Christian Müller –O sol já estava alto quando ela me chamou.Amanda não disse nada direto, não pediu com palavras bonitas, não fez rodeios. Apenas entrou no escritório novamente, com os olhos inchados, mas secos. Ela me olhou como se quisesse dizer mil coisas, mas escolheu a mais simples:— Você pode me levar até onde ela está?Eu soube imediatamente do que ela estava falando.Assenti.Não falamos mais nada. Apenas saímos.Dominic ficou na porta da casa, segurando Tereza nos braços, como se dissesse silenciosamente que estaria esperando por ela. Amanda não o encarou. Talvez não conseguisse.Talvez fosse apenas medo de desmoronar novamente.O caminho foi silencioso.Um silêncio espesso, que apertava o peito. A estrada parecia mais longa do que era de fato. Vi as mãos dela tremerem levemente sobre o colo. Amanda olhava pela janela, mas eu sabia que os olhos dela não viam a paisagem. Estavam presos em outra época, em outro rosto, talvez no de uma mulher que ela nunca conheceu.Estacione
Laura Stevens –A casa estava em silêncio quando eles voltaram.Eu estava sentada no sofá com Tereza no colo, embalada por aquele calor sereno de uma manhã calma, quando ouvi a porta se abrir. Meus olhos foram direto para Amanda, e meu coração afundou no peito no mesmo instante.Ela entrou devagar, com os passos curtos, como se cada centímetro exigisse mais força do que ela podia dar.O rosto dela estava pálido, os olhos vermelhos. E ainda assim, havia dignidade em sua postura Era a mesma Amanda de sempre. A mulher que se mantinha erguida como uma torre mesmo em meio às tempestades.Mas eu a conhecia bem demais para não perceber as rachaduras.Ela me viu.E sem dizer uma palavra, veio até mim.Tereza estava dormindo, então a coloquei de lado, devagar, num ninho de cobertores sobre o sofá.Amanda parou à minha frente. E seus olhos se fixaram nos meus.De repente, ela desabou.Ela caiu nos meus braços com um soluço abafado, como se segurasse aquilo havia anos. E talvez estivesse mesmo.
Christian Müller –O dia amanheceu estranho.Pesado.Era como se o céu soubesse que algo importante estava para acontecer.Vesti o terno escuro, ajeitei a gravata com a mão trêmula. Esse era um detalhe que só eu mesmo percebi.Desci as escadas.Laura já me esperava, sentada no sofá da sala, com um vestido preto sóbrio e o cabelo preso num coque baixo.Amanda e Dominic estavam à porta. Amanda, com a expressão fechada, segura como sempre, mas com um brilho amargo nos olhos. Dominic, ao lado dela, parecia pronto para segurar o mundo se fosse preciso.— Vamos? — perguntei, mesmo sabendo que ninguém ali tinha escolha.O caminho até o tribunal foi silencioso. Cada um mergulhado nos próprios pensamentos.No banco de trás, Laura segurava minha mão.O toque dela era a âncora que eu precisava.Ao chegarmos, o prédio parecia ainda mais frio do que eu lembrava.As paredes cinzentas, as portas pesadas, o cheiro de papel velho e café frio impregnando o ambiente.Passamos pela segurança e fomos cond
Christian Müller –Fazia dias que o julgamento havia terminado, mas a paz que eu esperava... não veio.As noites ainda eram insones. A cabeça, cheia. O coração, em silêncio.Ainda faltava mais um assunto para ser resolvido...Quem era a mulher que planejou irritar Laura, colocando a vida delas em risco?Eu estava no banco do passageiro quando Mark parou o carro de forma brusca diante de um prédio velho, esquecido por qualquer traço de modernidade. Ele me olhou como quem guardava um segredo que pesava.— Foi aqui que ela desapareceu — disse ele. — A mulher que causou a discórdia entre você e a Laura. Eu encontrei.Demorei alguns segundos para entender.— Tem certeza? — perguntei, a mão já alcançando a maçaneta.Mark assentiu.Subimos os degraus mofados em silêncio, o cheiro de poeira impregnando o ar. Quando chegamos à porta do apartamento 402, o trinco estava quase solto. Eu forcei. Entramos.E então… tudo parou.Meu rosto.Por todos os lados.Fotos minhas coladas nas paredes, moldurad
