Christian Müller - O céu cinzento parecia refletir o que eu sentia por dentro. A chuva fina que começava a cair não era nada comparada à tempestade que devastava minha alma.Parecia um reflexo perfeito do que eu sentia por dentro uma escuridão densa e sufocante.A mídia já havia estampado manchetes sobre o caso. “Esposa do CEO Christian Müller morre em trágico acidente”, diziam os jornais. “Herdeira da Müller & Co. sofre destino fatal”.Repórteres tentavam capturar cada expressão minha, como se esperassem que eu desmoronasse em frente às câmeras.Mas eu não desmoronei.Eu fiquei ali, parado diante do caixão fechado, vestido de preto dos pés à cabeça, com as mãos enfiadas nos bolsos do paletó e os olhos fixos para o nada.Porque não havia corpo.Não ouvi o que o padre disse. Não ouvi os soluços das pessoas ao meu redor. Tudo o que ecoava em minha mente era o som dos tiros naquele vídeo maldito e a visão do carro carbonizado.Ivy estava morta. E eu a perdi.Prometemos nunca nos deixar
Christian Müller – 5 anos depois, Delaware, EUA.Não fazia muito tempo em que eu havia chegado na cidade e já estava saindo de uma grande conferência.Decidi ir direto para o salão de reuniões, fazendo o check-in somente depois que terminasse, para não perder tempo.O lobby do hotel era amplo e sofisticado, com lustres reluzentes pendendo do teto abobadado e um aroma sutil de madeira e couro.Eu atravessava o espaço com passos firmes, com o telefone pressionado contra o ouvido enquanto ouvia Mark do outro lado da linha.— Então, Christian, já teve tempo para analisar as oportunidades por aí? — A voz dele era profissional, mas com um tom familiar.— Algumas. O evento atraiu nomes interessantes. Pode ser útil para futuras parcerias. — Respondi, ajustando a manga do terno, enquanto eu esperava na fila.— Ótimo. Sabia que você não iria apenas marcar presença. Me mantenha informado — Mark disse, satisfeito.Antes que pudesse responder, um vulto passou correndo pelo canto da minha visão, se
Christian Müller –A mala errada já não estava mais em minhas mãos, mas o peso da dúvida continuava me esmagando.Me afastei da porta, fechei os olhos por um instante e tentei ignorar o martelar da minha pulsação.Aquela voz... Não poderia ser ela. Era impossível, ela estava...Morta?Afrouxei a gravata de novo, como se precisasse desesperadamente de ar.Meu peito subia e descia em um ritmo descontrolado, e eu odiava isso. Odiava que um simples engano, um detalhe ridículo, tivesse sido o suficiente para me arrancar de anos de controle impecável.A voz dela não deveria estar ali. Mas estava.Caminhei até a janela, observando a cidade abaixo, luzes cintilantes espalhadas em um mosaico vibrante. Delaware não significava nada para mim até agora.Um destino escolhido por conveniência, por negócios, mas naquele instante, parecia que o universo ria de mim, como se tivesse me arrastado para esse lugar com um propósito cruel.Meu celular vibrou na mesa de cabeceira, arrancando-me do torpor. Qua
A noite avançava, e o silêncio do hotel era quebrado apenas pelo som suave da água ondulando na piscina. As luzes refletiam na superfície, criando um jogo de sombras e brilhos dourados sob a lua.Eu estava no meu quarto, quando me servi dr uma dose de Whisky e caminhei até a janela para ver a noite. Uma movmentação na piscina tomou minha atenção.Ela estava lá.Laura.Ela deslizava na água com uma graça hipnotizante, como se pertencesse àquele lugar.Seu corpo se moveu sob a superfície cristalina e a luz prateada desenhava cada contorno seu. Era impossível não olhar. Não notar a forma como seus cabelos molhados grudavam na pele delicada de seu pescoço. A maneira como sua postura era deslumbrante.O biquine minimamente detalhadp, encaixando seu corpo o deixando ricamente deslumbrante. As curvas agora diferentes; mais seios, mais coxas, mais bunda.Minha mente me traiu.Porque naquele instante, não era Laura que eu via. Era Ivy.A minha Ivy.E então, envolvido sobre a dose de álcool e a
