Desde a chegada de Seraphine, Elise sentia que algo em sua dinâmica com os reis havia mudado. O distanciamento deles, antes sutil, agora parecia mais evidente. Lucian e Astor continuavam cumprindo seus deveres ao seu lado, mas a proximidade que antes compartilhavam parecia mais fria, mais cautelosa. E Seraphine... bem, Seraphine se encaixava entre eles com uma facilidade irritante.Na manhã seguinte ao jantar, Elise encontrou Seraphine nos jardins do castelo, observando as flores com uma expressão serena. Quando seus olhos se cruzaram, a outra mulher sorriu, um sorriso impecável e controlado, do tipo que escondia mais do que revelava.— Majestade, que agradável vê-la tão cedo — saudou Seraphine, sua voz melódica e refinada.Elise manteve sua postura firme, caminhando até ela com a elegância que aprendera a dominar.— Lady Seraphine, vejo que já se acostumou bem ao castelo — respondeu, mantendo seu tom neutro.Seraphine inclinou a cabeça levemente, como se estivesse analisando Elise.—
O silêncio dos corredores do castelo tornava o isolamento de Elise ainda mais evidente. Desde a chegada de Seraphine, as interações com os reis haviam se tornado cada vez mais escassas. Eles continuavam ao seu lado nos compromissos necessários, mas a proximidade que compartilhavam antes parecia se dissipar lentamente. Era impossível ignorar o sentimento de deslocamento que a consumia. Agora, tudo parecia diferente, e não saber o que se passava na mente deles a atormentava.Quando o médico real chegou para avaliá-la, Elise sentiu um alívio momentâneo. Ao menos alguém ainda se preocupava com sua saúde e a do bebê. Durante o exame, ele a analisou com atenção, sua expressão neutra adquirindo um leve franzir de sobrancelha.— Algo está errado? — ela perguntou, sentindo um aperto no peito.O médico hesitou por um instante antes de responder.— Não diria errado, Majestade, mas curioso. Pelo seu tempo de gestação, a evolução do bebê parece um pouco mais avançada do que o esperado. — Ele pauso
Astor observava a luz pálida do amanhecer filtrando-se pelas janelas do salão estratégico. O peso das últimas semanas parecia ter se acumulado em seus ombros, e o silêncio entre os presentes na reunião refletia o turbilhão de pensamentos que o consumia. O afastamento entre ele, Lucian e Elise era algo que lhe incomodava, mas era um preço que achava necessário pagar — ou ao menos, assim tentava convencer a si mesmo.Desde que aquele prisioneiro trouxera revelações sobre o passado de Elise, a pressão sobre a coroa havia se tornado insustentável. O conselho, já relutante em aceitá-la como rainha, agora encontrava justificativas para minar sua posição. E então, havia Seraphine. Sua chegada ao palácio não havia sido mera coincidência ou um capricho da nobreza. Era uma peça cuidadosamente colocada no tabuleiro para agradar os insatisfeitos e, de certo modo, acalmar as dúvidas internas que o próprio conselho levantava.Lucian e ele não haviam se distanciado de Elise por escolha, mas sim por
Astor caminhava pelos corredores do palácio ao lado de Lucian, ambos imersos nas decisões estratégicas que estavam tomando sob orientação dos estrategistas reais. A pressão do conselho continuava a aumentar, e eles precisavam ser cuidadosos em cada movimento. Mesmo com os decretos e as manobras políticas que haviam iniciado, a situação permanecia delicada.E, como se não bastasse a tensão política, havia Seraphine. A jovem lady não perdia uma oportunidade de se fazer presente, sempre insinuando sua posição ao lado dos reis, como se já fosse uma peça consolidada no jogo. Era sutil, mas clara o suficiente para ser incômoda.Em uma das reuniões que antecederam um encontro do conselho, Seraphine se aproximou com um sorriso afável, a postura impecável de uma dama que sabia exatamente como jogar com as palavras.— Majestades, pensei que poderíamos discutir alguns detalhes sobre os preparativos do festival de inverno. Como sabem, minha família sempre teve um papel central nessa festividade.