Ivy Hunter – Capítulo final.Um ano se passou. E pela primeira vez… o tempo parecia estar ao meu favor.O céu estava limpo, pintado em tons suaves de azul, com nuvens brancas como lençóis recém-lavados. A brisa que soprava era fresca, suave, carregando no ar o cheiro de mar, rosas e lírios brancos.Eu me coloquei na ponta do tapete vermelho estendido sobre a areia clara, com o coração sereno e os olhos úmidos, mas não de dorDe gratidão.Ajustei a cauda do vestido de renda, modelo sereia, enquanto observava Nathan entrando com a pequena Tereza.Eles estavam lindos. Ele com um terno e bermuda, uma gravata borboleta e nos pés uma sandália. Tereza, bem pequena, usava um vestido branco e um laço no cabelo. A mão dele apertava a dela com cuidado, como se protegê-la fosse sua única missão.Ela jogava pétalas brancas com um sorriso encantador.Logo atrás, o pequeno Gutierrez caminhava sério, tentando parecer adulto e ao lado da irmã que sorria para todos.A música tocava em violino. A clássi
Sky pub, Flórida. Ivy Hunter – “Estou atrasada mais uma vez!” - Exclamei encarando o relógio em meu pulso. Já se passavam das dez da noite, quando empurrei as portas da lateral do bar, entrando apressada.O bar que por sua vez, recebia o Happy hour de costume, para grandes executivos, parecia mais movimentado que o habitual. Dei um passo sabendo que seria repreendida e logo dei de frente com o gerente, que me encarava com os olhos escurecidos. —Ivy, você sabe que não toleramos atrasos. - Disse ele com seu rosto avermelhado de raiva, me empurrando uma bandeja. —Vista-se e leve isso para a sala privada. É a garrafa mais cara que temos. Mais um erro esta noite e será demitida! —Sim senhor! - Respondi me movendo apressadamente até o vestiário. Troquei minhas roupas pelas que o trabalho exigia: Uma fantasia vulgar de coelha; com sua saia curta e um corpete tão justo, que me deixava desconfortável. Ainda tinha a tiara de orelhas peludas para complementar o figurino. Naquele instan
Sky pub. Flórida.Christian Müller -A noite estava agradável. Fazia um tempo desde que estive na Flórida. Se passaram poucas horas desde que retornei à cidade e para relaxar um pouco, acabei aceitando um convite para beber, vindo de Mark, meu amigo de infância. Havíamos acabado a primeira garrafa, mas fiz questão de pedir mais uma; só assim eu poderia aguentar os questionamentos dele. —E então? Quanto tempo ficará dessa vez? - Perguntou Mark com a voz calma e curiosa. Eu o olhei brevemente, voltando a focar no copo com a bebida. —Por enquanto não tenho data para ir embora. Preciso resolver alguns assuntos inacabados. - Falei sem explicar muito o vendo soltar um sorriso. —Fiquei sabendo que seu avô está procurando um novo sucessor. Vai mesmo se juntar a empresa com os requisitos dele? - Perguntou Mark com humor. —Casamento nunca foi seu estilo, você só vive para trabalho! Ao ouvir aquilo, soltei um riso simplista. —Você sabe, não posso mais adiar isso! - Falei com um leve h
Hotel Plaza, Califórnia. Ivy Hunter –Despertei e esfreguei os olhos tentando me acostumar com a claridade do lugar. O sol entrava suavemente ultrapassando a fina cortina branca do quarto, iluminando todo o lugar. Toquei minha têmpora sentindo o desconforto como reação da noite anterior e ao me mover na cama, percebi que eu estava completamente nua embaixo de um fino lençol. —O que aconteceu? Por que estou... - Fragmentos de memória perfuram minha mente: primeiro, a traição do meu ex-namorado, depois, a ajuda de um cara bonito, e então, bebemos juntos e parece que até nos beijamos, no final... estou aqui. E... eu dormi com um estranho?!Meu Deus, será que dá pra ficar pior que isso?Me levantei, um papel na mesa chamou minha atenção. É um cheque, com um valor inestimável. - Eu nunca tinha visto tantos zeros na minha vida. Que generoso.Tentei recordar do rosto do homem, mas quanto mais eu tentava, mais a minha cabeça doía. Tanto faz! Afinal, acho que a gente nunca mais vai se ve