Elise acordou sentindo o calor suave do sol filtrando-se pelas frestas da janela da cabana. O cheiro de madeira úmida e ervas secas preenchia o ar, trazendo uma sensação agridoce de nostalgia. O lugar era simples, mas seguro. Pelo menos por enquanto.A noite anterior havia sido tensa. Depois da fuga arriscada do castelo, sua mente ainda estava em alerta, esperando que, a qualquer momento, os guardas aparecessem à porta para levá-la de volta. No entanto, a tranquilidade do amanhecer e a presença de Viktor, que já estava acordado e sentado próximo à lareira acendendo um pequeno fogo, trouxeram-lhe um raro instante de paz.Ela se espreguiçou devagar, sentindo a rigidez do corpo após tanto tempo dormindo em uma cama menos confortável do que as do palácio. Não que se importasse. Pelo contrário, cada detalhe daquela nova realidade reforçava que ela estava, enfim, fora dos muros que a aprisionavam.— Você finalmente dormiu — Viktor comentou sem desviar o olhar das chamas que dançavam à sua f
Lucian sentia o peso da coroa sobre seus ombros mais do que nunca. Desde que Elise desaparecera, a culpa corroía seu peito como uma lâmina afiada, tornando cada pensamento um tormento incessante. Ele percorria os corredores do palácio como um espectro, os olhos cansados e a mente em guerra com si mesmo.Quando foi que tudo começara a sair do controle? Ele tentava encontrar o momento exato em que Elise começou a se afastar dele, mas a verdade era amarga: ele mesmo criara essa distância. Não intencionalmente, mas ao permitir que o peso das responsabilidades o consumisse, afastou-se dela no momento em que ela mais precisava. E não tinha sido apenas ele, seu irmão em refelxo fez o mesmo.As últimas semanas haviam sido um verdadeiro inferno. O conselho aumentava a pressão todos os dias, e Seraphine surgira como uma tempestade silenciosa, cobrando sua posição, sussurrando perigosas possibilidades que apenas aumentavam sua paranoia. Ele sabia que havia segredos demais ao redor de Elise, e is
O silêncio no salão do conselho era sufocante. Lucian permanecia de pé, encarando os nobres reunidos à sua frente, sentindo a fúria e a preocupação fervilharem dentro de si. O desaparecimento de Elise havia criado um turbilhão dentro do castelo, e agora, além do medo por sua segurança, ele precisava lidar com os olhares acusadores daqueles que o rodeavam.Astor foi o primeiro a quebrar o silêncio.— Ela fugiu, Lucian! E se algo acontecer com ela? Com os bebês? — A voz do homem carregava um tom de frustração e desespero. — Você entende o que está em risco?Lucian apertou os punhos ao ouvir aquelas palavras. Tinha até que demorado para a paciência de seu irmão se esgotar, tinham se passado dias sem saber o paradeiro de Elise. As palavras duras de Astor não eram nada, não é como se a culpa já não o consumisse o suficiente, como se cada segundo sem Elise não fosse um tormento.— Eu entendo. E é por isso que não podemos agir impulsivamente. Se ela fugiu, teve um motivo. E se tentarmos enco
Os dias se arrastavam como um jogo de paciência cruel para Elise. Cada amanhecer trazia consigo o temor da captura, a incerteza sobre o que aconteceria se fosse encontrada, e o cansaço emocional de viver escondida. O mundo que ela conhecia estava distante; agora, sua realidade era uma cabana isolada e a companhia constante de Viktor, cuja presença, apesar de tranquilizadora, era também um lembrete de tudo o que ela perdera.Desde o dia em que fugiram, Viktor se ocupava em garantir que não faltasse nada para ela. Ele ia à cidade, recolhia informações sobre os movimentos dos reis e do conselho, e voltava sempre com suprimentos. Elise não saía muito; a sua identidade ainda era um risco, e Viktor reforçava que a discrição era essencial, para manter as aparências. Mas, apesar disso, os dois começaram a criar uma rotina, um equilíbrio frágil no meio do caos.Uma tarde, Viktor apareceu com uma ideia ousada.— Precisamos sair um pouco — ele sugeriu enquanto empilhava lenha perto da lareira.E
