Christian Müller –A noite estava fria, mas não fazia muita diferença para mim. Eu já estava sendo envolvido pelo frio das minhas escolhas.Caminhei até o carro, joguei as chaves no banco do passageiro e me sentei atrás do volante, soltando um suspiro pesado.A verdade é que, no fundo, eu já esperava por aquilo. Já sabia que tudo estava indo bem demais para ser verdade.Arthur sempre teve esse talento para escolher os caminhos errados. Ele sempre optou pela rota mais fácil, pelo que o beneficiava.E, ainda assim, eu não conseguia virar as costas para ele. Não totalmente. Até porque, ao ver as marcas em seu rosto e ele ter tomado uma atitude tão drástica, me fez pensar que havia algo a mais envolvido nisso.Minha cabeça se encheu de repente. Várias possibilidades, e aquilo me frustrou.Peguei o celular e disquei o número de Amanda. Eu precisava de algo para me refugiar.Ela atendeu no segundo toque.— Alô? - A voz dela soou do outro lado da ligação.— Só queria saber se está tudo bem —
Christian Müller –A manhã começou diferente. Sem pressa, sem tensão.Acordei com os sons da casa viva — risadas, passos correndo pelo piso de madeira, o cheiro de café fresco no ar e choro de bebê.Desci as escadas devagar, ainda me adaptando ao contraste da noite anterior.Na cozinha, Dominic e Nathan estavam na ponta da mesa, brincando de alguma coisa que parecia mais bagunça do que qualquer jogo real.Amanda estava sentada na cadeira, balançando Tereza nos braços com aquela paciência infinita que ela parecia ter nascido sabendo exercer.Laura, minha Laura, tomava café, tentando ignorar o sermão de Amanda, que a mandava comer direito se quisesse continuar amamentando bem.Não havia brigas. Não havia discussões.Só... paz. A paz do nosso jeito.Me encostei no batente da porta, cruzando os braços e observando a cena por um momento, sem querer interferir. – Era aquela cena que todo Homem espera encontrar quando volta para o aconchego do seu lar.Aquela família sempre esteve ali. O tem
Christian Müller –Depois do café da manhã, quando a casa voltou a se aquietar, pedi que Amanda e Dominic me acompanhassem até o escritório.Eles estranharam o meu tom — sério demais para um domingo — mas não questionaram.Fechei a porta atrás de nós, nos isolando do restante da casa. O cheiro de madeira antiga misturado ao couro dos móveis impregnava o ambiente, carregado com a sensação de que algo importante estava prestes a acontecer.Caminhei até a escrivaninha e abri a gaveta inferior.De lá, retirei uma pasta gasta, abarrotada de documentos envelhecidos pelo tempo, mas que, para mim, pesavam como se fossem feitos de chumbo.Dominic se encostou na parede, cruzando os braços. Amanda se sentou no sofá, com Tereza já entregue a Laura lá fora, permitindo que ela estivesse ali agora.Respirei fundo antes de começar.Eu devia isso a eles.A verdade inteira.— Há alguns meses... — comecei, minha voz soando rouca no ambiente silencioso — o prédio da Müller Corporation foi demolido. E com
Christian Müller –O sol já estava alto quando ela me chamou.Amanda não disse nada direto, não pediu com palavras bonitas, não fez rodeios. Apenas entrou no escritório novamente, com os olhos inchados, mas secos. Ela me olhou como se quisesse dizer mil coisas, mas escolheu a mais simples:— Você pode me levar até onde ela está?Eu soube imediatamente do que ela estava falando.Assenti.Não falamos mais nada. Apenas saímos.Dominic ficou na porta da casa, segurando Tereza nos braços, como se dissesse silenciosamente que estaria esperando por ela. Amanda não o encarou. Talvez não conseguisse.Talvez fosse apenas medo de desmoronar novamente.O caminho foi silencioso.Um silêncio espesso, que apertava o peito. A estrada parecia mais longa do que era de fato. Vi as mãos dela tremerem levemente sobre o colo. Amanda olhava pela janela, mas eu sabia que os olhos dela não viam a paisagem. Estavam presos em outra época, em outro rosto, talvez no de uma mulher que ela nunca conheceu.Estacione
Laura Stevens –A casa estava em silêncio quando eles voltaram.Eu estava sentada no sofá com Tereza no colo, embalada por aquele calor sereno de uma manhã calma, quando ouvi a porta se abrir. Meus olhos foram direto para Amanda, e meu coração afundou no peito no mesmo instante.Ela entrou devagar, com os passos curtos, como se cada centímetro exigisse mais força do que ela podia dar.O rosto dela estava pálido, os olhos vermelhos. E ainda assim, havia dignidade em sua postura Era a mesma Amanda de sempre. A mulher que se mantinha erguida como uma torre mesmo em meio às tempestades.Mas eu a conhecia bem demais para não perceber as rachaduras.Ela me viu.E sem dizer uma palavra, veio até mim.Tereza estava dormindo, então a coloquei de lado, devagar, num ninho de cobertores sobre o sofá.Amanda parou à minha frente. E seus olhos se fixaram nos meus.De repente, ela desabou.Ela caiu nos meus braços com um soluço abafado, como se segurasse aquilo havia anos. E talvez estivesse mesmo.
