desbotado, sapatos gastos e apenas os cabelos alinhados, ele estava adornado de ouro, roupas quentes e capa felpuda de tigre. Tudo era novo e caro.

— Sua vida não importa aqui. O que importa é o reino e a guerra que seguirá se você não casar com ele.

— Eu não me importo! — vi-me soltando aquilo de repente.

Um tapa ecoou da sua luva para o meu rosto.

Minha mão foi parar no lugar quente que ardia, meus olhos, que estavam no chão, levantaram-se para os dele com raiva.

— Leve-a para seu quarto e deixem que as empregadas a preparem para a apresentação!

Assim, ele não me deixou dizer mais nada. Fui carregada à força pelos soldados, mas não evitei encará-lo até certo ponto, vendo-o me ignorar, demonstrando não ter importância sobre a paternidade ou família.

"Preciso fugir! Que sofram eles por um acordo não cumprido", pensei, enquanto era levada para o quarto luxuoso.

Lá, eles me trancaram com diversas mulheres vestidas de empregadas, que usavam lenços sobre os cabelos. Suas roupas não eram tão quentes para aquele tempo. Ver aquilo me fez encarar as minhas.

— Alteza, vamos dar um banho na senhorita — disse uma, se aproximando.

Eu a observei. Ela não parecia nada ameaçadora, por isso a deixei me levar para o banho, certamente mais quente por lá.

Havia uma banheira gigante de madeira, com água quente cheia de ervas aromáticas.

— Isso é para sua pele — informaram assim que me ajudaram a tirar minha roupa.

Imediatamente escondi minha nudez. Elas não se importaram, apenas me guiaram para a água.

— Não preciso que me banhem! — avisei.

Acenaram, ficando pelos lados, todas em posturas corretas e submissas a quaisquer ordens.

— Posso ficar sozinha? — indaguei quando me coloquei na água aromática e quentinha.

Aquilo relaxava meus músculos doloridos pela força colocada em mim antes para me conter, e pela viagem malfeita.

— Não podemos — respondeu outra.

Suspirei, chateada. Então, fiz o que podia. Tomei meu banho para esquentar meu corpo, mas na cabeça já fazia planos. "Não será esse o meu destino!"

Afundei-me na água até ver uma das mulheres correndo até a beira da banheira para tentar me tirar. Subi, irritada.

— Não vou me matar. Ainda tenho uma mãe para cuidar — falei para a mulher.

Saí da banheira e deixei que me enrolassem com uma toalha macia e me guiassem de volta ao quarto.

Meus cabelos encharcados pingavam muito. Uma delas os secou enquanto as outras me mostravam a roupa que eu deveria vestir: um luxuoso vestido branco, cheio de camadas pesadas, que cobria até os pulsos. Para as mãos, havia luvas iguais, sapatilhas da mesma cor, e, sobre os cabelos, um véu cairia em breve.

— O que é isso? — perguntei, assustada.

— Seu vestido de casamento.

— Mas eu não... — interrompi-me. Não poderia revelar meus planos.

— O rei não chegará só durante a noite? — ainda era por volta do meio-dia, pelo menos para mim.

— Não. Ele pode chegar ao pôr do sol, dependendo da tempestade.

— E estamos longe disso, não é? — Não havia como me situar com aquele tempo. Minha mãe e eu sempre comíamos quando podíamos, não dependíamos de horários fixos.

— Faltam poucas horas para a chegada dele, sua alteza.

— E por que devo usar esse vestido? — perguntei, olhando para as minhas roupas de baixo, que eram extremamente pequenas. Não eram anáguas ou algo parecido; era uma espécie de top decotado com um short minúsculo, que mostraria tudo, certamente.

— Prefiro as minhas roupas — resmunguei, tentando dispensá-las.

— Mas estão molhadas, alteza.

Infelizmente, não precisava olhar para baixo para comprovar que minhas anáguas estavam pingando.

Meu silêncio as fez me guiar até uma repartição pequena, onde havia um pano cobrindo a entrada. Era o momento de tirar as roupas de baixo, e elas logo me passaram as novas. As encarei: estavam curtíssimas, ressaltando o que eu achei que não possuía.

Imediatamente pedi o vestido, quando deixaram o tecido da "porta" levantar para verificar como ficaram as peças.

— A alteza Esmen está deslumbrante — disseram, e agora percebi que o rei sabia meu nome.

— Como sabem meu nome? — questionei.

— O rei nos avisou sobre a alteza quando fez o acordo de paz com o Senhor da Guerra — disse uma delas.

— Senhor da Guerra?

— Sim, o rei do reino distante — responderam enquanto me ajudavam a me vestir.

— Por que o chamam assim? — eu não queria me casar, mas saber mais não causaria problema.

— Porque ele não perdoa os inimigos.

— Vocês são os inimigos? — Eu não me via como parte daquele reino. Nunca havia ganhado nada do rei. Nem misericórdia, pelo visto.

— Somos o alvo dele. Somos o inimigo.

— Por quê? — O nervosismo crescia dentro de mim enquanto o vestido era ajustado em meu corpo.

— Porque sua majestade, seu pai, matou a prometida dele.

Meu coração gelou. Eu estava sendo usada como moeda de troca para o inimigo do "meu pai", por ele ter executado a mulher do rei, conhecido como sanguinário.

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