Os dias se arrastavam como um jogo de paciência cruel para Elise. Cada amanhecer trazia consigo o temor da captura, a incerteza sobre o que aconteceria se fosse encontrada, e o cansaço emocional de viver escondida. O mundo que ela conhecia estava distante; agora, sua realidade era uma cabana isolada e a companhia constante de Viktor, cuja presença, apesar de tranquilizadora, era também um lembrete de tudo o que ela perdera.Desde o dia em que fugiram, Viktor se ocupava em garantir que não faltasse nada para ela. Ele ia à cidade, recolhia informações sobre os movimentos dos reis e do conselho, e voltava sempre com suprimentos. Elise não saía muito; a sua identidade ainda era um risco, e Viktor reforçava que a discrição era essencial, para manter as aparências. Mas, apesar disso, os dois começaram a criar uma rotina, um equilíbrio frágil no meio do caos.Uma tarde, Viktor apareceu com uma ideia ousada.— Precisamos sair um pouco — ele sugeriu enquanto empilhava lenha perto da lareira.E
A noite caía sobre a cidade como um véu denso e sombrio, envolvendo os becos e ruas de paralelepípedos em uma penumbra quase fantasmagórica. Na cabana afastada onde Elise e Viktor se refugiavam, o silêncio era quebrado apenas pelo crepitar da lareira e pelo som distante do vento zunindo entre as árvores.Elise sentia o peso dos últimos dias sobre os ombros. A tensão das buscas, o medo constante de ser encontrada e a incerteza do futuro pairavam sobre ela como um fardo invisível, era infantil pensar que somente com a fuga ela iria ter paz.Sentada em uma cadeira de madeira próxima à lareira, ela observava Viktor, que limpava a lâmina de sua adaga com uma concentração meticulosa.— Eu ainda não entendo… — a voz de Elise rompeu o silêncio. — Por que está se arriscando tanto por mim?Não fazia sentindo perguntar isso agora, ela sabia. Eles já tinham passado por muita coisa nesses últimos dias e antes disso também, na sua pequena vida antes de ser herdeira da família Delacroix e rainha de
A névoa pairava densa naquela manhã, tornando as ruas da cidade ainda mais claustrofóbicas. Elise sentia um peso nos ombros que não vinha apenas da perseguição incessante dos guardas, mas também das dúvidas que martelavam sua mente. Ela não podia negar que Viktor havia sido uma presença reconfortante durante aqueles dias de fuga, mas isso não tornava sua situação menos angustiante.Sentada junto à janela da nova pequena cabana onde estavam escondidos, Elise observava os poucos transeuntes caminhando pelas ruas de pedra. A cidade parecia seguir seu curso normal, alheia ao fato de que a rainha desaparecida estava ali, entre eles. O anonimato lhe servia de escudo, mas por quanto tempo?— Eles não vão parar, não é? — murmurou ela, os olhos fixos na névoa.Viktor, que estava afivelando sua bota perto da porta, levantou o olhar. Seu semblante carregava a firmeza de alguém que já sabia a resposta.— Não. Mas nós também não vamos facilitar para eles. — Ele se levantou e se aproximou, apoiando
A névoa persistia sobre a cidade, cobrindo as ruas como um véu silencioso. Elise acordara cedo, mas não por escolha própria. O cansaço acumulado dos últimos dias a impedia de dormir profundamente, e o frio da manhã apenas aumentava sua sensação de inquietação. Sentada na pequena mesa da cabana, observava a lareira apagada, sentindo o peso das incertezas.Ela passou os dedos pelo tecido gasto de sua capa, refletindo sobre tudo o que havia perdido. Seu lar, sua posição, sua identidade. E, acima de tudo, Astor e Lucian. Eles ainda estavam procurando por ela? Ainda achavam que ela estava viva? Ou os reis já haviam apagado qualquer vestígio de sua existência, reduzindo sua história a um mero sussurro esquecido? Eles ainda tinham Seraphine como a substituta perfeita.Viktor entrou no cômodo, interrompendo seus pensamentos. Seu olhar atento captou imediatamente sua expressão preocupada.— Você não dormiu bem. — Ele comentou, pegando um pedaço de pão da mesa.— Não tenho dormido bem há dias.
