O jantar foi alegre, e Hélder sugeriu ir para o bar ao lado fazer uma festa. O bar, tranquilo, tinha karaokê, pista de dança e instrumentos, perfeito para eles, que eram trabalhadores da arte. Poliana, ao se levantar, sentia os pés um pouco leves. Essa leve intoxicação era agradável; ela se encostou em Bárbara e seguiu em frente. Seu consumo de álcool, aprimorado nos últimos dois anos com a amiga, a tornava bem consciente de seu estado. Depois de beber mais um pouco de água e ir ao banheiro, essa leveza desapareceria, e ela ainda queria tomar mais um gole. Queria um pouco mais de embriaguez, aquela sensação de mente vazia e corpo relaxado, que lhe garantiria uma boa noite de sono.Entretanto, naquele momento, precisava desacelerar. Ao chegar ao bar, se acomodou no canto mais escuro e discreto, fechando os olhos para descansar. Não demorou muito...Poliana sentiu como se o chão ao seu redor de repente descesse, e, ao mesmo tempo, uma fragrância de perfume com notas de couro a en
Poliana franziu a testa e disse:— Como assim eu não sou razoável?— Tudo bem. — Respondeu Gustavo, com os lábios levemente curvados, enquanto continuava a encará-la. — Nos últimos dois anos, você ficou em casa. É verdade que eu não voltei, mas você nunca pensou em ir me buscar no exterior?O ressentimento surgiu em Poliana.— Você me bloqueou, como eu poderia te procurar?— Então você poderia trocar de número e me ligar.Gustavo parecia absurdamente ferido. Poliana também se sentia injustiçada.— E se eu trocasse de número e você me bloqueasse novamente?— Mas você nem tentou! Como pode saber o que eu faria? — As lágrimas começavam a brilhar nos olhos de Gustavo. — Às vezes, sinto que você é uma pequena trapaceira. Você consegue passar dois anos sem me ver, mas agora que estou de volta, diz que seu corpo e alma são meus.— Eu não entrei em contato porque, durante aqueles dois anos de separação, fiz de tudo para te manter, usei todas as palavras que pude, e você foi firme em sua decisã
Gustavo, impaciente, queria uma resposta e a abraçou ainda mais forte.— Não fuja. Me dê uma resposta; mesmo que seja um não, precisa ser clara.Poliana abriu os olhos, perdida e confusa.— Eu não estou fugindo, só... Não sei como te dar uma resposta.Gustavo insistiu:— Então me diga, o que você está pensando?Poliana, que nunca foi de guardar sentimentos, começou a formular uma comparação para explicar seu estado de espírito.— Para ser sincera, estou com um pouco de medo. Sabe, Gustavo, quando o vidro se quebra, eu realmente tenho medo de ter que juntá-lo de volta. Ao tentar pegar os cacos, posso me cortar, e os pedaços de vidro podem entrar na pele, causando dor e sangrando, é tão doloroso que chega a fazer chorar.Gustavo compreendeu suas palavras. Era um amor que deveria trazer felicidade, mas se transformou em espinhos, ferindo ambos. Nessa situação, ninguém queria se machucar novamente.Seus olhos se umedeceram, e ele sorriu, assentindo.— Então eu vou juntar os cacos por você
Gustavo, preocupado ao se lembrar do desmaio de Poliana, rapidamente tentou ajudá-la a regular a respiração.— Não chore, só pense em mim. Sou o dono de uma empresa agora, chorar aqui não é apropriado, certo?Poliana continuava a soluçar, e o medo no rosto de Gustavo aumentava. As lágrimas em seus olhos se tornavam mais visíveis. Sem saber como parar as lágrimas, ele segurou o rosto dela, engasgando:— Querida, não chore mais. Eu não estou em uma situação muito melhor, acredite...No instante seguinte, Poliana parou de respirar, e Gustavo, temendo que ela estivesse passando mal novamente, viu seu rosto pequeno se contorcer em um misto de mágoa. Ela prendeu a boca e, agarrando a roupa dele, enterrou o rosto em seu peito, tremendo intensamente.As notas da música pairavam no ar, seguidas por gritos de apoio de outras pessoas.Gustavo ficou momentaneamente paralisado, mas, em seguida, abriu os braços e a abraçou apertado, enquanto suas próprias lágrimas escorriam pelo canto dos olhos.— Q