A noite caía sobre a cidade como um véu denso e sombrio, envolvendo os becos e ruas de paralelepípedos em uma penumbra quase fantasmagórica. Na cabana afastada onde Elise e Viktor se refugiavam, o silêncio era quebrado apenas pelo crepitar da lareira e pelo som distante do vento zunindo entre as árvores.Elise sentia o peso dos últimos dias sobre os ombros. A tensão das buscas, o medo constante de ser encontrada e a incerteza do futuro pairavam sobre ela como um fardo invisível, era infantil pensar que somente com a fuga ela iria ter paz.Sentada em uma cadeira de madeira próxima à lareira, ela observava Viktor, que limpava a lâmina de sua adaga com uma concentração meticulosa.— Eu ainda não entendo… — a voz de Elise rompeu o silêncio. — Por que está se arriscando tanto por mim?Não fazia sentindo perguntar isso agora, ela sabia. Eles já tinham passado por muita coisa nesses últimos dias e antes disso também, na sua pequena vida antes de ser herdeira da família Delacroix e rainha de
A névoa pairava densa naquela manhã, tornando as ruas da cidade ainda mais claustrofóbicas. Elise sentia um peso nos ombros que não vinha apenas da perseguição incessante dos guardas, mas também das dúvidas que martelavam sua mente. Ela não podia negar que Viktor havia sido uma presença reconfortante durante aqueles dias de fuga, mas isso não tornava sua situação menos angustiante.Sentada junto à janela da nova pequena cabana onde estavam escondidos, Elise observava os poucos transeuntes caminhando pelas ruas de pedra. A cidade parecia seguir seu curso normal, alheia ao fato de que a rainha desaparecida estava ali, entre eles. O anonimato lhe servia de escudo, mas por quanto tempo?— Eles não vão parar, não é? — murmurou ela, os olhos fixos na névoa.Viktor, que estava afivelando sua bota perto da porta, levantou o olhar. Seu semblante carregava a firmeza de alguém que já sabia a resposta.— Não. Mas nós também não vamos facilitar para eles. — Ele se levantou e se aproximou, apoiando
A névoa persistia sobre a cidade, cobrindo as ruas como um véu silencioso. Elise acordara cedo, mas não por escolha própria. O cansaço acumulado dos últimos dias a impedia de dormir profundamente, e o frio da manhã apenas aumentava sua sensação de inquietação. Sentada na pequena mesa da cabana, observava a lareira apagada, sentindo o peso das incertezas.Ela passou os dedos pelo tecido gasto de sua capa, refletindo sobre tudo o que havia perdido. Seu lar, sua posição, sua identidade. E, acima de tudo, Astor e Lucian. Eles ainda estavam procurando por ela? Ainda achavam que ela estava viva? Ou os reis já haviam apagado qualquer vestígio de sua existência, reduzindo sua história a um mero sussurro esquecido? Eles ainda tinham Seraphine como a substituta perfeita.Viktor entrou no cômodo, interrompendo seus pensamentos. Seu olhar atento captou imediatamente sua expressão preocupada.— Você não dormiu bem. — Ele comentou, pegando um pedaço de pão da mesa.— Não tenho dormido bem há dias.
O peso do silêncio na sala do conselho era quase tão sufocante quanto o cheiro de sangue que ainda impregnava as paredes do castelo. Astor permaneceu de pé, os punhos cerrados, sentindo cada músculo de seu corpo se retesar conforme a fúria crescia em seu peito. A ausência de Elise pairava como uma sombra, e, com a aproximação da lua cheia, seu lycan interior rugia, ansioso, inquieto.Ele respirou fundo, tentando conter o impulso animal que ameaçava tomar o controle. O conselho se reunia diante dele, inquieto, debatendo medidas para acalmar a nobreza e garantir que a notícia do desaparecimento da rainha não se espalhasse. Mas Astor não ouvia as palavras. Seus olhos estavam fixos na grande janela atrás da mesa do conselho, onde a lua, mesmo em sua fase crescente, parecia zombar dele.A irritação fervilhava dentro dele, misturando-se à impaciência de seu lycan, que sussurrava tentações sombrias em sua mente. O desejo de despedaçar aqueles velhos impotentes, que murmuravam entre si como s