— Ligar, ligar, agora eu só queria estourar a sua cabeça! — Edmar disse, rangendo os dentes.— Rápido. — Gustavo ignorou as reclamações de Edmar. — Diz que eu bebi até ter sangramento no estômago, rápido.Edmar desviou o olhar, observando as pessoas que dançavam no meio da pista, sem dizer uma palavra. Gustavo estendeu a mão e segurou seu ombro com força, balançando ele. — Rápido! Edmar, sem palavras, murmurou: — Você realmente dá muita importância para o seu orgulho. Alguns segundos depois, Gustavo emitiu um som rouco, um gemido ofegante, como se estivesse engasgado. Edmar se virou e o olhou. Percebeu que a área ao redor dos olhos de Gustavo estava avermelhada e que seus olhos estavam lacrimejando. Imediatamente, Edmar levantou a mão e cobriu o rosto, com um olhar de total desgosto. — Rápido, pelo amor de Deus... — A voz rouca e quase quebrada de Gustavo ficou ainda mais trêmula. — Tá bom, tá bom. Espere o amanhecer, ligue para ela depois, mas agora deixe ela dormir.
O coração de Poliana deu um salto repentino. Uma sensação estranha, um pressentimento nada bom, tomou conta dela. Ela atendeu ao telefone, tentando manter a calma. — Vovô. Na outra linha, a voz de Delfim soava grave e carregada de um peso ameaçador. — Quero que você venha aqui, preciso conversar com você sobre algo. Poliana engoliu em seco. — Vovô, o Gugu bebeu demais ontem e está mal, eu preciso cuidar dele. — Ele só bebeu demais, nada de mais. Você vai me fazer ir até aí para te encontrar? Poliana sentiu o peso da responsabilidade apertando seu peito. — Então, eu... — Não fale nada para o Gugu. — Delfim interrompeu, com a voz implacável. Poliana ficou imóvel por um momento, sem saber o que responder. — Por quê? Delfim não teve paciência para explicar. — Você sabe muito bem. Se me fizer ficar irritado, as consequências serão sérias. E, ao contrário de Gugu, o seu futuro, e o de sua avó, devem ser muito mais importantes, não é mesmo? As palavras dele fiz
Assim como o perfume que pairava no ar, tudo ali era cuidadosamente preparado por profissionais que chegavam todos os dias, antes das cinco da manhã, para dispor flores e aromas pelos jardins. A construção da Mansão da família Codelle poderia ser comparada a uma obra-prima já consolidada como um ponto turístico, um verdadeiro monumento. Na parede leste da mansão, havia até uma placa dizendo “Residência privada, proibida a visitação”.Uma propriedade desse porte, com tamanha atenção aos detalhes, gastava uma fortuna só com a disposição dos perfumes, valores que facilmente alcançavam sete dígitos. Poliana, desde que casou, passava a evitar aquele lugar. Afinal, até o ar ao seu redor parecia lhe lembrar silenciosamente da grande distância que existia entre ela e Gustavo. Aquela diferença que lhe causava uma sensação de desesperança, que tornava sua relação com ele ainda mais frágil e vulnerável.No entanto, sendo uma garota de origem humilde que se apaixonou, Poliana não queria desist
Era uma foto tirada ontem à noite, quando ela caiu e Guilherme a levantou.Ao ver aquilo, o rosto de Poliana empalideceu instantaneamente.Na foto, além dela e de Guilherme, estavam várias outras pessoas, incluindo Gustavo. E todos os outros olhavam para eles com diferentes expressões.— De onde você conseguiu essa foto? — Perguntou Poliana, visivelmente agitada, enquanto continuava a observar a imagem.A composição da foto era de uma qualidade impressionante, parecia ter sido tirada por um fotógrafo profissional.Delfim continuava a alimentar os peixes, mas não deixou de explicar:— Não sei. Ontem, quem trouxe a foto até aqui foi um entregador. O endereço de envio era de uma rua qualquer, e o remetente era um motorista de ônibus. Ele disse que um homem pediu para enviar a foto, e esse homem, por sua vez, era um agricultor local, que também recebeu a foto de alguém. — Delfim olhou de canto para Poliana, que exibia uma expressão de confusão. — Mas você deve imaginar... Provavelmente foi
