Marcelo estava um pouco irritado.— Você está sugerindo que estou ajudando Poli a te enganar? — Entendi. Após terminar a ligação com Gustavo, ele fez uma nova chamada para sua secretária.— Eu me lembro de uma viagem internacional, qual é a data? A secretária respondeu: — Senhor, é na próxima semana. Marcelo afirmou com certeza: — Antecipe para amanhã de manhã. Pode reservar o voo agora. A secretária ficou em silêncio por alguns segundos. — Certo. ...Poliana era de estatura média, com corpo esguio, e dona Rose a levou diretamente para o quarto de hóspedes. Depois de ajudá-la a tirar o casaco e os sapatos, a deitou na cama macia, enquanto sua mente começava a se recuperar aos poucos. Dona Rose notou os ferimentos nas palmas das mãos e nos joelhos de Poliana e, prontamente, foi buscar um pequeno estojo de primeiros socorros para tratar as feridas. O antisséptico, embora não tivesse sido aplicado diretamente nas lesões, causou dor quando foi passado nas bordas, o q
Gustavo esticou as pernas e, com a mão no bolso, retirou um cigarro e o acendeu com o isqueiro. — O senhor está querendo falar pela Poliana? Marcelo se sentou à sua frente e serviu uma xícara de café para Gustavo. — Você acabou de se reconciliar com a Poli e agora já está pensando em divórcio. Você muda de opinião mais rápido que um bebê troca de roupa. — O senhor não entende. — É verdade, eu não entendo o quanto a Poli significa para você. Mas me diga, por que se reconciliar e, logo depois, querer se separar? Gustavo soltou uma longa baforada de fumaça. — Ela tem uma boca pequena, mas vive falando o tempo todo. Não conversou com o senhor na estrada? Poliana, que estava espiando a cena sem querer, mordeu os lábios e franziu a testa. Seus olhos se moviam rapidamente, confusa. Será que ela falava tanto assim? Marcelo respondeu, calmamente: — Ela me disse algumas coisas, e pelo que entendi, ela estava comentando que hoje outra mulher tentou te seduzir e o Guilherme tam
Imediatamente, o coração de Poliana disparou, mas seu rosto permaneceu impassível. Gustavo, com os olhos sombrios e penetrantes, a observava atentamente, se fixando nas suas pálpebras fechadas. — Não finja. Eu te vi assim que entrei. As pálpebras de Poliana tremeram ligeiramente. Como ele percebeu? Gustavo continuou: — A janela panorâmica da casa do tio refletiu você. Rápido, me dê o celular. O coração de Poliana estava uma bagunça. Na casa de Marcelo, o lado que dava para o rio era inteiramente feito de vidro, e à noite, se as cortinas não fossem fechadas, somado à escuridão lá fora, realmente parecia um espelho. Ela sabia que ele tinha um olhar afiado, mas não imaginava que fosse tão preciso. Isso, realmente, ela não esperava. Poliana estava prestes a abrir os olhos, mas antes que pudesse, Gustavo estendeu a mão e, com o polegar e o indicador, puxou a pálpebra de um dos seus olhos para baixo. Poliana se virou com força, tentando evitar sua mão, e puxou o cober
Gustavo estendeu a mão, indo em direção ao rosto dela.Poliana, instintivamente, fechou os olhos e baixou a cabeça.Antes, a sensação de ter sido repentinamente estrangulada por Gustavo a havia aterrorizado.Estrangular alguém era uma forma de repressão contra quem não tinha forças para reagir, uma maneira de mostrar a disparidade de poder, deixando a pessoa completamente paralisada, sem nem sequer mostrar a mínima raiva. Só restava o medo absoluto pela própria vida.No entanto, para Gustavo, essa atitude parecia como se ela estivesse se mostrando vulnerável.Gustavo não a estrangulou, mas, ao invés disso, levou as mãos ao seu rosto.Com os polegares, ele começou a acariciar suavemente a bochecha e o canto de seus lábios.Ele podia sentir claramente que Poliana estava pressionando os dentes, elevando o queixo.O olhar de Poliana estava fixo em Gustavo. Aquela era uma face que ela deveria reconhecer, mesmo se transformada em cinzas, mas naquele momento, ela se sentia completamente estra