Elise caminhava de um lado para o outro em seus aposentos, sentindo a ansiedade se avolumar a cada minuto que passava. O tempo estava se esgotando. Ela sabia que, se quisesse escapar, precisava agir rápido. Nos últimos dias, os olhares sobre ela haviam se tornado ainda mais vigilantes, e o peso das conspirações ao seu redor era sufocante. O conselho queria controlá-la, Seraphine queria substituí-la e, embora soubesse que Astor e Lucian estavam lutando para protegê-la, ela não podia confiar inteiramente no que planejavam.A ideia de fugir parecia insana, mas era a única opção. Para ela e para seu filho – filhos, na verdade, embora ainda não tivesse confirmado essa suspeita. O instinto lhe dizia que algo estava diferente desta vez. Mas não havia tempo para se preocupar com isso agora. A prioridade era encontrar uma saída segura do palácio.Naquele dia, enquanto passeava discretamente pelos corredores, Elise avistou um grupo de guardas da coroa conversando. Um deles, no entanto, chamou s
A escuridão da noite envolvia os corredores do castelo como um manto silencioso, mas para Elise e Viktor, cada sombra parecia um inimigo à espreita. A fuga estava em andamento, e o tempo era um luxo que não podiam se dar. Elise manteve o passo firme ao lado de Viktor, que caminhava à frente, atento a cada som, cada movimento suspeito. O plano era simples, mas arriscado: atravessar o pátio central do castelo, seguir pelos jardins laterais e alcançar um dos portões secundários. Além daquele ponto, um cavalo já os aguardava, pronto para levá-los para longe.Os passos dos guardas ressoavam nas paredes de pedra, fazendo Elise prender a respiração a cada vez que uma patrulha passava. Viktor, conhecedor das rondas, movia-se com precaução, guiando-a pelos caminhos menos vigiados.— Falta pouco — ele murmurou, mantendo o tom baixo. — Assim que cruzarmos aquele arco, estaremos no jardim. Depois, tudo depende da nossa rapidez.Elise assentiu, apertando os punhos. Sua mente fervilhava com as ince
A noite estava fria e o cheiro de madeira úmida impregnava o ar dentro da cabana. Elise sentia o cansaço pesar sobre seus ombros, mas sua mente estava agitada demais para permitir qualquer descanso. As sombras das chamas dançavam nas paredes rústicas, enquanto Viktor verificava as janelas para se certificar de que não havia sido seguido.Ela se abraçou, tentando aquecer o próprio corpo, e deixou o olhar vagar pelo pequeno espaço. Era simples, mas funcional. Havia uma mesa de madeira no centro, uma cama de palha encostada na parede e alguns mantimentos empilhados em um canto. Viktor havia planejado tudo. A ideia de que ele viera até ali para resgatá-la, colocando a própria vida em risco, fazia algo se revirar dentro dela.Instintivamente se viu tocar as mãos levemente sobre o ventre, sentindo a fraca ondulação que ocorreu debaixo o seu toque, um sorriso contido surgiu em seus lábios. Seus filhos estavam lhe dando um sinal que estavam bem e isso para ela significava tudo. Olhando para
Elise acordou sentindo o calor suave do sol filtrando-se pelas frestas da janela da cabana. O cheiro de madeira úmida e ervas secas preenchia o ar, trazendo uma sensação agridoce de nostalgia. O lugar era simples, mas seguro. Pelo menos por enquanto.A noite anterior havia sido tensa. Depois da fuga arriscada do castelo, sua mente ainda estava em alerta, esperando que, a qualquer momento, os guardas aparecessem à porta para levá-la de volta. No entanto, a tranquilidade do amanhecer e a presença de Viktor, que já estava acordado e sentado próximo à lareira acendendo um pequeno fogo, trouxeram-lhe um raro instante de paz.Ela se espreguiçou devagar, sentindo a rigidez do corpo após tanto tempo dormindo em uma cama menos confortável do que as do palácio. Não que se importasse. Pelo contrário, cada detalhe daquela nova realidade reforçava que ela estava, enfim, fora dos muros que a aprisionavam.— Você finalmente dormiu — Viktor comentou sem desviar o olhar das chamas que dançavam à sua f