Embora Delfim tivesse sido muito educado com ela durante toda a conversa, dando-lhe até espaço para contestar, Poliana sabia que, se ele quisesse, ela não teria como resistir a nada. Quando chegaram à sala de adoração aos ancestrais, o mordomo realmente trouxe um livro de regras da família, para provar que não estava tentando dificultar as coisas para ela, mas que ela havia feito a escolha errada. As regras da família Codelle haviam sido transmitidas por gerações, e, nos tempos antigos, eram severas, com chicotes molhados em água fria que cortavam a pele e faziam as pessoas aprenderem a lição pela dor. Poliana, ao ver aquelas regras, ficou ainda mais chocada por perceber que aquelas práticas ainda eram mantidas. Antes que pudesse digerir isso, um segurança trouxe um chicote. Era fino e longo, brilhante, e a empunhadura, que parecia de madeira, mostrava sinais claros de antiguidade, com a superfície polida até brilhar. Instantaneamente, ela se sentiu gelada, seus ombros começaram a
Essas palavras, Delfim não ouviu.Justo quando Poliana chegou à porta, com a mão trêmula se apoiando no batente, levantando uma perna para cruzar o limiar, Delfim falou novamente:— O que aconteceu hoje, você deve pensar bem ao voltar para casa. Reflita se vai ou não se divorciar. Se insistir em ser teimosa, na próxima vez, não darei a você, uma simples parente mais jovem, nenhuma compaixão.Poliana compreendeu o que ele quis dizer.Na verdade, Delfim poderia muito bem ameaçá-la com a questão de sua avó ou de qualquer outra pessoa, forçando ela a se divorciar, mas ele optou por não exagerar. Usou as regras familiares na esperança de que isso a fizesse desistir.Se ela não aprendesse com isso, da próxima vez, certamente envolveria sua inocente avó.Poliana não respondeu. Com um semblante vazio, saiu da sala de adoração aos ancestrais, avançando com passos lentos e vacilantes.O dia estava lindo, mas aos olhos de Poliana, tudo parecia turvo.Como tudo estava tão difícil?Como pôde ser tã
Poliana engoliu em seco com força.— Não posso atender essa ligação... Vou deixar o celular tocando.Dizendo isso, ela continuou a se vestir. Quarenta segundos depois, Edmar desligou, mas, logo em seguida, o telefone voltou a tocar. Poliana novamente ignorou a chamada.Enquanto isso.Satis.Gustavo estava sentado ao lado do sofá na estufa, com a cabeça apoiada no encosto e os olhos fixos em Edmar, que tentava ligar para Poliana.Desde o início, Gustavo aguardava, ansioso, que Poliana voltasse para procurá-lo. Dormiu de forma inquieta e, meia hora antes, acordou subitamente e percebeu que ela ainda não havia aparecido. Incapaz de conter a inquietação, pediu ao Edmar que a chamasse.Após a segunda tentativa fracassada, Edmar deu de ombros:— Não se preocupe, talvez ela realmente esteja ocupada. Espere até a tarde.— Ocupada com o quê? — A irritação de Gustavo estava estampada em seu rosto. — O tio está fora, a Vic está na escola... Além de dormir, o que mais ela teria para fazer?Edmar
Poliana pressionou firmemente os lábios. Sim. Na verdade, Guilherme não a havia incomodado muito. Mas para aqueles que torciam pelo fim do relacionamento entre ela e Gustavo, parecia que usavam uma lupa para observá-la. Qualquer pequena proximidade com outro homem era o suficiente para que lhe atribuíssem o rótulo de traidora. — Desculpe. — Disse Poliana. — Guilherme, eu estou em uma posição complicada. — Complicada como? — Guilherme se inclinou para frente, fixando os olhos nos dela com intensidade. — Eu atrapalhei você a reatar com o Gustavo, que te traiu várias vezes sem nem sequer pedir desculpas? Poliana, me diga, por que você foi punida pelas regras da família dele? Poliana ficou aterrorizada. — Você viu meu corpo? — Preciso ver? — Guilherme franziu a testa, suas órbitas levemente avermelhadas. — Você está completamente coberta pelo cheiro de remédios e sangue. Tudo vem das suas costas. Dá para ver as ataduras logo abaixo da gola. Você não parece machucada em mais