Quando o som se afastou, ele deu um passo e fechou a porta atrás de si.Poliana, com a perna ainda dolorida, tentou segui-lo, mas não conseguiu alcançá-lo. Quando chegou ao térreo, Gustavo já havia desaparecido.Foi nesse momento que, de repente, Poliana não conseguiu mais derramar uma lágrima sequer. De repente, ela não sabia mais chorar. Apenas sentia uma dor insuportável no peito, como se sua traqueia estivesse comprimida e não conseguisse se abrir.Ela ficou parada ali, pressionando com força o peito, e fez respirações profundas, tentando se acalmar, mas nada parecia melhorar. Então, ela se agachou novamente.Foi quando, de repente, um som ensurdecedor preencheu seus ouvidos, como se alguém estivesse serrando madeira bem ao seu lado. Ela começou a ouvir vozes ao fundo, risadas, como se houvesse várias pessoas atrás dela conversando. Tudo isso eram sintomas que surgem após uma crise de depressão.Mas, sem acesso a medicamentos, ela precisava se acalmar sozinha....Marcelo saiu do b
— Ligar, ligar, agora eu só queria estourar a sua cabeça! — Edmar disse, rangendo os dentes.— Rápido. — Gustavo ignorou as reclamações de Edmar. — Diz que eu bebi até ter sangramento no estômago, rápido.Edmar desviou o olhar, observando as pessoas que dançavam no meio da pista, sem dizer uma palavra. Gustavo estendeu a mão e segurou seu ombro com força, balançando ele. — Rápido! Edmar, sem palavras, murmurou: — Você realmente dá muita importância para o seu orgulho. Alguns segundos depois, Gustavo emitiu um som rouco, um gemido ofegante, como se estivesse engasgado. Edmar se virou e o olhou. Percebeu que a área ao redor dos olhos de Gustavo estava avermelhada e que seus olhos estavam lacrimejando. Imediatamente, Edmar levantou a mão e cobriu o rosto, com um olhar de total desgosto. — Rápido, pelo amor de Deus... — A voz rouca e quase quebrada de Gustavo ficou ainda mais trêmula. — Tá bom, tá bom. Espere o amanhecer, ligue para ela depois, mas agora deixe ela dormir.
O coração de Poliana deu um salto repentino. Uma sensação estranha, um pressentimento nada bom, tomou conta dela. Ela atendeu ao telefone, tentando manter a calma. — Vovô. Na outra linha, a voz de Delfim soava grave e carregada de um peso ameaçador. — Quero que você venha aqui, preciso conversar com você sobre algo. Poliana engoliu em seco. — Vovô, o Gugu bebeu demais ontem e está mal, eu preciso cuidar dele. — Ele só bebeu demais, nada de mais. Você vai me fazer ir até aí para te encontrar? Poliana sentiu o peso da responsabilidade apertando seu peito. — Então, eu... — Não fale nada para o Gugu. — Delfim interrompeu, com a voz implacável. Poliana ficou imóvel por um momento, sem saber o que responder. — Por quê? Delfim não teve paciência para explicar. — Você sabe muito bem. Se me fizer ficar irritado, as consequências serão sérias. E, ao contrário de Gugu, o seu futuro, e o de sua avó, devem ser muito mais importantes, não é mesmo? As palavras dele fiz
Assim como o perfume que pairava no ar, tudo ali era cuidadosamente preparado por profissionais que chegavam todos os dias, antes das cinco da manhã, para dispor flores e aromas pelos jardins. A construção da Mansão da família Codelle poderia ser comparada a uma obra-prima já consolidada como um ponto turístico, um verdadeiro monumento. Na parede leste da mansão, havia até uma placa dizendo “Residência privada, proibida a visitação”.Uma propriedade desse porte, com tamanha atenção aos detalhes, gastava uma fortuna só com a disposição dos perfumes, valores que facilmente alcançavam sete dígitos. Poliana, desde que casou, passava a evitar aquele lugar. Afinal, até o ar ao seu redor parecia lhe lembrar silenciosamente da grande distância que existia entre ela e Gustavo. Aquela diferença que lhe causava uma sensação de desesperança, que tornava sua relação com ele ainda mais frágil e vulnerável.No entanto, sendo uma garota de origem humilde que se apaixonou, Poliana não queria desist