Christian Müller –O dia amanheceu estranho.Pesado.Era como se o céu soubesse que algo importante estava para acontecer.Vesti o terno escuro, ajeitei a gravata com a mão trêmula. Esse era um detalhe que só eu mesmo percebi.Desci as escadas.Laura já me esperava, sentada no sofá da sala, com um vestido preto sóbrio e o cabelo preso num coque baixo.Amanda e Dominic estavam à porta. Amanda, com a expressão fechada, segura como sempre, mas com um brilho amargo nos olhos. Dominic, ao lado dela, parecia pronto para segurar o mundo se fosse preciso.— Vamos? — perguntei, mesmo sabendo que ninguém ali tinha escolha.O caminho até o tribunal foi silencioso. Cada um mergulhado nos próprios pensamentos.No banco de trás, Laura segurava minha mão.O toque dela era a âncora que eu precisava.Ao chegarmos, o prédio parecia ainda mais frio do que eu lembrava.As paredes cinzentas, as portas pesadas, o cheiro de papel velho e café frio impregnando o ambiente.Passamos pela segurança e fomos cond
Christian Müller –Fazia dias que o julgamento havia terminado, mas a paz que eu esperava... não veio.As noites ainda eram insones. A cabeça, cheia. O coração, em silêncio.Ainda faltava mais um assunto para ser resolvido...Quem era a mulher que planejou irritar Laura, colocando a vida delas em risco?Eu estava no banco do passageiro quando Mark parou o carro de forma brusca diante de um prédio velho, esquecido por qualquer traço de modernidade. Ele me olhou como quem guardava um segredo que pesava.— Foi aqui que ela desapareceu — disse ele. — A mulher que causou a discórdia entre você e a Laura. Eu encontrei.Demorei alguns segundos para entender.— Tem certeza? — perguntei, a mão já alcançando a maçaneta.Mark assentiu.Subimos os degraus mofados em silêncio, o cheiro de poeira impregnando o ar. Quando chegamos à porta do apartamento 402, o trinco estava quase solto. Eu forcei. Entramos.E então… tudo parou.Meu rosto.Por todos os lados.Fotos minhas coladas nas paredes, moldurad
Ivy Hunter – Capítulo final.Um ano se passou. E pela primeira vez… o tempo parecia estar ao meu favor.O céu estava limpo, pintado em tons suaves de azul, com nuvens brancas como lençóis recém-lavados. A brisa que soprava era fresca, suave, carregando no ar o cheiro de mar, rosas e lírios brancos.Eu me coloquei na ponta do tapete vermelho estendido sobre a areia clara, com o coração sereno e os olhos úmidos, mas não de dorDe gratidão.Ajustei a cauda do vestido de renda, modelo sereia, enquanto observava Nathan entrando com a pequena Tereza.Eles estavam lindos. Ele com um terno e bermuda, uma gravata borboleta e nos pés uma sandália. Tereza, bem pequena, usava um vestido branco e um laço no cabelo. A mão dele apertava a dela com cuidado, como se protegê-la fosse sua única missão.Ela jogava pétalas brancas com um sorriso encantador.Logo atrás, o pequeno Gutierrez caminhava sério, tentando parecer adulto e ao lado da irmã que sorria para todos.A música tocava em violino. A clássi