Capítulo 0002
Ela voltou para o quarto cambaleando.

Daniela sentia-se aliviada por Giovana ter prendido José, pois isso dava a ela a oportunidade de lidar consigo mesma.

Submergiu todo o corpo na banheira, lavando as marcas que estavam em sua pele.

A perda da virgindade já era um fato consumado, agora, ela precisava garantir que não engravidaria.

A mente de Daniela estava uma confusão.

Ela inicialmente pensava em trabalho, divórcio e em buscar provas de traição, mas, à medida que se perdia nesses pensamentos, não conseguia evitar que os gemidos sensuais e roucos de Roberto ecoassem em seus ouvidos.

Para tentar se acordar, decidiu afundar-se na água, buscando na asfixia um momento de clareza.

A luz da manhã se espalhava suavemente, tingindo a cidade com tons de rosa que entravam pela janela do chão ao teto.

José entrou no quarto com cautela, achando que Daniela ainda estivesse dormindo. Para sua surpresa, ela já havia vestido e estava sentada em frente à penteadeira, tranquila, se maquiando.

Uma sombra de culpa passou pelos profundos olhos de José, mas foi um instante fugaz.

Em seguida, os lábios dele se curvaram rapidamente em um sorriso charmoso e ousado, enquanto se aproximava da penteadeira.

Ele a abraçou por trás.

— A que horas você saiu? Quando acordei, você já não estava no quarto. — Daniela o olhou pelo espelho.

— Saí por volta das cinco, fui correr um pouco. José mentiu com facilidade.

Ele observou o colarinho da blusa de Daniela, que estava bem ajustado, e sorriu, mudando de assunto:

— Dani, você está tão bem-vestida. Não tem medo do calor do outono?

Ele puxou o colarinho da blusa dela.

Daniela imediatamente afastou a mão dele, enquanto aplicava o blush, e disse:

— José, eu gostaria de discutir um assunto com você.

José a abraçou de forma pegajosa.

Não importava quão intensa tivesse sido a noite anterior com Giovana, em seu coração, a única que ele realmente amava era Daniela.

As mulheres de fora eram apenas uma diversão passageira.

No fundo, com sua posição, manter-se fiel fora de casa era quase impossível.

Todos se divertiam.

Se ele não se divertisse, as pessoas achariam que ele estava se fazendo de difícil, temendo que ele contasse algo, e acabaria se sentindo deslocado.

Ele pensava que, contanto que não se divertisse na frente de Daniela e que as mulheres do lado de fora não ameaçassem a posição dela como a verdadeira esposa, ele seria um bom marido.

— Querida, pode falar à vontade. O que mais você precisa discutir com o seu marido? — José era complacente.

Daniela demonstrou certa resistência ao toque dele.

Saiu de seus braços, pegou seu xale e disse:

— Eu quero trabalhar na empresa.

O casal possuía uma empresa chamada OEC, fruto de seus esforços conjuntos e um testemunho do amor entre eles.

Dois anos atrás, devido à piora da saúde da mãe de Daniela, que precisava de cuidados, ela saiu da empresa a pedido de José e dedicou-se a cuidar da mãe por um tempo, ficando desempregada desde então.

Agora, após sofrer uma traição, Daniela finalmente entendia a importância de uma mulher ter uma carreira e independência financeira.

Mais do que isso, ela precisava entender o fluxo de caixa e os lucros da empresa, que pertenciam a eles como bens comuns, e que, em caso de divórcio, poderiam ser divididos igualmente.

Ao ouvir o pedido de Daniela, o olhar de José se fixou por um momento. Ele perguntou suavemente:

— Por que? O que eu te dou todo mês não está sendo suficiente? A partir do próximo mês, posso te dar cinquenta mil por mês, tudo bem?

Daniela o encarou.

Ele aumentou a oferta, sua voz se tornando ainda mais suave:

— Oitenta mil, Dani, eu não quero que você sofra. O trabalho na empresa não é tão fácil quanto você imagina. Além disso, nossa tarefa mais importante agora é nos prepararmos para a gravidez. Você precisa cuidar bem da sua saúde e nos ajudar a ter o fruto do nosso amor o mais rápido possível.

Daniela não sabia se essa era a verdadeira opinião de José ou uma desculpa dele, mas afirmou com firmeza:

— José, eu estou decidida.

Após ser rejeitado, José ficou um pouco irritado. Ele se sentiu incomodado.

— Daniela, o que há de tão ruim em ser dona de casa? Você acha que estou te deixando na mão em algo? A vida confortável que você leva agora é o sonho de muitas mulheres que trabalham lá fora!

Além disso, na sua visão, era natural que o homem trabalhasse fora e a mulher ficasse em casa.

Esse sempre foi seu conceito familiar.

Pensando nisso, José continuou:

— Dani, minha mãe e minha tia são todas donas de casa e se adaptaram muito bem a isso.

Daniela soltou uma leve risada.

Isso porque elas tinham seus próprios recursos. Embora dissessem que eram donas de casa, os ativos, fundos, ações, casas e carros que possuíam eram suficientes para que uma classe trabalhadora vivesse por várias vidas.