Da dureza e frieza à ternura e ao acolhimento, sem palavras excessivas, tudo isso quebrou completamente a defesa psicológica de Poliana, que só conseguia ofegar, sem conseguir pronunciar nada.Gustavo a segurou em seu colo, uma mão acariciando suas costas, enquanto a outra a ajudava a relaxar. Temia que ela chorasse como da última vez, e, na verdade, não havia se passado muitos dias desde então. Mas agora ele estava muito mais paciente, embora ainda não tivesse ouvido de Poliana as palavras que desejava.Não sabia se era por causa do álcool que havia ingerido, mas, de repente, Poliana começou a ter cólicas intensas na barriga, se curvando e segurando o abdômen com as duas mãos. Gustavo sentiu seu coração apertar.— O que aconteceu? — Ele perguntou.— Estou com dor na barriga...— Foi a bebida, não foi? A dor súbita a tornou pálida, e ela respondeu:— Não sei.Gustavo franziu a testa, pegando rapidamente o casaco que Poliana havia tirado e ajudando ela a vestir novamente.— Vamos par
Poliana não conseguia acompanhar a alegria repentina dele, não entendia. — Por que você está sorrindo de repente? — Porque quero sorrir. Após dizer isso, ele inclinou a cabeça e esfregou o nariz em sua bochecha. O gesto inesperado fez um calor tímido surgir em Poliana, pois era um carinho tão afetuoso, como se ele ainda a amasse como antes. Mas, num instante, ela fechou os olhos, aceitando as gotículas de chuva que ainda caíam. Ela se lembrou de que, se pudesse ter um milésimo do que tinham antes, já estaria satisfeita. Assim, repetiu isso para si mesma. Logo, eles voltaram para o quarto. Gustavo a colocou na cama e, sem esperar que ela se mexesse, se ajoelhou e tirou os sapatos e meias dela. Poliana ficou surpresa ao vê-lo segurando seus pés frios. A expressão de preocupação surgiu em seu rosto, mas ele não disse nada. Se levantou, a pegou novamente nos braços, levantou o cobertor e a acomodou, cobrindo ela bem. O movimento foi tão suave e fluido que Poliana ficou sem p
Gustavo ficou surpreso por um momento, mas logo um sorriso doce e profundo surgiu em seu rosto. — Espere um pouco. — Apesar de feliz, ele recusou. — Vamos esperar o médico chegar. Depois, eu tiro a roupa e te abraço enquanto durmo. Poliana sentiu os olhos arderem e mordeu o lábio, acenando com a cabeça. Se lembrou da noite em que ele voltou, quando, furioso, não parou de fazer amor com ela mesmo durante a ligação com Guilherme. Agora, ele parecia ter se transformado naquele Gustavo que realmente a amava, que não teria intimidade com ela antes que alguém chegasse. A mistura de amor e dor a envolveu, e ela se sentou mais ereta, estendendo a mão para tocar a testa dele. — Você não pediu para o médico trazer remédio para febre. Gustavo retirou sua mão da testa e a segurou com delicadeza. — Eu bebi, não posso tomar remédio agora. — Ah, certo. Gustavo fechou os olhos por um instante. — Fique deitada. Vou beber mais água. — Hm. Ele não foi beber água. Embora estivesse
As palavras foram ditas com um tom brincalhão, mas, ao terminá-las, ele riu alto, criando uma atmosfera muito agradável. Otávio também sorriu junto com Hélder, mas seus olhos estavam fixos em Bárbara, como se quisesse absorver cada instante. Hélder, com um sorriso curioso de menino travesso, comentou: — Parece que você gosta da Bárbara há muito tempo.Otávio se recostou no encosto da cadeira ao ouvir isso. — Hmm. Os olhos de Hélder se estreitaram. — Otávio, quanto mais olho para a Bárbara hoje, mais acho que ela se parece com alguém. Otávio ergueu as pálpebras. — Que estrela você está querendo dizer? Hélder se inclinou para sussurrar em seu ouvido. — Não é uma mulher, é alguém que faleceu em um acidente de carro há seis anos, Sr. Rodrigo. Sr. Rodrigo, um título respeitoso; Hélder se referia ao ex-presidente do Banco Bellafoz, Rodrigo Leite. As pupilas de Otávio se contraíram de repente, e ele se conteve. Hélder continuou: — Eu sei que a segunda esposa do Sr. Ro