O peso do silêncio na sala do conselho era quase tão sufocante quanto o cheiro de sangue que ainda impregnava as paredes do castelo. Astor permaneceu de pé, os punhos cerrados, sentindo cada músculo de seu corpo se retesar conforme a fúria crescia em seu peito. A ausência de Elise pairava como uma sombra, e, com a aproximação da lua cheia, seu lycan interior rugia, ansioso, inquieto.Ele respirou fundo, tentando conter o impulso animal que ameaçava tomar o controle. O conselho se reunia diante dele, inquieto, debatendo medidas para acalmar a nobreza e garantir que a notícia do desaparecimento da rainha não se espalhasse. Mas Astor não ouvia as palavras. Seus olhos estavam fixos na grande janela atrás da mesa do conselho, onde a lua, mesmo em sua fase crescente, parecia zombar dele.A irritação fervilhava dentro dele, misturando-se à impaciência de seu lycan, que sussurrava tentações sombrias em sua mente. O desejo de despedaçar aqueles velhos impotentes, que murmuravam entre si como s
A fúria pulsava em Astor como uma fera enjaulada, seus passos ecoando pesados pelo castelo enquanto ele tentava manter o controle. O conselho continuava a murmurar, os velhos decrépitos trocando olhares cúmplices enquanto discutiam como manter a aparência de ordem diante da ausência da rainha. Nenhum deles se importava realmente com Elise. Para eles, ela era apenas um obstáculo, uma peça política que precisavam manter sob controle.A angústia de não saber onde Elise estava o corroía por dentro. A ligação que haviam selado em seu casamento parecia cada vez mais fraca, como um fio de prata prestes a se romper, e isso quase o levava à loucura. Ele precisava encontrá-la, sentir sua presença, assegurar-se de que estava viva. Mas mais do que isso, precisava de seus filhos. Ser o pai que os protegeria, que não os deixaria à mercê do destino. Lutaram tanto para tê-los, e agora, a ideia de perdê-los assim como poderia perder Elise era um tormento insuportável.Seu lycan rugia dentro dele, e co
A alvorada pintava o céu com tons suaves de dourado e lilás quando Elise despertou, sentindo o calor brando do sol filtrando-se pela janela da pequena cabana onde estavam escondidos. O mundo ao redor ainda estava silencioso, como se segurasse a respiração antes de mais um dia turbulento. A cabana em si era modesta, construída com madeira envelhecida e cheirando a resina fresca.Havia móveis simples: uma mesa pequena encostada à parede, cadeiras rústicas e uma lareira apagada no canto, cujas cinzas ainda guardavam o calor da noite anterior. Uma única prateleira exibia alguns utensílios e suprimentos básicos, enquanto um tapete desbotado cobria parte do chão de tábuas irregulares.Elise se mexeu lentamente sobre o colchão, sentindo o corpo fraco e pesado. Um enjoo incômodo a acompanhava desde que haviam chegado ali, deixando-a tonta e sem apetite. Perguntou-se, vagamente, se aquilo estava ligado à sua distância dos reis.A ligação que compartilhava com Astor e Lucian parecia frágil, mai
A tensão no ar era sufocante. Elise sentia a ligação com Astor e Lucian queimar em sua mente como brasas vivas, um aviso cruel de que estavam próximos. Seu coração batia acelerado enquanto observava Viktor junto à janela, seu corpo tenso e os olhos sombrios fixos na floresta adiante. Algo se movia na escuridão.— Eles nos encontraram — Viktor murmurou, sua mão deslizando até o punho da espada.Elise sentiu o sangue gelar. Ela sabia que esse momento chegaria, mas agora que estava diante dele, não sabia como reagir. A vontade de fugir lutava contra o desejo irracional de correr para eles. A ligação, mesmo enfraquecida, pulsava violentamente em seu peito.— Precisamos ir, agora. — Viktor puxou seu pulso com urgência, mas ela hesitou.Antes que pudessem reagir, a porta da cabana explodiu para dentro, arrancada das dobradiças como se fosse feita de papel. Uma rajada de vento atravessou o pequeno espaço, e, no limiar da entrada, duas figuras se impuseram, seus olhos brilhando em um tom selv