— Sua boa intenção, eu já recebi, obrigado. — Gustavo recusou educadamente. — Agradeço muito.Marcelo não insistiu.— Está bem.Depois de desligar o telefone, Marcelo se virou para olhar para Poliana.A expressão relaxada da mulher se transformou em uma sobrancelha franzida, e os cantos dos seus lábios caíram.Os olhos de Marcelo se escureceram lentamente, como se algo estivesse prestes a ser dito.Após um longo momento, ele parecia ter algo a dizer, mas acabou permanecendo em silêncio.— Poli.Poliana se virou para ele, forçando um sorriso.Marcelo também sorriu de volta.— O casamento é diferente de um namoro, o divórcio não é tão simples, os pais do Gustavo não conseguem te deixar ir.Poliana respirou fundo.— Tio, eu não estou tão afetada por isso.— Que bom.O carro continuou seu caminho por mais dez minutos, mas, para surpresa deles, à frente, o trânsito estava parado.Quando o carro começou a andar devagar, Poliana, com o movimento, sentiu novamente aquele mal-estar, como se fos
— Você confia em mim, eu estou bem. Se eu quisesse ser impulsiva, teria ficado no Resort N e não teria voltado. Essas palavras fizeram Marcelo ficar sem resposta. Ele pensou por um momento e seguiu em direção à casa, decidindo que, se ela não queria ir ao hospital, o médico poderia ir até lá. Depois disso, Poliana não vomitou mais, permaneceu com os olhos fechados, imóvel, enquanto Marcelo dirigia concentrado, na velocidade mais rápida possível dentro do limite. Vinte minutos depois, finalmente chegaram ao bairro onde ele e Vic estavam morando. Com medo de causar mais desconforto a Poliana, Marcelo não a levou até a garagem e, ao entrar no condomínio, estacionou o carro. A noite estava fria, mas o ar estava fresco. Respirar um pouco de ar puro parecia aliviar. Quando estacionou, Marcelo pegou o celular e, apressado, saiu do carro pela porta do motorista. Contornou o veículo e abriu a porta do passageiro, se abaixando para desatar o cinto de segurança de Poliana. Com voz
Sua mente parecia totalmente enredada, os olhos de Marcelo se dispersaram enquanto ele se inclinava, de forma irresistível, em direção aos lábios da mulher, que clamavam para serem tocados. No entanto, quando o suspiro de Poliana escapou de seus lábios, algo o fez acordar, como se saísse de um pesadelo. Ele rapidamente ergueu a cabeça, focando à frente e forçando um movimento de deglutição, tentando controlar o turbilhão interno. Ele quase cometeu um erro. Com a outra mão, puxou com força o colarinho da camisa, tentando suprimir seus impulsos mais profundos. Se virou para o lado, dobrando os joelhos, e colocou Poliana em suas costas, a carregando. Pensou que, ao afastá-la e se expor ao vento frio, conseguiria finalmente se acalmar. Mas o que não esperava era que Poliana, já tão fraca, estivesse à beira do sono. Quando ela se deitou em seu corpo, a cabeça se inclinou para a direita, fazendo com que o rosto esquerdo dela se pressionasse contra sua orelha. A pele suave de Poli
Atualmente, Gustavo e Poliana ainda não haviam se divorciado, e Guilherme já havia deixado claro a ele seus sentimentos pela esposa. Nesse caso, se as pessoas começassem a comentar sobre um possível relacionamento inadequado entre Poliana e Guilherme, ele certamente ficaria mais uma vez desconfiado, desesperançado, ansioso e irritado. Assim, não seria difícil de entender que ele pedisse o divórcio.Enquanto isso, Marcelo tomava consciência de algo muito mais profundo.A palavra "ultrapassar limites" não se referia apenas a comportamentos ou palavras.Ninguém era perfeito. A natureza humana era egoísta.As pessoas geralmente só se sentiam à vontade para compartilhar aquilo que já possuíam em abundância, enquanto o que consideravam único ou raro queriam manter para si mesmas.Por isso, quando se sabia que algo entre duas pessoas era impossível, mas, ainda assim, sentimentos incontroláveis surgiam, se a intenção fosse realmente o bem do outro, a melhor atitude seria se afastar o quanto