Ser uma dona de casa não significava ser uma babá em tempo integral.

Por ser tão jovem na época, ela confiou totalmente a OEC a José.

Daniela perguntou suavemente:

— José, por que você está tão relutante em me deixar voltar a trabalhar na empresa? Você fez algo que me traiu?

Instantaneamente, a expressão de José mudou, e seus olhos se moveram nervosamente. Ele enfatizou:

— Você só pensa em bobagens o dia todo. Mal tenho tempo para trabalhar, que poderia ter feito para te trair? Meu amor por você é inabalável, e o céu e a terra podem testemunhar isso. Nos conhecemos há oito anos e nos amamos há seis. Quanto eu já gastei com você? Quanta dedicação coloquei no nosso relacionamento? Daniela, como você pode duvidar da minha lealdade? Isso realmente me machuca.

Daniela escondeu a zombaria nos olhos e soltou uma voz leve e brincalhona:

— José, por que você está tão nervoso? Estou apenas brincando com você.

José se virou, irritado e envergonhado, e pressionou a têmpora com a mão.

Ele também sentiu que havia reagido de forma exagerada.

Uma expressão de emoção desconhecida passou por seus olhos negros.

— Se você quer trabalhar, então vá. Justo agora o departamento de vendas está precisando de alguém. Você pode ir se apresentar.

O departamento de vendas, onde se vendiam produtos, significava, em termos simples, acompanhar clientes e ser um puxador de saco.

Nos primórdios da empresa, quando foi fundada, os dois saíram para correr atrás de negócios e acabaram completamente embriagados pelos investidores.

Sentaram-se na calçada, cada um abraçando uma lata de lixo, vomitando até perderem a noção.

José segurou firmemente a mão de Daniela e prometeu: “Dani, assim que a empresa estiver nos trilhos, eu definitivamente não vou mais deixar você correr atrás de negócios. Quero que você seja minha vice-presidente e minha esposa, em pé de igualdade.”

Daniela sorriu amargamente.

Aquela promessa, ele provavelmente já havia esquecido.

— Certo, eu irei para o departamento de vendas. — Ela assentiu.

Nos olhos de José, passou um lampejo de relutância.

No entanto, se quisesse dissuadir Daniela, teria que usar um método especial.

Pensando nisso, ele se sentiu mais tranquilo.

José puxou a gola da camisa e disse:

— Vou tomar um banho primeiro. Espere por mim, vamos voltar para casa juntos e cumprimentar os nossos pais.

Dez minutos depois, o casal recém-casado saiu do hotel juntos e, por coincidência, o elevador estava aberto.

José deu alguns passos rápidos e apressou Daniela:

— Vamos, rápido.

Ela estava se movendo com dificuldade.

Na noite anterior, Roberto a machucou muito, sua pele estava arranhada e ela não ousou comprar remédios, deixando as pequenas feridas cicatrizarem sozinhas.

Quando Daniela entrou no elevador, de repente percebeu que Roberto também estava lá.

Na cerimônia de ontem, havia muitas pessoas e Daniela não conseguiu ver direito. A noite passada, nem se fala, então, esta era a primeira vez que Daniela via Roberto de perto.

As fofocas se mostraram verdadeiras.

Na verdade, José já tinha uma aparência que poderia ser considerada excepcional, conhecido como o “garoto mais bonito” da escola.

Mas, quando José estava diante de Roberto, ele instantaneamente parecia apagado.

Era como uma estrela insignificante ao lado da lua fria e brilhante, sem brilho algum.

José segurou a mão de Daniela, entrelaçando os dedos de maneira possessiva:

— Dani, este é o tio, nos encontramos ontem.

Daniela apenas assentiu.

Um suor frio brotou em suas palmas. Ela olhou para baixo, obedientemente chamando:

— Tio… Tio.

No instante em que ouviu a voz, Roberto abaixou os olhos, fixando o olhar em Daniela, observando o topo de sua cabeça com cabelo negro.

A voz de sua cunhada soava estranhamente semelhante àquela mulher da noite passada.

Ele apertou os olhos e, inclinando-se um pouco, com sua vantagem de altura, viu um leve sinal sob o decote de Daniela.

O olhar calmo de Roberto se voltou para José, que também tinha algumas marcas vermelhas no pescoço, cobertas pela camisa branca.

Parecia que o recém-casado teve uma noite bastante intensa.

Portanto, como aquela mulher poderia ser sua cunhada?

Roberto não disse uma palavra.

As costas de Daniela estavam tensas de nervosismo, e ela se perguntava se ele a teria reconhecido.

Roberto de repente fez um som de “hm”, sua entonação era fria, sinistra e gélida, parecendo muito difícil de lidar.

As portas do elevador se abriram.

José, segurando a mão de Daniela, acabara de sair do elevador, quando ouviu o assistente de Roberto, Rubens, se aproximar e dizer:

— Sr. Roberto, encontramos a pessoa da noite passada.

O coração de Daniela disparou novamente.

Sem saber o que estava sendo dito do outro lado, Roberto de repente começou a caminhar em direção a ela.

Ela engoliu em seco.

Sua garganta estava completamente seca.

Era o fim.
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