Christian Müller -A noite foi longa. O sono nunca veio, foi difícil pregar o olho com tanta coisa acontecendo ao meu redor. Eu até perdi o foco sobre o que vim realmente fazer nessa cidade.Eu permaneci deitado, olhando para o teto escuro do quarto, enquanto minha mente repetia a cena no corredor incontáveis vezes.A voz dela ainda ecoava na minha cabeça, junto com a sensação de suas mãos contra meu peito.Quando o sol finalmente bateu conta as cortinas, eu desisti de tentar dormir.Me levantei e tomei um banho frio, me vestindo com a mesma precisão de sempre.Eu até poderia parecer apresentável, mas só eu sabia a bagunça que eu estava por dentro.Desci para o café da manhã antes da conferência, esperando que um pouco de cafeína pudesse afastar a exaustão.O restaurante do hotel estava tranquilo, apenas algumas poucas pessoas sentadas às mesas. Peguei uma xícara de café e servi até a borda, sentindo o aroma forte subir no ar.E então, senti o impacto.Algo, ou melhor, alguém, bateu c
Christian Müller –Peguei meu copo e ergui levemente na direção dela.— Então, a negócios? — Minha voz saiu arrastada, provocativa, testando a reação dela.Laura não desviou o olhar. Pelo contrário. Pegou seu próprio copo e ergueu no mesmo nível.O toque gelado dos cristais ressoando entre nós, fez com que um brilho inundasse seus olhos.— A negócios. — Ela concordou e então bebemos ao mesmo tempo.O líquido desceu queimando, mas não mais do que a forma como ela me olhava.Laura inclinou levemente a cabeça, me estudando como se tentasse decifrar algo.— Você sempre leva tudo tão a sério, Christian? – Ela perguntou com um tom baixo e sensual.O jeito como meu nome saiu de seus lábios me fez cerrar os olhos.— E você sempre propõe negócios num bar, depois de algumas doses? – Perguntei a rebatendo, encarando-a fixamente. – Isso não é perigoso?Ela sorriu, inclinando-se um pouco para frente, deixando o perfume dela chegar até mim, como uma lembrança que eu nunca tive. Aquele cheiro não er
Laura Stevens –Meus olhos o acompanharam enquanto ele se afastava e meu coração saltou dentro do peito.Assim que a porta se fechou atrás de mim, encostei as costas contra a madeira fria, soltando um suspiro trêmulo. Meu coração ainda estava disparado e minha cabeça latejava com tudo o que tinha acabado de acontecer.O jeito como seus olhos se fixaram em mim, tentando atravessar a superfície da minha pele e alcançar algo além. Como se estivessem lutando contra lembranças que ele não sabia onde encaixar.Ele suspeitava.Engoli em seco e passei as mãos pelos braços, tentando me aquecer.Meu corpo ainda sentia a tensão de estar tão perto dele, de escutar sua voz grave novamente, de vê-lo levantar o copo e brindar comigo como se aquele momento não significasse nada, mas significava.Christian estava exatamente como eu sabia que estaria. Frio. Controlado. Impecável.E enquanto eu estava bebendo ao lado dele o desafiando, quase me esqueci de tudo e me joguei nos braços dele.Não posso esqu
Laura Stevens –Segurei o telefone com mais força, escutando o suspiro de Sophie do outro lado da ligação.— Ivy...— Eu sei... — Minha voz saiu fraca, quase um sussurro.Eu sabia que precisava falar com ele. Mas como? Como olhar nos olhos do homem que eu amava e dizer que tudo pelo que ele passou nos últimos cinco anos foi uma mentira?Que enquanto ele tentava seguir em frente, eu lutava contra minha própria mente, tentando lembrar quem eu era?Meu peito subia e descia rápido demais. Me levantei da cama e andei até a janela do quarto, olhando para as luzes da cidade.— Você está com medo? — Sophie perguntou, e eu soltei uma risada curta, sem humor.— Estou. – Respondi e tudo ficou por um instante em silêncio.—Fique calma. Ele ainda te ama.Fechei os olhos, tentando processar as palavras.— Não diga isso. Você não entende, Sophie. — Apertei os olhos, sentindo a garganta fechar. — Ele amava aquela Ivy. E ele a perdeu. Agora, eu sou uma estranha que ele não conhece mais.— Você não é um