Marcelo estava um pouco irritado.— Você está sugerindo que estou ajudando Poli a te enganar? — Entendi. Após terminar a ligação com Gustavo, ele fez uma nova chamada para sua secretária.— Eu me lembro de uma viagem internacional, qual é a data? A secretária respondeu: — Senhor, é na próxima semana. Marcelo afirmou com certeza: — Antecipe para amanhã de manhã. Pode reservar o voo agora. A secretária ficou em silêncio por alguns segundos. — Certo. ...Poliana era de estatura média, com corpo esguio, e dona Rose a levou diretamente para o quarto de hóspedes. Depois de ajudá-la a tirar o casaco e os sapatos, a deitou na cama macia, enquanto sua mente começava a se recuperar aos poucos. Dona Rose notou os ferimentos nas palmas das mãos e nos joelhos de Poliana e, prontamente, foi buscar um pequeno estojo de primeiros socorros para tratar as feridas. O antisséptico, embora não tivesse sido aplicado diretamente nas lesões, causou dor quando foi passado nas bordas, o q
Gustavo esticou as pernas e, com a mão no bolso, retirou um cigarro e o acendeu com o isqueiro. — O senhor está querendo falar pela Poliana? Marcelo se sentou à sua frente e serviu uma xícara de café para Gustavo. — Você acabou de se reconciliar com a Poli e agora já está pensando em divórcio. Você muda de opinião mais rápido que um bebê troca de roupa. — O senhor não entende. — É verdade, eu não entendo o quanto a Poli significa para você. Mas me diga, por que se reconciliar e, logo depois, querer se separar? Gustavo soltou uma longa baforada de fumaça. — Ela tem uma boca pequena, mas vive falando o tempo todo. Não conversou com o senhor na estrada? Poliana, que estava espiando a cena sem querer, mordeu os lábios e franziu a testa. Seus olhos se moviam rapidamente, confusa. Será que ela falava tanto assim? Marcelo respondeu, calmamente: — Ela me disse algumas coisas, e pelo que entendi, ela estava comentando que hoje outra mulher tentou te seduzir e o Guilherme tam
Imediatamente, o coração de Poliana disparou, mas seu rosto permaneceu impassível. Gustavo, com os olhos sombrios e penetrantes, a observava atentamente, se fixando nas suas pálpebras fechadas. — Não finja. Eu te vi assim que entrei. As pálpebras de Poliana tremeram ligeiramente. Como ele percebeu? Gustavo continuou: — A janela panorâmica da casa do tio refletiu você. Rápido, me dê o celular. O coração de Poliana estava uma bagunça. Na casa de Marcelo, o lado que dava para o rio era inteiramente feito de vidro, e à noite, se as cortinas não fossem fechadas, somado à escuridão lá fora, realmente parecia um espelho. Ela sabia que ele tinha um olhar afiado, mas não imaginava que fosse tão preciso. Isso, realmente, ela não esperava. Poliana estava prestes a abrir os olhos, mas antes que pudesse, Gustavo estendeu a mão e, com o polegar e o indicador, puxou a pálpebra de um dos seus olhos para baixo. Poliana se virou com força, tentando evitar sua mão, e puxou o cober
Gustavo estendeu a mão, indo em direção ao rosto dela.Poliana, instintivamente, fechou os olhos e baixou a cabeça.Antes, a sensação de ter sido repentinamente estrangulada por Gustavo a havia aterrorizado.Estrangular alguém era uma forma de repressão contra quem não tinha forças para reagir, uma maneira de mostrar a disparidade de poder, deixando a pessoa completamente paralisada, sem nem sequer mostrar a mínima raiva. Só restava o medo absoluto pela própria vida.No entanto, para Gustavo, essa atitude parecia como se ela estivesse se mostrando vulnerável.Gustavo não a estrangulou, mas, ao invés disso, levou as mãos ao seu rosto.Com os polegares, ele começou a acariciar suavemente a bochecha e o canto de seus lábios.Ele podia sentir claramente que Poliana estava pressionando os dentes, elevando o queixo.O olhar de Poliana estava fixo em Gustavo. Aquela era uma face que ela deveria reconhecer, mesmo se transformada em cinzas, mas naquele momento, ela se sentia completamente estra